domingo, outubro 11, 2020

11. Pecado se vence com vontade!

Espiritualidade Cristã (parte 11/64)
 
      “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.Gênesis 4.3-8

      Ser espiritual é vencer o pecado, esse é o primeiro passo, pecado, contudo, não se vence facilmente nem com fraqueza. Ele é inimigo numa guerra e como tal deve ser vencido com persistência e força, é preciso uma decisão de vontade firme para se obter êxito. Vamos entender melhor isso refletindo na passagem inicial, o segundo relato bíblico da eterna luta da carne contra o Espírito, no primeiro relato Adão e Eva foram vencidos na tentação original, agora são seus filhos que enfrentam uma provação. Abel trouxe como oferta a Deus uma ovelha de sua criação, fruto de seu trabalho, Caim trouxe o “fruto da terra”, algo vegetal que colheu na natureza.
      Abel ofereceu algo que lhe custou um preço, assim como um animal que podia ser oferecido como sacrifício pelos pecados, ele acertou duas vezes e agiu conforme a índole de seu coração, esforçado e temente a Deus. Caim, além de ter trazido algo que não lhe custou muito, trouxe algo que não podia ser oferecido como oferta pelo pecado, isso refletia seu nível de espiritualidade assim como a ausência de sensibilidade para com suas culpas. O humilde entra na presença de Deus pedindo perdão, o tolo acha que o privilégio é dos outros de o terem por perto, assim Deus se agradou de Abel, mas não de Caim. Segue no texto a manifestação do que havia no coração de Caim, distância de Deus, inveja, ira e finalmente homicídio. 
    O mal pior não nasce de um dia para o outro, é construído no tempo, com rancor e descrença, assim o que começa com algo pequeno pode terminar em tragédia. O autor da carta aos Hebreus define o diferencial que havia em Abel, “pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11.4), isso deixa claro que já havia a prática de sacrifício de animal, crendo que isso daria direito ao perdão de Deus pelos pecados. Contudo, o ponto dessa reflexão é a frase, “sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, ela nos fala sobre a dura guerra que enfrentamos. 
      “Deus ajuda quem cedo madruga”, diz um velho ditado, que nos lembra da sociedade que Deus estabelece com o homem, onde cada um tem uma parte a fazer para que o homem evolua. Não só obras, não só fé, mas ambas, não só o homem, e nem só Deus, mas ambos, quanta generosidade de Deus trabalhar assim, dando-nos oportunidade para fazer parte do aperfeiçoamento de sua melhor criação, nós mesmos. Enganam-se os que pensam que o cristianismo é lugar para covardes e ignorantes, que deixam tudo nas mãos de Deus e não fazem nada, isso até pode ser assim com cristãos equivocados, mas não é para os verdadeiros. Temos que buscar a Deus e crer, mas depois temos que vigiar.
      Não podemos passar vinte e quatro horas por dia orando, em comunhão mais íntima com o Espírito Santo, temos responsabilidades no plano físico para com o mundo, trabalharmos, sociabilizarmos, mantermos família.  Assim, na maior parte do tempo, nossa parte é resistir, com todas as forças, tendo na mente as memórias de todas coisas boas e singulares que já experimentamos com Deus, e no coração a deliciosa esperança de tudo que poderemos ainda viver com o Senhor. É preciso uma mente decidida, já que tudo começa na mente, é ela quem ouve o Espírito Santo e também os espíritos rebeldes, que sempre têm uma outra maneira de ver a vida que não a do Altíssimo.
      Pecados diários são vencidos na mente, ainda que a ideia traga um desejo inicial é preciso força para dizermos a nós mesmos que não queremos pecar para não sentirmos o pecado até suas últimas consequências, o sentimento inicial ainda não é o pecado. Para isso, creiam, a simples frase, “eu não vou fazer isso”, pode nos livrar de problemas bem grandes, e principalmente dos “pecadinhos”, aqueles que nos acostumamos a fazer, mas que entristecem nosso espirito, deixando-o frio para ter uma comunhão íntima com Deus. Não, não é o Espírito Santo que se recente, que se afasta, somos nós que esfriamos, quando mantemos uma consciência cheia de memórias sujas e um corpo machucado pelos vícios. 

      Contudo, para algumas coisas temos que ser rígidos, temos que dizer, sim, “eu não posso nem querer”, pois sabemos que se dermos o mínimo de espaço sucumbiremos. Mas só entendemos de fato a necessidade de dominar nossos desejos quando percebemos o quanto isso nos impede de estar próximos a Deus, como em toda amizade, só mudamos quando percebemos que se não mudarmos machucaremos alguém que nos ama e que queremos amar, ainda que não seja Deus quem sofra com o nosso pecado, mas nós. Interessante a palavra que Deus deu a um Caim mimado e orgulhoso, bem pragmática, “por que está bravo? se agir certo as coisas dão certo, a escolha é tua”, simples, assim. 
      Coração acumulador de pecado, contudo, sempre complica as coisas, Caim não entendeu o conselho de Deus e fez ainda pior, exteriorizando todo o mal represado. O que nos surpreende nessa passagem de Gênesis é vermos um crime tão horrível justamente entre os dois “primeiros” irmãos, que ainda deviam ter em suas memórias lembranças tão recentes de um jardim do Éden onde Deus andava no meio dos homens sem véus e sem filtros. Aqueles primeiros homens sabiam muito mais de espiritualidade que nós, mas saber, só isso, não é suficiente para tenhamos vidas de plena comunhão com Deus. Conhecimento só liberta quando é praticado, com todo o nosso ser, corpo, alma e espírito. 
      De fato poucos souberam tanto como Caim e Abel, eram filhos do “primeiro” casal, mas sabiam o que, da espiritualidade de Deus ou a da serpente? Talvez um soubesse de uma e o outro de outra, talvez na família mítica já existisse o modelo para toda a humanidade, escolhas opostas, se for isso fica bem claro o fim de cada escolha, um morreu como vítima, o outro matou um inocente. Abel é modelo de Cristo, Caim do diabo, penso que assim como é hoje, desde o início da humanidade alguns têm no coração um desejo profundo de voltar a Deus, de buscar perdão, de perdoar, de achar o caminho da paz, mesmo que perca fazendo isso, no mundo e diante dos homens. 
      Abel pagou com a vida por ter um coração do bem, “e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3.12), ninguém ache que possa ser de fato espiritual e ser um ganhador neste mundo, pagamos preços, mas Deus é pelos espirituais e o “universo” um cobrador implacável para os carnais. Caim tirou a vida de outro para aplacar o mal que não estava no outro, e em mais nada ou ninguém, mas dentro dele, e eis outro procedimento típico de quem não quer admitir o próprio pecado, que não busca a Deus, projeta o desequilíbrio interno no outro, se descontrola e mata. Existem vários níveis de homicídio e muitos não matam o corpo, mas a honra.
      Caim pode ser lido em várias camadas, em uma mais direta não podemos dizer que ele seja o tipo do anti-Cristo, daquele que quer viver sem buscar e adorar a Deus, daquele com intenções escondidas. Os mais sérios e profundos “satanistas” e ocultistas não perdem o controle de forma tão explícita e rápida, como homem comum Caim é o exemplo do tolo, do louco, do fraco, que dá lugar à carne. Mas Caim pode ser interpretado também como o anti-Cristo, em seu momento final e em sua intenção mais profunda e verdadeira, que nega o sacrifico pelo pecado e que mata o inocente, se o bem tem só uma cara, o mal é assim, tem várias caras, ainda que seja trevas no início, no meio e no fim. 
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, porque  a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5.16-18), a vitória está no Espírito Santo! Se os cristãos dessem de fato liberdade para o Espírito do Altíssimo provariam a vida abundante que prometeu Jesus, quando entenderemos isso de verdade? Quando pararemos de ser só bons religiosos, guardiões de uma palavras linda, mas que é morta se não for vivificada em nós pelo Espírito Santo. Quem não se esforça para viver e deixar viver pelo Espírito, sempre acaba matando alguém. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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