domingo, fevereiro 09, 2020

Adoração: santidade e liberdade

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.Filipenses 2.3-8

      Vemos nas igrejas protestantes e evangélicas tipos diferentes de atitudes durante o período denominado louvor. Alguns ficam calados, só observando o ambiente, outros cantam, acompanham a música com alguma som e quando se pede pelos ministros, mesmo com palmas, outros cantam emocionados, batem palmas quase o tempo todo numa interação maior de corpo e alma. Dizer que qualquer um desses três tipos presta uma adoração mais verdadeira a Deus não nos compete, não nos compete mesmo, infelizmente o julgamento é erro que muitos cometem, e pior ainda, que pastores e ministros de louvor cometem. Como vemos líderes de louvor dando ordens de comportamento, querendo nivelar todos por aquilo que acham que é mais “espiritual”, mandando cantar mais alto ou bater mais palmas.
      As pessoas têm níveis de expressão emocional diferentes, isso se deve às suas personalidades moldadas por criações diferentes como também por pré disposições naturais distintas. Algumas dessas características podem mudar com o tempo, precisam que algumas áreas da vida sejam curadas para que a pessoa se “solte”, digamos assim, mais em público, contudo, muitas pessoas não manifestarão grandes diferenças, mesmo depois de experimentarem curas psicológicas e espirituais profundas e verdadeiras. Outras pessoas, contudo, parece já nascerem “soltinhas”, mas essas ”mexerão o esqueleto” tanto num período de louvor quanto ouvindo um pagode, um sertanejo ou uma música eletrônica, farão isso sem maiores dificuldades e mesmo sem que ninguém precise “ministra-las”.
      Período de louvor deveria ter só duas regras, santidade e liberdade, mais nada. Em primeiro lugar os tais “ministros” deveriam ter a obrigação de levar as pessoas a entenderem a seriedade do momento, que louvor não se presta com o espírito de qualquer jeito, que adorar a Deus é entrar em sua presença mais íntima e nessa experiência somos levados a nos santificar. Assim um momento para oração, assunção de pecados e posse de perdão é imprescindível para que uma adoração real a Deus exista. Contudo, depois disso, que as pessoas tenham liberdade para adorar cada uma à sua maneira, que “ministros” parem com a deselegância que muitos chamam de espiritualidade de mandar as pessoas se levantarem, sentarem, baterem palmas, e o pior de tudo, dançarem e fazerem coreografias.
      Isso tudo não tira necessariamente de ninguém uma adoração melhor, só deixa os “soltos” mais soltos, e os mais discretos, desconfortáveis. Quer levantar, dançar? Esteja à vontade. Quer ficar sentado com os olhos fechados cantando em som mais baixo? Não tem problema. Que ninguém julgue ninguém, mas que ninguém escandalize ninguém, que se olhe só para Deus durante a adoração pública e permita-se que cada um preste sua adoração como quer. Para que isso ocorra em primeiro lugar os líderes de louvor devem ser mais maduros, não basta ter uma boa voz e vontade de pegar microfone, o que muitos fazem só por vaidade, ainda que se achem chamados e ungidos, apoiados por pastores também equivocados, sejam manipuladores ou imaturos. 
      A imaturidade leva muitos líderes a exigirem tal e tal atitude dos outros por insegurança pessoal, e não por se preocuparem com a qualidade do louvor dos outros. Liderar adoração nos cultos não é momento para que o líder tenha um momento de louvor pessoal, isso não é a prioridade, mas para permitir que os outros tenham esse momento, ainda que o líder tenha que abrir mão de valores e liberdades, que pessoalmente para ele permitiriam uma adoração melhor. O líder de louvor precisa ter humildade e maturidade para pensar nos outros, e não em si mesmo, para isso pode ser que precise cantar menos, fazer menos segundas vozes, momento de louvor coletivo não é espaço pra solos e apresentações de alguns, mas para a adoração da maioria possível. Bons solistas nem sempre dão bons ministros de louvor. 
      Por isso, a maneira do líder cantar, o tipo de música que escolhe para a igreja cantar e o jeito como lidera a congregação, devem ser sempre visando santidade, sim, qualidade, sim, mas também liberdade para que cada um adore do jeito que prefere. É de conhecimento geral que a música se tornou um marketing importante em muitas igrejas, mais que oração e palavra, assim importa a muitos que querem igrejas cheias terem um “período de louvor” onde todos participem. Esse desvio conduz as pessoas a acharem que experiência com Deus é emoção, alegria, e não prática de vida amorosa e misericordiosa, mas também é terreno propício para heresias como teologia da prosperidade, fé na fé e dizimolatria, enquanto isso Deus de fato não é adorado, enquanto isso se olha para baixo e não para o alto. 
      Quem perde com isso são as pessoas, não Deus, Deus não é menos Deus quando as pessoas não o adoram, mas nós somos melhores à medida que o adoramos. Mas ainda que filho legítimo de Deus e não só um bom religioso, se não adora o altíssimo perde o privilégio de experimentar o nível mais alto e íntimo de espiritualidade, muitos, com medo de perderem o “controle”, têm negado a si mesmos essa maravilhosa experiência, limitando-se a uma adoração meramente intelectual. Mas o nível de verdadeiro adorador nos liberta mais quem a alegria passageira de cantar músicas religiosas, mais que uma interação só emocional e física com uma comunidade cristã, aliás, muitos se enchem de uma coragem para se mostrarem cheios do Espírito nos cultos, a mesma coragem que se ausenta para se mostrarem cristãos diferentes no mundo.
      As melhores experiências que tenho com Deus são na privacidade de meu lar, numa sala escura na madrugada, enquanto esposa e filhas dormem. A liberdade e a santidade que experimento nesses momentos é o que me faz continuar no evangelho, seguir estudando a Bíblia e confiando em Deus. Talvez os que me vejam quieto durante um período de louvor não saibam disso, e vejam que sou músico, trabalhei por anos atrás de um piano, de um órgão e de teclados, vendo a igreja receber chuvas de bençãos no período de louvor. Mas ainda assim, tendo experimentado dons no Espírito e tantas outras experiências espirituais, prefiro, em culto público, quando estou sentado com a congregação, uma atitude de tranquilidade, de menos sons e gestos, esse é o meu jeito de melhor adorar a Deus, mas é só o meu jeito. 

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