sábado, outubro 10, 2020

10. Para cumprir uma missão

Espiritualidade Cristã (parte 10/64)

      “A ti, Senhor, levanto a minha alma. Deus meu, em ti confio, não me deixes confundido, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim. Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa. Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia. 
      Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho. 
      Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniqüidade, pois é grande. Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança.” 
Salmos 25.1-14

      Alguns conseguem chegar a um entendimento mais profundo de porque devem ser espirituais, eles querem espiritualidade para cumprirem uma missão especial e serem diferentes (e importantes...). Abrindo um parênteses, muitos querem servir a Deus, mas parece que de cara já fazem exigências para isso, querem ser usados de forma diferenciada, e vou explicar, exigem isso baseados na própria Bíblia, em promessas como a de João 14.12, “na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. Esses na verdade não entendem o que é fé, o que é espiritualidade e nem se submetem de fato à vontade de Deus, querem milagres físicos e passageiros no mundo, não virtudes eternas nos corações. Um exemplo é como vemos no meio pentecostal pastores querendo ser novos bispos “Macedo” ou “Hernandes“, ou cantoras querendo ser novas “Ana Paula Valadão” e “Cassiane” (e aqui deixo claro que nada tenho contra os nomes citados), esses que querem o que Deus não quer para eles comentem dois erros. 
      Em primeiro lugar quem olha com cuidado para alguns líderes não verá neles de fato espiritualidade, de acordo com o exemplo de vida simples que Jesus homem ensinou-nos a ter, portanto não de maneira realmente agradável a Deus, ainda que tenham grandiosos ministérios e se achem ungidos. Muitos se fizeram baseados em heresias e os frutos que vieram disso foram poder e riqueza nesse mundo, esses que até foram usados por Deus em alguma instância, terão suas intenções reveladas no tempo certo. Infelizmente, de alguma maneira, no final farão mais mal que bem para o evangelho, como já temos visto pelo apoio equivocado que muitos deles têm dado a políticos enganadores querendo estabelecer um reino na Terra e não no céu. Em segundo lugar, mesmo que algumas cantoras tenham legítimas chamadas de Deus, e mesmo essas quando confrontamos com o verdadeiro evangelho achamos no fim de suas carreiras frutos não tão louváveis, quem disse que Deus tem essas “carreiras” para todas? Ainda que haja fé e esforço do homem, se Deus não quiser não vai acontecer, ser espiritual é aceitar isso, ser espiritual é obedecer a Deus, não à própria fé, fecho parênteses. 
      Seja como for, chamada missionária atualmente ocorre menos no meio tradicional protestante, mas infelizmente e por motivos não tão nobres, ocorre bastante no meio pentecostal. Eu disse infelizmente porque muitos desejam ser separados para a obra para terem fama e prosperidade financeira, isso explica a grande demanda dos chamados pregadores e músicos itinerantes, que se sentem livres frequentando uma igreja diferente por culto e embolsam “cachês” para darem seus “espetáculos”, coloquei cachê entre aspas porque considero absolutamente inadequado o uso desse termo para qualquer espécie de retorno financeiro para pessoas que tomam púlpitos se dizendo em nome de Deus. Enquanto que em denominações não protestantes muitos entram em ordens religiosas, sejam católicas, hinduístas, budistas, para abrir mão de valores materiais e luxos, mas usam uniformes, hábitos e outras vestimentas, que os diferenciam das outras pessoas, deixando claro a escolha de vida que fizeram, isso também acontece nas igrejas evangélicas com a obsessão que tantos têm por receberem títulos de pastor, missionário, diácono, presbítero, bispo etc. Mas de um jeito ou de outro, não seria isso também vaidade? 
      Pode não ser, não penso que seja essa a intenção de muitos sacerdotes, clérigos e monges, muitos sinceramente, ainda que por motivos estranhos, querem se sacrificar por uma causa maior, achar identidade em uniformes e normas como simples membros de exércitos que fazem caridade, aliás, muitos evangélicos obcecados por títulos e fama deveriam aprender sobre humildade com sinceras irmãs católicas que passam a vida fazendo o bem num total anonimato. Talvez os verdadeiramente espirituais passem como invisíveis aos olhos humanos, mantenham-se tão discretos e calados que ninguém saiba de suas espiritualidades, nem por vestimentas, nem por títulos. Eles as vivem para si e para o divino, se escondem sendo comuns, iguais a muitos, casando, ou não, trabalhando, sendo diferentes, contudo, sem fazer alarde. Penso que Jesus encarnado vivia assim, um simples homem judeu, não rico, mas também não pobre, equilibrado na aparência e em suas relações sociais, ainda que com vida privada espiritual de qualidade que revelava isso quando de fato era necessário, e o mais necessário ele fez, não aparecer como um líder político ou religioso, mas se sacrificar por amor por todos nós.

      O texto inicial é uma oração que faz uma entrada progressiva na presença de Deus levando o salmista a se conhecer à medida que conhece a Deus, experimentando assim a mais elevada espiritualidade do Altíssimo. Podemos aprender com o texto três lições: os realmente espirituais não são confundidos, eles provam uma misericórdia grandiosa de Deus e conhecem os mistérios espirituais de forma diferenciada. Eu preciso dizer que pela graça de Deus, não por méritos pessoais, tenho sido tratado assim pelo Senhor, com clareza, perdão e intimidade. Muitas coisas tentam nos confundir, principalmente no mundo atual quando tanta informação nos chega depressa e em todo o tempo defendendo todo tipo de ideologia, seja do lado que for, seja na área que for. Todos querem ter razão e provarem que seus opositores não têm nenhuma razão, isso está errado na essência pois uma criatura de Deus, seja ser humano ou ser espiritual, nunca está totalmente certo nem totalmente errado. Para não sermos confundidos é preciso que não durmamos num cômodo extremo, mas buscar em Deus o equilíbrio de seu centro (estudamos a respeito em “O mal está nos extremos”). 
      Mas como saber se estamos certos conforme a vontade de Deus? Sim, porque muitos estão convictos e não se sentem confusos ou se acham errados, mas certos que creem de forma mais correta e que não estão sendo manipulados, ainda que acreditem em algo não aprovado por Deus. A resposta está no tempo, ele mostra a verdade, assim para passar pela prova do tempo em paz é preciso crer em Deus, ainda que muitos sejam contra e pareçam ter argumentos bons para desconstruir o que cremos. Mas se cremos em Deus, se o buscamos e ele nos disse que as coisas são dessa maneira e não daquela, ainda que a realidade pareça dizer o contrário, devemos estar firmes e esperar. Deus não deixa os que confiam nele confundidos, ainda que agora pareçam errados, o futuro mostrará a verdade, já os apressados podem se enganar, por não quer crer, mas ver e ver instantaneamente. 
      Noção do quanto se é pecador e profunda experiência com a misericórdia de Deus, em toda uma vida, eis uma característica do realmente espiritual. Ainda que o tempo passe ele não desiste de pedir perdão e de ser grato a Deus por ele perdoa-lo, e eis outra característica dos tolos e rebeldes também relacionado ao tempo, se eles não olham com fé para o futuro também facilmente se esquecem de seus passados errados, assim não dependem da misericórdia de Deus, mas das próprias justiças. O salmista cita “não te lembres dos pecados da minha mocidade”, ele sabe como pesam esses pecados numa alma sensível que quer agradar a Deus, ele se olha e se assume como pecador, e isso o faz provar um perdão, um amor, uma graça, uma misericórdia, singulares e poderosas de Deus. O tolo se esquece do passado e não confia no futuro, eles despreza tudo o que pode depender de fé em Deus e não em suas própria obras e qualidades. 
      Mas o trecho do Salmo 25 citado inicialmente encerra com algo maravilhoso, o grande presente que aqueles que confiam num Deus de todos os tempos e ainda assim atemporal, o segredo do Senhor, ah, esse segredo não é uma liança que Deus faz com qualquer um. Aquilo que tantos desejam e que pagam tantos preços para ter, que buscam em tantos lugares, o homem pode ter, mas entendamos isso corretamente, só depois de crer em Deus, se admitir pecador e se submeter ao Senhor com mansidão. Ser manso e se deixar comandar, e não fazer exigências, e não dar nem sugestões de melhores opções, mas permitir que Deus faça de nossas vidas só o que ele deseja fazer, mesmo que diante de homens pareçamos menores. Para ser manso é preciso ser humilde e abrir mão de vaidades, mas só assim se tem direito ao segredo do Senhor, o segredo que muitos tentam descobrir por trás de teorias de conspiração, de ideologias, de política, de espiritualidade, de ciência, quando querem saber, mas não querem pagar o preço para isso. Deus aos mansos ensinará seu caminho, e só a eles.
      Eu tenho chegado a uma conclusão, nesses meus sessenta anos de vida, eu quero ser espiritual para obedecer a Deus, não importando o que ele queira de mim ou se alguém sabe disso ou não, e no meu caso tenho descoberto que minha espiritualidade deve ficar o mais discreta possível. Não foi fácil concluir isso e mesmo sabendo não é fácil pôr isso em prática, o que é melhor para cada um de nós é sempre o mais difícil a fazer, quando não for mais difícil Deus nos levará em paz com a gente tendo certeza do dever cumprido nessa curta existência no plano físico. Ainda traio esse conhecimento, e quando isso acontece me arrependo e torno a caminhar em direção ao Altíssimo, mas isso é para mim. E pra você, já sabe o que Deus quer que você faça e seja para ser verdadeiramente espiritual? A verdadeira espiritualidade nos faz crescer, nos liberta de fato, nos dá uma paz sem igual, nos entrega uma vida sem hipocrisia e sem incoerências, nos equilibra e nos permite ser bênção nas vidas de quem realmente importa para nós em Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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