sábado, novembro 02, 2019

Será que de fato aprendemos a viver?

      “Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove, e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; E, chegando a casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.” Lucas 15.4-7

      Aprender a viver é descobrir o melhor da vida e por em prática, simples assim, muitos, contudo, vivem anos a fio cometendo os mesmos erros, se comprometendo com as coisas erradas, só repetindo o pior de seus antecessores. Não estou dizendo que repetir o que nossos pais fizeram é ruim, se eles conseguiram fazer melhor que o que os pais deles fizeram, então para eles bastou, mas isso não basta para nós. O ideal é evoluirmos e uma das facetas da evolução é usar o que aprendemos dos pais como base, como ponto de início, não como objetivo final, não como meta. Muitos, todavia, passam a vida como crianças imitando os pais, não crescem, não vão além disso, é claro que fazem isso porque existem algumas vantagens para se proceder assim. O álibi de ser tão bom quanto foram pais é muito forte, mas isso pode ser só uma zona de conforto para covardes.
      O que é o melhor da vida? São os valores espirituais, a virtudes que construímos nela e são as únicas riquezas que levaremos para a outra vida? Sim, isso é o principal, mas o grande mistério da vida é construir valores espirituais com ferramentas materiais, com o corpo em nossas relações com os outros homens. Quem pensa que ser espiritual é se isolar, negar os instintos materiais, dizer não aos apetites carnais, não constituir família e se tornar um ermitão numa caverna, se engana redondamente. Nem digo que Deus não chame alguns para viverem assim, mas isso é exceção não regra. O desafio é ser espiritual na carne e convivendo com a carne, e nisso, nossa relação com as pessoas é muito importante. Lembro que Jesus encarnado andava com gente, tinha amigos, participava de festas, tomava suas refeições com seus conhecidos.
      Mas para viver o melhor da vida é preciso coragem, principalmente de dizer não ao que os outros querem que sejamos, só conseguimos viver bem com quem importa quando dizemos não para viver com quem só nos quer para serem servidos. Não, eu não estou indo contra a lição espiritual que diz que é melhor servir que ser servido, isso é uma relevância do cristão verdadeiro sempre, mas isso também tem limites. O limite é a vontade de Deus, e acredite muitos vivem servindo, se escravizado, se anulando, sem que o Senhor tenha pedido isso deles, eles fazem só por comodismo, por covardia, enquanto isso, quem de fato poderia se beneficiar da proximidade deles, é desprezado. Quando servimos sob orientação de Deus, também somos servidos, num retorno maravilhoso e leve, que não pesa pra ninguém e que a todos faz bem. 
      Deve ter acontecido com você o que às vezes acontece comigo, de se aproximar de alguém, porque gostamos desse alguém, de investir em iniciativas, mas quando a pessoa ter que dar um retorno ela nos decepcionar, simplesmente porque ser escrava de tradições, de servir com mentiras a que não a faz feliz, mas que ela insiste em agradar por não ter coragem de se libertar. Enfim, temos que respeitar as escolhas alheias, mesmo que erradas, mesmo que sejam não estarem junto de nós. Amar também é aceitar que alguém não quer ser amado por nós, para essas pessoas restará uma vida pesada de servir gente errada, para nós, de seguir em frente em paz já que fizemos nossa parte. Não podemos insistir, amor forçado não é amor, mas devemos ser bons economistas afetivos, usando nosso melhor com quem de fato importa. 
      Viver bem é fazer bem às pessoas, isso é causa e efeito do amor, mas não precisa ser um grande número de pessoas, e o Espírito Santo é sempre bem sábio em nos orientar com quem devemos estar. Uma alma vale mais que o mundo todo, e se ganhamos um com a nossa verdade apoiada na verdade de Deus, então valeu a pena, e é isso que seremos cobrados no final, pelo bem que fizemos por escolha certa, a quem de fato precisava de nós. Na verdade, em certos momentos, entendemos que parece que nascemos e passamos tudo o que passamos simplesmente para vivenciar um momento com uma pessoa, fazendo essa pessoa feliz de um jeito que ninguém mais faria. Encontros assim, por mais rápidos que às vezes sejam, por menores que pareçam as atitudes que tomamos, constroem amizades que duram para sempre.
     Felizes os homens e as mulheres, contudo, que conseguem isso, antes de que com qualquer outras pessoas, com seus cônjuges, aqueles amigos super especiais com os quais fazemos alianças até a morte de casamento. Viver bem é muitas vezes deixar noventa e nove para lá para dar atenção a uma, se isso for a vontade de Deus valerá a pena e mostrará em nós alguém que se importa não com a aprovação de uma maioria, não com fama, não com tradições, mas com amar quem realmente importa, precisa e de fato dará valor à nossa iniciativa, mais do que noventa e nove pessoas. Essa é uma das grandes lições do texto inicial, amar alguém que naquele momento está precisando de um amor, de uma atenção especial, a despeito do que os outos podem dizer, a despeito mesmo do amor que se pode receber dos outros. 
      “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.” (Hebreus 13.2). Quando você sentir de abençoar alguém, quando for entregue a você uma oportunidade para fazer um bem a alguém, não pense demais, não deixe para depois, nem diga, “isso não é importante, deixa que outro faça”. Alguns compromissos podemos nos negar a realizar, com certeza nem tudo é para nós fazermos, muitas vezes é mais sábio sair que entrar, afastar-se que participar, calar que falar. Mas cuidado, em algumas situações você pode ser a única chance que alguém tem de ser abençoado, no sistema complexo e grandioso do universo, naquela situação, naquele momento, naquele lugar, se você não fizer, ninguém mais vai fazer, temos que ter sensibilidade para perceber isso.  
      Da tua iniciativa de amor, muitas vezes demonstrada em algo pequeno, que não te custa muito, pode resultar a diferença entre vida e morte de alguém. Contudo, muitas vezes, ainda que você seja negligente e não faça o que deveria fazer, ainda assim, a pessoa seguirá em frente, superará tua falha, tua ausência, tua covardia, tua displicência, contudo, nesse caso, o maior prejudicado poderá ser você mesmo, que teve uma chance para mostrar que sabe amar, que se preocupa com alguém mais de que com você mesmo, e falhou. Pior que a dor de não ser amado é não saber amar, ao desprezado Deus acolhe, cuida, consola, ainda que sofra muito pelo egoísmo humano, mas o que despreza o outro o faz porque na verdade já desistiu de si mesmo, antes mesmo que dos outros, não sabe amar a si mesmo, antes que aos outros, esse não receberá nem o amor de Deus simplesmente porque não acredita mais nele. 

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