sexta-feira, outubro 09, 2020

9. Para vencer o inimigo

Espiritualidade Cristã (parte 9/64)

      “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.12-3), em Jesus temos uma mudança de posição espiritual, isso não ocorre com nossos corpos no mundo, mas no plano espiritual. Temos acesso a essa nova posição através do Espírito Santo e nessa posição somos vencedores sobre os seres espirituais rebeldes. “Digo, porém, andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5.16-18), ainda assim enfrentamos uma batalha constante.
      Essa batalha é contra o Diabo? Não, contra nossa própria carne, contudo, Tiago em sua carta é claro, “sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7), assim a vitória para os salvos é sempre um posicionamento de fé por uma condição de santidade que ganhamos através do perdão pelo nome de Jesus. Mas então, como interpretarmos o texto de Efésios 6.11-12, “revestis-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais“? Entendendo onde o diabo faz a guerra, se é numa posição material ou espiritual e como isso interage conosco. 
      O plano espiritual não é fácil de ser entendido, não pelas referências materiais, mas ainda que Deus seja só um, os seres espirituais também são espíritos, portanto com faculdades semelhantes às de Deus, e ainda que não sejam onipresentes, oniscientes nem onipotentes, eles existem no espaço e no tempo de maneira espiritual. O exemplo bíblico que temos disso é o de Jesus já ressuscitado no plano físico, onde podemos entender coisas espirituais com olhos materiais, quando ele “aparece” para falar com seus discípulos com o corpo transformado (Lucas 24.36). No plano espiritual e na eternidade, os homens salvos e com corpos transformados são diferentes de anjos, caídos ou não, esses não têm em sua consciências uma identidade pessoal que nós temos, podemos entender isso quando, por exemplo, vemos que anjos não têm nomes. 
      Existem algumas referências a nomes de anjos na Bíblia, como Miguel, Gabriel, e também aos nomes dos grandes anjos caídos, Satanás, Lúcifer, Belial, Leviatã, mas isso pode se referir mais a legiões que a indivíduos, e legiões são seres espirituais unidos por um mesmo propósito ou missão. Mas esses nomes são excessões e ainda assim não podemos dizer, baseados, na Bíblia, se referem-se de fato a indivíduos, podem se referir aos nomes das funções, comuns a toda uma legião. Mas algo que podemos entender é que quanto mais perto de Deus ou distante dele, portanto, extremos acima e abaixo dos homens, em seres espirituais da luz e das trevas a individualidade perde a relevância. Isso já é algo muito importante nos seres humanos, personalidades, nomes, histórias, escolhas, palavras e ações, definem nossas identidades. 
      Contudo, mesmos sendo diferentes no aspecto identidade, na substância os corpos dos seres espirituais são semelhantes aos que vamos ter na eternidade, àquele que Jesus apresentou após a ressurreição, por exemplo. Depois que Cristo subiu ao céu ele mudou de novo, não se tornou só um justo na eternidade, como nós seremos, mas o próprio Deus, visto que Deus pai, Deus filho e Deus Espírito são um. Mas não nos esqueçamos também que Jesus disse que como ele ia ser um com o pai nós também seríamos (João 17.20-23), assim será que haverá diferenças? Quais? Esse assunto é profundo, a Bíblia relata aparecimento mesmo de anjos com corpos humanos e com necessidades físicas (Gênesis 18.1-8), seja como for os seres espirituais rebeldes existem no plano espiritual que chamamos de céu. 
      Esse céu espiritual não está, em relação ao plano físico, nem acima nem abaixo de nós, mas espiritualmente mais perto ou mais distante do Deus altíssimo, numa outra dimensão. A referência não somos nós, os altos montes do nosso planeta, nem mesmo a Lua, o Sol, os planetas e ou as estrelas, mas um Deus espiritual. Como percebemos e nos comunicamos com esse plano espiritual? Pelo nosso espírito. O que nosso espírito entende é decodificado por nossas emoções e por nossos pensamentos que então passam para o nosso corpo. Dessa forma a guerra com inimigos espirituais se passa não fora de nós, mas dentro, depois disso somos nós que damos autorização para eles agirem, fora ou dentro de nós, em atuações que sempre necessitam da autorização de Deus e do livre arbítrio humano. 
      Um dos principais erros que o cristão comete é olhar demais para fora de si, procurar inimigos nos outros, muitas vezes em quem está próximo dele e na verdade só lhe quer bem, isso tudo ao invés de olhar para dentro de si. Por outro lado olhar para dentro de nós não significa nos alienarmos, fugirmos da realidade, não, o mundo é mau e existem muitos homens maus nele, cruéis e egoístas, que não se importam em pisar os outros para terem benefícios próprios, precisamos ser sábios para conviver com isso. Mas em olhar para dentro de nós me refiro ao plano espiritual, e esse nós conhecemos pelo nosso espírito, e todos os homens, salvos ou não, podemos ter contado com o mundo espiritual pelos seus espíritos. Entretanto, é só quando abrimos nossos olhos espirituais pelo Espírito Santo que conhecemos a realidade mais profunda. 
      O melhor dessa mais elevada iluminação espritual é acharmos comunhão com o Altíssimo, só depois disso temos clareza para interagir com nós mesmos, com o diabo, com a realidade exterior e física e com os outros homens, que também enfrentam as mesmas batalhas que nós. Não, não fique procurando inimigos nas pessoas, e também não interprete o texto de Efésios 6 de forma errada, como tantos dessa última geração de cristãos vitimistas interpretam, querendo ver o diabo em tudo para por a culpa de tudo nele. Sim, o diabo autorizado por Deus, nos mostra sempre o lado que não tem Deus como princípio e fim, que não agrada a Deus nem o honra, mas quem escolhe somos nós. Assim, a maior prova de espiritualidade não é vencermos os outros, nem mesmo o diabo, mas a nós mesmos fazendo as melhores escolhas. 
      Adão e Eva não tinham qualquer inimigo e o diabo só precisava receber um não, mas eles perderam a maior de todas as batalhas: para eles mesmos. O que mais se perde nessa batalha? Não é a simplicidade de quem pode andar na luz do dia e dormir uma boa noite de sono sem culpa, não são as colheitas ruins, físicas ou morais, resultados de quem alterou seu equilíbrio no universo, isso tudo é efeito. O casal mítico perdeu o privilégio de ter o Espírito de Deus em seus espíritos, isso foi o principal. Para que isso fosse recuperado Deus teve que se fazer homem, retroceder espiritualmente encarnando. Encaremos a verdade, com coragem e humildade, nosso inimigo não é o homem, por mais que ele nos incomode, e se ele nos incomoda é porque somos incomodáveis, frágeis para o ataque, de quem? Do mal dentro de nós. Permitamos que Deus viva em nós pelo Espírito Santo, isso encerra as guerras e nos dá a paz que permanece. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020

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