29/03/19

Quem não quer fazer, não pergunte

      “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente. E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.” “E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.” Daniel 12.3-4, 9-10

      Tem crente que quer saber a vontade de Deus para sua vida, mas não quer fazer essa vontade. Alguns cristãos perguntam, oram, jejuam, não perdem um culto, movidos por temor a Deus? Por fidelidade ao Senhor? Pela consciência que Deus tem o melhor para eles? Nesse caso não, se assim fosse depois de Deus falar, eles prontamente obedeceriam. Homens assim são movidos só pela curiosidade espiritual, curiosidade que todo ser humano tem, pelo mundo espiritual, pelos mistérios eternos e invisíveis. Dessa forma depois de terem a resposta, param de buscar, e como não obedecem estacionam no caminho do evangelho, não crescem. Muitos desses, depois de um tempo, ficam curiosos de novo, e tornam a buscar, querendo agora uma resposta diferente da primeira, quem não obedece se entedia, está sempre insatisfeito e a busca de “mistérios”. Principalmente as igrejas pentecostais estão cheias de curiosos, muitas vezes buscando a mesma coisa que buscaram em esoterismos. 
     Isso é muito perigoso, depois que Deus dá a mesma resposta, já que Deus não muda, os desobedientes acham que não tiveram resposta nenhuma, pois não sentem prazer no que lhes foi respondido, isso pode levá-los a buscar respostas, “mistérios”, na heresia, continuando ainda em igrejas chamadas evangélicas, cristãs, ainda que com doutrinas estranhas. Mas num desvio mais extremo, achando que a culpa é de Deus, que é ele que não está respondendo, ou respondendo de um jeito não aprazível aos seus ouvidos, os tais rebeldes podem buscar respostas em outras religiões, no ocultismo, no diabo, seria melhor para esses nem questionarem, assumirem que não querem obedecer e ficarem como estão. Quem não quer fazer, que não pergunte. Não pense que isso está longe de acontecer comigo ou com você, o ser humano sente prazer em novidades, em “mistérios”, ele é essencialmente um curioso, principalmente na espiritualidade, mas ser curioso espiritual não é ser espiritual, é só ser curioso. 
      Vivemos tempos de muito e acessível conhecimento, em todas as áreas, na científica e também na bíblica, basta entrar numa loja de livros evangélicos para ver a quantidade de Bíblias comentadas, de versões, direcionadas para mulheres, homens, empresários, jovens, crianças, e assim vai. Mas isso significa que os cristãos, tendo tanto conhecimento bíblico, obedecem à palavra? Não, mesmo com tanto conhecimento e com tantas igrejas, com a religião protestante evangélica alcançando muita gente, principalmente no Brasil, pouco se vive do evangelho primitivo e verdadeiro. A prova disso é que o Brasil com tantos cristãos em igrejas tem sido devastado com criminalidade, tráfico de drogas, corrupção de políticos, doutrinamento de ideologias inimigas do cristianismo, mesmo a natureza tem cobrado do Brasil pelo descuido com matas, rios, flora e fauna. Não, o conhecimento intelectual, por si só, não salva, não cura, não liberta, talvez devamos querer saber menos e praticar muito mais.

28/03/19

“A minha graça te basta”

      “E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.II Coríntios 12.9a

      Não, não vou fazer de novo uma reflexão sobre o espinho na carne de Paulo, assunto do capítulo 12 de II Coríntios, nem citei acima o versículo 9 inteiro, foi só a parte “a”, e isso basta, ou a graça de Deus nos basta. Basta mais que termos sempre todas as forças para fazer as coisas certas, se assim fosse, se Deus nos desse esse poder, com o tempo nós nos afastaríamos dele, achando que não precisamos mais dele e que as nossas forças nos bastam. Mas Deus não nos dá certas forças para que não nos percamos, e assim possamos depender dele, de sua graça, o tempo todo. Mas será que precisamos mais que da graça de Deus? Não se entendermos de fato o que é essa graça.
      O significado de graça é simples, é o que ele nos dá sem pedir de nós nada em troca, mesmo sem merecermos, é gratuito, por um amor maravilhoso e fiel. Assim Deus procede com aqueles quer se aproximam dele, que o buscam e confiam nele, mais que em qualquer coisa, mais que em si mesmos. A graça de Deus é de graça e nos enche de graça, os agraciados por Deus são felizes mesmo sem terem motivos para isso, sorriem, acham graça na vida pelo simples fato de terem suas vidas entregues nas mãos de Deus. Não peçamos o que não precisamos e não podemos ter, nos basta a graça, sejamos felizes e tranquilos nela, é a maior bênção que temos na vida.

27/03/19

Jesus é diferente, e ponto!

      “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.Isaías 57.15

      Preciso repetir isso, e assim farei até o fim, Jesus é diferente! Já refletimos sobre isso aqui (veja no link A simplicidade do Evangelho, por exemplo), mas sempre que oro e sou curado, essa verdade brilha forte em meu coração e me faz querer gritar isso pro mundo. Mesmo que o cristianismo fosse só mais uma religião, mesmo que tudo o que diz esoterismos, espiritismos e outras filosofias e magias metafísicas sobre o universo, sobre o homem e sobre Deus, fossem verdade (mesmo que sejam, em alguma instância...), ainda assim há um poder em invocar o nome do Deus único e verdadeiro através da intercessão exclusiva de Jesus, poder que não existe em nenhum outro lugar, outras coisas, outros homens ou outros deuses.
      A diferença está no fato que Jesus, buscado da maneira correta, conforme o novo testamento bíblico, muda nossas vidas na prática, liberta-nos de vícios, tira nossas culpas, permite-nos que perdoemos as pessoas e a nós mesmos, enfim, dá-nos a paz lúcida e que permanece. O evangelho faz tudo isso de maneira simples, inteligível por qualquer pessoa em qualquer lugar e em qualquer tempo. Por essa razão, mesmo com tantos desvios doutrinários, com tanta manipulação de homens em busca de poder, as religiões cristãs conquistaram uma parte importante do mundo ocidental e que manda, ainda, na política e economia do planeta, não podemos negar essa relevância.
      Sim, repito, a Igreja Católica manteve essa parte do mundo numa era das trevas, principalmente científica, por muito tempo, dominou a ferros, perseguiu e matou. O protestantismo assim como as igrejas evangélicas atuais também não são tão melhores, se tivessem tempo, e eu penso que não terão, fariam a mesma dominação de homens sobre homens no mundo, com finalidades materiais. Mas também não arrogue as outras religiões pureza de intenção, tudo o que o homem toca corrompe-se, ainda que a teoria seja maravilhosa, a prática entra em desincronia com ela a partir do momento que o primeiro ser humano que a recebe tenta praticá-la, e quando o segundo a recebe o primeiro tenta dominá-lo através da religião.
      Mas Jesus sempre será diferente e imaculável, não o dos crucifixos, da teologia protestante ou dos “milagres” pentecostais, mas aquele que nasceu, viveu e morreu santo, que ressuscitou e está à destra de Deus intercedendo pelos verdadeiros filhos do Altíssimo. Eu sei, porque provo essa verdade todos os dias, porque depois de conviver com ela por mais de quarenta anos ainda me surpreendo com a novidade de vida que Jesus me dá, com a esperança em Deus que me renova todos os dias, com a clareza de como o Espírito Santo me fala e que através de uma simples frase no meu coração me tira do poço mais profundo de trevas e confusão e me coloca num lugar alto, seguro e tranquilo.

26/03/19

Promessas para a outra vida

      “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.” João 14.1-3

      Por mais espirituais que queiramos ser ou parecer, somos cristãos muito materialistas, tendenciosos, principalmente para interpretar promessas bíblicas. Queremos o cumprimento de muitas promessas que lemos na Bíblia aqui e agora, neste mundo, e se possível com gente nos aplaudindo e muito dinheiro em nossas contas bancárias. Não foi isso que Jesus ensinou de fato, precisamos ter maturidade para entender e aceitar que muitas, muitas honras, reconhecimentos e posições, só teremos na outra vida, na eternidade, no céu. Muitas injustiças sofremos e continuaremos a sofrer até o fim, muitas faltas temos e será assim até o fim, aliás isso não é desmérito, mas sinal que não somos desse mundo, por isso não somos aprovados por ele, nem ele se sente na obrigação de ser agradável a nós.
      Os cristãos dos primeiros séculos entendim isso melhor, mas à medida que o tempo passou, que o cristianismo se tornou religião oficial, a religião cristã foi se tornando materialista e imediatista, aliás uma característica da espiritualidade ocidental. Enquanto os orientais sacrificam-se fisicamente para serem espirituais neste mundo, negando a carne, tentando antecipar a vida pura no espírito que terão no outro mundo, os ocidentais querem ser espirituais para vencerem a matéria aqui e terem alguma vantagem também aqui, não pensam, na prática, na eternidade. Os ocidentais fazem jejum, negam os apetites carnais, mas para obterem um favor material de Deus, para terem um bom casamento, um bom emprego, prosperidade financeira. A espiritualidade oriental abenega-se a este mundo físico, isso não salva, mas é uma lição que o cristão salvo por Jesus deveria aprender.
      Assim, tenhamos cuidado em como interpretamos versículos como João 14.12, “na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”, não achemos que o nível mais alto de espiritualidade é fazer milagres, sinais, prodígios e maravilhas. Jesus fazia tudo isso com um objetivo, ensinar a verdade do evangelho, a exclusividade da salvação em seu nome, a realidade do único Deus na vida dos que nascem de novo, ele não fazia milagres para beneficio pessoal e material. Os que entendem de verdade o evangelho veem prioridade nos valores espirituais, nas virtudes morais, e com certeza os que atingirem tal espiritualidade capaz de fazer milagres, e me refiro a genuínos milagres do Espírito Santo de Deus, fatalmente sofrerão as mesmas perseguições que o mestre Jesus sofreu.

25/03/19

Respeite o “sábado”

      “Mas se vós diligentemente me ouvirdes, diz o Senhor, não introduzindo cargas pelas portas desta cidade no dia de sábado, e santificardes o dia de sábado, não fazendo nele obra alguma, Então entrarão pelas portas desta cidade reis e príncipes, que se assentem sobre o trono de Davi, andando em carros e em cavalos; e eles e seus príncipes, os homens de Judá, e os moradores de Jerusalém; e esta cidade será habitada para sempre.Jeremias 17.24.25

      O contexto histórico do texto acima diz que se o povo de Israel obedecesse os mandamentos de Deus, então Deus abençoaria Israel com honra e prosperidade. Para o cristão, que segue o evangelho, leis mosaicas como guardar o sábado, não são mais mandamentos que devem ser guardados o pé da letra para que haja comunhão entre ele e Deus. Outros mandamentos, que dizem respeito à relação do homem para com Deus e para com outros homens, são cumpridos nos dois principais princípios do evangelho, amai a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. Contudo, guardar o sábado nos ensina uma lição que pode ser praticada hoje e que abençoa o homem em todos os planos, físico, emocional e espiritual. 
      Que lição é essa? É a que nós seres humanos temos nossos limites e precisamos, sim, de vez em quando, de momentos sabáticos. O Espírito Santo, ciente dessa limitação e amoroso como é, naturalmente nos conduz a descansos ocasionais, isso não significa parar com tudo na vida, mas deixar em “stand by” (modo de espera) algumas atividades, justamente para que possamos dar mais relevância a outras. Assim é importante em primeiro lugar saber quando Deus nos manda parar, e depois obedecer essa ordem, sem o orgulho de achar que os outros podem nos julgar mal por isso ou de nós mesmos nos acharmos menos porque estamos descansando. 
      Se Deus mandou parar, pare, e confie, melhor fazer nada numa determinada área por um tempo que quebrar a cara e ser humilhado publicamente a ponto de não ter mais forças para fazer todas as coisas. Aos que trabalham nas igrejas e que gostam disso, parabéns, Deus conhece seus esforços e os recompensará no tempo certo, mas se Deus mandar que deem um tempo ou mesmo, numa situação extrema, que não façam mais algo, sigam a orientação de forma completa. O espírito no Espírito de Deus está sempre pronto, mas nossas almas e corpos não estão, precisam de “sábados”, antes que adoeçam, muitas vezes de forma irremediável.

24/03/19

Complicado coração

      “O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria, será salvo.” 
Provérbios 28.26

      Ah, o coração do homem, não o órgão físico, válvula que bombeia sangue para o corpo, mas o coração subjetivo, centro das emoções, que antigamente se dizia estar no meio do corpo, nos intestinos (por incrível que pareça), o mesmo lugar que nos refirimos quando dizemos sentir um frio na barriga diante de grande ansiedade. Quem o conhece de fato, quem o pode entender? Os filmes, os livros, as canções, gostam de dizer, “não ligue pro resto, siga seu coração”, e isso não deixa de ter alguma verdade, quando queremos conhecer o que somos e o que queremos de fato. Contudo, essa verdade, essa sinceridade pessoal, pode não conter realmente o que é melhor para nós ou para as pessoas ao nosso redor que sofrerão as consequências de nossa escolha “do coração”. O clássico texto bíblico sobre o assunto, Jeremias 17.9, deixa isso claro.
      O certo é que se estivermos em comunhão com Deus, nosso coração e o “coração” de Deus estarão em harmonia, essa é a situação ideal para quem quer seguir a Jesus, dessa forma o que sentirmos de melhor será o que Deus tem de melhor para nós. Mas como foi dito, esse é um ideal difícil de ser experimentado, Jesus em sua oração derradeira no Getsêmani, antes do início de seu calvário, disse “meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice, todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26.39b), fica claro que mesmo ele tinha no coração algo que sabia que não era o plano de Deus para ele naquele momento, obviamente movido pelo terror que sentia diante do que iria ocorrer. Tenhamos sempre em mente que Jesus encarnado era homem sujeito às mesmas tentações que todos nós passamos. 
      Mas ainda que precisamos aprender a conhecer e a valorizar nossos corações, já que eles representam nossa identidade mais íntima e verdadeira, temos que entender que ele é mestre em criar sofisticados enganos. Podemos sentir uma coisa, interpretar uma coisa, quando na verdade o que ocorre é outra coisa, levando-nos a fazer coisas que nada têm a ver com a realidade, principalmente das outras pessoas envolvidas. As emoções por mais fortes e prazeirosas que sejam só podem ser dominadas pelo Espírito de Deus, esse, contudo, precisa de liberdade para agir, uma autorização nossa, senão nosso egoísmo vaidoso terá vitória. Isso acontece simplesmente porque prazer físico é força em nós quase irresistível em busca de satisfação, enquanto estamos encarnados, priorizar prazer espiritual é algo aprendido a duras penas.
      Muitos clamam por justiça, mas só querem continuar rancorosos e orgulhosos, fingindo-se de vítimas. Outros veem defeitos em seus cônjuges, mas só buscam álibis para o adultério, também fingindo-se de vítimas só desejam satisfazer suas luxúrias. Outros, ainda, criticam pastores quando na verdade são rebeldes invejosos que não querem se colocar debaixo de autoridades, não só de homens, mas principalmente de Deus. Alguns cristãos protestantes tradicionais interpretam como diabólico (o que pode até ser pecado contra o Espírito Santo) e herege a manifestação de dons espirituais no meio pentecostal, porque insistem em viver um evangelho intelectual e frio, privando-se de uma cura emocional possível aos que se quebrantam aos pés de Cristo. 
       Alguns evangélicos pentecostais, todavia, posam de espirituais enquanto taxam outros cristãos de frios e descrentes, isso para continuarem numa atitude emocional infantil e escandalosa, que nenhum proveito tem para o testemunho do evangelho no mundo. Enfim, muitos são os enganos do coração que em suma sempre beneficia seu dono e demoniza os outros, busca prazer rápido, mesmo disfarçados de espiritualidade, e não permite submissão humilde a Deus. O coração humano sempre quer ser senhor, não servo, mestre, não aprendiz, “deus”, não ser humano, o maior ídolo que o homem tem é seu coração, tanto que a ferramenta que o diabo mais usa para separar o homem de Deus não é a adoração dele mesmo, mas do coração enganoso do homem.
      A pergunta que queremos responder, diante de um implacável coração que sempre tende ao egoísmo, é: como saber quando Deus está falando em nossos corações, como discernir a voz do Espírito Santo em meio a outras tantas vozes que nossos corações ouvem? Andar com Jesus em todo o tempo é o que nos transforma, não queira um cristão desatento, imaturo, carnal, que anda o tempo todo na misericórdia extrema do Senhor, querer, numa situação especial, entender com facilidade a voz de Deus em seu interior. A confusão existe nos superficiais e irresponsáveis, que amam a muitos senhores, mas sempre querendo agradar só a si mesmos. O que se foca em Deus saberá que a primeira voz que fala, quando ele pede a Deus que fale com ele, é a voz de Deus, e eis aqui um mistério que só os de fato espirituais entenderão.

23/03/19

Seja aprovado!

      “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.Tiago 1.12-14

      Tiago fala de duas coisas diferentes no texto acima, vou inverter a ordem e falar em primeiro lugar sobre um segundo tipo de tentação, a última no texto. Essa é uma tentação mais óbvia, aquela que passamos todos os dias, que nos é imposta pela nossa carne. Em Deus não há mal, assim se o mal nos tenta, ele vem de outro lugar, nós somos salvos e recebemos o Espírito Santo, isso transforma nosso espírito, mas nosso corpo e nossa alma continuam sensíveis e sucesptíveis às mesmas tentações que têm os não salvos e sem o selo do Espírito. A diferença é que os não salvos não conhecem referência melhor de virtude que não seja a de sua própria natureza, assim, além de serem limitados estão escravos de si mesmos, do mundo e do diabo. O salvo experimentou a referência excelente do Espírito Santo, essa experiência muda nossas vidas, nos faz conhecer a verdade maior, quem prova isso pode até fazer escolhas temporárias ruins, pecaminosas, mas sempre volta ao refúgio do Espírito Santo. Eu creio que o salvo nunca se perde, mesmo que passe por momentos difíceis, mesmo em pecado, mesmo longe do convívio de igrejas. 
      Gostaria, contudo, de refletir sobre a primeira parte do texto acima, onde podemos interpretar um outro tipo de tentação, que podemos provar levados por Deus. Essa é uma provação diferente, não igual à diária, e que nos conduz a uma mudança de vida, a uma passagem de fase, a um crescimento espiritual. Jesus passou isso em sua provação no deserto, veja que o texto diz “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.” (leia todo o texto de Mateus 4.1-11 para melhor entendimento), o diabo o tentou, mas Deus mandou que Jesus se expusesse a essa tentação. É importante que se diga que ninguém pode provar uma tentativa como essa, só Cristo a experimentou, nenhum de nós tenhamos a presunção de achar que somos tentados nesse grau. Não foi homem, o mundo, nem demônios que tentaram Jesus, mas um ser espiritual poderoso do mal, no nível de arcanjo, de chefe de potestades, e não poderia ser diferente com aquele que salvou a humanidade da morte eterna. Nessa tentação foram oferecidas riquezas que homem comum não resistiria, não só materiais como espirituais.
      Mas que tentação nós, homens comuns, somos conduzidos pelo Espírito Santo para sermos tentados? Não são as tentações que nos deixam aparentemente mais fracos, as que tentam nosso lado mais baixo, mas as que nos deixam aparentemente mais fortes, as que tentam aquilo que temos de melhor. Esse tipo de tentação pode ocorrer depois que passamos um tempo de vitória, onde ficam estabelecidos nossos fundamentos, nossos valores, por isso o diabo é autorizado a confrontar isso, a ver até que ponto confiamos mais no que somos que em Deus. Quando confiamos em nós, agradamos ao nosso ego, deixamos a vaidade nos dominar, queremos aparecer como superiores. Veja que foi nisso que Jesus foi tentado, a assumir sua posição espiritual de Deus e de sair daquele deserto alimentado, empoderado, honrado e satisfeito, mas não do jeito que Deus queria para ele naquele momento, um jeito que o prepararia para a sua maior e final missão. 
      Quando caímos na tentação de ter uma vitória rápida, abrimos mão do plano maior que Deus tem para nós, deixamos de entender que a vitória do momento, conforme a vontade de Deus, é só uma preparação, um degrau, não o final que nos espera acima no fim da escada. Não é mais fácil ser aprovado nesse tipo de tentação, já as tentações diárias de todos nós, com os prazeres fáceis da carne, o adultério, os vícios, a ira, são bem mais fáceis de serem vencidas. Mas dessas, o sangue de Jesus nos purifica, enquanto que a outra, se não recebermos aprovação do Senhor, pode nos atrasar por muito tempo, e entenda, enquanto que as diárias sempre existirão, as tentações especiais são como exames se vestibular, acontecem só de vez em quando. Se houver reprovação, um longo tempo de “cursinho” terá que ser usado para nos preparar até que sejamos submetidos a um novo “vestibular”. Repetir demais nas provas de Deus pode não cansar a Deus, Deus não se cansa, mas pode nos levar a uma condição de exaustão emocional que nos impeça de tentar de novo.
      O mais trágico, contudo, é que muitos que insistiram em agradar a si mesmos não resistindo a provações especiais, não tiveram de Deus uma nova chance de prova e de consequente aprovação, foram condenados a viverem em Deus, como salvos, mas longe do centro do plano do Senhor para suas vidas. Esses são os servos frustrados, os pastores sem ovelhas, os profetas que têm muito a dizer, mas que não tem quem os ouça, esses vagarão solitários e tristes entre as nações sem nunca encontrar terras que sejam suas. Não queiramos esse destino, antes nos humilhemos diante de Deus, nos calemos diante dos homens, resistamos à pressa e à vaidade, o sacrifício de um momento. Por mais difícil que seja, pode representar uma grandiosa vitória, uma maravilhosa honra, e a oportunidade de ser usado por Deus de forma única, surpreendente, usando o nosso melhor para a glória do Senhor. Encerro com um texto importante para a minha chamada ministerial, texto que me consola quando preciso me calar e obedecer para ser aprovado, resistindo à pressa e à vaidade.

      “E eu te porei contra este povo como forte muro de bronze; e pelejarão contra ti, mas não prevalecerão contra ti; porque eu sou contigo para te guardar, para te livrar deles, diz o Senhor. E arrebatar-te-ei da mão dos malignos, e livrar-te-ei da mão dos fortes.” Jeremias 15.20-21