12/10/20

12. Deus é Espírito

Espiritualidade Cristã (parte 12/64)

      “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.João 7.38-39

      “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4.24

      Comunhão com Deus gera paz e alegria em nossa alma, sentimos muita tranquilidade em nossas mentes e muita alegria em nossos corações (ou nos centros emocionais, estejam eles onde estiverem), dessa forma o que diz ouvir a voz de Deus senti-se muito bem e quer fazer bem aos outros. Quem diz que ouve Deus e sente alguma espécie de tendência violenta ou estranha, que não leve a desejar e vivenciar as melhores virtudes, ou está muito confuso, ou está ouvindo outra voz espiritual ou está mentalmente enfermo. Tenhamos muito cuidado com isso, Deus nos conhece, sabe o que é melhor para nós e sempre respeita nossos limites, ele sempre nos conduz à vida, em todas as esferas, e vida abundante. 
      Rios de água viva, eis uma metáfora perfeita para a maneira como o Espírito Santo pode fazer transbordar de nossos interiores uma satisfação ímpar, uma felicidade sem igual, como águas puras e frescas jorrando de uma fonte sem parar, águas vivas, não parador nem sujas. Isso é vida eterna, que se inicia no plano físico, no mundo, ainda com a gente encarnado, e mesmo se estivermos velhos, cansados, ou até doentes e em grandes lutas e necessidades teremos direito a isso. Isso é a essência espiritual de Deus em nós com liberdade, é a posição que teremos de maneira plena na melhor eternidade com Deus, é aquilo que Deus planeja para o homem em Jesus, o estado que o homem tinha antes de levar no Éden.
      Deus é espírito, e não só essa matéria espiritual que temos dentro de nós, que é espiritual mas está presa à carne, limitada por ela, Deus é espírito em sua mais elevada plenitude, e é para isso que ele nos chama, ainda que tenhamos uma alma e um corpo que tentam nos chamar para valores inferiores. Deus buscamos que o adorem em espírito e em verdade, sim, porque não basta ser uma experiência espiritual, os diabos e os demônios são espirituais, mas são seres ligados à rebeldia e à mentira. Em espírito, pelo Santo Espírito, e assim, em verdade. Tantos adoram em nome de Deus tantas coisas, tantos seres, homens e espíritos, em tantos lugares e de tantos jeito, se entendêssemos de fato o que Deus procura.
      Queremos uma religião, um jeito de sermos espirituais, uma maneira de anular culpas e dores, uma explicação do plano espiritual, o porquê de nossa existência nestes universos? Adoremos ao único Deus Altíssimo, pelo seu Santo Espírito que nos é dado pela salvação em Cristo, só isso basta, essa é toda a religião que agrada a Deus e que de fato é dele de maneira mais pura. Se fizermos isso, o resto, libertação de vícios, paz, amor para tratar bem as pessoas, justiça para termos um mundo bom para todos, é consequência dos rios de água viva que jorram do interior de quem adora Deus em Espírito e em verdade. Isso é tudo o que precisamos, isso é o melhor que Deus tem, isso é a verdadeira espiritualidade.
    Infelizmente o cristianismo está repleto de adoradores de símbolos, e isso há muito tempo, sim, são símbolos de coisas excelentes, genuínas, de conceitos bíblicos, de doutrinas do evangelho, do próprio Cristo, de sua obra, de seu nascimento, vida, morte e ressurreição, mas ainda assim, símbolos, e símbolos são mortos, são só cópias, ritos, não a coisa real. Ele nos lembram do real, nos ajudam a focarmos nossa fé? Sim, e não despreze quem carrega mini crucifixos em miniaturas no pescoço, Deus sabe o quanto ele ama essas pessoas e atende com carinho seus clamores, me que carreguem o que muitos cristãos protestantes chamam de “ídolos”, como se só o fato de não usarem isso em suas crenças os fizessem melhores crentes.
      Contudo, para que complicar quando na simplicidade e objetividade temos acesso ao real, ao verdadeiro? O Espírito Santo é real, é Jesus, é Deus, por isso tinha que ser enviado aos homens depois que Jesus partiu para o pai. Outras religiões até podem ser vividas pelo melhor do homem, são coisas de homens, são o homem querendo alcançar Deus, são o homem tentando se religar a Deus do seu jeito. Mas o cristianismo é diferente, ele é Deus alcançando o homem, é o jeito direto de Deus, e a verdadeira religião cristã só pode ser vivida pelo próprio Deus em nós, Deus vive em nós através de seu Espírito Santo, por ele nos chama e através dele nos eleva, entendam isso, meus queridos amigos protestantes e católicos.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

11/10/20

11. Pecado se vence com vontade!

Espiritualidade Cristã (parte 11/64)
 
      “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.Gênesis 4.3-8

      Ser espiritual é vencer o pecado, esse é o primeiro passo, pecado, contudo, não se vence facilmente nem com fraqueza. Ele é inimigo numa guerra e como tal deve ser vencido com persistência e força, é preciso uma decisão de vontade firme para se obter êxito. Vamos entender melhor isso refletindo na passagem inicial, o segundo relato bíblico da eterna luta da carne contra o Espírito, no primeiro relato Adão e Eva foram vencidos na tentação original, agora são seus filhos que enfrentam uma provação. Abel trouxe como oferta a Deus uma ovelha de sua criação, fruto de seu trabalho, Caim trouxe o “fruto da terra”, algo vegetal que colheu na natureza.
      Abel ofereceu algo que lhe custou um preço, assim como um animal que podia ser oferecido como sacrifício pelos pecados, ele acertou duas vezes e agiu conforme a índole de seu coração, esforçado e temente a Deus. Caim, além de ter trazido algo que não lhe custou muito, trouxe algo que não podia ser oferecido como oferta pelo pecado, isso refletia seu nível de espiritualidade assim como a ausência de sensibilidade para com suas culpas. O humilde entra na presença de Deus pedindo perdão, o tolo acha que o privilégio é dos outros de o terem por perto, assim Deus se agradou de Abel, mas não de Caim. Segue no texto a manifestação do que havia no coração de Caim, distância de Deus, inveja, ira e finalmente homicídio. 
    O mal pior não nasce de um dia para o outro, é construído no tempo, com rancor e descrença, assim o que começa com algo pequeno pode terminar em tragédia. O autor da carta aos Hebreus define o diferencial que havia em Abel, “pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11.4), isso deixa claro que já havia a prática de sacrifício de animal, crendo que isso daria direito ao perdão de Deus pelos pecados. Contudo, o ponto dessa reflexão é a frase, “sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, ela nos fala sobre a dura guerra que enfrentamos. 
      “Deus ajuda quem cedo madruga”, diz um velho ditado, que nos lembra da sociedade que Deus estabelece com o homem, onde cada um tem uma parte a fazer para que o homem evolua. Não só obras, não só fé, mas ambas, não só o homem, e nem só Deus, mas ambos, quanta generosidade de Deus trabalhar assim, dando-nos oportunidade para fazer parte do aperfeiçoamento de sua melhor criação, nós mesmos. Enganam-se os que pensam que o cristianismo é lugar para covardes e ignorantes, que deixam tudo nas mãos de Deus e não fazem nada, isso até pode ser assim com cristãos equivocados, mas não é para os verdadeiros. Temos que buscar a Deus e crer, mas depois temos que vigiar.
      Não podemos passar vinte e quatro horas por dia orando, em comunhão mais íntima com o Espírito Santo, temos responsabilidades no plano físico para com o mundo, trabalharmos, sociabilizarmos, mantermos família.  Assim, na maior parte do tempo, nossa parte é resistir, com todas as forças, tendo na mente as memórias de todas coisas boas e singulares que já experimentamos com Deus, e no coração a deliciosa esperança de tudo que poderemos ainda viver com o Senhor. É preciso uma mente decidida, já que tudo começa na mente, é ela quem ouve o Espírito Santo e também os espíritos rebeldes, que sempre têm uma outra maneira de ver a vida que não a do Altíssimo.
      Pecados diários são vencidos na mente, ainda que a ideia traga um desejo inicial é preciso força para dizermos a nós mesmos que não queremos pecar para não sentirmos o pecado até suas últimas consequências, o sentimento inicial ainda não é o pecado. Para isso, creiam, a simples frase, “eu não vou fazer isso”, pode nos livrar de problemas bem grandes, e principalmente dos “pecadinhos”, aqueles que nos acostumamos a fazer, mas que entristecem nosso espirito, deixando-o frio para ter uma comunhão íntima com Deus. Não, não é o Espírito Santo que se recente, que se afasta, somos nós que esfriamos, quando mantemos uma consciência cheia de memórias sujas e um corpo machucado pelos vícios. 

      Contudo, para algumas coisas temos que ser rígidos, temos que dizer, sim, “eu não posso nem querer”, pois sabemos que se dermos o mínimo de espaço sucumbiremos. Mas só entendemos de fato a necessidade de dominar nossos desejos quando percebemos o quanto isso nos impede de estar próximos a Deus, como em toda amizade, só mudamos quando percebemos que se não mudarmos machucaremos alguém que nos ama e que queremos amar, ainda que não seja Deus quem sofra com o nosso pecado, mas nós. Interessante a palavra que Deus deu a um Caim mimado e orgulhoso, bem pragmática, “por que está bravo? se agir certo as coisas dão certo, a escolha é tua”, simples, assim. 
      Coração acumulador de pecado, contudo, sempre complica as coisas, Caim não entendeu o conselho de Deus e fez ainda pior, exteriorizando todo o mal represado. O que nos surpreende nessa passagem de Gênesis é vermos um crime tão horrível justamente entre os dois “primeiros” irmãos, que ainda deviam ter em suas memórias lembranças tão recentes de um jardim do Éden onde Deus andava no meio dos homens sem véus e sem filtros. Aqueles primeiros homens sabiam muito mais de espiritualidade que nós, mas saber, só isso, não é suficiente para tenhamos vidas de plena comunhão com Deus. Conhecimento só liberta quando é praticado, com todo o nosso ser, corpo, alma e espírito. 
      De fato poucos souberam tanto como Caim e Abel, eram filhos do “primeiro” casal, mas sabiam o que, da espiritualidade de Deus ou a da serpente? Talvez um soubesse de uma e o outro de outra, talvez na família mítica já existisse o modelo para toda a humanidade, escolhas opostas, se for isso fica bem claro o fim de cada escolha, um morreu como vítima, o outro matou um inocente. Abel é modelo de Cristo, Caim do diabo, penso que assim como é hoje, desde o início da humanidade alguns têm no coração um desejo profundo de voltar a Deus, de buscar perdão, de perdoar, de achar o caminho da paz, mesmo que perca fazendo isso, no mundo e diante dos homens. 
      Abel pagou com a vida por ter um coração do bem, “e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3.12), ninguém ache que possa ser de fato espiritual e ser um ganhador neste mundo, pagamos preços, mas Deus é pelos espirituais e o “universo” um cobrador implacável para os carnais. Caim tirou a vida de outro para aplacar o mal que não estava no outro, e em mais nada ou ninguém, mas dentro dele, e eis outro procedimento típico de quem não quer admitir o próprio pecado, que não busca a Deus, projeta o desequilíbrio interno no outro, se descontrola e mata. Existem vários níveis de homicídio e muitos não matam o corpo, mas a honra.
      Caim pode ser lido em várias camadas, em uma mais direta não podemos dizer que ele seja o tipo do anti-Cristo, daquele que quer viver sem buscar e adorar a Deus, daquele com intenções escondidas. Os mais sérios e profundos “satanistas” e ocultistas não perdem o controle de forma tão explícita e rápida, como homem comum Caim é o exemplo do tolo, do louco, do fraco, que dá lugar à carne. Mas Caim pode ser interpretado também como o anti-Cristo, em seu momento final e em sua intenção mais profunda e verdadeira, que nega o sacrifico pelo pecado e que mata o inocente, se o bem tem só uma cara, o mal é assim, tem várias caras, ainda que seja trevas no início, no meio e no fim. 
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, porque  a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5.16-18), a vitória está no Espírito Santo! Se os cristãos dessem de fato liberdade para o Espírito do Altíssimo provariam a vida abundante que prometeu Jesus, quando entenderemos isso de verdade? Quando pararemos de ser só bons religiosos, guardiões de uma palavras linda, mas que é morta se não for vivificada em nós pelo Espírito Santo. Quem não se esforça para viver e deixar viver pelo Espírito, sempre acaba matando alguém. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

10/10/20

10. Para cumprir uma missão

Espiritualidade Cristã (parte 10/64)

      “A ti, Senhor, levanto a minha alma. Deus meu, em ti confio, não me deixes confundido, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim. Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa. Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia. 
      Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho. 
      Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniqüidade, pois é grande. Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança.” 
Salmos 25.1-14

      Alguns conseguem chegar a um entendimento mais profundo de porque devem ser espirituais, eles querem espiritualidade para cumprirem uma missão especial e serem diferentes (e importantes...). Abrindo um parênteses, muitos querem servir a Deus, mas parece que de cara já fazem exigências para isso, querem ser usados de forma diferenciada, e vou explicar, exigem isso baseados na própria Bíblia, em promessas como a de João 14.12, “na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. Esses na verdade não entendem o que é fé, o que é espiritualidade e nem se submetem de fato à vontade de Deus, querem milagres físicos e passageiros no mundo, não virtudes eternas nos corações. Um exemplo é como vemos no meio pentecostal pastores querendo ser novos bispos “Macedo” ou “Hernandes“, ou cantoras querendo ser novas “Ana Paula Valadão” e “Cassiane” (e aqui deixo claro que nada tenho contra os nomes citados), esses que querem o que Deus não quer para eles comentem dois erros. 
      Em primeiro lugar quem olha com cuidado para alguns líderes não verá neles de fato espiritualidade, de acordo com o exemplo de vida simples que Jesus homem ensinou-nos a ter, portanto não de maneira realmente agradável a Deus, ainda que tenham grandiosos ministérios e se achem ungidos. Muitos se fizeram baseados em heresias e os frutos que vieram disso foram poder e riqueza nesse mundo, esses que até foram usados por Deus em alguma instância, terão suas intenções reveladas no tempo certo. Infelizmente, de alguma maneira, no final farão mais mal que bem para o evangelho, como já temos visto pelo apoio equivocado que muitos deles têm dado a políticos enganadores querendo estabelecer um reino na Terra e não no céu. Em segundo lugar, mesmo que algumas cantoras tenham legítimas chamadas de Deus, e mesmo essas quando confrontamos com o verdadeiro evangelho achamos no fim de suas carreiras frutos não tão louváveis, quem disse que Deus tem essas “carreiras” para todas? Ainda que haja fé e esforço do homem, se Deus não quiser não vai acontecer, ser espiritual é aceitar isso, ser espiritual é obedecer a Deus, não à própria fé, fecho parênteses. 
      Seja como for, chamada missionária atualmente ocorre menos no meio tradicional protestante, mas infelizmente e por motivos não tão nobres, ocorre bastante no meio pentecostal. Eu disse infelizmente porque muitos desejam ser separados para a obra para terem fama e prosperidade financeira, isso explica a grande demanda dos chamados pregadores e músicos itinerantes, que se sentem livres frequentando uma igreja diferente por culto e embolsam “cachês” para darem seus “espetáculos”, coloquei cachê entre aspas porque considero absolutamente inadequado o uso desse termo para qualquer espécie de retorno financeiro para pessoas que tomam púlpitos se dizendo em nome de Deus. Enquanto que em denominações não protestantes muitos entram em ordens religiosas, sejam católicas, hinduístas, budistas, para abrir mão de valores materiais e luxos, mas usam uniformes, hábitos e outras vestimentas, que os diferenciam das outras pessoas, deixando claro a escolha de vida que fizeram, isso também acontece nas igrejas evangélicas com a obsessão que tantos têm por receberem títulos de pastor, missionário, diácono, presbítero, bispo etc. Mas de um jeito ou de outro, não seria isso também vaidade? 
      Pode não ser, não penso que seja essa a intenção de muitos sacerdotes, clérigos e monges, muitos sinceramente, ainda que por motivos estranhos, querem se sacrificar por uma causa maior, achar identidade em uniformes e normas como simples membros de exércitos que fazem caridade, aliás, muitos evangélicos obcecados por títulos e fama deveriam aprender sobre humildade com sinceras irmãs católicas que passam a vida fazendo o bem num total anonimato. Talvez os verdadeiramente espirituais passem como invisíveis aos olhos humanos, mantenham-se tão discretos e calados que ninguém saiba de suas espiritualidades, nem por vestimentas, nem por títulos. Eles as vivem para si e para o divino, se escondem sendo comuns, iguais a muitos, casando, ou não, trabalhando, sendo diferentes, contudo, sem fazer alarde. Penso que Jesus encarnado vivia assim, um simples homem judeu, não rico, mas também não pobre, equilibrado na aparência e em suas relações sociais, ainda que com vida privada espiritual de qualidade que revelava isso quando de fato era necessário, e o mais necessário ele fez, não aparecer como um líder político ou religioso, mas se sacrificar por amor por todos nós.

      O texto inicial é uma oração que faz uma entrada progressiva na presença de Deus levando o salmista a se conhecer à medida que conhece a Deus, experimentando assim a mais elevada espiritualidade do Altíssimo. Podemos aprender com o texto três lições: os realmente espirituais não são confundidos, eles provam uma misericórdia grandiosa de Deus e conhecem os mistérios espirituais de forma diferenciada. Eu preciso dizer que pela graça de Deus, não por méritos pessoais, tenho sido tratado assim pelo Senhor, com clareza, perdão e intimidade. Muitas coisas tentam nos confundir, principalmente no mundo atual quando tanta informação nos chega depressa e em todo o tempo defendendo todo tipo de ideologia, seja do lado que for, seja na área que for. Todos querem ter razão e provarem que seus opositores não têm nenhuma razão, isso está errado na essência pois uma criatura de Deus, seja ser humano ou ser espiritual, nunca está totalmente certo nem totalmente errado. Para não sermos confundidos é preciso que não durmamos num cômodo extremo, mas buscar em Deus o equilíbrio de seu centro (estudamos a respeito em “O mal está nos extremos”). 
      Mas como saber se estamos certos conforme a vontade de Deus? Sim, porque muitos estão convictos e não se sentem confusos ou se acham errados, mas certos que creem de forma mais correta e que não estão sendo manipulados, ainda que acreditem em algo não aprovado por Deus. A resposta está no tempo, ele mostra a verdade, assim para passar pela prova do tempo em paz é preciso crer em Deus, ainda que muitos sejam contra e pareçam ter argumentos bons para desconstruir o que cremos. Mas se cremos em Deus, se o buscamos e ele nos disse que as coisas são dessa maneira e não daquela, ainda que a realidade pareça dizer o contrário, devemos estar firmes e esperar. Deus não deixa os que confiam nele confundidos, ainda que agora pareçam errados, o futuro mostrará a verdade, já os apressados podem se enganar, por não quer crer, mas ver e ver instantaneamente. 
      Noção do quanto se é pecador e profunda experiência com a misericórdia de Deus, em toda uma vida, eis uma característica do realmente espiritual. Ainda que o tempo passe ele não desiste de pedir perdão e de ser grato a Deus por ele perdoa-lo, e eis outra característica dos tolos e rebeldes também relacionado ao tempo, se eles não olham com fé para o futuro também facilmente se esquecem de seus passados errados, assim não dependem da misericórdia de Deus, mas das próprias justiças. O salmista cita “não te lembres dos pecados da minha mocidade”, ele sabe como pesam esses pecados numa alma sensível que quer agradar a Deus, ele se olha e se assume como pecador, e isso o faz provar um perdão, um amor, uma graça, uma misericórdia, singulares e poderosas de Deus. O tolo se esquece do passado e não confia no futuro, eles despreza tudo o que pode depender de fé em Deus e não em suas própria obras e qualidades. 
      Mas o trecho do Salmo 25 citado inicialmente encerra com algo maravilhoso, o grande presente que aqueles que confiam num Deus de todos os tempos e ainda assim atemporal, o segredo do Senhor, ah, esse segredo não é uma liança que Deus faz com qualquer um. Aquilo que tantos desejam e que pagam tantos preços para ter, que buscam em tantos lugares, o homem pode ter, mas entendamos isso corretamente, só depois de crer em Deus, se admitir pecador e se submeter ao Senhor com mansidão. Ser manso e se deixar comandar, e não fazer exigências, e não dar nem sugestões de melhores opções, mas permitir que Deus faça de nossas vidas só o que ele deseja fazer, mesmo que diante de homens pareçamos menores. Para ser manso é preciso ser humilde e abrir mão de vaidades, mas só assim se tem direito ao segredo do Senhor, o segredo que muitos tentam descobrir por trás de teorias de conspiração, de ideologias, de política, de espiritualidade, de ciência, quando querem saber, mas não querem pagar o preço para isso. Deus aos mansos ensinará seu caminho, e só a eles.
      Eu tenho chegado a uma conclusão, nesses meus sessenta anos de vida, eu quero ser espiritual para obedecer a Deus, não importando o que ele queira de mim ou se alguém sabe disso ou não, e no meu caso tenho descoberto que minha espiritualidade deve ficar o mais discreta possível. Não foi fácil concluir isso e mesmo sabendo não é fácil pôr isso em prática, o que é melhor para cada um de nós é sempre o mais difícil a fazer, quando não for mais difícil Deus nos levará em paz com a gente tendo certeza do dever cumprido nessa curta existência no plano físico. Ainda traio esse conhecimento, e quando isso acontece me arrependo e torno a caminhar em direção ao Altíssimo, mas isso é para mim. E pra você, já sabe o que Deus quer que você faça e seja para ser verdadeiramente espiritual? A verdadeira espiritualidade nos faz crescer, nos liberta de fato, nos dá uma paz sem igual, nos entrega uma vida sem hipocrisia e sem incoerências, nos equilibra e nos permite ser bênção nas vidas de quem realmente importa para nós em Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

09/10/20

9. Para vencer o inimigo

Espiritualidade Cristã (parte 9/64)

      “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.12-3), em Jesus temos uma mudança de posição espiritual, isso não ocorre com nossos corpos no mundo, mas no plano espiritual. Temos acesso a essa nova posição através do Espírito Santo e nessa posição somos vencedores sobre os seres espirituais rebeldes. “Digo, porém, andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5.16-18), ainda assim enfrentamos uma batalha constante.
      Essa batalha é contra o Diabo? Não, contra nossa própria carne, contudo, Tiago em sua carta é claro, “sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7), assim a vitória para os salvos é sempre um posicionamento de fé por uma condição de santidade que ganhamos através do perdão pelo nome de Jesus. Mas então, como interpretarmos o texto de Efésios 6.11-12, “revestis-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais“? Entendendo onde o diabo faz a guerra, se é numa posição material ou espiritual e como isso interage conosco. 
      O plano espiritual não é fácil de ser entendido, não pelas referências materiais, mas ainda que Deus seja só um, os seres espirituais também são espíritos, portanto com faculdades semelhantes às de Deus, e ainda que não sejam onipresentes, oniscientes nem onipotentes, eles existem no espaço e no tempo de maneira espiritual. O exemplo bíblico que temos disso é o de Jesus já ressuscitado no plano físico, onde podemos entender coisas espirituais com olhos materiais, quando ele “aparece” para falar com seus discípulos com o corpo transformado (Lucas 24.36). No plano espiritual e na eternidade, os homens salvos e com corpos transformados são diferentes de anjos, caídos ou não, esses não têm em sua consciências uma identidade pessoal que nós temos, podemos entender isso quando, por exemplo, vemos que anjos não têm nomes. 
      Existem algumas referências a nomes de anjos na Bíblia, como Miguel, Gabriel, e também aos nomes dos grandes anjos caídos, Satanás, Lúcifer, Belial, Leviatã, mas isso pode se referir mais a legiões que a indivíduos, e legiões são seres espirituais unidos por um mesmo propósito ou missão. Mas esses nomes são excessões e ainda assim não podemos dizer, baseados, na Bíblia, se referem-se de fato a indivíduos, podem se referir aos nomes das funções, comuns a toda uma legião. Mas algo que podemos entender é que quanto mais perto de Deus ou distante dele, portanto, extremos acima e abaixo dos homens, em seres espirituais da luz e das trevas a individualidade perde a relevância. Isso já é algo muito importante nos seres humanos, personalidades, nomes, histórias, escolhas, palavras e ações, definem nossas identidades. 
      Contudo, mesmos sendo diferentes no aspecto identidade, na substância os corpos dos seres espirituais são semelhantes aos que vamos ter na eternidade, àquele que Jesus apresentou após a ressurreição, por exemplo. Depois que Cristo subiu ao céu ele mudou de novo, não se tornou só um justo na eternidade, como nós seremos, mas o próprio Deus, visto que Deus pai, Deus filho e Deus Espírito são um. Mas não nos esqueçamos também que Jesus disse que como ele ia ser um com o pai nós também seríamos (João 17.20-23), assim será que haverá diferenças? Quais? Esse assunto é profundo, a Bíblia relata aparecimento mesmo de anjos com corpos humanos e com necessidades físicas (Gênesis 18.1-8), seja como for os seres espirituais rebeldes existem no plano espiritual que chamamos de céu. 
      Esse céu espiritual não está, em relação ao plano físico, nem acima nem abaixo de nós, mas espiritualmente mais perto ou mais distante do Deus altíssimo, numa outra dimensão. A referência não somos nós, os altos montes do nosso planeta, nem mesmo a Lua, o Sol, os planetas e ou as estrelas, mas um Deus espiritual. Como percebemos e nos comunicamos com esse plano espiritual? Pelo nosso espírito. O que nosso espírito entende é decodificado por nossas emoções e por nossos pensamentos que então passam para o nosso corpo. Dessa forma a guerra com inimigos espirituais se passa não fora de nós, mas dentro, depois disso somos nós que damos autorização para eles agirem, fora ou dentro de nós, em atuações que sempre necessitam da autorização de Deus e do livre arbítrio humano. 
      Um dos principais erros que o cristão comete é olhar demais para fora de si, procurar inimigos nos outros, muitas vezes em quem está próximo dele e na verdade só lhe quer bem, isso tudo ao invés de olhar para dentro de si. Por outro lado olhar para dentro de nós não significa nos alienarmos, fugirmos da realidade, não, o mundo é mau e existem muitos homens maus nele, cruéis e egoístas, que não se importam em pisar os outros para terem benefícios próprios, precisamos ser sábios para conviver com isso. Mas em olhar para dentro de nós me refiro ao plano espiritual, e esse nós conhecemos pelo nosso espírito, e todos os homens, salvos ou não, podemos ter contado com o mundo espiritual pelos seus espíritos. Entretanto, é só quando abrimos nossos olhos espirituais pelo Espírito Santo que conhecemos a realidade mais profunda. 
      O melhor dessa mais elevada iluminação espritual é acharmos comunhão com o Altíssimo, só depois disso temos clareza para interagir com nós mesmos, com o diabo, com a realidade exterior e física e com os outros homens, que também enfrentam as mesmas batalhas que nós. Não, não fique procurando inimigos nas pessoas, e também não interprete o texto de Efésios 6 de forma errada, como tantos dessa última geração de cristãos vitimistas interpretam, querendo ver o diabo em tudo para por a culpa de tudo nele. Sim, o diabo autorizado por Deus, nos mostra sempre o lado que não tem Deus como princípio e fim, que não agrada a Deus nem o honra, mas quem escolhe somos nós. Assim, a maior prova de espiritualidade não é vencermos os outros, nem mesmo o diabo, mas a nós mesmos fazendo as melhores escolhas. 
      Adão e Eva não tinham qualquer inimigo e o diabo só precisava receber um não, mas eles perderam a maior de todas as batalhas: para eles mesmos. O que mais se perde nessa batalha? Não é a simplicidade de quem pode andar na luz do dia e dormir uma boa noite de sono sem culpa, não são as colheitas ruins, físicas ou morais, resultados de quem alterou seu equilíbrio no universo, isso tudo é efeito. O casal mítico perdeu o privilégio de ter o Espírito de Deus em seus espíritos, isso foi o principal. Para que isso fosse recuperado Deus teve que se fazer homem, retroceder espiritualmente encarnando. Encaremos a verdade, com coragem e humildade, nosso inimigo não é o homem, por mais que ele nos incomode, e se ele nos incomoda é porque somos incomodáveis, frágeis para o ataque, de quem? Do mal dentro de nós. Permitamos que Deus viva em nós pelo Espírito Santo, isso encerra as guerras e nos dá a paz que permanece. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
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para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020

08/10/20

8. Para ter vitória numa guerra

 Espiritualidade Cristã (parte 8/64)

      “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. E, como desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor e disse: Fere, peço-te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu.I Reis 6.15-18

     Um motivo que leva muitos a desejarem espiritualidade é para ter vitória numa guerra, isso porque muitos veem a existência assim, como uma batalha, contra outros homens, contra os demônios, contra os que são contra os demônios e por aí vai. Existe alguém que tem muito interesse em criar e manter guerras, e esse alguém não é Deus, o Altíssimo não precisa combater ninguém para conquistar algo, ele já é dono de tudo e sempre, quem tem interesse é o diabo. O homem longe de Deus cria o campo de batalha e oferece os soldados, para ambos os lados, e mesmo cristãos sinceros ainda veem a vida dessa maneira, baseados equivocadamente numa visão da vida do velho testamento, não da nova aliança de Cristo. 
      Olhar a existência com uma ótica beligerante faz com que achemos inimigos em muitos lugares, ao mesmo tempo que faz como que nos olhemos como soldados numa guerra sem fim. Assim pode-se achar duas posturas na existência: avançar e ganhar fazendo os outros retrocederem, ou perder quando se tem que retroceder diante do avanço dos outros. Numa busca constante de controle de território só um pode estar num determinado lugar, por isso é preciso expulsar alguém para conquistar o espaço. A verdadeira espiritualidade pode oferecer uma opção superior à guerra, onde não é preciso avançar nem retroceder, mas abraçar, podendo assim dois ou mais ocuparem um mesmo espaço em comunhão, em paz e sem guerra. 
     Podemos entender essa guerra através de uma lei física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pode-se até pedir com educação, “por favor, pode sair para eu entrar?”, mas ainda assim só um estará num lugar em um determinado momento. A solução está em olharmos a existência não sob o ponto de vista material, mas espiritual, nessa ótica dois ou mais seres podem estar num mesmo espaço e ao mesmo tempo, um espação espiritual. Isso é possível através das virtudes espirituais da luz, do bem, do Espírito do Deus Altíssimo, por essas virtudes podemos abraçar os outros, numa união que vai muito além da física, se na terra não tem espaço para dois, no coração há, e para muito mais que dois. 
      Infelizmente muitos usam o conceito “guerra”, avançar e retroceder, tão inferiores e materiais, para exercer o que acham ser espiritualidade. Na verdade isso pode até ser uma ótica espritual, mas das trevas, dos espíritos rebeldes, e no plano espiritual existe, sim, uma batalha por território, ainda que seja para conquistar espaços que os seres encarnados entregam aos seres espirituais do mal. Mas mesmo essa guerra não nos compete entender, a nós basta orar no nome de Jesus, entregar os problemas a Deus e crer que ele solucionará. Só a Deus cabe determinar batalhas espirituais ou comandar anjos, esse é o entendimento da teologia cristã tradicional (já estudamos sobre isso em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”). 
      Quando se fala em inimigos espirituais, se fala em demônio, e vemos pouco sobre demônios no velho testamento, justamente porque ele relata a história de Israel, um povo separado e cuidado por Deus. O diabo aparece, por exemplo, em algumas situações especiais, no Éden tentando o homem, em Jó sendo usando para uma prova, em I Samuel atormentando a alma desobediente de Saul e em Daniel tentando impedir as orações de Daniel no exílio. Relatar atividades demoníacas em Israel seria semelhante a relatar essas atividades dentro das igrejas cristãs, em Israel só aparecem quando a nação está desviada, mas hoje nas igrejas a presença do Espírito Santo impede isso, mesmo em igrejas desviadas em heresias, assim o diabo está no mundo. 
      Nos evangelhos aparecem mais registros de possessões demoníacas porque é o início da nova aliança num mundo longe de Deus sob o império Romano, ainda que em terras originalmente israelitas. Contudo, é interessante como que nas últimas décadas temos visto menos manifestação de possessos nas igrejas evangélicas, em relação ao que víamos, principalmente nas pentecostais, de vinte, trinta anos atrás. Qual o motivo disso, estariam as igrejas menos ungidas? Possessões teriam diminuído? Os demônios estariam agindo de maneira diferente? Isso pode nos dizer algumas coisas sobre a espiritualidade nesses tempos que podem ser o início dos tempos finais, assim como pode nos ensinar sobre as últimas estratégias do diabo.
      Mas existia uma guerra espiritual no tempo do antigo testamento, talvez até maior que depois, mais aliada aos confrontos físicos entre as nações. Num mundo pré-cristianismos o diabo tinha mais liberdade de agir, como em sacrifícios humanos onde até crianças eram oferecidas, e de forma aberta, não velada em cerimônias de bruxaria como aconteceu depois que o cristianismo se instalou. Quando Israel lutava contra uma nação que não temia a Deus e adorava falsos deuses, havia também uma guerra espiritual ocorrendo, por conquista de território, a visão do moço do profeta Eliseu nos mostra isso. Feliz o homem que tem os olhos espirituais abertos para ver que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

      Guerra espiritual: é preciso ter uma espiritualidade superior para enfrenta-la? O cristão é um soldado de Deus contra as trevas? Temos que ser espirituais especificamente para isso, para vencermos uma batalha nesse campo? Não, não e não! A nova aliança do novo testamento entrega um conceito novo, diferente e que será o eterno para a humanidade sobre espiritualidade. O campo de batalha não é mais os campos de Israel, mas o coração do homem, na verdade a humanidade teve que esperar alguns milênios para evoluir e poder enfrentar a verdadeira guerra, que se iniciou no Éden quando o homem caiu na tentação do diabo, comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
      Em sua obra de salvação Jesus vence a batalha, não por territórios neste mundo ou mesmo no outro, mas por almas humanas, ele anula a legalidade que o próprio homem tinha dado a Satanás, não no exterior do ser humano, seja ele material ou espiritual, mas no seu interior, em seu coração. Por isso o reino de Deus estabelecido pelo evangelho não foi na nação política de Israel, tendo Jesus como o novo rei Davi, mas no espírito humano. Jesus vence uma vez por todas a guerra e no seu ponto de origem, na causa primordial, de maneira que ninguém precisa mais lutar, pelo menos não pela condenação que o pecado original traz, só precisa crer. Se o homem volta para Deus o diabo perde todas as possibilidades de vitória.
      Talvez seja por isso que o “diabo” tivesse tanto interesse em corromper o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que foi feito superior mesmo aos anjos e que recebeu do pai direitos maiores que os de qualquer outra criatura. Talvez o diabo não pudesse ter nada que não lhe fosse autorizado, e como Deus não autorizou porque ele se rebelou e não estava preparado para administrar nada além do inferno que para ele fora criado, ele teria que desviar o homem para que esse desse a ele algum direito. Foi justamente o que aconteceu, quando o pecado original foi cometido, por ser uma desobediência ao criador o homem sai de sua proteção e fica só, então, naturalmente o diabo passa a ter direitos.
      Qual foi o primeiro direito que o diabo recebeu? De existir no coração do homem, em qualquer outro espaço o diabo não poderia derrotar Deus, mas no coração do homem ele pode, por isso ele tinha tanto interesse nesse território, mais do que em qualquer outro. Através desse lugar o diabo pode dominar o mundo, e mais que isso, pode dominar mesmo o universo, dependendo do que o homem conquista. Contra o diabo Deus pode ir e destruir totalmente suas obras, mas contra o homem não, por causa do livre arbítrio, assim se o homem escolhe obedecer ao diabo e entregar a ele suas conquistas, Deus nada pode fazer. Deus só destrói as obras das trevas quando o homem pede e permite. 
      Esse raciocínio parece estranho, o homem ter tanto poder e Deus nenhum, e o diabo só ter algum poder porque o homem lhe deu? Mas é isso, por isso os seres encarnam, vivem nesse mundo, para terem oportunidades de livre arbítrio, e com dessa forma os espíritos rebeldes que não encarnam passam a ter também direitos. Nossa curta existência neste mundo é muito especial, significativa, muitos não entendem isso, mesmo cristãos. Não, meus queridos, não é o homem que adora o diabo, é o diabo que adora o homem, que o inveja, que deseja o que o ele mesmo não tem, mas que ao homem foi dado por Deus. O que acontece é que o diabo é astuto e focado, enquanto o homem é tolo, volúvel, vaidoso, amante do passageiro.
      Vou dizer outra coisa que talvez te surpreenda, à medida que o homem foi vivendo no mundo, conquistando-o e infelizmente buscando espiritualidade errada, pelos espíritos rebeldes das trevas e não por Deus, o diabo e os demônios foram sendo “modificados“, humanizados. Sempre nos parecemos com aquilo que mais gostamos. Se um cristão diz que adora a Deus e o serve, mas mostra em seu jeito de ser, de se trajar, nas coisas gasta suas rendas, referências não tão adequadas ao que diz que crê, não tão santas quanto o Deus que diz obedecer, nesse caso podemos dizer que esse cristão mente, não adora a Deus, mas o mundo e seus valores. O que fazemos de fato é o que nos define, não o que dizemos.
      Toda essa pluralidade de religiões, de mitos, de folclores, que variam conforme e região geográfica da Terra, do povo que a habita e de sua identidade cultural, influenciou os seres espirituais rebeldes das trevas. E não é só como o homem vê os espíritos, os espíritos se manifestam com aparências variadas conforme o povo. Na cultura celta, por exemplo, os seres espirituais rebeldes aparecem de um jeito, na nórdica europeia de outro, na hindu de outro, na africana de outro, no extremo oriente de outro, entre os indígenas da América do Sul de outro. São todos diabos e demônios, mas que se apresentam conforme os homens que os buscam, suas aparências físicas e suas estéticas culturais. 
      Se Deus fez originalmente o homem à sua imagem e semelhança, o homem transformou o diabo à sua imagem e semelhança, sempre a partir de uma guerra do diabo contra Deus que tem início no coração humano. Não, não precisamos ser poderosos soldados espirituais porque não existe uma guerra, não depois que aceitamos Jesus como único e suficiente salvador, assim se gabar de ser espiritual porque se tem competência para fazer uma guerra no plano espiritual é desnecessário. Não vencemos nos esforçando, avançando, mas nos posicionando, em Deus, no lugar mais alto, no qual nenhum ser espiritual do mal têm acesso. Nesse lugar não se avança ou se retrocede, se abraça, no amor eterno de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

07/10/20

7. Para conhecer os mistérios espirituais

Espiritualidade Cristã (parte 7/64)

      As pessoas querem ser espirituais por motivos e para fins diferentes, alguns para poderem conhecer os mistérios espirituais, por uma curiosidade sobre o plano espiritual, isso ocorre com uma minoria no meio cristão, católico e protestante, já que os que desejam isso procuram antes outras religiões, não o cristianismo. Percebe-se claramente, por essa abordagem, que existem dois tipos de pessoas no mundo, as materialistas e as espiritualistas, e não alie essas classificações a virtudes morais ou comunhão com o Deus verdadeiro, não alie nenhuma das duas. Existem muitos materialistas no meio cristão, e não são só os abordados anteriormente, que buscam no evangelho prosperidade material, existem materialistas bem desprendidos de vaidades e prazeres físicos, que aparentemente parecem ser até mais espirituais que os que veem a vida de forma mais espiritualizada. 
      Há cristãos sinceros e de fato convertidos no grupo mais materialista, mas eles creem só no minimamente necessário, na salvação, em Deus, no céu, basicamente, no resto são céticos, por isso se sentem melhor no protestantismo tradicional, que não acredita, por exemplo, nos dons do Espírito Santo, pelo menos não para os dias atuais. No protestantismo tradicional as pessoas também têm curiosidade espiritual, mas a saciam com ferramentas deste mundo, digamos assim, não do outro, pelo intelecto, não pela subjetividade emocional, conhecendo mais profundamente a Bíblia com estudo teológico, conhecimento das línguas dos textos originais, enfim, numa ótica mais científica. Talvez porque essa satisfação necessite mais de estudo, é a outra baste “intuição” possa explicar porque num meio existem pessoas financeiramente mais providas que no outro. 
      Mas nesse ponto da reflexão é importante que se levante uma questão: será que quem busca um cristianismo mais intelectual é justamente o que mais tem receio de enfrentar suas feridas emocionais? E por outro lado, será que quem busca um cristianismo mais emocional e espiritualizado não é justamente quem tem mais a tendências de “viajar” em fantasias e a acreditar em qualquer coisa? Sim, nos dois extremos existem desvantagens porque a solução é o equilíbrio, onde se aprende com os dois lados, o intelectual e o emocional, o Espírito Santo quando acha liberdade transborda todo o nosso ser, pensamentos e emoções, razão e intuição, os simples entenderão isso e serão abençoados plenamente.
      Entretanto, também existem pessoas extremamente espiritualizadas em meios não cristãos, aliás, não que buscam esses meios porque acham que o cristianismo é limitado para conduzir à espiritualidade mais alta, assim buscam religiões que os coloquem mais perto do mundo espiritual na prática. Os espíritas são um grupo bem conhecido no Brasil, tanto na linha kardecista quando nas religiões de origem africanas, umbanda e candomblé, por exemplo, os esotéricos e/ou ocultistas também querem ser espirituais por possuírem uma curiosidade muito grande sobre o mundo espiritual. Essa é uma tendência que a princípio é positiva, mas que se não houver cuidado pode se transformar numa armadilha terrível, aos que querem não só o Éden e a companhia do criador, mas provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal para saberem mais. 
      Uma coisa é certa, cada um tem uma tendência espiritual eterna, e amar mais as coisas da eternidade que as desse mundo coloca o ser humano em contato com o sua essência, seu espírito eterno, que viverá muito além desse plano, só é preciso aos que têm essa tendência humildade para buscarem a Deus, nãos aos “deuses”. No meio evangélico, nas igrejas de linha carismática, onde os dons espirituais são buscados e provados com mais liberdade, se oferece ao homem mais oportunidade para desenvolver espiritualidade no aspecto de entender e interagir com o mundo espiritual. Não existe nada de errado em querer experimentar dons espirituais, ao contrário, creio que a vontade de Deus é que todos falem em línguas espirituais estranhas, profetizem, tenham visões e sonhos etc. Isso deveria ser normal no meio cristão, não proibido, como é no meio protestante tradicional, ou mistificado, como é no meio pentecostal. 
      Contudo, curiosidade espiritual pode ser tanto vaidade quanto meio de suprir uma autoimagem ruim, assim pode ser, sim, efeito de alguma doença psicológica, por isso é preciso ter cuidado e não confundir as coisas. Esse, contudo, é um limite difícil de se estabelecer, seriam os “loucos” os que mais desejam ser “espirituais” por serem “loucos”, ou os que buscam ser “espirituais” se tornam “loucos”? Ou, o que é loucura de homem, na carne, na cabeça, e o que é loucura de Deus, no espírito? (Já fizemos aqui no blog um longo estudo a respeito, “Loucura”). Como sempre, o que comprova a legitimidade de nossos caminhos são nossos frutos, se uma busca por espiritualidade não só responde às questões sobre mistérios, mas também nos faz pessoas socialmente melhores, com os frutos do Espírito e não só com os dons do Espírito, então essa busca pode ser efeito da melhor espiritualidade de Deus.


“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

06/10/20

6. Para ter o poder de Deus

 Espiritualidade Cristã (parte 6/64)

     “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” Efésios 1.3-6

      “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” I Pedro 1.18-21

      Algumas pessoas acreditam no poder de Deus, ainda que não tenham intimidade com Deus, assim querem espiritualidade para terem esse poder, querem o efeito, não a causa, desejam ser beneficiadas, não ter amizade com quem beneficia, conhecendo-o e adorando-o. Mas é mais que isso, quem não crê no Deus verdadeiro, com profundidade, também não pode entender a maneira como ele age, não pode entender seu poder ou como esse poder é manifestado. O mais equivocado é que muitos desses apologistas do poder divino se acham mais crentes que os outros, justamente por crerem numa virtude tão grandiosa de Deus, quando na verdade são esses os que estão mais enganados sobre o assunto e que mais são manipulados. 
      O tema “Deus é poderoso” é marketing fortíssimo entre as pessoas que querem soluções rápidas e milagrosas para suas vidas, geralmente em assuntos materiais, e não desejam mudança de caráter e desenvolvimento de virtudes interiores, o tema é produto fácil para trocar por “dízimos”. Deus, em sua misericórdia permite que muitos sejam abençoados ainda que peçam do jeito errado e não se deem ao trabalho de agradecer a ele do jeito certo. Deus é um pai de amor, ele já previu isso no início dos tempos, todavia, se muitos soubessem de fato como o “poder” de Deus funciona, talvez não buscassem tanto o cristianismo vendido em muitas igrejas, feiras livres de milagres baratos para crentes rasos. 
     Os que querem de fato uma relação com Deus que mude seus homens interiores e não só lhes deem coisas, vivenciam uma existência constante no poder de Deus, não experimentam ações extraordinárias, mas sincronia com o Altíssimo. Na verdade os mais crentes não são os que experimentam o poder de Deus, mas são os que não experimentam, e espere um pouco, vou explicar melhor, não experimentam porque não precisam desse “poder”, eles andam em Deus o tempo todo e são cuidados e mantidos por Deus com equilíbrio, não com “milagres”. Eles sabem que os maiores “milagres” ocorrem em suas almas e isso não acontece num passe de mágica, mas em anos de erros, resignações e enfim, atitudes humildes de mudança.
      Milagre não é a manifestação do poder de Deus, mas é a maneira como aqueles que não têm intimidade com Deus interpretam a ação de Deus, para esses parece que Deus age de vez em quando e de forma extraordinária, mas para os que andam em Deus nada é extraordinário, mas ordinário, normal. Esses entendem que Deus criou tudo no passado, por isso ele sabe de tudo, as ações que precisamos dele não são criadas quando creem, mas já foram criadas há muito tempo, previstas por um Deus onisciente, dessa forma o que é preciso não é crer muito e de vez em quando, mas andar em Cristo sempre, sincronizado com suas provisões, livramentos e bênçãos, criados paras os santos antes da criação do mundo. 
      O texto inicial, que só poderia ter sido registrado pela profundidade espiritual e teológica de Paulo, nos revela mistérios que muitos cristãos leem, passam batido e na verdade não percebem a relevância. Paulo fala de um Deus que criou tudo antes da fundação do mundo e do lugar mais alto onde as bênçãos que os filhos de Deus podem receber estão guardadas. O texto tira nossos olhos da Terra, do material, do presente, do humano, e nos arrebata para a habitação do Altíssimo, eterno e que não só já criou tudo, mas tudo nele e para ele existe e para sempre. Quando queremos milagres para resolver problemas materiais passageiros estamos sendo menores, em relação à chamada de Deus para nossas vidas.
      A oração de fé não faz algo acontecer, mas nos coloca na posição onde as coisas acontecem, essas coisas não são criadas com a fé, Deus já as criou no início dos tempos, estão lá e sempre estiveram. Perdão que dá a paz? Cura para um vício? Provisão material? Tudo Deus já providenciou e está guardado para os santos. A posição onde as coisas acontecem não é dentro de nós ou no mundo, mas no plano espiritual, assim provar “milagres” é andar com Deus, pisando nos passos de Cristo, deixar-se levar pelo Espírito Santo. O efeito da fé não são milagres, mas ter os olhos espirituais abertos para verem onde Deus está, quando vemos e nos posicionamos tudo aquilo de bom que acontece em Deus nós também provamos. 
      Crer num Deus que cria só quando uma oração de fé é feita é diminuir a Deus e empoderar o homem, Deus sempre soube do que os que o buscam precisam e já criou isso antes. Dentro desse assunto Paulo incluiu o polêmico tema predestinação, que podemos entender só quando vemos as coisas sob o ponto de vista de Deus. Podemos dizer que Deus predestinou porque é onisciente, onipotente e onipresente, mas nós não temos capacidade espiritual para interpretar nossas existências sob esse aspecto, a nós cabe testemunharmos da luz e permitirmos que as pessoas escolham, sem nos preocuparmos sobre quem é ou não predestinado, principalmente enquanto a pessoa ainda tem oportunidade de ser salva e ainda está neste mundo. 

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. 
      Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio. 
      Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade. Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. 
      Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra.” 
Salmos 62.5-12

      O salmo 62 é lindíssimo, os livros poéticos de Davi e de Salomão (creditados a eles mas não sendo eles autores integrais dos livros) são o coração da Bíblia, atemporais se os soubermos ler, revendo no Espírito Santo os confrontos físicos com inimigos humanos que tanto são falados nos Salmos e a ótica secular e mesmo materialista de Provérbios. Pelo Espírito Santo podemos usar tudo isso como metáforas de nossos lutas pessoais e interiores, onde nós mesmos somos os amigos de Deus, os inimigos dos homens (e de nós mesmos), assim como os seres encarnados envelhecidos pelo tempo que entendem que tudo é vaidade e tédio, mesmo na abastança de prazeres físicos e de riquezas materiais. 
      Quando o temor de Deus se alia à unção do Espírito Santo e à poesia de almas sensíveis e inteligentes temos a expressão máxima de sabedoria que os seres humanos podem expressar neste mundo, Davi e Salomão sabiam se expressar assim, personagens bíblicos especiais, por isso tiveram posições tão importantes na nação de Israel, os que proporcionaram ao povo de Deus da velha aliança seu apogeu neste mundo. Por isso Jesus é da raiz de Davi, assim como é o eterno templo onde foi sacrificado como cordeiro de Deus para salvar a humanidade, do qual o templo de Salomão é a referência material máxima. Jesus é rei, o templo e o cordeiro, o Senhor, o altar e o salvador eterno.
      Na apresentação inicial, dividi o trecho do Salmo 62 em quatro parágrafos, reflitamos um pouco nos três primeiros. Esperar somente em Deus que nos propicia um lugar seguro e inabalável para pisar, a sua promessa de salvação e suprimento é a rocha de nossas vidas, assim ainda que não vejamos, que não saibamos, estamos seguros e em paz. Se temos essa experiência temos uma palavra legítima a compartilhar, e não podemos nos calar, mas falar aos homens que Deus existe e quer nos tomar nos braços para nos conduzir no caminho melhor. Essa segurança nos ensina que os valores desse mundo não têm importância, não têm poder, nem a falta deles deve nos entristecer, nem a abastança nos iludir. 
      O quarto parágrafo, contudo, diz algo especial, “Deus falou uma vez, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus”, o salmista dá ênfase em que o poder pertence a Deus! Quem acompanha o “Como o ar que respiro” sabe que sempre procuro desconstruir um evangelho baseado em fé e poder quando isso se refere a referências físicas, assim entendo que o poder de Deus se revela em sua maior e melhor expressão não quando faz um milagre físico, mas quando nos leva a uma espiritualidade superior que nos torna pessoas mais humildes e amorosas. O poder máximo de Deus é espiritual, no plano espiritual não há necessidade de mover montanhas nem de curar doentes, mas de iluminar espíritos com virtudes. 
      A melhor manifestação do poder de Deus é vertical, não horizontal, é espiritual, não física, assim não é aquela vista pelos homens, não pelos homens materialistas e imaturos, mas é conhecida e honrada por Deus enquanto os homens, aqueles que quiserem e puderem ver, enxergam em nós apenas seres humanos discretos e tranquilos, mais ocupados em viver a vida eterna que em falar dela, focados em dar exemplo, não em convencer ninguém disso ou daquilo com palavras. Mas o salmista encerra o Salmo 62 com uma frase que pode parecer antagônica, “a ti também, Senhor, pertence a misericórdia, pois retribuirás a cada um segundo a sua obra”. Para entender isso é preciso entender a diferença entre justiça e misericórdia.
      Devolver na mesma proporção do que se fez é justiça, já misericórdia dá mais do que se merece, devolve mais do que se fez para ganhar. Mas o salmista pode querer dizer que neste mundo nem justiça existe, as pessoas não recebem nem aquilo que por direito fizeram por merecer. Deus, contudo, em sua misericórdia, retribui a todos, e se na velha aliança era conforme a obra de cada um, na nova aliança, através da justificação do nome de Cristo, Deus pode dar muito mais, mesmo se alguém nada tiver feito, mas tiver crido. Nos referimos aqui à bênção espiritual, perdão e paz, e principalmente ao melhor de Deus na eternidade, nos conduzir a mais alta espiritualidade é a manifestação maior do poder de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
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