19/08/25

Iluminação

Introdução 

       "Tu pois ordenarás aos filhos de Israel que te tragam azeite puro de oliveiras, batido, para o candeeiro, para fazer arder as lâmpadas continuamente." Êxodo 27.20

      Parece óbvio, mantém-se uma luz de qualidade acesa para que a visão seja melhor, contudo, não é isso que as religiões cristãs têm feito no passar dos séculos. A lâmpada de led da revelação original foi substituída por lâmpadas incandescentes, depois por iluminação a gás e hoje poucas velas, velhas e fracas, seguem tentando clarear grandiosos templos, onde muitos murmuram améns aprovando, cheios de medos, tudo que homens inescrupulosos rezam. Luz transforma-se em trevas, e isso não no mundo escuro, mas nos locais onde se reúnem seres humanos em nome de Deus. Na verdade Deus não prioriza o coletivo, o oficial, o tradicional, o externo, mas o indivíduo, o anônimo, o solitário, o íntimo. Depende de mim e de você sabermos o que importa para sermos o que é eterno.

1. Todos em todos

      “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” Mateus 5.39-41, 44

      “Fazemos parte do universo, quando falhamos, o universo falha”. Como cristãos, podemos ler frases como essa é acharmos que é coisa de religião esotérica ou espiritualista, temos dificuldade de trazer algumas verdades para a doutrina que aprendemos em igrejas protestantes. Abro parênteses, quando uso o termo protestante, me refiro a cristãos que seguem, em sua maioria, uma doutrina comum, pelo menos na maior parte dela, diferenciando da doutrina cristã católica, ortodoxa e mesmo das adições feitas por doutrinas evangélicas pentecostais, fecho parênteses. 
      Como protestantes podemos entender nossa existência de uma forma meio egoísta, ou pelo menos individualista, assim achamos que se pecamos nos prejudicamos, caso contrário, somos beneficiados e mais dignos de um “céu” sem condenação eterna. Mas Jesus não ensinou assim, entendemos isso estudando o sermão das bem-aventuranças em Mateus 5. Abençoar inimigos, dar a outra face ao que nos bate em uma, andar duas milhas com quem nos obriga a caminhar uma, tem a ver não só com ser humilde e pacificador, mas com amar o próximo e ajudá-lo a ser melhor.
      Quando, em nossas provações pessoais, falhamos, estamos perdendo uma oportunidade, ou pelo menos um tempo para sermos úteis nas vidas de outras pessoas. Todos os seres humanos estão ligados pelas chamas eternas que habitam seus interiores. Cada espírito humano é uma porção espiritual originada em Deus, o pai de todos os espíritos, os quais têm o desejo implícito, ainda que muitas vezes não assumido ou mesmo ainda não reconhecido, de voltar para esse pai. Mas essa jornada não é solitária, vai muito além das pessoas que estão fisicamente próximas a nós neste mundo. 
      Não fazemos ideia da complexidade de conexões que existem no universo, entre seres encarnados e os puramente espirituais, entre homens bem e mal intencionados, entre cônjuges, país e filhos, irmãos e amigos, e entre estranhos por completo. Alguns não colhem efeitos diretos e imediatos de nossas escolhas, mas colherão em algum momento. Todos nós somos anjos e demônios dos outros, servos e acusadores, companheiros em cargas pesadas e orgulhosos, tornando a carga dos outros mais pesada. Tudo está ligado, todos estão, você não é só, faz parte do todo. 
      Contudo, só entendemos essa verdade no Espírito Santo. Isso é mais que praticar o cristianismo de forma intelectual, ou distante, e longe não de igrejas e da Bíblia, mas do vivo Espírito. Quem nos une é esse Espírito, que expande nossa percepção mental e emocional da vida e das pessoas. Essa visão, que posso chamar de iluminação, muda nossa maneira de praticar o cristianismo, nos faz entender tudo e todos como Jesus homem entendia. Mas essa visão é unção, força espiritual maior que precisamos para vencer pecado, vaidade, egoísmo, culpa e dor de existirmos aqui. 
      Nessa iluminação não vemos inimigos, ainda que muitos se coloquem assim em relação a nós. Ainda que nos afastemos de alguns, não por escolha nossa, mas de alguns, que insistem em não nos perdoar, que não querem chegar a um entendimento conosco, que não se entendem como parte de todos, assim também de nós, mas como soldados numa batalha contra inimigos, ainda assim sabemos que nosso desleixo na vigilância moral, que nossa falta de misericórdia e paciência, prejudica outros, inclusive inimigos. No Espírito amamos, e no amor nos importamos com todos.

2. Direito de fazer

      “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.17

      “João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.” João 3.27

      “Respondeu Jesus: nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” João 19.11

      “Quem faz recebeu direito para fazer”, eis um outro princípio que dentro do cristianismo protestante podemos ter dificuldade para entender. Mas existem textos bíblicos que podem embasar esse princípio, como os acima. O terceiro texto bíblico inicial é o mais relevante para esta reflexão, Jesus diz a Pilatos que o fato dele estar mantendo-o preso era um direito que Deus estava lhe dando, portanto, Jesus afirma que seu sofrimento era autorizado por Deus. Mas era autorizado porque Jesus merecia? Acreditamos que não, mas aí está a relevância da obra do Cristo, suportar sofrimento injusto em paz e com humildade.
      Quando nos achamos no direito de ter algo bom e que não prejudica ninguém, o princípio é aceito sem dificuldades, mas o ponto que faz a teologia cristã, de modo geral, criar mirabolantes ou superficiais argumentações, é com relação a quem faz algo que claramente vemos como mau para nós. Na verdade, de maneira geral, o cristianismo tem dificuldades para interagir com o sofrimento, por isso lhe importa tanto a manutenção de uma grande vítima, o Cristo que morreu na cruz. Com esse álibi é mais fácil ter alguém para jogar a culpa, o diabo, e alguém para receber o castigo, Jesus, eximindo-nos de culpa e castigo. 
      Como um assassino tem o direito de ser assassino? Ou como uma criança inocente tem o dever de sofrer crueldade? Pois é, explique isso teologia cristã. É mais fácil responder, “Deus sabe, o assassino terá o inferno como castigo e a criança o céu como recompensa”. Da mesma forma nossa luta diária, se queremos algo de Deus, mas temos “culpa no cartório”, assumimos que fé no Cristo perdoa-nos os pecados e nos deixa com créditos para recebermos algo de Deus. Agora, se o que se pede a Deus demorar, bem, “a culpa é do diabo que é ladrão”. De fato, a teologia cristã torna a vida simples com respostas simplistas. 
      Isso foi útil, durante séculos, para um povo intelectual, moral, social e espiritualmente mais simples. Mas será que essas respostas bastam hoje? Sob meu ponto de vista, infelizmente, ainda bastam para muitos, muitos que usam a maior parte de suas vidas para trabalhar pelo alimento material básico. Contudo, também bastam para gente com mais poder aquisitivo e com melhor formação acadêmica, mas que se acomoda à religião, com o álibi, “creio no que a Bíblia aprova, o que passa disso é diabólico”. Novamente voltamos ao mesmo ponto: a Bíblia é construção humana, ainda que com experiências reais de homens com o Deus verdadeiro. 
      Voltemos ao tema desta reflexão, que podemos chamar também de iluminação: quem faz algo recebeu direito para fazê-lo. Mas recebeu tal direito quando? Se nossa existência inicia-se quando nascemos fisicamente neste mundo, como ensina a doutrina cristã, implica que de forma aleatória alguns recebem o direito de serem agressores, outros, o dever de serem vítimas, sem nenhuma razão específica, alguns nascem para sofrer e outros para fazer sofrer. A cada ser humano cabe aceitar seu “destino”, que pode ser mudado se ele crer em Jesus como salvador. Uma jornada por esse mundo não dá tempo para mais nada. 
      Se quiser poderá entender a quê os questionamentos feitos aqui tentam conduzir. Vendo minha jornada neste mundo e sendo atraído pelo Espírito, busquei aprovação de Deus para entendimentos que vão além da teologia protestante. Demorei muito para ser melhor, magoei muitos, ainda que pela misericórdia de Deus tenha sido protegido de mim mesmo para não deixar consequências mais sérias de meus erros. Mas aos sessenta e três anos provo paz em muitas áreas, e entendi que o direito que tenho nesta vida é de não ser exaltado, assim aceito certas oposições, não como injustiças, mas como necessárias para eu ser humilde.

3. Prontos para a verdade?

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” Gênesis 12.1-2

      A maior vaidade humana, que por isso pode ser o maior equívoco humano, é o ser humano se achar, não só dono da verdade, mas ter exclusividade sobre ela, verdade que outros não têm, por isso o dono pode considerar-se sinceramente melhor que os outros. Materialistas e céticos, carnais e ateus, civilizados ou não, por não entenderem a existência mais que aquela que sobrevive num corpo físico no plano material, cujas regras podem ser entendidas só pela ciência, se acham proprietários da verdade, e por isso melhores que religiosos e os que baseiam suas existências aqui e no além em fé no sobre-humano e espiritual. 
      Religiosos, ainda que muitos não neguem a ciência para administrar o plano físico, também se acham melhores que veneradores da deusa ciência, mas há agravantes nos religiosos. Enquanto cientificistas são unidos pela ciência, religiosos se dividem e lutam entre si, também por se considerarem mais donos da verdade que outros religiosos. Assim cristianismo saiu do judaísmo, catolicismo saiu do cristianismo original, protestantismo saiu do catolicismo, pentecostalismo saiu do protestantismo. Ciência fria une mais as pessoas que fé religiosa num Deus único e de amor, por triste que seja e incrível que pareça. 
      Cientificistas puristas dizem que ciência atéia salva vidas enquanto religião já matou muitos em nome de Deus. Mas isso não é verdade. Primeiro porque dificilmente há ciência pura, quem financiou e financia a ciência foram impérios e são empresas. Impérios queriam conhecimento para ter poder no mundo, conquistarem e manterem terras e povos. Empresas querem lucro, assim financiam o que dá-lhes retorno financeiro maior e mais fácil, e relevam o que não dá, ainda que seja em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e remédios, por exemplo, que podem salvar de forma mais rápida e barata muita gente. 
      Tudo que está debaixo do ser humano, pelo menos até o momento atual, é corrompido pelo egoísmo, pela cobiça e pela vaidade, de ignorância a conhecimento, de ciência à fé, de universidades a denominações religiosas. Não estamos prontos para a verdade, e me refiro à verdade existencial maior, à iluminação espiritual mais alta. Até estamos, pelos menos muitos e já há algum tempo. Contudo, limitando a ferramenta o que se obtém com ela é menos, ciência e cristianismo são manipulados. O que não podemos é idolatrar coisas manipuladas, corrompidas, e acharmos que nisso estão razão ou espiritualidade puras.
      Cientificistas, manipulados muitas vezes sem saberem ou sem admitirem, consideram os que confiam na fé e não no conhecimento, ignorantes. Cristãos, também manipulados por religiões e textos “sagrados” construídos por homens corruptos, acham que cientistas ou outros religiosos são diabólicos. A verdade não está disponível em qualquer esquina, real ou virtual, de graça e pura, para que qualquer um possa adquirir. A verdade sabe quem se dá ao trabalho de garimpar o ouro puro no meio de sujeira, lixo e simulacros do ouro real. Ela tem um preço? Tem, mas não aquele que homens dão, tem o preço da perseverança moral. 
      Se terminarmos a vida olhando-a igual, dentro da mesma religião, com os mesmos pontos de vista, não conheceremos a verdade. O preço maior pagamos quando entendemos que o que pensamos e cremos não está nos fazendo seres humanos melhores, ainda que tenha nos ajudado até então. Muitos nesse ponto, ou se revoltam com Deus, e muitas vezes o fazem sem admitirem a ninguém, ou seguem hipócritas, tentando satisfazer-se com o apoio humano que têm dentro dos grupos sociais em que viveram por tanto tempo. Coragem para mudar é o que dá, tanto forças para ser alguém melhor, quanto conhecimento da verdade. 

4. Deus não é homem 

      “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar.” Números 23.19-20

      O senso comum cristão usa a afirmação “Deus não é homem”, mas de forma um pouco conveniente. É útil dizer que Deus não é homem por ter qualidades morais e poderes materiais e espirituais superiores aos dos seres humanos, porém quando se trata de características negativas, como ira, tristeza, vingança, o senso comum não segue o princípio do texto bíblico inicial. Deus não está de fato e por inteiro no mesmo nível moral, material ou espiritual de qualquer ser humano! Em qualquer área! Deus não mente, mas também não se ira, Deus não se arrepende, mas também não se entristece, Deus não volta atrás com sua palavra, não a descumpre, mas também não se vinga. 
      Homens, mulheres, héteros ou homoafetivos, enfim, todos, têm muita dificuldade para entender Deus sem usar a si mesmos como referências. Julgamos os outros por nós, de preferência pondo-nos como melhores e os outros como piores. Entendemos Deus como semelhante, ainda que num nível máximo de excelência, mas com as mesmas características. Não há trevas na luz, não há ausência de amor no Altíssimo, Deus nunca deixa sua posição elevada de virtudes morais, ainda assim nos entende, nos ajuda, se compartilha conosco. Por isso Jesus e sua obra redentora como exemplo de vida, por isso o Espírito Santo e sua missão consoladora e didática. 
      Se pecamos e temos dificuldade para sentir o poder de Deus é porque sujamos o templo, que precisa de tempo para ser restabelecido como local da presença excelsa de Deus. Isso não significa que não podemos ter paz um instante após confessarmos nosso pecado e mostrarmos desejo sincero de não mais cometê-lo. A demora não é porque Deus se entristeceu, se zangou, e está de alguma forma nos punindo e se vingando. A demora em sermos restabelecidos após o pecado é para aprendermos sobre a seriedade do pecado e a necessidade de perseverante vigilância em santidade e amor. Deus não age com dubiedade ou melindre, é sempre consistente e construtivo. 
      Entender a constância benigna e imutável de Deus é uma iluminação espiritual, que muitos não buscam e não se preparam para receber. Para muitos é mais fácil antropomorfizar Deus, vê-lo como um ancião de longos e brancos cabelos e barbas, sentado num trono, rodeado de seres celestiais de luz e entregando penas e recompensas eternas e irrevogáveis. Muitos acham que isso é o fim da mais alta espiritualidade, mas ainda que o conceito por trás disso seja verdadeiro e útil, é apenas o início, por isso homens do passado podiam ter essa noção do divino. Eis um mistério, que nem todos compreendem, conhecimento espiritual se constrói com elementos mentais. 
      Um argumento que ateus e cientificistas gostam de usar é que Deus não criou o homem, foi o homem que criou Deus. Na verdade eles confundem os meios de se colher água com a água. Podemos usar as mãos, canecas ou construir sofisticados sistemas de encanamento, isso são as ferramentas humanas e podem variar, mas a água é a mesma e inalterável. Compreendemos mais o plano espiritual, o sobre-humano, Deus, se nossas ferramentas mentais forem mais sofisticadas, aperfeiçoamos essas ferramentas com oração no Espírito Santo, mas também abrindo a mente para entendimentos espirituais que vão além da doutrina protestante tradicional. 
      Muitos cristãos usam, ainda que de forma implícita, a famosa frase, “não li e não gostei”. Julgam textos de outras religiões como diabólicos sem nunca terem lido. Mas mais que ler os textos, muitos cristãos deveriam conhecer profundamente a prática de vida, não só religiosa, mas social de muitos que condenam como seguidores de satanás, ficariam surpresos a constatarem que muitos desses praticam mais obras de amor e justiça que eles. Mas que cristão quer, ainda que seja só ler, um texto que a doutrina tradicional de sua igreja diz que é de origem demoníaca e que leva ao inferno quem o segue? Sem coragem, não veremos além de um Deus-homem. 

5. A glória do anonimato 

      “E depois disto Jesus andava pela Galiléia, e já não queria andar pela Judéia, pois os judeus procuravam matá-lo. E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos. Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.” João 7.1-5

      O título desta reflexão é “A glória do anonimato”, mas há glória no anonimato? O que muitas pessoas mais querem atualmente, de posse de um celular e de contas em redes sociais e no Youtube, é não serem anônimas, é serem conhecidas pelo maior número de pessoas possível por serem especiais de alguma forma. É certo que há uma enorme contradição nesse desejo, querem ser diferentes à medida que se encaixam em referências reconhecidas como de pessoas importantes, assim querem ser iguais. O ser humano é amante de contradições, consegue funcionar nelas como se elas não existissem, por isso tantos fugindo da lucidez, abraçando a insanidade e amando ser anormalmente normais. 
      Jesus é o melhor exemplo de ser anônimo, aquele que é não por ser medíocre, por não ter auto-estima, por não desempenhar qualquer função notável na sociedade, mas por ser altamente espiritual. Jesus em vida não fundou religião, não reuniu milhares em templos, escolheu só doze, e se milhares queriam ouvir sua palavra e receber seus milagres não era por intenção direta dele, ainda que servisse a esses pelo amor mais puro e desinteressado. Vemos nos evangelhos um Cristo aconselhando aqueles que recebiam dele uma cura, que guardassem segredo (Marcos 1.41-45), também o vemos evitando algumas regiões em sua peregrinação. Jesus não queria fama porque sabia o fim de seres humanos bons que se tornam famosos. 
      Eis uma altíssima iluminação espiritual, entender que há glória no anonimato. Jesus também era pragmático, sabia que sua qualidade espiritual incomodava a liderança religiosa de sua época, e que isso suscitaria inveja e vingança. Jesus não queria apressar as coisas, mas ele também sabia que uma grande maioria de pessoas, mesmos entre os muitos que provavam de seus favores e dos poucos que gozavam de sua intimidade, não estava preparada para a verdade que ele vivia aqui e seria lá. Jesus não vendia o cristianismo barato, nem caro, sabia que só no tempo certo as pessoas aceitam a graça de Deus. Mas Jesus era feliz no anonimato, creiam nisso, não achava que estava sacrificando-se nele.
      Católicos e protestantes não entendem a glória do anonimato, ainda que de formas distintas. A cultura católica doutrina o homem numa disposição de morte à vaidade, nela as ordens de padres, freiras, irmãs, freis e de outros, são a celebração de uma religiosidade que acha haver espiritualidade na pobreza, na abstinência, no isolamento e na ignorância. Mas a contradição existe quando eles querem buscar isso, não numa pequena igreja, ligada a alguma denominação protestante desconhecida, mas sob as asas da poderosa Igreja Romana, com sede num Vaticano repleto de catedrais e outras construções luxuosas. O papa é o exemplo maior de glória no mundo, ainda que fale uma coisa, vive outra diferente.
      Já protestantes, ainda que tenham na fundação de sua seita uma igreja cristã mais simples, nega isso nos últimos dias. Grandes denominações têm sido formadas, principalmente no meio pentecostal e neo-pentecostal, com templos-sedes que deixam católicos em suas catedrais seculares com inveja. Mas tem sido ainda pior, querem o reino de Deus no mundo, querem o novo Israel no Brasil, nos E.U.A., querem ser a religião oficial, demonizando tudo e todos que a esse propósito, que pensam ter aprovação de Deus, se opõem. Não, grande parte de auto-denominados cristãos atualmente, não quer a glória do anonimato, por isso não está preparada para a iluminação da verdade espiritual mais elevada. 
      É buscando glória de homens e neste mundo que muitos cristãos não mudam de ideia e não conhecem a verdade, apesar de verem que suas religiões os levaram a um beco sem saída, foram bênçãos no início, mas no final de suas vidas já não os fazem mais seres humanos melhores. Contudo, sem coragem, trocam vitória íntima por aprovação social, trocam o anonimato requerido de todo que é iluminado, vence o pecado e recebe conhecimento do Espírito Santo, por fama. É esse orgulho que tem levado tantos evangélicos a apoiarem uma direita política estúpida. Não sei se está entendendo esta palavra, mas quando tiver tua espiritualidade baseada numa conexão íntima com Deus, não em religião, entenderá. 

6. Jornada de iluminações 

      “Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos.” Salmos 34.5 

      Se nada é dito ou é porque tudo foi dito, ou porque nada pode ser dito, pelo menos no nível atual do ouvinte. Conhecemos as coisas espirituais mais altas relacionando-nos com Deus, num diálogo onde se fala e se ouve. Mas o aprendizado desse diálogo não tem objetivo único de passar informações para satisfazer curiosidade intelectual, aliás, a tradição judaico-cristã nunca se prestou a isso. Seja pela obediência à lei mosaica, seja pela fé no Cristo, o objetivo é fazer o ser humano melhor moralmente, de modo a receber ajuda de Deus neste mundo e descanso no outro. Dialogar com Deus permite conhecimento de sua viva palavra pelo seu Espírito, é mais que informação, é força para se vencer o pecado e aproximar-se de Deus.
      A palavra de Deus é vida eterna! Quando o Senhor dialoga conosco ele compartilha sua essência com a nossa, o que nos atrai para o alto, às virtudes morais mais elevadas. É claro que enquanto no mundo físico, presos a corpos materiais, a vida recebida não fica conosco para sempre, como água que mata a sede acaba assim que é consumida. Por isso a necessidade de uma busca constante e perseverante, que só anexará a nossos espíritos um nível superior quando morrermos no mundo e formos avaliados no juízo. Lá seremos o que fomos por mais tempo aqui, se santos, humildes e amorosos, cidadãos de um céu, se sujos, orgulhosos e egoístas, prisioneiros do inferno. Enfim, estamos aqui para nos aproximarmos da luz divina. 
      Convertermo-nos ao evangelho, nascermos de novo no espírito, crermos em Jesus e recebermos pela fé o perdão de Deus, eis a iluminação inicial, que nos conecta a Deus pelo seu Espírito. Experimentarmos os dons do Espírito, liberando nossa mente e nosso emocional para discernirmos as coisas espirituais por ferramentas espirituais, eis uma segunda iluminação. Contudo, diferente do que muitos cristãos acham, isso não é o fim, mas só o princípio. Bem-aventurado aquele que entra na grande casa espiritual pela porta principal, o Espírito Santo enviado por Jesus, esse ficará, ceará e será satisfeito. A tentativa de entrar por outros meios, não será bem sucedida, quem entra pela janela é ladrão, não filho do proprietário da casa. 
      Caminhar para Deus é trabalho a dois, nos movemos à medida que somos atraídos, temos que avançar, mas só quando estivermos preparados, consequentemente quando estivermos capacitados para seguir. Saber quando ir e quando esperar, quando perguntar e quando ouvir, discernir se o silêncio é porque não nos preparamos ou porque já ouvimos o suficiente, tudo isso é conhecido numa íntima conexão com Deus. Nessa conexão podemos ouvir a voz de Deus nos púlpitos, pela Bíblia, exercendo atividades seculares, mas o jeito mais eficiente e direto é orando no Espírito Santo, exercendo dons espirituais para falar, ouvir, ver e sentir mistérios espirituais. Isso é iluminação, a obra principal que temos que realizar no mundo.
      Ensinando-me sobre a jornada de iluminações espirituais, o Espírito Santo me passou a ideia que essa jornada é um caminho que passa por múltiplas salas com múltiplas portas. Ninguém começa a andar com Deus e chega direto à última sala, as portas a princípio estão fechadas. Para abrir cada porta é preciso aperfeiçoamento moral, nisso seguir ensinos e a exemplo do Cristo aprova-nos para usar chaves. Ocultistas, bruxos e satanistas têm conhecimento semelhante, a diferença é que muitos deles não caminham com temor a Deus, obedecendo o melhor plano de Deus para suas vidas, e principalmente, para serem seres humanos parecidos com Jesus. Ainda que respeitem o plano espiritual, muitos querem manipula-lo com objetivos egoístas e materiais. 
      “Se estiver preparado uma força te atrairá”. Há uma organização espiritualista que usa frase semelhante, não fazendo juízo de valor dessa organização, sinto verdade nessa frase, aliás como há verdade em tantas frases usadas por igrejas evangélicas não tão bem intencionadas. Humildade para esperar e saber a vontade de Deus, fé e diligência para obedecer a vontade de Deus, santidade e amor para permanecer na vontade de Deus, assim somos conduzidos, porta a porta para entrar em sala após sala. Em cada porta é preciso fé para abrir, diante delas Deus nos deixará cientes da seriedade que há em receber uma nova iluminação. Mas à medida que progredirmos na jornada seremos melhores e anônimos, discretos com o conhecimento obtido. 

7. Iluminação não é opção 

      “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Provérbios 4.18

      Queridos, queridas e demais, existe um motivo pelo qual insisto tanto em dizer que Deus tem para nós algo mais que aquilo que a teologia tradicional protestante nos ensina em igrejas evangélicas. O motivo é que há muitos perdendo a batalha para o pecado, porque tentam combatê-lo como crianças, não como adultos. Repito o que já disse outras vezes, não demonizo aqui religião ou igrejas, nenhuma, cristianismos católico, protestante e pentecostal são úteis nas mãos de Deus para ensinar Jesus, entregar perdão e paz, e com efeito, permitir um caminhar de vitória neste mundo e no outro. Se você quer conhecer o Cristo, participe de reuniões em igrejas cristãs, seja fiel no que aprende, Deus tem muito para você nesses lugares. 
     O ponto é que religiões estabelecidas, cristãs ou não, não podem ser eficientes em toda a nossa trajetória no mundo, porque ainda que não admitamos, nossas almas amadurecem, assim precisam mais que experiências dos outros. Só experiências em primeira mão com Deus nos levarão até o final em paz e vitória. Por isso, num determinado momento, quando a ilusão de religiões construídas por homens acabar, quando nos cansarmos de dizer a nós mesmos que nenhuma igreja é perfeita e que não devemos olhar para homens, mas para Deus, temos que iniciar uma jornada pessoal, não só pela verdade mais alta e mais pura, mas pela nossa saúde moral, espiritual e mesmo física e mental, isso se de fato queremos melhorar. 
      Nesta reflexão em sete partes, pensamos iluminação espiritual sob vários aspectos. O termo iluminação, usado em óticas espiritualistas, também está na Bíblia, como em Salmos 34.5, mas Jesus é a maior iluminação que a humanidade recebeu. Não pense o termo iluminação como saber de algum conhecimento ocultista, portanto, diabólico, mas como a recepção de uma emanação de luz do Deus Altíssimo, onde há abertura dos sentidos espirituais para que sejamos libertados, não só de vícios e doenças morais, que acham no uso desenfreado do corpo físico a fuga em prazeres passageiros e destrutivos, mas libertados de superstições e misticismos religiosos, que nos prendem a um entendimento menor de Deus e do plano espiritual. 
      Todos chegam num ponto onde receber iluminação não é mais questão de escolha, mas obrigação por necessidade. Quando nos abrimos para a luz do Altíssimo nos sentimos como vendo um ambiente mais definido pela primeira vez, ambiente no qual habitamos por tanto tempo com pouca luz, onde achávamos que os esboços que víamos era toda a verdade. Quem anda em Jesus não está em trevas, mas só recebe luz mais forte se quiser, estiver preparado, e consequentemente, estiver necessitado, visto que não pode mais seguir em paz e vitória sem luz mais forte. Contudo, sei que muitas palavras do “Como o ar que respiro” não são para todos, assim, não se escandalize nem se desvie, se estiver de fato bem como está fique firme.
      Uma iluminação espiritual genuína não nega Jesus, Bíblia ou cristianismo, mas ilumina entendimentos que temos disso e nos faz ver além. Nunca deixo de citar versículos aqui, amo a Bíblia, mas não tenho medo de criticar certos registros antigos, e mais, certas interpretações ultrapassadas que muitos fazem da Bíblia, não porque Deus tenha mudado, mas porque o homem mudou e está pronto para ser iluminado. Acredito num cristianismo progressista, não conservador, porque creio num Deus progressista. Deus se revela aos poucos, arrogantes os que acham que tudo que precisam saber já foi revelado. A crianças o pai fala de forma infantil, ainda que ensinando princípios básicos e imutáveis, mas crianças devem crescer. 
      Todavia, seres humanos vaidosos, covardes, e consequentemente presos a preconceitos e ao pecado, querem manter como referência máxima de iluminação as sombras nas quais os homens viveram por tanto tempo. Manter adultos como crianças facilita o controle, impede iniciativas de avaliações pessoais e mudança de opinião. Isso inibe o livre pensar que permite que se deixe a tutela de outros e se caminhe sozinho, fazendo escolhas próprias. Infelizmente muitos temem mais papa, falsos apóstolos, padres, pastores, teólogos, instituições religiosas e tradições, que a Deus. Adultos podem reavaliar tudo, inclusive os próprios pais, para então conhecer melhor o Pai superior de todas as almas, o Deus da luz mais elevada.

Conclusão 

      "Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor." Lamentações 3.26

      Amo o versículo acima e nos últimos anos tenho amado-o mais. Há algum tempo deixei redes sociais, e há mais tempo as usava, mas só como ferramentas de compartilhamento de música e tecnologia musical, minha área profissional. Hoje, além do "Como o er que respiro", só mantenho meu canal no YouTube, também para promover minha atividade profissional. No momento tenho postagens programadas para até junho de 2033, quando cessará, se algo não me mover ao contrário, o blog. Tenha ficado feliz em constatar o quanto tenho me tornado desapegado com aprovação pública, e por outro lado, o quanto tem me bastado o que Deus pensa, sabe e faz por mim. 
      Coisa boa demais quando a alma cala, quando as vozes, todas elas, silenciam-se, quando só o Altíssimo Deus, nas regiões espirituais mais elevadas, fala, essa voz é sempre de paz, nunca de condenação ou cobrança. Quem se coloca e permanece nessa posição foi iluminado. Uma informação: um verdadeiramente iluminado não declara exatamente o que encontrou, só incentiva a busca e testemunha que o que achou é maravilhoso. Há dois motivos para isso, o primeiro é que o que cada um precisa achar e que seu espírito realmente deseja, ainda que o ser negue por muito tempo, é algo específico e pessoal. O outro motivo é que iluminação espiritual é algo precioso demais para ser verbalizada para qualquer um, assim: 

      "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." Mateus 7.7 

José Osório de Souza 

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