13/02/20

Não se preocupe com o tempo

      “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna. Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.28-30

      O texto inicial é o final da passagem onde um jovem rico procura Jesus, tal jovem queria saber o caminho da vida eterna, e ele era de fato um bom religioso. Contudo, conhecendo como sempre a verdade do coração humano, Jesus revela ao jovem aquilo que ele não queria ouvir, que não bastava ser um bom religioso, com uma vida moral e social correta, ele teria também que abrir mão daquilo que era importante para ele, riquezas materiais. Talvez para outro rico, Jesus teria dado uma orientação diferente, um rico que talvez pelas contingências da vida fosse rico, mas que na verdade não era preso à riqueza, mas no caso do jovem em questão, riqueza era um ponto sensível, algo que ele deveria se desprender se quisesse conhecer a eternidade melhor com Deus. Riqueza não é necessariamente problema, mas para o jovem era. 
      Os discípulos ficaram preocupados com a revelação, mas Jesus lhes disse que nada que se faz para Deus fica sem recompensa, assim se alguém abre mão de algo importante pelo evangelho terá com certeza honra retribuída por Deus, principalmente na eternidade. Contudo, sempre conhecendo o coração do homem, Jesus faz uma nova revelação, essa é o ponto dessa reflexão, “muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros”, ou em outras palavras, ninguém se julgue melhor por ter começado a seguir a Jesus antes e nem menos privilegiado por ter começado a seguir Jesus depois. Para Deus, ao contrário de para nós, tempo não significa nada, apenas a sinceridade do bem que busca o Deus altíssimo com todo o coração, em verdade e com fé, para Deus qualidade vale mais que quantidade.
      Com sessenta anos faço certas medidas, e muitas vezes chego a conclusões equivocadas, acho que por ter vivido algumas décadas tenho certos direitos, mas também me considero com pouco tempo para começar certas coisas e ganhar novos direitos. O texto inicial, contudo, pelo Espírito Santo me consola, me ensina que mesmo que eu comece a acertar só agora e que me reste pouco tempo para ser melhor, não importa. O que importa é a qualidade da minha escolha e do que eu vou construir sobre ela. Ainda que eu tenha pouco tempo, se eu for humilde, benigno, persistente, verdadeiro comigo mesmo, com as pessoas e com Deus, o Senhor saberá e me dará retorno adequado, mesmo que eu, a essa altura, queira fazer o que é certo só para cumprir meu dever no mundo, adorar a Deus e abençoar minha esposa e minhas filhas. 

12/02/20

Deus é acessível a todos

      “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.Mateus 18.20

      Sou um crítico da igreja cristã oficial, de todas as denominações, seja a católica, as protestantes, as evangélicas, quem acompanha o “Como o ar...” verifica isso, defendo uma igreja cristã pura e bíblica, a que estava no coração de Cristo quando esse falou aos apóstolos no momento de sua subida ao céu transformado após ter ressuscitado, ou a que pode mais se aproximar dessa na medida do possível. Muitos podem dizer que isso é tão impossível quanto desnecessário, impossível porque onde há o homem há o erro, desnecessário porque Deus na verdade nem se importa tanto com essa integridade, se se importasse nenhum homem seria abençoado na história da humanidade.
      Contudo, esse último argumento, que diz que a procura de uma igreja ideal é desnecessária, acha base bíblica no texto inicial, e isso nos ensina algo sobre o amor e a graça de Deus, “se somente dois me buscarem juntos, isso já constitui uma igreja e eu no meio dela estou”, diz Mateus 18.20. Sim, ainda que não gostemos de certos ajuntamentos, que discordemos de seus costumes, mesmo que achemos, do alto de nossa (ou de minha) arrogância que essa ou aquela igreja é herege, se há uma busca verdadeira a Deus por meio de Jesus, Deus ouve e responde. Eu ou você podemos não concordar com isso, mas creia, é assim que Deus age, que sempre agiu. 
     O homem complica as coisas, a religião, a espiritualidade, os ritos, as invocações, as rezas, as doutrinas, mas Deus é simples com os simples, se há busca genuína ele permite ser achado, por qualquer um, em qualquer lugar, qualquer mesmo. Deus olha o coração e fala, docemente, poderosamente, verdadeiramente e simplesmente. Quem o ouve se alegra, se consola, é alimentado, é restabelecido, curado, perdoado, levantado com esperança e com novo vigor. Busquemos a Deus com persistência, em profundidade e em verdade, o que caminha com ele há anos tem o dever de crescer, e muito há de se saber sobre Deus e a razão de nossa existência no universo.
      Todavia, não impeçamos nem nos escandalizemos com o pequenino que se aproxima de Deus com pouco conhecimento, mas com um coração aberto e sincero, esse tem o mesmo direito que nós de se abrigar nos braços do Pai eterno. Muitos doutores na lei, teólogos no evangelho e profundos conhecedores dos mistérios espirituais, se surpreenderão na eternidade, ao constatarem que todo o seu conhecimento não lhes conferiu qualquer graduação a mais de espiritualidade, e que aquele que eles achavam ignorantes, superficiais, mesmo hereges, ganharam uma intimidade com Deus que eles chamais tiveram, só porque se aproximaram do Senhor sem vaidade e sem segundas intenções. 

11/02/20

Com ou sem muletas?

      “Pois tu és a minha esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade. Por ti tenho sido sustentado desde o ventre; tu és aquele que me tiraste das entranhas de minha mãe; o meu louvor será para ti constantemente.Salmos 71.5-6

      Todo vício é uma muleta emocional, anda de muleta quem não consegue andar só com as próprias pernas, assim precisa de um artifício para desempenhar uma função que normalmente poderia fazer sozinho. Muletas emocionais são agregadas de tal maneira às vidas das pessoas que essas acabam acreditando que as muletas fazem parte delas, e que assim são suas aliadas, amigas e por isso devem ser protegidas, mesmo adoradas. Dessa forma muleta é um vício que se torna um ídolo, algo falso que se coloca no lugar de algo verdadeiro, material ou não, mesmo de Deus, ser espiritual. Eu e você, conseguimos andar sozinhos ou somos dependentes de muletas? 
      Como se tornam amigas, companheiras, caminhar sem muletas pode trazer a princípio um sentimento de solidão, podemos até tentar andar sem elas, mas sentindo-nos sozinhos voltamos a elas, é preciso coragem, força, para andar sem muletas. O caminho mais alto com o Deus verdadeiro muitas vezes (ou quase sempre) é solitário, ao menos em alguns aspectos, assim pode ser secreto. No segredo não achamos aprovação humana nem aplauso de homens, mas nele provamos uma comunhão diferenciada com Deus. Conhecer a Deus intimamente não é para todos, só para os íntegros e libertos de muletas, de vícios e de ídolos, sejam quais forem as muletas, os vícios e os ídolos. 
      Religião pode ser muleta tanto quanto drogas, vício pode ser tanto gostar de más companhias quanto assistir cultos, e ídolos não são apenas santos romanos, podem ser também heresias retiradas da Bíblia. A pergunta, contudo, é simples: como queremos andar, com as próprias pernas ou com muletas? Cuidado, muita coisa que muitos de nós achamos ser espadas e escudos, armas de ataque ou ferramentas de defesa, são na verdade muletas, não nos deixam mais fortes e protegidos, mas fracos, dependentes, viciados, idólatras. Só sabemos de fato se usamos muletas e só entendemos que precisamos nos livrar delas, quando temos um encontro real com Deus, um encontro muitas vezes solitário e secreto. 

10/02/20

“Sobre ele deves dominar”

      “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.” Gênesis 4.6-8

      Todos nós temos tendências ruins, pecaminosas, egoistas, que buscam direitos de maneira injusta, isso será até o fim de nossas existências neste mundo, portanto é a constante. A variável maravilhosa que Deus nos chama para viver em Cristo, é o domínio sobre essas tendências, que permite que o nosso desejo não se torne ação. Caim tinha uma tendência, tinha um desejo, mas ele não buscou domina-lo em Deus, antes foi dominado por ele e assim se tornou assassino de seu próprio irmão. Por quê? No caso dele foi por inveja, alimentou uma insegurança tão grande, que o acabou levando a matar aquele que ele achava que era melhor que ele. 
      Não nos iludamos, ninguém está livre de seus maus desejos, assim como ninguém pode fugir da responsabilidade de controlar esses desejos, ou então pagar um alto preço pelas consequências de desejos ruins realizados. Contudo, todos nós podemos escolher andar com Jesus, o tempo todo, para assim ter vitória sobre as tendências ruins que dia a dia nos tentam. “Sem mim nada podeis fazer.” (João 15.5b), tenhamos cuidado, não coloquemos a culpa de nossas fraquezas em homens ou em diabos, mas “se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gálatas 5.25), sempre conscientes de que sem Jesus nada podemos fazer. 

09/02/20

Adoração: santidade e liberdade

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.Filipenses 2.3-8

      Vemos nas igrejas protestantes e evangélicas tipos diferentes de atitudes durante o período denominado louvor. Alguns ficam calados, só observando o ambiente, outros cantam, acompanham a música com alguma som e quando se pede pelos ministros, mesmo com palmas, outros cantam emocionados, batem palmas quase o tempo todo numa interação maior de corpo e alma. Dizer que qualquer um desses três tipos presta uma adoração mais verdadeira a Deus não nos compete, não nos compete mesmo, infelizmente o julgamento é erro que muitos cometem, e pior ainda, que pastores e ministros de louvor cometem. Como vemos líderes de louvor dando ordens de comportamento, querendo nivelar todos por aquilo que acham que é mais “espiritual”, mandando cantar mais alto ou bater mais palmas.
      As pessoas têm níveis de expressão emocional diferentes, isso se deve às suas personalidades moldadas por criações diferentes como também por pré disposições naturais distintas. Algumas dessas características podem mudar com o tempo, precisam que algumas áreas da vida sejam curadas para que a pessoa se “solte”, digamos assim, mais em público, contudo, muitas pessoas não manifestarão grandes diferenças, mesmo depois de experimentarem curas psicológicas e espirituais profundas e verdadeiras. Outras pessoas, contudo, parece já nascerem “soltinhas”, mas essas ”mexerão o esqueleto” tanto num período de louvor quanto ouvindo um pagode, um sertanejo ou uma música eletrônica, farão isso sem maiores dificuldades e mesmo sem que ninguém precise “ministra-las”.
      Período de louvor deveria ter só duas regras, santidade e liberdade, mais nada. Em primeiro lugar os tais “ministros” deveriam ter a obrigação de levar as pessoas a entenderem a seriedade do momento, que louvor não se presta com o espírito de qualquer jeito, que adorar a Deus é entrar em sua presença mais íntima e nessa experiência somos levados a nos santificar. Assim um momento para oração, assunção de pecados e posse de perdão é imprescindível para que uma adoração real a Deus exista. Contudo, depois disso, que as pessoas tenham liberdade para adorar cada uma à sua maneira, que “ministros” parem com a deselegância que muitos chamam de espiritualidade de mandar as pessoas se levantarem, sentarem, baterem palmas, e o pior de tudo, dançarem e fazerem coreografias.
      Isso tudo não tira necessariamente de ninguém uma adoração melhor, só deixa os “soltos” mais soltos, e os mais discretos, desconfortáveis. Quer levantar, dançar? Esteja à vontade. Quer ficar sentado com os olhos fechados cantando em som mais baixo? Não tem problema. Que ninguém julgue ninguém, mas que ninguém escandalize ninguém, que se olhe só para Deus durante a adoração pública e permita-se que cada um preste sua adoração como quer. Para que isso ocorra em primeiro lugar os líderes de louvor devem ser mais maduros, não basta ter uma boa voz e vontade de pegar microfone, o que muitos fazem só por vaidade, ainda que se achem chamados e ungidos, apoiados por pastores também equivocados, sejam manipuladores ou imaturos. 
      A imaturidade leva muitos líderes a exigirem tal e tal atitude dos outros por insegurança pessoal, e não por se preocuparem com a qualidade do louvor dos outros. Liderar adoração nos cultos não é momento para que o líder tenha um momento de louvor pessoal, isso não é a prioridade, mas para permitir que os outros tenham esse momento, ainda que o líder tenha que abrir mão de valores e liberdades, que pessoalmente para ele permitiriam uma adoração melhor. O líder de louvor precisa ter humildade e maturidade para pensar nos outros, e não em si mesmo, para isso pode ser que precise cantar menos, fazer menos segundas vozes, momento de louvor coletivo não é espaço pra solos e apresentações de alguns, mas para a adoração da maioria possível. Bons solistas nem sempre dão bons ministros de louvor. 
      Por isso, a maneira do líder cantar, o tipo de música que escolhe para a igreja cantar e o jeito como lidera a congregação, devem ser sempre visando santidade, sim, qualidade, sim, mas também liberdade para que cada um adore do jeito que prefere. É de conhecimento geral que a música se tornou um marketing importante em muitas igrejas, mais que oração e palavra, assim importa a muitos que querem igrejas cheias terem um “período de louvor” onde todos participem. Esse desvio conduz as pessoas a acharem que experiência com Deus é emoção, alegria, e não prática de vida amorosa e misericordiosa, mas também é terreno propício para heresias como teologia da prosperidade, fé na fé e dizimolatria, enquanto isso Deus de fato não é adorado, enquanto isso se olha para baixo e não para o alto. 
      Quem perde com isso são as pessoas, não Deus, Deus não é menos Deus quando as pessoas não o adoram, mas nós somos melhores à medida que o adoramos. Mas ainda que filho legítimo de Deus e não só um bom religioso, se não adora o altíssimo perde o privilégio de experimentar o nível mais alto e íntimo de espiritualidade, muitos, com medo de perderem o “controle”, têm negado a si mesmos essa maravilhosa experiência, limitando-se a uma adoração meramente intelectual. Mas o nível de verdadeiro adorador nos liberta mais quem a alegria passageira de cantar músicas religiosas, mais que uma interação só emocional e física com uma comunidade cristã, aliás, muitos se enchem de uma coragem para se mostrarem cheios do Espírito nos cultos, a mesma coragem que se ausenta para se mostrarem cristãos diferentes no mundo.
      As melhores experiências que tenho com Deus são na privacidade de meu lar, numa sala escura na madrugada, enquanto esposa e filhas dormem. A liberdade e a santidade que experimento nesses momentos é o que me faz continuar no evangelho, seguir estudando a Bíblia e confiando em Deus. Talvez os que me vejam quieto durante um período de louvor não saibam disso, e vejam que sou músico, trabalhei por anos atrás de um piano, de um órgão e de teclados, vendo a igreja receber chuvas de bençãos no período de louvor. Mas ainda assim, tendo experimentado dons no Espírito e tantas outras experiências espirituais, prefiro, em culto público, quando estou sentado com a congregação, uma atitude de tranquilidade, de menos sons e gestos, esse é o meu jeito de melhor adorar a Deus, mas é só o meu jeito. 

08/02/20

Isaías 35 - Profecia para todos!

      “O deserto e o lugar solitário se alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, e também jubilará de alegria e cantará; a glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus.Isaías 35:1-2

      Uma das belezas singulares da Bíblia é que suas palavras proféticas não são só predições do futuro, mas são palavras poéticas, isso revela muito sobre a espiritualidade mais pura e alta, ela é plenamente harmoniosa esteticamente, responde à razão, à emoção e também ao espírito. A glória espiritual de Deus é metaforizada na glória terrena e humana, da natureza, da arte e do melhor que o homem pode construir. 
      A profecia do capítulo 35 de Isaías, sobre o futuro glorioso de Israel, livre do cativeiro e tendo seu melhor momento restaurado, é compartilhada com essa harmonia, que emoção o profeta deve ter experimentado quando recebeu do Espírito Santo tal revelação. O maior dos mistérios, porém, é entender que a mais sublime das glórias divinas é revelada em Jesus, o verbo do Deus altíssimo. 

      Fortalecei as mãos fracas, e firmai os joelhos trementes. Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se abrirão. Então os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; porque águas arrebentarão no deserto e ribeiros no ermo. E a terra seca se tornará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas; e nas habitações em que jaziam os chacais haverá erva com canas e juncos.Isaías 35.3-7

      Em seu amor único, Deus não dá em primeiro lugar a profecia aos rebeldes e maus que traíram sua aliança e levaram Israel a sofrer a disciplina do cativeiro, não, Deus a dá aos fracos, aos humildes, aos que sofrem injustamente por causa de erros de poderosos e líderes ruins, devassos e gananciosos. Mas a palavra profética de libertação iminente promete milagres, cegos verão, surdos ouvirão, coxos saltarão e mudos falarão. 
      Será que a profecia se refere a problemas físicos, a deficiências no corpo material? Não, os cegos, surdos, coxos e mudos o são espiritualmente, essas limitações não nasceram com eles ou lhes foram atribuídas por acidente, mas eles mesmos as adquiriram por terem se afastado de Deus e consequentemente serem levados cativos. A prisão tira direitos, de ir e vir, de se expressar, de escolher o próprio caminho.
      A disciplina do cativeiro, todavia, depois de executada, tem a função de despertar o homem espiritualmente e trazê-lo novamente para perto de Deus. É claro que quando isso acontece a benção se manifesta também no plano físico, a saúde é curada e a prosperidade material é restabelecida, tudo entra novamente em sincronia com o melhor do plano de Deus e o homem passa a ter novamente liberdade. 

      E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão. Ali não haverá leão, nem animal feroz subirá a ele, nem se achará nele; porém só os remidos andarão por ele. E os resgatados do Senhor voltarão; e virão a Sião com júbilo, e alegria eterna haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.Isaías 35.8-10

      As profecias do antigo testamento bíblico têm sempre mais de uma camada, a primeira refere-se a predição de fatos históricos futuros como resposta a situações históricas do presente e do passado do povo judeu. A segunda, no caso de profecia para a nação física de Israel, refere-se também à Igreja universal, abrangendo o conceito do povo de Deus judeu para o povo do reino de Deus estabelecido pelo evangelho de Cristo. 
      A terceira camada refere-se à minha e à tua vida, à aplicação que fazemos do ensino genérico para as nossas existências atuais. Essa terceira interpretação muitas vezes pode ser equivocada (alguns teólogos acham inapropriado seu uso), pois coloca o texto fora do contexto original, mas ainda assim, pela sua misericórdia, o Espírito Santo nos consola com textos que originalmente nada têm a ver com nossas realidades.
      A verdade é que é impossível entendermos de fato a atemporalidade de Deus, o fato dele existir sempre, não envelhecer, saber de tudo o tempo todo e de sua palavra ter diversas camadas para abençoar a pessoas diferentes e de tempos diferentes. A verdade é que a maioria de nós e na maior parte do tempo não conhece o Deus incognoscível, ele é sempre mistério, e assim deve ser. Muitas coisas preditas na Bíblia só serão entendidas por gerações futuras. 
      A profecia de Isaías 35 quando cita “resgatados” e “caminho santo” podemos dizer que se refere não só ao livramento final dos judeus de seu cativeiro, mas também aos salvos da Igreja universal (os filhos de Deus de todos os tempos e lugares) e a Jesus, ela não se refere só a Israel, mas a toda a humanidade. Muitas vezes nem o profeta tem noção do poder da palavra que está entregando, ainda que ele seja limitado o Espírito não é. 
      Mas ainda assim, Israel foi e sempre será um povo especial para Deus, eu creio que ainda que a salvação em Cristo seja uma aliança mais abrangente e completa que a Lei mosáica e o Templo de Jerusalém, Deus cumprirá todas as promessas que fez aos judeus, incluindo uma volta não como homem humilde mas como rei eterno. Deus é fiel ainda que nós não sejamos e nenhuma de suas palavras deixará de ser cumprida. 
      Eu penso que essa volta ainda não aconteceu, ela não foi a encarnação de Jesus há dois mil anos atrás, mas será aquela que ocorrerá no evento depois do arrebatamento, quando Jesus voltará em Jerusalém com os mortos em Cristo e arrebatados em meio a um conflito mundial envolvendo o mundo e a nação de Israel. No final não haverá judeu ou gentio, israelita ou cristão, mas todos seremos restaurados por Deus do cativeiro maior que é viver encarnados neste mundo. 

07/02/20

Se Deus chama, não cansa

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?Salmos 42.1-2

      “Eu tento orar, mas me dá um sono, fico sem assunto, não consigo orar por muito tempo”, muita gente alega isso sobre oração, principalmente jovens atuais, mas como já dissemos aqui, boa oração não é quantidade, mas qualidade. Precisamos entender que vida com Deus, desde o recebimento da salvação até todo o processo de crescimento e maturidade espiritual, é sempre vertical e de cima para baixo, é Deus chamando o homem, e não o contrário. Isso não significa que devemos ficar esperando “Deus chamar” para que oremos e o conheçamos, andando de qualquer jeito e sem vigilância, o homem deve querer, e com convicção, mas sempre obedecendo a voz suave do Espírito Santo. 
      O que vive com temor a Deus, que está sempre sensível à voz de Jesus, sentirá de maneira maravilhosa o Espírito Santo chamando-o a orar, para confessar, para adorar, para conhecer a boa, perfeita e agradável vontade do Senhor. Penso que atingimos um grau de maturidade espiritual quando oração se torna como a respiração física, natural, na medida certa, sem que precisemos forçar nada, apenas provar da presença do Espírito Santo nos chamando e nos ensinando, fazemos simplesmente porque queremos viver bem. Se Deus chama, não cansa, mas vivifica nosso espírito, ainda que nossos corpos e almas estejam tão sobrecarregados de existir neste mundo. Se Deus chama, orar é como respirar e a presença de Deus, “como o ar que respiro”, simples mas vital.