31/10/22

Espírito e espíritos (92/92)

      “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” II Coríntios 3.3  

      “A palavra espírito apresenta diferentes significados e conotações diferentes, a maioria deles relativos a energia vital que se manifesta no corpo físico. A palavra espírito é muitas vezes usada metafisicamente para se referir à consciência e a personalidade. As noções de espírito e alma de uma pessoa muitas vezes também se sobrepõem, como tanto contraste com o corpo e ambos são entendidos como sobreviver à morte do corpo na religião e pensamentos espiritualistas, e "espírito" também pode ter o sentido de "fantasma", ou seja, uma manifestação do espírito de uma pessoa falecida. Na filosofia, aparece como sinônimo do termo mente (intercambiável como esprit, no francês, e Geist, em alemão), principalmente em questões como o racionalismo de Descartes, no dualismo mente-corpo, e o idealismo (por exemplo, o Espírito (Geist) Absoluto de Hegel no idealismo alemão). O termo também pode se referir a qualquer entidade incorpórea ou ser imaterial, tais como demônios ou divindades, no cristianismo especificamente do Espírito Santo.” 

      Uma lei ditando um não extremo podia ser mais prática para livrar os homens de encrencas e os levar a confiarem diretamente em Deus. O caminho que a Bíblia apresenta para Deus é simples e seguro, no antigo testamento direto ao Altíssimo, e no novo, por Jesus e pelo Espírito Santo. Ainda assim I João 4.1-3 (compartilhada no final deste texto) nos chama a atenção por citar o termo “espíritos”, no plural. É preciso lembrar que o adjetivo “santo” foi acrescentado pelos primeiros que juntaram textos para comporem o novo testamento, originalmente em muitas passagens só havia o termo “espírito”.
      I João 4.1-3 diz “provai se os espíritos são de Deus”, assim a questão não é se havia mais de um espírito, mas se eram de Deus. A passagem diz mais, “nisto conhecereis o Espírito de Deus, todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”. Se muitos evangélicos acham que podem entrar num centro kardecista, pedirem a qualquer “espírito” que está usando um médium para confessar que Jesus veio em carne, e que esse se negará a confessar, enganam-se. Aliás, João se refere nessa passagem a uma seita de seu tempo, que negava que Jesus tinha vivido na Terra com corpo físico.
      Da mesma forma nada ocorrerá se tentarmos expulsar pelo nome de Jesus muitos dos espíritos que influenciam médiuns, muitos evangélicos falam do que não sabem. Será que o que sabem não foi concluído sobre uma mediunidade errada, aquela em que os homens se deixam possuir por espíritos inferiores, os chamados demônios? Talvez espíritas que se convertem em igrejas evangélicas na verdade nunca tenham sido bons espíritas, só tiveram experiências erradas, talvez esses de fato necessitem de exorcismos, já os genuínos talvez sigam fazendo o bem, convictos de suas crenças, só talvez…
      Evangélicos identificam como médiuns pessoas possuídas pelo que eles chamam de demônios, assim, violentas, descontroladas, escravas de vícios, com identidades transtornadas, moralmente sujas, que são libertadas por autoridade no nome de Cristo. Por outro lado, no meio evangélico, há pessoas que perdem controle físico e emocional dizendo-se em transe do Espírito Santo, nesses casos não há violência ou sujeira moral, mas só inconveniência social, que no mínimo é demonstração infantil de efeito emocional de experiência espiritual. Precisamos avaliar sempre o que dizem os dois lados.
      Espíritas também não aceitam, principalmente kardecistas, transe que gere violência ou sujeira moral, que prejudique o médium, e em seu meio há transes que elevam as pessoas, compartilham sabedoria e produzem virtudes que dão bons frutos. Vou dizer algo que talvez escandalize, pode ser que muitos médiuns sejam usados pelo mesmo Espírito Santo que exerce dons espirituais nos crentes. Qual a experiência mais espiritual? A de pentecostais em igrejas cristãs, que muitas vezes não passa de manifestações exibicionistas, ou de médiuns, que mostram em frutos práticos santidade e caridade? 
      Em várias passagens da Bíblia verificamos Deus se revelando aos homens, não diretamente, nem genericamente pelo que o cristianismo padronizou chamar de Espírito Santo. Seres espirituais de luz são usados de formas diferentes, alguns como anjos (Gênesis 19), outros como serafins (Isaías 6), outros como querubins (Ezequiel 10), outros como arcanjos (Daniel 10). Por que acharmos que hoje, quando pedimos a Deus uma palavra e ele nos fala de maneira espiritual e direta, que é um Espírito Santo genérico que responde? Deus usa anjos e outros seres espirituais o tempo todo para nos falar e nos iluminar.
      Quem disse que não são esses seres, mais específicos, que falam aos homens em outras religiões, ainda que chamados por outros nomes? Muitos dizem, “não, é o diabo se fazendo passar por Deus”. Quando líderes religiosos judeus disseram que Jesus fazia o que fazia pelo diabo, ele respondeu que uma árvore se reconhece pelos frutos (Mateus 12.24-33). Talvez, antes de nos acharmos donos da verdade, e no direito de julgarmos, principalmente espíritas kardecistas (mas também a outros) como diabólicos, deveríamos conhecer melhor os frutos desses, anos de vidas dedicadas à caridade e ao bem. 
      Sinceramente eu não sei se o mundo já está preparado para conhecimentos espirituais mais profundos. Não estou fazendo aqui qualquer juízo de valor, defendendo ou condenando, e cito o kardecismo pois o conheço mais, distinguindo-o de outros espiritismos, mágicos e mais antigos, presentes em religiões de povos tradicionais, como na Umbanda e no Candomblé existentes no Brasil, baseados em tradições africanas. O que eu sei é que o mundo ainda precisa e muito da simplicidade de Jesus, que leva os homens diretamente a Deus e permite-lhes acesso ao professor e consolador Espírito Santo. 
      II Coríntios 3.3 ensina que Deus se relaciona com as pessoas pelo seu Espírito, sois a carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo nas tábuas de carne do coração. Salvação de Deus, evolução do ser, comunhão do homem com o divino, tudo isso é feito com um Deus Espírito compartilhando sua eterna essência com suas criaturas. Religião, no melhor sentido da palavra, funciona espiritualmente, o termo espírito não é força de retórica, algo abstrato ou opcional, é uma presença viva e ativa. Relegar a segundo plano experiências espirituais na religião é negar sua razão de ser. 

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      “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” I João 4.1-3

      “Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá. E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?” “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” Mateus 12.24-26, 28, 33

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

30/10/22

Adivinho, profeta, médium (91/92)

      “O espírito do Senhor Deus está sobre mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos” Isaías 61.1   

      “A palavra adivinhar vem do latim divinare, que significa prever o futuro. Em latim, divinare tem o sentido de conseguir predizer o que vai acontecer. Essa previsão podia ser feita à sorte ou pela dedução, mas normalmente era uma previsão feita com ajuda sobrenatural. A palavra divinare vem de divinus, que significa divino, pertencente ou relativo a um deus. Também podia significar algo sagrado, com caraterísticas dos deuses (como ser maravilhoso) ou alguém inspirado por um deus, como um adivinho ou um profeta. Os adivinhos afirmam conseguir fazer previsões e descobrir coisas ocultas porque recebem mensagens de seres sobrenaturais, como deuses. Divinus vem da raiz divus, que significa deus ou divindade, um ser sobrenatural com poderes especiais. Divus também podia significar divino.”

      Comunicação com Deus, com deuses, com anjos, com demônios e com espíritos, nunca foi só intelectual, onde se lê algo e se obedece. Essa relação implica numa presença sobrenatural inteligente no ser humano, que abre os sentidos espirituais, para que uma informação seja levada ao plano espiritual e outra seja recebida desse plano. Isso é ponto passivo, as perguntas são: o que é essa presença, uma só, várias, são boas, são más? O que é permitido e o que não é? Sendo proibido, por que é? Levantarei alguns questionamentos nesta reflexão sobre experiências com “espíritos”. 
      Na Bíblia, o termo adivinho tem vários sentidos, referindo-se às práticas de profecia ou mesmo de lançar sorte. Entendemos como adivinho o que recebe uma informação desconhecida por meios místicos ou aleatórios. No antigo testamento homens como Daniel, decifradores de sonhos e visões, eram adivinhos legitimados pela Bíblia como do Deus verdadeiro. Esses recebiam informações, principalmente sobre o futuro de Israel e das nações vizinhas, por contatos com Deus, com tipos diferentes de anjos e com aquele ser especial, “o anjo do Senhor”, que fala por Deus em primeira pessoa.
      O termo também é usado para quem tinha acesso a informações por espíritos de mortos, ou espíritos de adivinhação, oráculos ou deuses, esse último termo usado para espécies variadas de seres espirituais. Essa prática, a necromancia, pode incluir também o termo médium, surgido no século XIX no espiritismo kardecista, substituindo o termo deuses por espíritos de mortos. O afroespiritismo também pratica adivinhação, seja pelo jogo de búzios no Candomblé, seja pelo transe mediúnico por pães e mães de santo na Umbanda, nessas práticas se diz receber informações de entidades espirituais.
      Um cristão mais conservador pode dizer que em igrejas carismáticas há o Espírito Santo e esse não adivinha, fala a verdade por meio de servos de Deus, assim o oposto para ele também é válido, que toda manifestação espiritual que ocorre em outros lugares são do diabo, e essas, sim, adivinhações. Além dos búzios, outros meios podem ser usados para revelarem a vida das pessoas, como a astrologia, que faz a adivinhação estudando a posição de planetas e astros em datas de nascimentos, e como o Tarô (ou cartomancia), que faz adivinhações por meio de cartas aleatórias de um baralho especial.
      Ainda que cristãos, de maneira geral, generalizem as coisas, aqueles que conhecem as práticas não cristãs, diferenciam adivinhadores sérios de meros oportunistas, interessados em ganhar dinheiro explorando a curiosidade das pessoas e o encantamento humano pelo místico. Mas não é assim também nas igrejas cristãs, onde há profetas sérios e oportunistas? Muitas vezes uso aqui textos bíblicos como palavra indubitável de Deus para nossas vidas, mas outras vezes, como nessa, cito as posições doutrinárias de cristãos sobre um assunto, para depois reavalia-las, entenda essa reflexão como suposições. 
      As citações bíblicas compartilhadas no final deste texto são quatro referências diferentes sobre os termos adivinhação e adivinho. Levítico 20.27 é a Lei de Moisés, proibindo veementemente prática de comunicação com espíritos por meio de médiuns, e condenando esses a uma morte terrível. Ezequiel 13.6-8 fala da má prática de adivinhação feita por israelitas e em nome de Deus. Reconhecemos que é adivinhação humana e não palavra de Deus porque o texto diz que tais adivinhos dizem coisas que não acontecerão, que Deus não os mandou dizer, e que portanto são vaidades e mentiras.
      Já I Coríntios 12.3-4, 8-10 ensina sobre dons espirituais no novo testamento, e nesse caso precisamos entender algo importante. A simples forma não confere legitimidade para que o conteúdo seja de Deus. É preciso haver verdadeira palavra do Senhor compartilhada por seres humanos em comunhão com Deus. Falar alguns termos conhecidos em línguas espirituais estranhas, e quem é do meio sabe a que me refiro, iniciar uma profecia com “assim diz o Senhor”, ou encerrá-la com “fiquem em paz”, dizer que teve um sonho ou uma visão “diferente”, nãos basta para que sejam palavras de Deus.
      O texto de Isaías 3.1-5, contudo, é interessante, nele o termo adivinho é citado junto de outros, que definem diferentes posições sociais, militares, religiosas em Israel, incluindo a de profeta, sem que haja distinção ou recriminação. Ele diz que todos serão igualmente tratados por Deus com falta de sustento e de liderança. Isso nos passa a ideia que adivinhação era algo comum naquele tempo. Será que a criminalização da prática era geral, ou só para a errada? Seja como for, contato com mundo espiritual é algo complexo, pode ser perigoso e muitas vezes é ineficiente para conduzir a virtudes morais. 
      Veja que não estou sendo extremista, dizendo que toda manifestação espiritual que não ocorre em igreja cristã não é do Espírito Santo e é do diabo, usando como álibi a passagem de Levítico 20.27, dentre outras, que proíbe de forma extrema a prática do que a Bíblia chama de adivinhação, e que inclui a moderna mediunidade. Contudo, afirmo que por Jesus as coisas são menos complicadas e menos arriscadas, assim, acredito que muitos espíritas deveriam simplificar suas crenças e se converterem ao cristianismo primitivo, mas também creio que muitos evangélicos deveriam abrir suas mentes.

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      “Quando, pois, algum homem ou mulher em si tiver um espírito de necromancia ou espírito de adivinhação, certamente morrerá; serão apedrejados; o seu sangue será sobre eles.” Levítico 20.27

      “Viram vaidade e adivinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da palavra. Porventura não tivestes visão de vaidade, e não falastes adivinhação mentirosa, quando dissestes: O Senhor diz, sendo que eu tal não falei? Portanto assim diz o Senhor Deus: Como tendes falado vaidade, e visto a mentira, portanto eis que eu sou contra vós, diz o Senhor Deus.” Ezequiel 13.6-8

      “Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.” “Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas.” I Coríntios 12.3-4, 8-10

      “Porque, eis que o Senhor, o Senhor dos Exércitos, tirará de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio; a todo o sustento de pão e a todo o sustento de água; o poderoso, e o homem de guerra, o juiz, e o profeta, e o adivinho, e o ancião, o capitão de cinquenta, e o homem respeitável, e o conselheiro, e o sábio entre os artífices, e o eloqüente orador. E dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles. E o povo será oprimido; um será contra o outro, e cada um contra o seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil contra o nobre.” Isaías 3.1-5

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão

29/10/22

Só outra teoria de conspiração (90/92)

      “Suave é ao homem o pão da mentira, mas depois a sua boca se encherá de cascalho. Cada pensamento se confirma com conselho e com bons conselhos se faz a guerra.Provérbios 20.17-18

      Os de direita veem teoria de conspiração na esquerda, os de esquerda veem teoria de conspiração na direita, os cristãos veem teoria de conspiração na mídia, os não cristãos veem teoria de conspiração nos cristãos, religiosos veem teoria de conspiração na ciência, ateus veem teoria de conspiração nos religiosos. A conclusão que chegamos é que ou existem muitas conspirações secretas sendo armadas ou não existe nenhuma, são os seres humanos que são propensos a imaginarem teorias conspiratórias, eu fico com a segunda opção, com convicção.
      Não nego que até existam propósitos secretos, mas muito mais ligados a empresas, para conquistarem consumidores e terem mais lucro econômico, que para propósitos religiosos, espirituais e mesmo políticos, para se dominar o mundo e se fazer papel de deus. Pessoalmente tenho uma regra inicial, não acredito em teorias conspiratórias, elas dariam um trabalho desnecessário para existir, há meios mais práticos de se obter objetivos neste mundo, e repito, a prioridade dos maus é grana. Teoria de conspiração é mentira e é concebida por mentirosos com propósitos.
      Pode existir só uma teoria, a mais eficiente, fazer as pessoas crerem em teorias conspiratórias. Apesar de haver probabilidade de existir vida inteligente em outros planetas, ela pode estar muito longe daqui, e se alguém conseguir chegar até aqui poderá estar moralmente avançado, tanto quanto cientificamente, e não se deixará ser percebido, respeitando nosso nível inferior de evolução. Mas isso também é uma teoria. Por outro lado, dizer que coisas acontecem por causa de extraterrestres é conveniente para quem não quer revelar a verdade, e eis outra teoria.
      O que leva a essa tendência é a ignorância, quem não sabe e muitas vezes não quer saber, cria fantasias na cabeça. Quanto mais o ser humano se informar com a verdadeira ciência e com o verdadeiro conhecimento do mundo espiritual, menos teorias serão inventadas. Infelizmente, imaginar pode ser mais prazeroso para os ociosos, não entendem que a realidade é muito mais fantástica e muito mais prazerosa que a ilusão. Depois de vida inteligente fora da Terra, religião e política são as áreas preferidas para teóricos de conspirações imaginarem coisas.
      Um mecanismo de teoria conspiratória é a necessidade de se achar opositores, isso conforta quem não quer aceitar que a verdade não está lá fora, mas dentro dele, o diabo não são os outros, mas ele próprio. O exagero em ver teorias de conspiração pode ser efeito de ou conduzir a transtornos psiquiátricos, mas em qualquer nível não é sadio. É diferente de apreciar ficção, em livros e filmes, por exemplo, nesse caso é até salutar, exercício de imaginação, vislumbrar de possibilidades, mas sempre com limites para que não se torne escapismo doentio. 
      Outra satisfação que pode ser achada em teorias conspiratórias é a existência de seres poderosos, no plano espiritual ou no físico, aos quais podemos aliar coisas que não entendemos, mas que gostaríamos que fossem explicadas do nosso jeito. Por isso algumas teorias agradam a alguns e outras a outros, se vê o que se quer ver, a realidade criada pela teoria não está na realidade do mundo ou do plano espiritual, mas dentro da cabeça do que nela acredita. Por isso quem acha uma teoria para chamar de sua se sente tão confortável com ela e até ajuda a inventá-la.
      Contudo, temos que entender que teorias de conspiração são instrumentos úteis nas mãos de quem quer controlar as pessoas para poder usá-las, principalmente dando a elas motivos para terem medo. Depois que o falso medo é implantando, quem o disseminou se coloca como o que vai combater o medo. Teoria de conspiração pode ser arma de líderes políticos e religiosos inescrupulosos, que não querendo resolver problemas reais, porque são difíceis ou porque não valem a pena resolver, criam falsos problemas e se colocam como solução para esses. 
      Uma característica da teoria conspiratória é que possui explicações complexas, de modo que quem por ela é enredado sente-se apropriando de um conhecimento profundo sobre algo, que outros não viram a relevância, mas que ele viu. Dessa forma teoria de conspiração apela para a vaidade das pessoas que se acham sinceramente mais lúcidas que os que não creem na teoria. Quem crê em teoria conspiratória se vê como paladino da verdade, quase que numa missão profética de levar luz a aprisionados pelas trevas, por isso religião é terra fértil para teorias. 
      Creio que os que mais têm interesse em teorias conspiratórias são os seres espirituais das trevas, e isso também pode ser uma teoria. Eles não têm corpos físicos, não podem se satisfazer pelos apetites e capacidades da matéria, assim satisfazem-se inventando mentiras e torturando o que nelas crê. Na maior parte das vezes a própria figura de um anjo caído controlando o mal é teoria da conspiração, que originou-se no início da humanidade no planeta, quanto o ser humano ainda não tinha conhecimento científico e discernimento moral e espiritual.
      Como diz o texto bíblico inicial, teoria de conspiração pode ser agradável no começo, se mostra iluminadora de mistérios, de coisas que não se tem controle, cria inimigos para se odiar, deuses para se adorar, mas depois deixa desgosto. O sábio ouve outras opiniões, pesquisa o assunto sabendo o que é dito contra e por quem é dito, não por especuladores maliciosos, mas por cientistas ou espiritualistas idôneos, conforme a área. Cai fácil em mentira quem se fecha em bolha, ouve só o que gosta de ouvir de quem pensa como ele, e que não busca a Deus. 
      Você pode ler esta reflexão, reavaliar muitas de suas crenças, orar e quem sabe, até mudar de opinião em alguns assuntos. Contudo, você também pode fazer a leitura e considerar este texto só mais uma teoria de conspiração, a escolha é tua. Não tenho a pretenção de me colocar como dono de alguma verdade, só compartilho minhas opiniões e conclusões, sempre baseado em vida prática com Deus e com a vida no tempo. “Ninguém se engane a si mesmo, se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio” (I Coríntios 3.18). 

28/10/22

Conhecemos a luz verdadeira? (89/92)

      Por favor, leia este texto até o fim para poder entender corretamente a reflexão, obrigado. 

      “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.João 1.9-11

      “Se Deus não existe, tudo é permitido” (frase do livro “Irmãos Karamazov" de Fiódor Dostoiévski), mas quem disse que não se deve fazer algo porque Deus existindo condenará quem fez? Na verdade Deus existe, tudo pode ser feito, e cada um colherá os frutos do que plantou, como causa e efeito do universo, não como ação de um Deus prepotente condenando quem plantou mal ou recompensando quem plantou bem. A frase do clássico russo parece “avançada”, mas baseia-se num entendimento retrógrado. Quem acha que pode fazer tudo porque Deus não existe, equivoca-se tanto quanto quem acha que só pode fazer algumas coisas porque são as autorizadas pelo Deus em que crê, ambos não conhecem o verdadeiro Deus. 
      O falso cristianismo do mundo pregado pelo catolicismo e também pelo protestantismo, criou duas espécies de seres humanos aparentemente opostos de pessoas, mas com uma mesma característica. Uns obedecem cegamente a um falso “Deus”, outros desacreditam cegamente desse mesmo falso “Deus”, mas ambos acham que se relacionam, por veneração ou por oposição, com o Deus verdadeiro. Um pecado será cobrado de muitos líderes religiosos, falsidade ideológica, a venda de algo como sendo Deus sendo que não é Deus, mas também será cobrado de muitos, religiosos e ateus, a falsa ingenuidade que os levou a aceitar as coisas sem questionar, sem avaliar, sem casar teoria com prática, tanto para obedecer, quanto para não. 
      Grande parte de ateus, que chamam religiosos de ignorantes, é tão desinformada quanto os religiosos que critica, e foi doutrinada pela mesma religião equivocada dos religiosos. A única diferença é que uns escolheram aceitar o equívoco que lhes ensinaram e outros não. Se ambos conhecessem o Deus verdadeiro talvez muitos mudariam de lado, alguns religiosos se tornariam céticos, pois não achariam a verdade agradável a seus ouvidos, e alguns ateus creriam em Deus. Os religiosos judeus do primeiro século agiram assim, veio a luz verdadeira de Deus encarnada em Jesus Cristo e eles não a aceitaram, antes odiaram, perseguiram, torturam e crucificaram essa luz. Quem não pensa é enganado, de um jeito ou de outro. 
      Quem criou as leis do universo foi Deus, elas deixam sozinhos os que plantam errado e aproxima das virtudes do Senhor os que plantam certo. Quem se afasta de Deus colhe mentira e desgraças, físicas, morais e espirituais, que existem nas trevas longe da luz de Deus. Quem se aproxima de Deus autoriza o Senhor a abençoá-lo, sincroniza-se com a boa vontade do Altíssimo que perdoa, protege e supre. Lista de leis morais não aproximam o homem de Deus, talvez de religiões, o que nos aproxima de Deus é amá-lo, correspondendo a seu amor primeiro e maior por nós. Nenhuma causa ficará sem efeito justo, mas todos os seres humanos, ainda que em tempos diferentes, poderão chegar a Deus e às suas riquezas e glórias eternas.
      Jesus não foi compreendido por muitos líderes religiosos judeus do primeiro século, tão entendidos nos textos sagrados, João registra isso claramente nos primeiros versos de seu evangelho. Contudo, até hoje, parece que muitos não entendem o Cristo, e o pior muitos que se põem como líderes e guardiões de tradições cristãs. “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus; e o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.12-14). Muitos precisam nascer pelo Santo Espírito.

27/10/22

Quem é Deus senão o Senhor? (88/92)

      “Porque quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho.Salmos 18.31-32

      Um texto nem sempre nos ensina só pelo que diz, pode dizer-nos muito nas entrelinhas e ensinar mesmo pelo que não diz. A Bíblia é coletânea de registros históricos, assim, um entendimento mais abrangente dela se faz verificando vários aspectos, língua original, história, geografia, respeitando contextos, então, transferindo, se possível, para a realidade do leitor. Entender que a pergunta de Salmos 18.31 é só a declaração do “rochedo” que nosso Senhor é, é útil, mas a pergunta pode nos dizer mais, se nos aprofundarmos na sociedade do escritor e do antigo testamento de maneira geral. Por que o salmista faz a pergunta? Ele busca algum reforço na resposta? Qual?
      Quem é Deus senão o Senhor? Hoje em dia, após quase dois mil anos de doutrinação cristã, isso é questionamento que não fazemos, temos gravado na mente que só existe um Deus e ele é todo-poderoso. No tempo do antigo testamento isso não era bem assim, cada nação tinha seu “deus” e mesmo mais de um, politeísmo era comum. Em Salmos 86.12a há uma citação interessante, “entre os deuses não há semelhante a ti, Senhor”. Os “outros deuses” não são negados, só são colocados numa posição abaixo de Deus, assim, mesmo entre os israelitas é discutível afirmarmos que eles criam na existência de um único deus, ainda que convictos que seu Deus era o mais poderoso de todos.
      Em muitos textos bíblicos o registro dos escritores sobre deuses é feito de maneira exotérica, não esotérica, assim referem-se a estátuas e imagens, aos símbolos materiais usados para foco mental e emocional, portanto, de conhecimento popular e exotérico, não ao que era invocado no plano espiritual através desses ícones físicos, os espíritos malignos ou “deuses”, de conhecimento muitas vezes só de “iniciados”, o esotérico. Talvez hoje, com o neo-politeísmo que anda surgindo, principalmente pela promoção, por exemplo, de religiões afros e de povos originais (e aqui não exerço qualquer juízo de valor, só faço constatação “técnica”), Salmos 18.31 tenha relevância. 
      A verdade é que Deus ocupa uma posição espiritual única e eterna, nele está Jesus, com ele o Espírito Santo conecta todos os que o buscam. É assim ainda que abaixo dele principados e potestades de toda sorte de seres espirituais, da mais alta luz às trevas mais intensas, existam e possam ser acessados. Esse acesso a outros seres é prudente de ser feito? Não. Mas é possível? É. O termo falso deus é inapropriado em muitos casos, Deus só existe um, mas abaixo dele seres espirituais podem se colocar como deuses, também são verdadeiros, mesmo que não sejam Deus. Com verdadeiros não dizemos que sejam bons, podem ser maus, mas são reais. Falso deus mesmo é o homem arrogante. 
      Enganam-se muitos cristãos que pensam que pessoas de outras religiões são enganadas por deuses que se dizem algo quando são outra coisa, assim, como falsos deuses. Quem busca outros deuses sabe muito bem quem está buscando, sabe que não são Deus, e os espíritos desligados da luz mais alta de Deus, enquanto guias de religiosidades oficiais e provadas no tempo, também se identificam corretamente. Espíritos enganadores, que podem se passar por outros, inclusive, numa presunção muito grande até por Deus, são menores, geralmente são os que se apossam de indivíduos, esses são repelidos até em meios espíritas, não sendo “expulsos” só em igrejas evangélicas. 
      Muitos evangélicos e mais ainda protestantes tradicionais, mais próximos às doutrinas da reforma, têm um conhecimento superficial e às vezes enganoso do mundo espiritual, de demônios, diabos e outros. Pessoas que se relacionam com o mundo espiritual de maneira mais séria e profunda, ainda que não com Deus por Cristo e no Espírito Santo, não ficam necessariamente possuídas violentamente, perdendo controle de mentes e corpos. Se um evangélico acha que pode entrar numa sessão espírita kardecista, por exemplo, e expulsar demônios, se equivoca, a coisa é um pouco mais complexa. Mas sim, quem se envolve com algo que é proibido na Bíblia pode correr riscos sérios. 
      Não é adequado usar Efésios 6.12-13, “porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais, portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes”, para jogar responsabilidade no diabo por algo que é livre arbítrio humano. Contudo, esse texto se aplica corretamente à batalha espiritual, necessária quando alguém está intensamente amarrado a um problema e a espíritos maus. Mesmo dores que a medicina não acha a causa, podem ser efeito de opressão espiritual prolongada. 
      Seres espirituais, que acham harmonia em modos de vida errados, ligados a vícios, a culpas e a outras dores não resolvidas em Deus, podem torturar pessoas. Nesse caso nossa luta é conversar com a pessoa para que ela escolha um modo de vida diferente, mas também é orar para que espíritos maus, que entraram em sintonia com ela, não a atormentem mais, nem tentem nos revidar por estarmos ajudando-a. Cuidado, ao se envolver com problemas sérios, o mal pode se voltar contra você, por isso é necessário convicção de que Deus nos autorizou a nos envolvermos, e firmeza para depois permanecermos protegidos com a armadura de Deus, senão tentativa de cura pode até piorar a doença.
      Outra lição que aprendemos no salmo 18 é a resposta dada no versículo 32 à pergunta do versículo 31: “Deus é o que me cinge de força e aperfeiçoa o meu caminho”. É impossível existirmos sem comunhão com Deus, pobres dos ateus e materialistas que tentam viver sem crer no espiritual, ou que só confiam na ciência. Se Deus não te fortalecer, não saia para a batalha, poderá até ter vitória, mas ficará ainda mais fraco e susceptível às retaliações de espíritos maus, e não duvide, eles contra-atacam, esperam o momento melhor e jogam sujo. Peçamos a Deus que aperfeiçoe nosso caminho, de maneira que possamos fazer as melhores escolhas, sem ingenuidade ou irresponsabilidade, fortalecidos nele.

      “Ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém.Romanos 16.27 

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26/10/22

Acima dos símbolos (87/92)

      “Porque eu conheço que o Senhor é grande e que o nosso Senhor está acima de todos os deuses.” Salmos 135.5

      Existe outro aspecto importante sobre símbolos, verificado com representações de seres híbridos, parte homem, parte animal. Também se referem a seres espirituais, mas cada parte tem um significado, e assim podem conter vários significados espirituais. A esfinge, parte humana, parte leão, parte pássaro, conforme o ocultismo é mais que um animal mítico, é um conjunto de símbolos esotéricos. Quem foca em uma imagem de animal, não está adorando um animal, mas evocando significados espirituais. 
      Povos originais (indígenas) da América do norte têm ligações espirituais com animais, um urso, uma águia, uma cobra, sendo que cada animal representa um espírito ou um significado espiritual específico. Por outro lado religiões hinduístas já consideram certos animais como possuidores de espíritos especiais, por isso, por exemplo, os bovinos são respeitados, mas nesse caso não é simbolismo. Assim, a conexão espiritual que não com Deus por Jesus, pode ser bem variada e complicada. 
      Toda a velha aliança de Israel, recebida e codificada por Moisés, é um grande simbolismo da nova aliança que seria entregue por Jesus (refletimos a respeito em “Os templos de Jerusalém“). Não que os judeus adorassem a construção do templo, ou os objetos usados nas festas e cerimônias, mas Deus ensinava ao homem sobre a obra redentora do Cristo através dos protocolos da religião israelita. Isso construiu um símbolo mental muito poderoso usado pelo catolicismo e pelo protestantismo.
      Por que nos sentimos tão eficientemente purificados quando pedimos que Deus nos lave com o “sangue” de Cristo? Não sei quanto a você, mas eu me sinto, me pego usando esse simbolismo muitas vezes. Ainda que mental, é um símbolo porque o sangue físico e real de Cristo não vem nos limpar quando oramos assim. Jesus hoje é espiritual e numa posição espiritual elevadíssima, acima de toda sorte de seres espirituais e físicos. Mas essa figura funciona, como funcionam outras figuras.
      Baseada em Lucas 22.19-20 a Igreja Católica tem, talvez, o simbolismo mais forte de todos, que mais que um símbolo, creem eles, é uma manifestação física. No sacramento da Eucaristia a hóstia se transforma, dentro do corpo do crente, em corpo e sangue do Cristo (“transubstanciação”). No meio protestante e evangélico a interpretação da ceia varia muito, não é consenso, para uns aproxima-se bastante da doutrina católica, para outros a ceia é só um culto de memória e de confirmação de fé. 
      Pessoalmente acredito que não devemos julgar mal ninguém por usar símbolos materiais para focar ou reforçar sua comunicação com Deus e o mundo espiritual. Deus ouve e atende a todos, indiferente de símbolos, religiões e mesmo de intenções. Contudo, como alguém que tem certeza de suas convicções e acredita que conhece certas verdades, humildemente posso aconselhar. Busquemos a Deus, focando mentalmente nele, e através da verbalização do nome de Jesus Cristo, isso basta.  
      Concluo lembrando algo já dito aqui, nossa comunicação com o plano espiritual é mental, assim imagens, vistas ou imaginadas, não são só percepções e invenções de nossas cabeças, podem ser usadas para interagirmos com Deus e com outros seres. Não faço aqui qualquer juízo de valor, dizendo o que é certo e o que é errado, mas posso dar um testemunho. Buscarmos ao Deus Altíssimo, e não outro “deus”, nos cura, nos limpa, nos protege e nos conduz sem confusão sempre em vitória. 

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25/10/22

O poder dos símbolos (86/92)

      “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.I João 1.7

      A reforma protestante negou o poder dos símbolos, e em última instância, para aqueles que atingem espiritualidade mais iluminada e madura, não há necessidade de símbolos materiais para se ter uma experiência com Deus, digo isso com o respeito que tenho com todos que pensam diferente. Não estou dizendo com isso que protestantes e evangélicos tenham maturidade ou que desfrutem de toda iluminação, que sejam por isso melhores que católicos ou outros religiosos. 
      Mesmo que seja só por ideias, símbolos ainda podem ser usados, amarrando o ser humano na infantilidade espiritual que não vê muito mais que quem usa símbolos materiais. A diferença é que a reforma protestante colocou o homem num contato mais direto e reto com o Altíssimo, pela fé exclusiva em Jesus, ainda que negue a maior parte das capacidades que o Espírito Santo pode dar aos seres humanos para conhecerem mais profundamente o mundo espiritual.
      É inegável que os seres humanos precisam de símbolos materiais para concentrarem sua fé, para focarem pensamentos e sentimentos, ainda que muitos não tenham exatamente a noção de com quem estão se comunicando de fato. Assim, imagens em figuras e estátuas de homens e mulheres que já morreram e foram proeminentes em suas crenças, mesmo de arcanjos, de entidades e de outros seres espirituais, ajudam os seres humanos a terem a atenção de seres no plano espiritual. 
      Sim, nenhuma fé fica impune, nenhum intenção mental e emocional direcionada ao plano espiritual é em vão, acreditem nisso protestantes e evangélicos. Há poder nos símbolos desde muito tempo, como o antigo testamento tão bem nos descreve quando fala de “falsos deuses”, ainda que venham à mente de muitos evangélicos mal informados, quando leem sobre idolatria, só estátuas de pedra, madeira ou outro material, vazias, que não podem interagir com os seres humanos. 
      O ser humano precisou, e vejam que usei o verbo no passado, de símbolos nos tempos antigos, ainda que num estado de excessão. A história de Israel no antigo testamento é a de um Deus espiritual tentando convencer a humanidade que símbolos materiais são desnecessários. Mas o motivo de vermos isso com tanta ênfase em tantas passagens, seja pelos registros de Moisés, dos juízes, dos reis ou dos profetas, não era para ensinar que outros deuses não existem, mas que não são confiáveis.
      Não vou entrar em detalhes, mas a coisa funciona mais ou menos assim. Se você moldar uma estátua, ou desenhar uma imagem, de um ornitorrinco, por exemplo, então, invocar o mundo espiritual focado nisso, achará algum “ser espiritual” que se identifique como tal. Seres espirituais ”inferiores” são vaidosos, carentes por interação e adoração, como não querem se render a Deus querem ser deuses e encontram em seres humanos, assim como em outros espíritos ”inferiores”, atenção. 
      Por isso construção física de símbolos espirituais é tão perigosa, não fazemos ideia de quem responderá se chamarmos por eles. O mundo espiritual é complexo, usando um termo cristão, existem toda espécie de “demônios” e “diabos”, seres das trevas em vários níveis de hierarquia. Se são das trevas não são da luz, assim não são da verdade, mas da mentira. Qualquer ser espiritual é espírito, espírito não tem corpo, mas os ”mais baixos” são ligados à matéria, por isso tem predileção por símbolos.

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