10/08/25

Além da morte: um ponto de vista

       “Portanto, meus amados, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.” I Coríntios 15.58 

      Morremos! A princípio somos exatamente quem éramos encarnados, a princípio não há mágica nem transformação, só ocorre que a identidade que aqui achávamos que era só nosso mundo mental, recebe liberdade para existir desprendida de espaço, tempo e matéria. Não há aperfeiçoamento extremo e imediato para os que tiveram uma religiosidade baseada no Cristo, usando sua vida no mundo como exemplo moral a ser seguido e sua posição espiritual como ponto elevado para se conectar a Deus pelo seu Espírito. Também não há condenação extrema e imediata para os que não tiveram a tal religiosidade baseada no Cristo, ainda que em Jesus haja espiritualidade, santidade, amor e humildade mais diretamente acessíveis. 
      Após nos acostumarmos com nossa nova condição, somos expostos ao juízo, que nada mais é que um confronto com a luz de Deus. Sim, anjos e outros seres espirituais de luz assistem junto a Deus, mas esse é momento pessoal, individual, onde somos protegidos, não envergonhados ou envaidecidos. Deus é sempre amoroso, portanto, elegante e discreto. Essa luz é reveladora, nada escapa dela, nada se esconde dela, nada resiste a ela. Encarnados no mundo temos alguma experiência espiritual, mas somos protegidos dessa luz, seríamos fulminados se ela nos tocasse diretamente. Na eternidade também há certa proteção, mas não de nós mesmos, serão avaliado aqueles novos valores morais que por mais tempo conseguimos reter. 
      A conta divina é simples: o que seguramos mais perseverantemente nas mãos será anexado ao nosso corpo espiritual e nunca mais perderemos, são valores que a partir daí definem nossa identidade eterna, nossos homens interiores, e consequentemente nossa qualidade de céu. Só Deus sabe quem de fato segurou virtudes morais por tempo suficiente para ter direito a uma passagem de nível espiritual na eternidade. Mas esse conhecimento não é tão misterioso, quem construiu o céu persistiu até o fim em santidade, humildade e amor, assim o final importa mais que o início. O que Deus faz após permitir que conheçamos o que ele queria para nós, qual foi a missão que nos deu, sendo expostos à sua luz? Nada, somos nós que fazemos.  
      Quem sabe que fez certo, que tem créditos, já o sabia em vida, por isso era santo, amoroso e humilde, por isso calava-se e não fazia exigências, e não fazia porque já estava satisfeito só por ser mais que filho, mas amigo de Deus. Animais e seres humanos são criaturas de Deus, seres humanos, todos eles, indiferente de suas escolhas morais e religiosas, são filhos de Deus, mas aqueles que amam a Deus e querem obedecê-lo em verdade são seus amigos. Céu é lugar para amigos de Deus! Os amigos após o juízo querem estar mais perto de Deus, assim elevam-se para ele, esse movimento também é trabalho, mas mais fácil que o trabalho moral que temos no mundo. Viver eternamente, conquistar novos céus, é subir à luz de Deus! 

      Vivemos, morremos e somos expostos à luz de Deus, essa exposição mostra o que somos de verdade e de um jeito que não podemos negar. No mundo tentamos nos enganar e aos outros, e muitos conseguem, ou acham que conseguem, por muito tempo. Mesmo enganando podemos seguir vivendo e mesmo conquistando coisas, bens, honras, posições sociais, mas no plano espiritual, após o juízo, nossos destinos são definidos. Se na maior parte do tempo no plano material não conseguimos vencer nossos defeitos, se só exaltamos nossas qualidade, se em nosso último momento negamos valores que um dia até conseguimos conquistar e segurar, o resultado do balanço não será positivo, de crédito, mas negativo, de débito. 
      O que Deus faz quando entendemos que não conseguimos cumprir a missão que ele nos deu no mundo? Nada, ele não precisa fazer coisa alguma. Vergonha e uma enorme tristeza tomam conta daqueles que de alguma forma tentaram se enganar e enganar os outros no mundo. Muitos procurarão lugares, pessoas e disposições que os ajudavam a manter a mentira no mundo e não acharão, não para lhes oferecer algum prazer ou fuga, ainda que ilusória. Eternidade é momento de verdade, a verdade mais pura e alta de Deus, não as verdades subjetivas do mundo físico. Ainda assim, muitos, que frequentaram igrejas, que conheceram a Bíblia, se arrependerão, e ainda que envergonhados terão purgatórios menores…
      Outros, contudo, se revoltarão, e ao negarem a verdade de Deus, cairão, para as regiões espirituais de trevas, reservadas aos seres que não querem subir para a luz. Esses acharão nos demônios os pares, e muitos estarão nessa posição, gerada de dentro para fora dos seres, munidos de argumentos religiosos, tentando achar na eternidade o que religiões lhes ensinaram no mundo sobre ela. Infernos são posições espirituais de tormento, de quem não aceita a verdade, como quartos fechados em que se põem lunáticos ensandecidos, possuídos de ódio, tentando achar nos prazeres da carne algum consolo. Mas na eternidade não há corpos físicos, sem noites de sono para descanso e refeições para satisfação do estômago com comida e bebida. 
      Nesta reflexão extrapolei ensinos do cristianismo, você não precisa concordar com tudo, mas ainda fiquei limitado à teologia tradicional. Não vou além para não escandalizar ninguém, a ideia não foi refletir sobre infinitude ou não de penas e recompensas da existência além. O objetivo foi explicar que céu se constrói com trabalho moral, a fé por Jesus nos permite ter acesso ao perdão de Deus e consequentemente recebermos paz, e paz é tudo que precisamos para seguirmos trabalhando. O que nos dá direito ao céu são as obras, a fé abre a porta, mas entrar e permanecer por mais tempo possível dentro da missão de Deus, adquirindo virtudes morais, é através de perseverante trabalho individual.

Postadas em 8/08/25 e 9/08/25
José Osório de Souza

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