06/11/19

Os seres espirituais (“Mapa espiritual cristão”, 2/4)

2ª parte do estudo “Mapa espiritual cristão”

      “Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8.38-39 


       Um mapa do universo físico e espiritual, considerando Deus, o homem e os seres espirituais, a relação entre esses e as prioridades e possibilidades de cobertura espiritual, eis a pretensão deste estudo. Antes de começar a ler, por favor, veja a imagem acima com atenção, a ordem é sempre de cima para baixo e da direita para a esquerda quando há setas. O estudo é dividido em 4 partes, que serão postadas entre terça-feira, 5/11, e sexta-feira, 8/11, sendo que no sábado, 09/11, será postado estudo na íntegra.

5. Os seres espirituais

      Em algum momento no cosmo, seres espirituais tiveram livre arbítrio, semelhante ao que os homens tiveram depois, assim uma parte significativa de anjos, arcanjos, querubins, serafins e outros seres espirituais, escolheram não seguir o padrão de moral e espiritualidade original de Deus, disseram não às referências de bem, luz e verdade do altíssimo e seguiram as suas próprias. Contudo, eles não se limitaram a viver suas existências como rebeldes, eles levaram essa opção de vida também aos homens, percebe que Deus permitiu que esses seres rebeldes fizessem ao ser humano essa proposta de rebeldia. A proposta era, “você pode comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, você não vai morrer” (Gênesis 3.1-5), precisamos entender que na essência, comer do fruto não era algo ruim, não era a árvore da depravação moral, da crueldade, do egoísmo, mas do conhecimento. 
      O pecado poderia não estar na árvore e no fruto em si, mas em desobedecer uma ordem de Deus, a punição seria a morte? Mas que morte? Morte moral com certeza, que traria como consequência a morte espiritual, separação da comunhão natural que ele tinha com Deus. Além disso, talvez ocorresse também uma diminuição no tempo de vida física, já que não sabemos se fisicamente, antes do pecado original, o homem poderia viver mais, ainda que mesmo assim provando a morte física. O que colabora com essa interpretação é a raríssima citação bíblica sobre a outra árvore mística, a árvore da vida, o texto bíblico diz que foi por causa dela que o homem foi expulso do Éden, senão ele comeria também de seu fruto e viveria para sempre. Viveria no espírito? Não, provavelmente no corpo físico, mas isso também são conjecturas (Gênesis 3.22-24). 
       Seja como for, porque Deus orientou o homem para que não comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.9,16-17)? Porque Deus sabia os efeitos colaterais do conhecimento que seria adquirido, efeitos que trariam mais problemas que soluções. Nem sempre conhecimento é bom, muitas vezes é melhor permanecermos na ignorância (ou nos fazermos de ignorantes, sabedoria sempre desperta inveja). Isso nos revela algumas coisas interessantes sobre os seres espirituais caídos, e nesse ponto vou dizer algumas coisas sobre dois termos usados para nos dirigirmos a esses seres: diabos e demônios. Existem diferenças entre eles, ainda que possamos usar (e já usei muitas vezes aqui) como termos genéricos para seres espirituais do mal. Podemos dizer que diabos são seres maiores, líderes de líderes de legiões (e acredite, existem hierarquias e hierarquias no mundo espiritual), dessa forma não existe um diabo, mas muitos. Demônios seriam os soldados rasos, os piões, que aparecem muito a partir do novo testamento (por que não vemos mais sobre possessão demoníaca no antigo testamento, ainda que o diabo seja citado de vez em quando?). 
       Voltando ao ponto sobre as intenções reveladas sobre os seres espirituais caídos na tentação do homem, podemos entender que os diabos têm um interesse especial no ser humano, por quê? Bem, pela Bíblia não sabemos ao certo, e se não está lá é porque Deus não achou interessante que a grande maioria de seus filhos soubesse a razão, porque na verdade não é tão importante assim, na prática. Mas podemos conjecturar, o diabo inveja Deus e por isso corrompeu sua criatura mais especial, o homem, na verdade o diabo fez uma barganha com o ser humano, deu a ele o conhecimento em troca de sua adoração. Mas o homem não teria conhecimento se não comesse do fruto da árvore em questão? E quando dizemos conhecimento nos referimos a mais que noção moral de certo e errado, mas conhecimento científico (a lenda grega de prometeu usa o fogo como uma metáfora de conhecimento científico, tecnológico). 
       Não sei, a Bíblia não diz como seria a vida da humanidade caso o Adão mítico não tivesse caído, por quê? Porque Deus não deu essa informação a ninguém (e se deu não autorizou sua divulgação, categorizou-a como “top secret”). Mas me chama muito a atenção o fato da árvores fatídica, que levou o homem a separar-se de Deus, separação que custou a Deus sacrificar seu próprio filho Jesus para anular, chamar árvore do conhecimento do bem e do mal. Sim, a consequência da desobediência separou homem e mulher das regalias do Éden, trouxe dor, tédio, injustiça, depravações, isso com certeza não viria se o homem não tivesse “pecado”. E os diabos, o que ganharam com isso? Ganharam o que sempre ganham aqueles que se aproveitam de corações sofridos, amargos, solitários, fracos, insatisfeitos com a dureza de sobreviver na Terra, com o vazio da vaidade de uma vida egoísta e viciada. (As reais intenções do diabo com aqueles que lhe obedecem podem ser bem entendidas na tentação de Cristo no deserto, Lucas 4). 
      O diabo não poderia vencer um homem forte, por isso enfraqueceu o homem, contudo, Deus em sua sabedoria, usou um homem em total fragilidade, torturado na cruz, para vencer o diabo, será que o diabo contava com isso quando convenceu Judas Iscariotes a trair Jesus? Muitos estudiosos dizem que não, por isso Jesus veio como um simples mortal, e não como o rei que os judeus esperavam. Deus enganou o diabo em sua própria arrogância, como são enganados todos os orgulhosos, que se acham vencedores diante de alguém que se posta com humildade, mas a humildade sempre vence no final, como venceu Jesus, ressuscitado da morte de cruz. Como o diabo e o mundo sempre veem o bem maior como fraqueza, eles sempre se enganam e perdem. 
      Você percebeu como este estudo dedicou menos linhas para falar sobre a Santíssima Trindade e o ser humano que para falar sobre diabos e demônios? Por quê? Porque os seres espirituais caídos revelam uma parte importante de todos nós, se não fosse assim não teríamos caído na tentação, se não fosse assim todos nós não comeríamos, e dia após dia, do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e creia, todos nós comemos desse fruto e gostamos muito dele. (O texto de I João 2-16 resume as três tentações básicas que o diabo faz o homem sofrer, dizem que elas estavam presente na tentação original no Éden e na tentação de Cristo no deserto). Contudo, Deus não sabia de antemão que o homem cairia na tentação? Claro que sabia. Não sabia que a humanidade sofreria tanto escolhendo o caminho mais difícil? Evidentemente que sabia. Por que não fez nada para impedir? Bem, se fizesse isso, nós não seríamos seres livres, seríamos mais uma criatura animal de Deus na Terra. 
       Mas para haver liberdade tem que haver opções de escolha, e não um único caminho, e consequentemente com mais de um caminho, um é bom e o outro é mau, se deixamos alguém escolher nos arriscamos que ele escolha também, e infelizmente, mesmo que isso nos cause dor, o caminho errado do sofrimento. Os seres espirituais tiveram oportunidade de escolher, a humanidade teve, e aceite que não sofremos por culpa de Adão, sofremos por culpa nossa, pessoal, assim Deus dá a todos a opção de escolher qual caminho quer tomar, a todos. Voltemos, contudo, aos seres espirituais, de fato eles têm um interesse especial no ser humano, por isso que chegam a possui-los totalmente, quanto há autorização. Se não existe o selo do Espírito Santo, o espírito do homem pode ser tomado, e quanto isso é feito por demônios, alma e corpo humanos também são controlados pelos interesses malignos. 
      A grande mentira do diabo é que por mais que ele seja de substância espiritual e tenha invejado o Deus espiritual altíssimo, quando ele se apossa do homem ele o rebaixa, o torna mais carnal ainda, viciado, corrompido, sujo. O diabo quer companhia no inferno, ele quer o homem com ele. O Espírito Santo, por sua vez, também nos habita, e para sempre, mas ele nunca violenta nossa vontade, nunca controla nossa mente e nosso coração de um modo grosseiro e insano. Quem diz que é lançado ao chão, que fala em línguas estranhas sem parar, tudo isso em público, e o faz porque Deus está agindo, não entende a obra de Deus em nossas vidas. Essa obra é completa, e implica em que tenhamos uma experiência espiritual ao mesmo tempo que emocional e racional, deixando nossos corpos interagirem com alma e espirito, tudo isso de maneira equilibrada e santa. 

Esta é a 2ª parte do estudo, leia no blog as outras 3 partes
José Osório de Souza, 23 de outubro de 2019

05/11/19

Trindade e Tricotomia (“Mapa espiritual cristão”, 1/4)

1ª parte do estudo “Mapa espiritual cristão”

      “Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8.38-39 


       Um mapa do universo físico e espiritual, considerando Deus, o homem e os seres espirituais, a relação entre esses e as prioridades e possibilidades de cobertura espiritual, eis a pretensão deste estudo. Antes de começar a ler, por favor, veja a imagem acima com atenção, a ordem é sempre de cima para baixo e da direita para a esquerda quando há setas. O estudo é dividido em 4 partes, que serão postadas entre terça-feira, 5/11, e sexta-feira, 8/11, sendo que no sábado, 09/11, será postado estudo na íntegra.

1. Deus

      Deus se relaciona com todos e tem poder sobre todos, em todo lugar e sempre, bem, esse é o senso comum, o que todos dizem, e é isso mesmo, contudo, Deus não pode ir contra uma coisa, a única coisa contra qual ele não pode se opor, contra si mesmo, contra sua própria palavra, contra suas determinações, suas leis, suas promessas. Assim, muita coisa que achamos que Deus pode fazer, e ele pode, mas ele não faz, é por um motivo profundamente sábio (e muitas vezes totalmente misterioso a nós homens encarnados), por algo que ele determinou desde o início dos tempos. Quer um exemplo? Existem muitos exemplos, principalmente no universo material, leis que regem o mundo físico e que são válidas para todos, a principal delas é a de causa e efeito, ou como muitos dizem, “aqui se faz e aqui se paga”, ou ainda, “colhe-se o que se planta”. 
      Religiosos orientais chamam isso de carma, e no plano físico essa lei é inexorável, mesmo os salvos espiritualmente estão sujeitos a ela. Isso permite a todos que trabalham justamente colherem prosperidade financeira, assim como dá a todos que praticam algum tipo de criminalidade o castigo justo, de um jeito ou de outro, ainda neste mundo. Como relatado no livro de Jó, capítulos 1 e 2, os seres espirituais, caídos ou não, têm permissão de Deus para desempenharem seus papéis na obra maior de Deus, nada fazem sem que Deus autorize, isso é uma lei eterna. Deus também se relaciona com todos os homens, salvos ou não, filhos ou não, religiosos ou não, a todos ouve e em alguma instância a todos responde, Deus está sempre acessível, isso é outra lei (Isaías 59.1-2).

2. Jesus Cristo

      Jesus é especial, não mais um criador de religião, não outro profeta, não só um exemplo de moralidade e de caridade a ser seguido, ele é muito mais que isso. A obra singular de salvação realizada por nascimento, vida, morte e ressurreição de Cristo, a necessidade que todo homem tem de crer nessa obra para se tornar filho de Deus, e a diferença que tem um novo nascido em Cristo em relação aos outros homens, diferença que concede ao ser humano o privilégio de ser abençoado também no outro plano, isso é o que o evangelho verdadeiro prega. Em Jesus, mesmo o tal do “carma”, pode ser anulado, se não no plano físico, no plano espiritual, mas algumas vezes, não sempre, até no plano material. Com Jesus o homem se torna diferente, Deus o trata de maneira diferente, os seres espirituais o veem de maneira distinta, em Cristo o ser humano recebe de Deus uma blindagem espiritual que o leva diretamente ao centro da vontade do altíssimo, sem ziguezaguear por qualquer entidade espiritual, sem perder tempo com os complicados caminhos dos seres espirituais caídos (I Timóteo 2.5).

3. Espírito Santo

     Salvos por Cristo recebem a marca do filho de Deus, o selo do Espírito Santo, esse protege o homem de possessão espiritual e dá ao ser humano autoridade para expulsar demônios e apossar-se de alguns territórios espirituais e físicos. O Espírito Santo é o único representante oficial de Jesus na Terra, não religiões, não a Igreja Católica, muito menos os protestantes evangélicos, e menos ainda qualquer pastor ou líder humano. O Espírito Santo é professor, o único que pode nos ensinar a vontade de Deus, o único que pode nos fazer entender a Bíblia sem preconceitos ou apesar dos contextos culturais e históricos. O Espírito Santo é a presença de Deus em nós, que faz de homens templos do Senhor, aquilo que patriarcas israelitas, reis judeus e profetas do antigo testamento desejaram, quando o tiveram por algum tempo, temos o tempo todo a partir de nossas conversões. Se há uma voz que o mal quer calar é a voz do Espírito Santo, mais que as vozes de religiões, de igrejas, de teólogos, de pregadores, ela é a voz da verdade, a voz de Jesus, a voz de Deus (João 16.7-8). 

4. O ser humano

      Tricotomia é dividir algo em três partes, sob o ponto de vista teológico é dividir o homem em três partes, corpo, alma e espírito. O corpo é a parte material, os instintos de sobrevivência, de preservação da espécie etc. A alma é nossos pensamentos e nossos sentimentos, que vêm de nossa mente e de nosso “coração” (não o físico necessariamente, mas o centro de nossas emoções), é o que nos define como seres, que nos dão identidade e que sobreviverão junto do espírito. O espírito é a parte espiritual, o “sopro de Deus”, que nos diferencia dos animais e que nos permite ter um contato mais íntimo com o criador e com os seres espirituais. Essa divisão não é consenso, existem maneiras diferentes de se dividir o homem, mas eu penso que essa facilita e simplifica as coisas (I Tessalonicenses 5.23). Bem, em relação ao mapa universal sob o ponto de vista cristão, algumas coisas são importantes saber sobre a comunicação dessas partes com Deus, com os homens e com os seres espirituais.

- O homem, em algum nível, pode se comunicar com o homem: aliás, o homem é um ser social que precisa se relacionar com pares, para formar família, para trabalhar, para comungar valores religiosos, para se divertir. A solidão pode ser uma opção às vezes (e às vezes é bem útil), mas não é escolha extrema para seres humanos sadios física e emocionalmente. Seres humanos precisam de seres humanos, todo mundo precisa de alguém para amar, como diz a canção. 

- O homem pode se comunicar com seres espirituais: se for convertido, selado com o Espírito Santo, pode expulsar demônios (Mateus 17), e em situações muito especiais, depois de consultar a Deus, pode falar com anjos (Daniel 10.5-7), mas não deve tomar qualquer tipo de iniciativa para falar com eles, mesmo com seres espirituais não caídos, com anjos de Deus, simplesmente porque não é necessário, podemos falar diretamente com Deus através de Jesus, porque alguém deve falar com os empregados se tem acesso direto ao patrão? Eu, pessoalmente, acho que mesmo que tentemos, fora de situações especiais, não podemos falar com anjos do bem, e se falarmos, eles não nos responderão, contudo, quem pode responder são os do outro lado, os anjos caídos, fazendo-se passar pelos do bem. (Em situações especiais devemos perguntar antes a Deus, em espírito e não em voz alta, se a presença que está nos aparecendo é anjo ou é demônio, lembro que isso é bíblico, no antigo e no novo testamento anjos apareceram várias vezes aos filhos de Deus). Ocultistas, espíritas e outros espiritualistas, todavia, tomam a iniciativa de comunicarem-se com entidades espirituais e são enganados achando que falam com bons anjos, falam com os das trevas, via de regra Deus não usa anjos bons para falar com pessoas que não o buscam, e mesmo com seus filhos, Deus usa anjos para comunicação e não para defessa, repito, só em situações muito específicas. Para defesa, sim, anjos lutam por nós, vejam o exemplo do profeta Eliseu (II Reis 6.15-17), mas ainda assim não temos que dar ordem a anjos, esse comando pertence somente a Deus. Quando oramos devemos pedir a Deus através de Jesus, quando exercemos autoridade a fazemos no nome de Jesus, e por mais nada ou ninguém, sejam anjos, entidades, homens, “santos”, seja lá quem for.

- O homem pode se comunicar com Deus, mesmo antes de sua conversão, e Deus ouve e abençoa, contudo, salvação espiritual só através de Cristo, assim é preciso uma experiência real de salvação, de novo nascimento por Jesus, para se ter acesso direto a Deus. O não convertido pode se relacionar com Deus, Deus se relaciona com todos, mas não pode ter comunhão com Deus, não pode ser habitado por Deus. O não convertido, ainda que religioso e moral, não tem o selo do Espírito Santo. Isso é uma lei universal, Deus não passa por cima disso, dessa forma mesmo que haja sinceridade, vontade, se a pessoa não se entregar totalmente, não pedir perdão, não recebê-lo por Cristo (e por mais ninguém) e não se comprometer a mudar de vida, Deus não poderá se manifestar de maneira plena ao homem.

Esta é a 1ª parte do estudo, leia no blog as outras 3 partes
José Osório de Souza, 23 de outubro de 2019

04/11/19

Perdoe, perdoe, perdoe...

      “Olhai por vós mesmos. E, se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. E, se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; perdoa-lhe.” 
Lucas 17.3-4

      “Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” 
Mateus 18.21-22

      Os textos acima não precisam de explicação, de longos estudos, de profundas reflexões, só de simples prática, ou perdoamos ou não. Quem tem coração perdoador, misericordioso, não precisa de tempo para pensar, para que a mágoa passe, não diz “perdoar eu perdoo mas preciso de um tempo para esquecer a dor”, quem quer perdoar perdoa e pronto. Quem é pronto para perdoar? Quem é consciente de que também só tem paz porque é perdoado, o tempo todo por Deus. 
      Meus queridos, que felicidade tem o que perdoa fácil, mesmo uma agressão tamanha, mas será que quem perdoa fácil se sente assim agredido? Não se sente, porque não se vitimiza, ao mesmo tempo que não demoniza ninguém, só sabe que é ser humano e que o outro também é, sendo assim perdoar o outro é perdoar a si mesmo, é não se colocar acima de ninguém, mas tendo só Deus como juiz maior e santo, que a todos perdoa. 
      Perdoemos, perdoemos, perdoemos, quantas vezes quantas forem necessárias, e se o outro nem pedir perdão, se nem admitir que errou e muitas vezes ainda dizer que o erro foi nosso? Perdoe do mesmo jeito, não nos façamos de juízes, de acusadores, de ninguém, com razão ou não. Se feliz é o que perdoa, o que perdoa sem que perdão lhe fosse pedido é mais feliz ainda, isso é prova de verdadeira humildade, de maturidade, emocional e espiritual.

03/11/19

Sobre zumbis e lixo

      “Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.” Neemias 8.10

      Quando injustiças, calúnias, invejas e outros males, são lançados contra nós, podemos tomar duas atitudes. Uma é jogar fora, num bate e volta espiritual onde não abrigamos o pecado que é do outro e que nada tem a ver conosco. Se isso é feito, metade do processo é realizado, não basta não acumular o mal, temos também que reter o bem, para que sejamos alimentados e permaneçamos vivos de um jeito sadio. A outra atitude é armazenar o mal alheio, isso encerra o processo, já que cheios não sentiremos necessidade de nos alimentar, usaremos o mal como alimento e seguiremos. Vivos? Não, como zumbis, cheios do mal do outro, alimentados de matéria espiritual morta que nos mantém de pé, mas de uma forma doentia. 
      Quando o evangelho ensina que para viver é preciso morrer, significa que devemos nos alimentar de Deus, não do mal que os outros nos lançam, e que o diabo, com sua astúcia, tenta nos convencer que devemos acumular e não jogar fora. Como o diabo tem vitória nesse convencimento? Quando nos sentimos vítimas do mal alheio, quando queremos nos vingar do mal alheio, quando queremos fazer justiça com as próprias mãos, quando tentamos lutar contra as mentiras que os outros dizem e pensam sobre nós, quando nos sentimos acusados e não confiamos em Deus. Nem sempre o diabo nos vence fazendo-nos mentir, algumas vezes ele nos vence levando-nos a lutar numa batalha pessoal pela verdade. 
       No sábado passado refletimos sobre o tema vítimas (se não tiver lido confira no link), mas o princípio da estratégia do inimigo é nos convencer que temos um bom motivo para sermos acumuladores de lixo alheio, ele sabe que cheios do mal não buscaremos nos alimentar com o bem. O segredo da vitória, contudo, não é desprezar o mal alheio, isso, por mais racional que formos, será impossível, se não estivermos alimentados com o bem. O segredo é não andar com fome, quem está satisfeito, quem se alimentou bem, não cai na tentação de comer qualquer bobagem por aí, quem está cheio de Deus não tem espaço em seu coração para lixos, assim não lutemos com o homem, mas busquemos a Deus.
      Sempre que o homem cresce em nossas vidas, é porque nossa comunhão com Deus apequenou-se, se a acusação insiste em ficar e em nos atormentar, é porque estamos vazios do Espírito Santo. Assim, não adianta tentarmos lugar contra a mentira, ainda que estejamos lúcidos, conscientes de que é uma mentira, sozinhos seremos derrotados, e o mal sabe disso. Busquemos ao Senhor, confessemos nosso pecado, Deus sempre perdoa o que busca perdão, entreguemos nossas vidas nas mãos de Deus e confiemos que ele fará o melhor, depois, o adoremos, em intimidade, no Espírito, conheçamos os mistérios do Senhor, isso nos fará forte e não nos levará à batalhas inúteis contra uma lixo espiritual que não nos pertence. 
      O diabo nunca nos tentará com algo que podemos vencer até sozinhos, entendamos isso, ele nos tentará e assoprará nos ouvidos dos fracos para que nos confrontem naquilo que é nosso ponto fraco. Muitas vezes achamos que estamos passando por uma luta estranha e maior que nós simplesmente porque não estamos vendo que é o diabo lançando sua seta em nossa maior fraqueza. Mas a vitória não está em conhecermos melhor o ataque do inimigo, ainda que isso seja útil, a vitória está em conhecermos melhor a defesa de Deus. Dessa forma, se a luta estiver grande demais, pare tudo e busque a Deus, no processo de perdão, entrega, adoração, esse processo nos dá a paz e a alegria que nos fortalecerá contra toda acusação. 

02/11/19

Será que de fato aprendemos a viver?

      “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15.4-7

      Aprender a viver é descobrir o melhor da vida e por em prática, simples assim, muitos, contudo, vivem anos a fio cometendo os mesmos erros, se comprometendo com as coisas erradas, só repetindo o pior de seus antecessores. Não estou dizendo que repetir o que nossos pais fizeram é ruim, se eles conseguiram fazer melhor que o que os pais deles fizeram, então para eles bastou, mas isso não basta para nós. O ideal é evoluirmos e uma das facetas da evolução é usar o que aprendemos dos pais como base, como ponto de início, não como objetivo final, não como meta. Muitos, todavia, passam a vida como crianças imitando os pais, não crescem, não vão além disso, é claro que fazem isso porque existem algumas vantagens para se proceder assim. O álibi de ser tão bom quanto foram pais é muito forte, mas isso pode ser só uma zona de conforto para covardes.
      O que é o melhor da vida? São os valores espirituais, a virtudes que construímos nela e são as únicas riquezas que levaremos para a outra vida? Sim, isso é o principal, mas o grande mistério da vida é construir valores espirituais com ferramentas materiais, com o corpo em nossas relações com os outros homens. Quem pensa que ser espiritual é se isolar, negar os instintos materiais, dizer não aos apetites carnais, não constituir família e se tornar um ermitão numa caverna, se engana redondamente. Nem digo que Deus não chame alguns para viverem assim, mas isso é exceção não regra. O desafio é ser espiritual na carne e convivendo com a carne, e nisso, nossa relação com as pessoas é muito importante. Lembro que Jesus encarnado andava com gente, tinha amigos, participava de festas, tomava suas refeições com seus conhecidos.
      Mas para viver o melhor da vida é preciso coragem, principalmente de dizer não ao que os outros querem que sejamos, só conseguimos viver bem com quem importa quando dizemos não para viver com quem só nos quer para serem servidos. Não, eu não estou indo contra a lição espiritual que diz que é melhor servir que ser servido, isso é uma relevância do cristão verdadeiro sempre, mas isso também tem limites. O limite é a vontade de Deus, e acredite muitos vivem servindo, se escravizado, se anulando, sem que o Senhor tenha pedido isso deles, eles fazem só por comodismo, por covardia, enquanto isso, quem de fato poderia se beneficiar da proximidade deles, é desprezado. Quando servimos sob orientação de Deus, também somos servidos, num retorno maravilhoso e leve, que não pesa pra ninguém e que a todos faz bem. 
      Deve ter acontecido com você o que às vezes acontece comigo, de se aproximar de alguém, porque gostamos desse alguém, de investir em iniciativas, mas quando a pessoa ter que dar um retorno ela nos decepcionar, simplesmente porque ser escrava de tradições, de servir com mentiras a que não a faz feliz, mas que ela insiste em agradar por não ter coragem de se libertar. Enfim, temos que respeitar as escolhas alheias, mesmo que erradas, mesmo que sejam não estarem junto de nós. Amar também é aceitar que alguém não quer ser amado por nós, para essas pessoas restará uma vida pesada de servir gente errada, para nós, de seguir em frente em paz já que fizemos nossa parte. Não podemos insistir, amor forçado não é amor, mas devemos ser bons economistas afetivos, usando nosso melhor com quem de fato importa. 
      Viver bem é fazer bem às pessoas, isso é causa e efeito do amor, mas não precisa ser um grande número de pessoas, e o Espírito Santo é sempre bem sábio em nos orientar com quem devemos estar. Uma alma vale mais que o mundo todo, e se ganhamos um com a nossa verdade apoiada na verdade de Deus, então valeu a pena, e é isso que seremos cobrados no final, pelo bem que fizemos por escolha certa, a quem de fato precisava de nós. Na verdade, em certos momentos, entendemos que parece que nascemos e passamos tudo o que passamos simplesmente para vivenciar um momento com uma pessoa, fazendo essa pessoa feliz de um jeito que ninguém mais faria. Encontros assim, por mais rápidos que às vezes sejam, por menores que pareçam as atitudes que tomamos, constroem amizades que duram para sempre.
     Felizes os homens e as mulheres, contudo, que conseguem isso, antes de que com qualquer outras pessoas, com seus cônjuges, aqueles amigos super especiais com os quais fazemos alianças até a morte de casamento. Viver bem é muitas vezes deixar noventa e nove para lá para dar atenção a uma, se isso for a vontade de Deus valerá a pena e mostrará em nós alguém que se importa não com a aprovação de uma maioria, não com fama, não com tradições, mas com amar quem realmente importa, precisa e de fato dará valor à nossa iniciativa, mais do que noventa e nove pessoas. Essa é uma das grandes lições do texto inicial, amar alguém que naquele momento está precisando de um amor, de uma atenção especial, a despeito do que os outos podem dizer, a despeito mesmo do amor que se pode receber dos outros. 
      “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.” (Hebreus 13.2). Quando você sentir de abençoar alguém, quando for entregue a você uma oportunidade para fazer um bem a alguém, não pense demais, não deixe para depois, nem diga, “isso não é importante, deixa que outro faça”. Alguns compromissos podemos nos negar a realizar, com certeza nem tudo é para nós fazermos, muitas vezes é mais sábio sair que entrar, afastar-se que participar, calar que falar. Mas cuidado, em algumas situações você pode ser a única chance que alguém tem de ser abençoado, no sistema complexo e grandioso do universo, naquela situação, naquele momento, naquele lugar, se você não fizer, ninguém mais vai fazer, temos que ter sensibilidade para perceber isso.  
      Da tua iniciativa de amor, muitas vezes demonstrada em algo pequeno, que não te custa muito, pode resultar a diferença entre vida e morte de alguém. Contudo, muitas vezes, ainda que você seja negligente e não faça o que deveria fazer, ainda assim, a pessoa seguirá em frente, superará tua falha, tua ausência, tua covardia, tua displicência, contudo, nesse caso, o maior prejudicado poderá ser você mesmo, que teve uma chance para mostrar que sabe amar, que se preocupa com alguém mais de que com você mesmo, e falhou. Pior que a dor de não ser amado é não saber amar, ao desprezado Deus acolhe, cuida, consola, ainda que sofra muito pelo egoísmo humano, mas o que despreza o outro o faz porque na verdade já desistiu de si mesmo, antes mesmo que dos outros, não sabe amar a si mesmo, antes que aos outros, esse não receberá nem o amor de Deus simplesmente porque não acredita mais nele. 

01/11/19

Deus é grande

      “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” Salmos 121 

      Deus é grande, maior que tudo, então olhe para ele, para mais nada, e siga sem medo. Lembre-se disso não para pedir por milagres materiais, pelo menos não só para isso, mas lembre-se disso para se sentir em paz, estabilizado, diante da injustiça humana, diante dos julgamentos ruins que outros fazem de nós, diante da calúnia e da inveja que tantos sentem ainda que não admitam e ainda chamem a nós de arrogantes e falsos. Olhe para o Senhor, que te amou, que te salvou, que tem guardado tua vida e a de teus queridos próximos, pelos quais você ora solicitando proteção divina, olhe para esse Deus e entenderá que tudo o mais é infinitamente menor. 
      Quando entrar num ambiente e sentir-se acuado, oprimido, olhe para Deus, adore-o e fique em paz, quanto ver que algumas portas não abrem simplesmente porque as pessoas não querem dar a você a chance de você mostrar o teu melhor, olhe para Deus, respire fundo, com a alma e o espírito, mais que com o corpo, e fique tranquilo. Se você já clamou a Deus, já levou a ele tua causa, já abriu o coração com sinceridade e humildade, confie no Deus que criou e que sustenta o universo, ele é muito maior que os homens, sejam eles quais forem e onde estiverem. Não se vingue, não se defenda, não ataque, mas permita que Deus te defenda. 
      Deus não tem que ser maior para as pessoas, nem precisa manifestar fisicamente seu poder para ser grande, basta que ele seja grandioso em nossos corações, que pela fé permitamos que ele cresça dentro de nós. Se isso ocorre, o resto, todo o resto, fica inexpressivo. O que só prova um Deus grande quando esse se revela no mundo, na verdade não quer uma experiência pessoal com Deus, mas quer convencer os outros que o Deus maior está do seu lado, isso é vaidade, pura imaturidade. O que crê, todavia, antes mesmo que haja manifestação física, já teve o melhor da comunhão com o Senhor, permitiu que Deus fosse reconhecido num coração humano, independente do que os outros achem.

31/10/19

A vida é curta

     “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol. Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.Eclesiastes 1.9-10

      Nos tempos atuais o produto mais difícil de se achar é a originalidade, tudo de alguma forma já foi feito em algum lugar e por alguém. Interessante que o sábio Salomão já fazia essa constatação há milênios atrás, e nisso há uma originalidade, uma sabedoria que só o Espírito Santo pode dar. Assim, ainda que viver se torne um tédio, o Espírito Santo pode nos renovar fazendo com que a vida tenha graça e uma razão. A vida é uma chatice quando é sem Deus, e Deus só se prova através de Jesus que nos dá do seu Santo Espírito. Sem Jesus a vida nunca será o bastante, e mesmo que reencarnação fosse plano de Deus para nos evoluir, não seria suficiente, seria o inferno, um retorno constante ao mesmo mundo, num invólucro frágil e inviável para reter a graça do criador. Se o inferno é um sofrimento eterno, viver no mundo eternamente sem Deus é um inferno quase semelhante. 
      Contudo, a vida é curta, principalmente para quem a vive de verdade e não tem medo de se aventurar. Assim dias se tornam meses, meses em anos, anos em décadas, quando vemos temos filhos que estão sonhando os nossos velhos sonhos, de serem famílias e terem filhos. Quando vemos a música que amamos se torna antiga, flashback, ultrapassada para alguns e clássica para muitos. Quando vemos ter cinquenta não é mais ser velho, mas é um jovem que fomos há dez anos atrás, setenta, sim, parecem velhice, mas isso também vai mudar. Quando nos damos por conta os cabelos embranqueceram, nervos e ossos doem, e muitos problemas que antes vinham e iam, agora vêm e ficam. A vida passa depressa e então percebemos que muitos sonhos nunca se tornarão realidade porque eram meras ilusões, que muitos erros não poderão ser corrigidos, que com muitos problemas teremos que conviver aceitando que não têm solução. 
       Curta é a vida, principalmente em nosso corpo material, mas ainda que sejamos confrontados com muitas realidades quando a vida se aproxima do fim vemos que em muitos aspectos continuamos os mesmos, ainda que o corpo esteja cansado a alma ainda é criança. Mesmo que não possamos realizar mais e que saibamos disso claramente, ainda assim temos esperanças, com o passar dos anos não temos mais ilusões, mas ainda temos esperança. Ainda bem, esperança é o que nos mantêm vivos, jovens por dentro, e com o tempo, ainda que saibamos que muitas coisas são impossíveis, ainda assim nos apaixonamos, ainda assim continuamos sonhando. O grande desafio da velhice é desligar o corpo da alma, e isso só pode ser feito quando o espírito é livre, bem, liberdade espiritual só é possível através de Jesus, de mais nada ou ninguém. 
      A vida é curta, mas só percebemos isso de fato quanto nos distanciamos da eternidade e a distância só é maior na velhice, na infância estamos próximos da eternidade, porque estamos mais perto do nosso nascimento, nascer é passar do estado espiritual eterno para o estado físico. Assim, à medida que vivemos nos afastamos da eternidade, ainda que nos aproximemos da morte. A aproximação da morte só nos distancia do espírito e nos prende à matéria, por isso é preciso fé, acreditar sem saber, sem ver, sem sentir, que a morte é a passagem para algo não estranho, mas conhecido, para o estado que tínhamos antes de encarnarmos. Os que conseguem fazer a segunda passagem desprendidos da matéria, ainda que tenham passado muito tempo conscientes nela, os que conseguem ter fé numa existência puramente espiritual e melhor, ainda que impregnados de matéria, esses não serão pegos de surpresa pelo final da vida.
      Mas a vida é curta, cabe-nos vivê-la bem, mas sem idolatrá-la, usufruirmos dela, mas sem nos viciarmos nela, sermos satisfeitos com ela, mas sem acharmos que ela é um fim em si mesma, lutarmos nela e por ela, mas abrirmos mão dela principalmente à medida que ela se acaba. A vida é só um teste, um pequeno teste com uma única pergunta, uma pergunta que nos é feita de tempos em tempos, qual é essa pergunta? Ela não é a mesma para todos, mas seu objetivo é o mesmo, nos questionar até que ponto estamos preparados para morrer, não para viver. Morre-se abrindo mão de direitos, de egoísmos, de honra pessoal, de atenção demasiada, de posição, de status, de holofotes, morre-se diminuindo e deixando que o outro aumente, sumindo e permitindo que o outro apareça. 
      Morre-se servindo e abrindo mão de ser servido. Como servimos? Dando aquilo que temos de melhor sem fazer exigências, só para que o outro seja beneficiado. Servimos sendo em primeiro lugar servos de Deus, não de causas sociais, de ideologias humanas, de justiças e ciências, nem de religiões e espiritualidades, mas do Altíssimo. Servir a Deus é o jeito mais eficiente e justo de servir o próximo, quando fazemos isso mesmo a vida curta ganha sentido, tem razão de ser, nos dá as virtudes que seguirão conosco após a morte. Que pergunta tem sido feita a você dia após dia? Você entendeu qual é o seu objetivo? Não se prenda a essa vida, ainda que seja responsável com ela e com todas as alianças que você faz nela, cônjuge, filhos, amigos, mas abra mão dela, sirva a Deus e através dele sirva ao próximo, quem faz isso vive eternamente.