terça-feira, outubro 06, 2020

6. Para ter o poder de Deus

 Espiritualidade Cristã (parte 6/64)

     “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado” Efésios 1.3-6

      “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus” I Pedro 1.18-21

      Algumas pessoas acreditam no poder de Deus, ainda que não tenham intimidade com Deus, assim querem espiritualidade para terem esse poder, querem o efeito, não a causa, desejam ser beneficiadas, não ter amizade com quem beneficia, conhecendo-o e adorando-o. Mas é mais que isso, quem não crê no Deus verdadeiro, com profundidade, também não pode entender a maneira como ele age, não pode entender seu poder ou como esse poder é manifestado. O mais equivocado é que muitos desses apologistas do poder divino se acham mais crentes que os outros, justamente por crerem numa virtude tão grandiosa de Deus, quando na verdade são esses os que estão mais enganados sobre o assunto e que mais são manipulados. 
      O tema “Deus é poderoso” é marketing fortíssimo entre as pessoas que querem soluções rápidas e milagrosas para suas vidas, geralmente em assuntos materiais, e não desejam mudança de caráter e desenvolvimento de virtudes interiores, o tema é produto fácil para trocar por “dízimos”. Deus, em sua misericórdia permite que muitos sejam abençoados ainda que peçam do jeito errado e não se deem ao trabalho de agradecer a ele do jeito certo. Deus é um pai de amor, ele já previu isso no início dos tempos, todavia, se muitos soubessem de fato como o “poder” de Deus funciona, talvez não buscassem tanto o cristianismo vendido em muitas igrejas, feiras livres de milagres baratos para crentes rasos. 
     Os que querem de fato uma relação com Deus que mude seus homens interiores e não só lhes deem coisas, vivenciam uma existência constante no poder de Deus, não experimentam ações extraordinárias, mas sincronia com o Altíssimo. Na verdade os mais crentes não são os que experimentam o poder de Deus, mas são os que não experimentam, e espere um pouco, vou explicar melhor, não experimentam porque não precisam desse “poder”, eles andam em Deus o tempo todo e são cuidados e mantidos por Deus com equilíbrio, não com “milagres”. Eles sabem que os maiores “milagres” ocorrem em suas almas e isso não acontece num passe de mágica, mas em anos de erros, resignações e enfim, atitudes humildes de mudança.
      Milagre não é a manifestação do poder de Deus, mas é a maneira como aqueles que não têm intimidade com Deus interpretam a ação de Deus, para esses parece que Deus age de vez em quando e de forma extraordinária, mas para os que andam em Deus nada é extraordinário, mas ordinário, normal. Esses entendem que Deus criou tudo no passado, por isso ele sabe de tudo, as ações que precisamos dele não são criadas quando creem, mas já foram criadas há muito tempo, previstas por um Deus onisciente, dessa forma o que é preciso não é crer muito e de vez em quando, mas andar em Cristo sempre, sincronizado com suas provisões, livramentos e bênçãos, criados paras os santos antes da criação do mundo. 
      O texto inicial, que só poderia ter sido registrado pela profundidade espiritual e teológica de Paulo, nos revela mistérios que muitos cristãos leem, passam batido e na verdade não percebem a relevância. Paulo fala de um Deus que criou tudo antes da fundação do mundo e do lugar mais alto onde as bênçãos que os filhos de Deus podem receber estão guardadas. O texto tira nossos olhos da Terra, do material, do presente, do humano, e nos arrebata para a habitação do Altíssimo, eterno e que não só já criou tudo, mas tudo nele e para ele existe e para sempre. Quando queremos milagres para resolver problemas materiais passageiros estamos sendo menores, em relação à chamada de Deus para nossas vidas.
      A oração de fé não faz algo acontecer, mas nos coloca na posição onde as coisas acontecem, essas coisas não são criadas com a fé, Deus já as criou no início dos tempos, estão lá e sempre estiveram. Perdão que dá a paz? Cura para um vício? Provisão material? Tudo Deus já providenciou e está guardado para os santos. A posição onde as coisas acontecem não é dentro de nós ou no mundo, mas no plano espiritual, assim provar “milagres” é andar com Deus, pisando nos passos de Cristo, deixar-se levar pelo Espírito Santo. O efeito da fé não são milagres, mas ter os olhos espirituais abertos para verem onde Deus está, quando vemos e nos posicionamos tudo aquilo de bom que acontece em Deus nós também provamos. 
      Crer num Deus que cria só quando uma oração de fé é feita é diminuir a Deus e empoderar o homem, Deus sempre soube do que os que o buscam precisam e já criou isso antes. Dentro desse assunto Paulo incluiu o polêmico tema predestinação, que podemos entender só quando vemos as coisas sob o ponto de vista de Deus. Podemos dizer que Deus predestinou porque é onisciente, onipotente e onipresente, mas nós não temos capacidade espiritual para interpretar nossas existências sob esse aspecto, a nós cabe testemunharmos da luz e permitirmos que as pessoas escolham, sem nos preocuparmos sobre quem é ou não predestinado, principalmente enquanto a pessoa ainda tem oportunidade de ser salva e ainda está neste mundo. 

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. 
      Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio. 
      Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade. Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. 
      Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra.” 
Salmos 62.5-12

      O salmo 62 é lindíssimo, os livros poéticos de Davi e de Salomão (creditados a eles mas não sendo eles autores integrais dos livros) são o coração da Bíblia, atemporais se os soubermos ler, revendo no Espírito Santo os confrontos físicos com inimigos humanos que tanto são falados nos Salmos e a ótica secular e mesmo materialista de Provérbios. Pelo Espírito Santo podemos usar tudo isso como metáforas de nossos lutas pessoais e interiores, onde nós mesmos somos os amigos de Deus, os inimigos dos homens (e de nós mesmos), assim como os seres encarnados envelhecidos pelo tempo que entendem que tudo é vaidade e tédio, mesmo na abastança de prazeres físicos e de riquezas materiais. 
      Quando o temor de Deus se alia à unção do Espírito Santo e à poesia de almas sensíveis e inteligentes temos a expressão máxima de sabedoria que os seres humanos podem expressar neste mundo, Davi e Salomão sabiam se expressar assim, personagens bíblicos especiais, por isso tiveram posições tão importantes na nação de Israel, os que proporcionaram ao povo de Deus da velha aliança seu apogeu neste mundo. Por isso Jesus é da raiz de Davi, assim como é o eterno templo onde foi sacrificado como cordeiro de Deus para salvar a humanidade, do qual o templo de Salomão é a referência material máxima. Jesus é rei, o templo e o cordeiro, o Senhor, o altar e o salvador eterno.
      Na apresentação inicial, dividi o trecho do Salmo 62 em quatro parágrafos, reflitamos um pouco nos três primeiros. Esperar somente em Deus que nos propicia um lugar seguro e inabalável para pisar, a sua promessa de salvação e suprimento é a rocha de nossas vidas, assim ainda que não vejamos, que não saibamos, estamos seguros e em paz. Se temos essa experiência temos uma palavra legítima a compartilhar, e não podemos nos calar, mas falar aos homens que Deus existe e quer nos tomar nos braços para nos conduzir no caminho melhor. Essa segurança nos ensina que os valores desse mundo não têm importância, não têm poder, nem a falta deles deve nos entristecer, nem a abastança nos iludir. 
      O quarto parágrafo, contudo, diz algo especial, “Deus falou uma vez, duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus”, o salmista dá ênfase em que o poder pertence a Deus! Quem acompanha o “Como o ar que respiro” sabe que sempre procuro desconstruir um evangelho baseado em fé e poder quando isso se refere a referências físicas, assim entendo que o poder de Deus se revela em sua maior e melhor expressão não quando faz um milagre físico, mas quando nos leva a uma espiritualidade superior que nos torna pessoas mais humildes e amorosas. O poder máximo de Deus é espiritual, no plano espiritual não há necessidade de mover montanhas nem de curar doentes, mas de iluminar espíritos com virtudes. 
      A melhor manifestação do poder de Deus é vertical, não horizontal, é espiritual, não física, assim não é aquela vista pelos homens, não pelos homens materialistas e imaturos, mas é conhecida e honrada por Deus enquanto os homens, aqueles que quiserem e puderem ver, enxergam em nós apenas seres humanos discretos e tranquilos, mais ocupados em viver a vida eterna que em falar dela, focados em dar exemplo, não em convencer ninguém disso ou daquilo com palavras. Mas o salmista encerra o Salmo 62 com uma frase que pode parecer antagônica, “a ti também, Senhor, pertence a misericórdia, pois retribuirás a cada um segundo a sua obra”. Para entender isso é preciso entender a diferença entre justiça e misericórdia.
      Devolver na mesma proporção do que se fez é justiça, já misericórdia dá mais do que se merece, devolve mais do que se fez para ganhar. Mas o salmista pode querer dizer que neste mundo nem justiça existe, as pessoas não recebem nem aquilo que por direito fizeram por merecer. Deus, contudo, em sua misericórdia, retribui a todos, e se na velha aliança era conforme a obra de cada um, na nova aliança, através da justificação do nome de Cristo, Deus pode dar muito mais, mesmo se alguém nada tiver feito, mas tiver crido. Nos referimos aqui à bênção espiritual, perdão e paz, e principalmente ao melhor de Deus na eternidade, nos conduzir a mais alta espiritualidade é a manifestação maior do poder de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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