segunda-feira, outubro 31, 2022

Espírito e espíritos (92/92)

      “Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” II Coríntios 3.3  

      “A palavra espírito apresenta diferentes significados e conotações diferentes, a maioria deles relativos a energia vital que se manifesta no corpo físico. A palavra espírito é muitas vezes usada metafisicamente para se referir à consciência e a personalidade. As noções de espírito e alma de uma pessoa muitas vezes também se sobrepõem, como tanto contraste com o corpo e ambos são entendidos como sobreviver à morte do corpo na religião e pensamentos espiritualistas, e "espírito" também pode ter o sentido de "fantasma", ou seja, uma manifestação do espírito de uma pessoa falecida. Na filosofia, aparece como sinônimo do termo mente (intercambiável como esprit, no francês, e Geist, em alemão), principalmente em questões como o racionalismo de Descartes, no dualismo mente-corpo, e o idealismo (por exemplo, o Espírito (Geist) Absoluto de Hegel no idealismo alemão). O termo também pode se referir a qualquer entidade incorpórea ou ser imaterial, tais como demônios ou divindades, no cristianismo especificamente do Espírito Santo.” 

      Uma lei ditando um não extremo podia ser mais prática para livrar os homens de encrencas e os levar a confiarem diretamente em Deus. O caminho que a Bíblia apresenta para Deus é simples e seguro, no antigo testamento direto ao Altíssimo, e no novo, por Jesus e pelo Espírito Santo. Ainda assim I João 4.1-3 (compartilhada no final deste texto) nos chama a atenção por citar o termo “espíritos”, no plural. É preciso lembrar que o adjetivo “santo” foi acrescentado pelos primeiros que juntaram textos para comporem o novo testamento, originalmente em muitas passagens só havia o termo “espírito”.
      I João 4.1-3 diz “provai se os espíritos são de Deus”, assim a questão não é se havia mais de um espírito, mas se eram de Deus. A passagem diz mais, “nisto conhecereis o Espírito de Deus, todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”. Se muitos evangélicos acham que podem entrar num centro kardecista, pedirem a qualquer “espírito” que está usando um médium para confessar que Jesus veio em carne, e que esse se negará a confessar, enganam-se. Aliás, João se refere nessa passagem a uma seita de seu tempo, que negava que Jesus tinha vivido na Terra com corpo físico.
      Da mesma forma nada ocorrerá se tentarmos expulsar pelo nome de Jesus muitos dos espíritos que influenciam médiuns, muitos evangélicos falam do que não sabem. Será que o que sabem não foi concluído sobre uma mediunidade errada, aquela em que os homens se deixam possuir por espíritos inferiores, os chamados demônios? Talvez espíritas que se convertem em igrejas evangélicas na verdade nunca tenham sido bons espíritas, só tiveram experiências erradas, talvez esses de fato necessitem de exorcismos, já os genuínos talvez sigam fazendo o bem, convictos de suas crenças, só talvez…
      Evangélicos identificam como médiuns pessoas possuídas pelo que eles chamam de demônios, assim, violentas, descontroladas, escravas de vícios, com identidades transtornadas, moralmente sujas, que são libertadas por autoridade no nome de Cristo. Por outro lado, no meio evangélico, há pessoas que perdem controle físico e emocional dizendo-se em transe do Espírito Santo, nesses casos não há violência ou sujeira moral, mas só inconveniência social, que no mínimo é demonstração infantil de efeito emocional de experiência espiritual. Precisamos avaliar sempre o que dizem os dois lados.
      Espíritas também não aceitam, principalmente kardecistas, transe que gere violência ou sujeira moral, que prejudique o médium, e em seu meio há transes que elevam as pessoas, compartilham sabedoria e produzem virtudes que dão bons frutos. Vou dizer algo que talvez escandalize, pode ser que muitos médiuns sejam usados pelo mesmo Espírito Santo que exerce dons espirituais nos crentes. Qual a experiência mais espiritual? A de pentecostais em igrejas cristãs, que muitas vezes não passa de manifestações exibicionistas, ou de médiuns, que mostram em frutos práticos santidade e caridade? 
      Em várias passagens da Bíblia verificamos Deus se revelando aos homens, não diretamente, nem genericamente pelo que o cristianismo padronizou chamar de Espírito Santo. Seres espirituais de luz são usados de formas diferentes, alguns como anjos (Gênesis 19), outros como serafins (Isaías 6), outros como querubins (Ezequiel 10), outros como arcanjos (Daniel 10). Por que acharmos que hoje, quando pedimos a Deus uma palavra e ele nos fala de maneira espiritual e direta, que é um Espírito Santo genérico que responde? Deus usa anjos e outros seres espirituais o tempo todo para nos falar e nos iluminar.
      Quem disse que não são esses seres, mais específicos, que falam aos homens em outras religiões, ainda que chamados por outros nomes? Muitos dizem, “não, é o diabo se fazendo passar por Deus”. Quando líderes religiosos judeus disseram que Jesus fazia o que fazia pelo diabo, ele respondeu que uma árvore se reconhece pelos frutos (Mateus 12.24-33). Talvez, antes de nos acharmos donos da verdade, e no direito de julgarmos, principalmente espíritas kardecistas (mas também a outros) como diabólicos, deveríamos conhecer melhor os frutos desses, anos de vidas dedicadas à caridade e ao bem. 
      Sinceramente eu não sei se o mundo já está preparado para conhecimentos espirituais mais profundos. Não estou fazendo aqui qualquer juízo de valor, defendendo ou condenando, e cito o kardecismo pois o conheço mais, distinguindo-o de outros espiritismos, mágicos e mais antigos, presentes em religiões de povos tradicionais, como na Umbanda e no Candomblé existentes no Brasil, baseados em tradições africanas. O que eu sei é que o mundo ainda precisa e muito da simplicidade de Jesus, que leva os homens diretamente a Deus e permite-lhes acesso ao professor e consolador Espírito Santo. 
      II Coríntios 3.3 ensina que Deus se relaciona com as pessoas pelo seu Espírito, sois a carta de Cristo escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo nas tábuas de carne do coração. Salvação de Deus, evolução do ser, comunhão do homem com o divino, tudo isso é feito com um Deus Espírito compartilhando sua eterna essência com suas criaturas. Religião, no melhor sentido da palavra, funciona espiritualmente, o termo espírito não é força de retórica, algo abstrato ou opcional, é uma presença viva e ativa. Relegar a segundo plano experiências espirituais na religião é negar sua razão de ser. 

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      “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo.” I João 4.1-3

      “Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda a cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá. E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?” “Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus.” “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” Mateus 12.24-26, 28, 33

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão

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