domingo, março 24, 2019

Complicado coração

      “O que confia no seu próprio coração é insensato, mas o que anda em sabedoria, será salvo.” 
Provérbios 28.26

      Ah, o coração do homem, não o órgão físico, válvula que bombeia sangue para o corpo, mas o coração subjetivo, centro das emoções, que antigamente se dizia estar no meio do corpo, nos intestinos (por incrível que pareça), o mesmo lugar que nos refirimos quando dizemos sentir um frio na barriga diante de grande ansiedade. Quem o conhece de fato, quem o pode entender? Os filmes, os livros, as canções, gostam de dizer, “não ligue pro resto, siga seu coração”, e isso não deixa de ter alguma verdade, quando queremos conhecer o que somos e o que queremos de fato. Contudo, essa verdade, essa sinceridade pessoal, pode não conter realmente o que é melhor para nós ou para as pessoas ao nosso redor que sofrerão as consequências de nossa escolha “do coração”. O clássico texto bíblico sobre o assunto, Jeremias 17.9, deixa isso claro.
      O certo é que se estivermos em comunhão com Deus, nosso coração e o “coração” de Deus estarão em harmonia, essa é a situação ideal para quem quer seguir a Jesus, dessa forma o que sentirmos de melhor será o que Deus tem de melhor para nós. Mas como foi dito, esse é um ideal difícil de ser experimentado, Jesus em sua oração derradeira no Getsêmani, antes do início de seu calvário, disse “meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice, todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26.39b), fica claro que mesmo ele tinha no coração algo que sabia que não era o plano de Deus para ele naquele momento, obviamente movido pelo terror que sentia diante do que iria ocorrer. Tenhamos sempre em mente que Jesus encarnado era homem sujeito às mesmas tentações que todos nós passamos. 
      Mas ainda que precisamos aprender a conhecer e a valorizar nossos corações, já que eles representam nossa identidade mais íntima e verdadeira, temos que entender que ele é mestre em criar sofisticados enganos. Podemos sentir uma coisa, interpretar uma coisa, quando na verdade o que ocorre é outra coisa, levando-nos a fazer coisas que nada têm a ver com a realidade, principalmente das outras pessoas envolvidas. As emoções por mais fortes e prazeirosas que sejam só podem ser dominadas pelo Espírito de Deus, esse, contudo, precisa de liberdade para agir, uma autorização nossa, senão nosso egoísmo vaidoso terá vitória. Isso acontece simplesmente porque prazer físico é força em nós quase irresistível em busca de satisfação, enquanto estamos encarnados, priorizar prazer espiritual é algo aprendido a duras penas.
      Muitos clamam por justiça, mas só querem continuar rancorosos e orgulhosos, fingindo-se de vítimas. Outros veem defeitos em seus cônjuges, mas só buscam álibis para o adultério, também fingindo-se de vítimas só desejam satisfazer suas luxúrias. Outros, ainda, criticam pastores quando na verdade são rebeldes invejosos que não querem se colocar debaixo de autoridades, não só de homens, mas principalmente de Deus. Alguns cristãos protestantes tradicionais interpretam como diabólico (o que pode até ser pecado contra o Espírito Santo) e herege a manifestação de dons espirituais no meio pentecostal, porque insistem em viver um evangelho intelectual e frio, privando-se de uma cura emocional possível aos que se quebrantam aos pés de Cristo. 
       Alguns evangélicos pentecostais, todavia, posam de espirituais enquanto taxam outros cristãos de frios e descrentes, isso para continuarem numa atitude emocional infantil e escandalosa, que nenhum proveito tem para o testemunho do evangelho no mundo. Enfim, muitos são os enganos do coração que em suma sempre beneficia seu dono e demoniza os outros, busca prazer rápido, mesmo disfarçados de espiritualidade, e não permite submissão humilde a Deus. O coração humano sempre quer ser senhor, não servo, mestre, não aprendiz, “deus”, não ser humano, o maior ídolo que o homem tem é seu coração, tanto que a ferramenta que o diabo mais usa para separar o homem de Deus não é a adoração dele mesmo, mas do coração enganoso do homem.
      A pergunta que queremos responder, diante de um implacável coração que sempre tende ao egoísmo, é: como saber quando Deus está falando em nossos corações, como discernir a voz do Espírito Santo em meio a outras tantas vozes que nossos corações ouvem? Andar com Jesus em todo o tempo é o que nos transforma, não queira um cristão desatento, imaturo, carnal, que anda o tempo todo na misericórdia extrema do Senhor, querer, numa situação especial, entender com facilidade a voz de Deus em seu interior. A confusão existe nos superficiais e irresponsáveis, que amam a muitos senhores, mas sempre querendo agradar só a si mesmos. O que se foca em Deus saberá que a primeira voz que fala, quando ele pede a Deus que fale com ele, é a voz de Deus, e eis aqui um mistério que só os de fato espirituais entenderão.

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