Respeito
músico erudito ou aquele que executa música somente por partitura, comecei como
um, fiz oito anos do tal piano “clássico” (o termo mais correto é erudito,
visto que este termo engloba todos os movimentos da grande música e não somente
o clássico). A geração atual tem se interessado cada vez menos por esse estudo,
que pena, perdem a técnica e o respeito pelo piano acústico que essa ferramenta
oferece, além de deixarem de se apropriar de todo o conhecimento histórico da
música ocidental de alta qualidade. Leitura eficiente de partitura também é
recurso indispensável para quem precisa compartilhar e aprender arranjos mais
rapidamente sem ter que ficar ouvindo repetidamente uma peça.
Respeito
e até invejo a disposição daquele que se mantêm por anos estudando, horas a
fio, para aperfeiçoar sua técnica e decodificar partituras centenárias. É claro
que isso é útil, não em si mesmo, mas como princípio para aprender outros
estilos musicais, como o blues e o jazz. Contudo, o músico que improvisa vai
além de interpretar códigos, improvisar é um universo sem fim, não há limites
para a liberdade de se propor novas ideias em cima da partitura original. Essa
liberdade está diretamente ligada a um conhecimento musical mais abrangente,
que vai além do erudito, ao repertório que se constrói e se consegue usar na
hora certa, sim porque nem tudo cabe em tudo, tem o momento certo para cada coisa.
Na
verdade muitos considerados compositores eruditos eram improvisadores, jazzmen e
rockstars de seu tempo, ocorre que aquilo que eles registraram em partituras foi
o que chegou até o nosso tempo e alguns, que só sabem ler partituras, acham que
fazer cover dessas peças é o máximo que a música pode atingir. Não estou
desmerecendo o músico que não sabe improvisar, de forma alguma, eles mantêm
vivas composições históricas, procurando executá-las da forma mais parecida com
aquela que foi feita originalmente pelos compositores.
Contudo
a partitura original não é o final das coisas, mas só o começo, uma fuga de
Bach, uma sonata de Mozart ou um noturno de Chopin devem ser estudados e
executados como mandam as partes, contudo, depois disso, podem ser usados como
parte do arsenal de clichês no improviso, é no improviso que o músico mostra
sua identidade artística, que vai bem além de um cover de qualidade.
Músico
tem que colecionar clichês, existem clichês interessantes em todos os estilos
musicais, desde a música erudita até a música regional, passando pelo jazz,
rock e country, quanto mais clichês na cabeça, mais rica a música debaixo dos dedos.
Mas depois da música erudita, eu acredito que o blues seja base da música
moderna, do pop ao fusion (que também é um pop, visto que mistura estilos,
contudo com mais técnica, o que não é tão popular). Recomendo àqueles que estão
interessados em improvisação a estudarem a fundo o blues, tanto para piano
quanto para órgão.
Pegando
um gancho nesta reflexão que foi a princípio musical, podemos usá-la como
metáfora para entender o agir de Deus na vida das pessoas. Deus vai além de ser
o maior músico erudito do universo, ele não interpreta pessoas limitando-se as
suas partituras originais, à formalidade daquilo que planejaram de mais
excelente para os homens, baseado em teorias de outros, se fosse assim a vida
seria um tédio. Deus improvisa e de forma magnífica, improvisando ele recria as
pessoas, expande seus horizontes, liberta-as das teorias e aparências e as
reconstrói para serem semelhantes a ele.
E
você, o que tem sido, uma partitura original feita por seus pais, pela
sociedade, por você mesmo ou já permitiu que Deus improvisasse em você, refazendo-o,
aperfeiçoando-o, enriquecendo-o com a novidade do Espírito Santo?
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