quinta-feira, outubro 08, 2020

8. Para ter vitória numa guerra

 Espiritualidade Cristã (parte 8/64)

      “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. E, como desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor e disse: Fere, peço-te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu.I Reis 6.15-18

     Um motivo que leva muitos a desejarem espiritualidade é para ter vitória numa guerra, isso porque muitos veem a existência assim, como uma batalha, contra outros homens, contra os demônios, contra os que são contra os demônios e por aí vai. Existe alguém que tem muito interesse em criar e manter guerras, e esse alguém não é Deus, o Altíssimo não precisa combater ninguém para conquistar algo, ele já é dono de tudo e sempre, quem tem interesse é o diabo. O homem longe de Deus cria o campo de batalha e oferece os soldados, para ambos os lados, e mesmo cristãos sinceros ainda veem a vida dessa maneira, baseados equivocadamente numa visão da vida do velho testamento, não da nova aliança de Cristo. 
      Olhar a existência com uma ótica beligerante faz com que achemos inimigos em muitos lugares, ao mesmo tempo que faz como que nos olhemos como soldados numa guerra sem fim. Assim pode-se achar duas posturas na existência: avançar e ganhar fazendo os outros retrocederem, ou perder quando se tem que retroceder diante do avanço dos outros. Numa busca constante de controle de território só um pode estar num determinado lugar, por isso é preciso expulsar alguém para conquistar o espaço. A verdadeira espiritualidade pode oferecer uma opção superior à guerra, onde não é preciso avançar nem retroceder, mas abraçar, podendo assim dois ou mais ocuparem um mesmo espaço em comunhão, em paz e sem guerra. 
     Podemos entender essa guerra através de uma lei física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pode-se até pedir com educação, “por favor, pode sair para eu entrar?”, mas ainda assim só um estará num lugar em um determinado momento. A solução está em olharmos a existência não sob o ponto de vista material, mas espiritual, nessa ótica dois ou mais seres podem estar num mesmo espaço e ao mesmo tempo, um espação espiritual. Isso é possível através das virtudes espirituais da luz, do bem, do Espírito do Deus Altíssimo, por essas virtudes podemos abraçar os outros, numa união que vai muito além da física, se na terra não tem espaço para dois, no coração há, e para muito mais que dois. 
      Infelizmente muitos usam o conceito “guerra”, avançar e retroceder, tão inferiores e materiais, para exercer o que acham ser espiritualidade. Na verdade isso pode até ser uma ótica espritual, mas das trevas, dos espíritos rebeldes, e no plano espiritual existe, sim, uma batalha por território, ainda que seja para conquistar espaços que os seres encarnados entregam aos seres espirituais do mal. Mas mesmo essa guerra não nos compete entender, a nós basta orar no nome de Jesus, entregar os problemas a Deus e crer que ele solucionará. Só a Deus cabe determinar batalhas espirituais ou comandar anjos, esse é o entendimento da teologia cristã tradicional (já estudamos sobre isso em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”). 
      Quando se fala em inimigos espirituais, se fala em demônio, e vemos pouco sobre demônios no velho testamento, justamente porque ele relata a história de Israel, um povo separado e cuidado por Deus. O diabo aparece, por exemplo, em algumas situações especiais, no Éden tentando o homem, em Jó sendo usando para uma prova, em I Samuel atormentando a alma desobediente de Saul e em Daniel tentando impedir as orações de Daniel no exílio. Relatar atividades demoníacas em Israel seria semelhante a relatar essas atividades dentro das igrejas cristãs, em Israel só aparecem quando a nação está desviada, mas hoje nas igrejas a presença do Espírito Santo impede isso, mesmo em igrejas desviadas em heresias, assim o diabo está no mundo. 
      Nos evangelhos aparecem mais registros de possessões demoníacas porque é o início da nova aliança num mundo longe de Deus sob o império Romano, ainda que em terras originalmente israelitas. Contudo, é interessante como que nas últimas décadas temos visto menos manifestação de possessos nas igrejas evangélicas, em relação ao que víamos, principalmente nas pentecostais, de vinte, trinta anos atrás. Qual o motivo disso, estariam as igrejas menos ungidas? Possessões teriam diminuído? Os demônios estariam agindo de maneira diferente? Isso pode nos dizer algumas coisas sobre a espiritualidade nesses tempos que podem ser o início dos tempos finais, assim como pode nos ensinar sobre as últimas estratégias do diabo.
      Mas existia uma guerra espiritual no tempo do antigo testamento, talvez até maior que depois, mais aliada aos confrontos físicos entre as nações. Num mundo pré-cristianismos o diabo tinha mais liberdade de agir, como em sacrifícios humanos onde até crianças eram oferecidas, e de forma aberta, não velada em cerimônias de bruxaria como aconteceu depois que o cristianismo se instalou. Quando Israel lutava contra uma nação que não temia a Deus e adorava falsos deuses, havia também uma guerra espiritual ocorrendo, por conquista de território, a visão do moço do profeta Eliseu nos mostra isso. Feliz o homem que tem os olhos espirituais abertos para ver que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

      Guerra espiritual: é preciso ter uma espiritualidade superior para enfrenta-la? O cristão é um soldado de Deus contra as trevas? Temos que ser espirituais especificamente para isso, para vencermos uma batalha nesse campo? Não, não e não! A nova aliança do novo testamento entrega um conceito novo, diferente e que será o eterno para a humanidade sobre espiritualidade. O campo de batalha não é mais os campos de Israel, mas o coração do homem, na verdade a humanidade teve que esperar alguns milênios para evoluir e poder enfrentar a verdadeira guerra, que se iniciou no Éden quando o homem caiu na tentação do diabo, comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
      Em sua obra de salvação Jesus vence a batalha, não por territórios neste mundo ou mesmo no outro, mas por almas humanas, ele anula a legalidade que o próprio homem tinha dado a Satanás, não no exterior do ser humano, seja ele material ou espiritual, mas no seu interior, em seu coração. Por isso o reino de Deus estabelecido pelo evangelho não foi na nação política de Israel, tendo Jesus como o novo rei Davi, mas no espírito humano. Jesus vence uma vez por todas a guerra e no seu ponto de origem, na causa primordial, de maneira que ninguém precisa mais lutar, pelo menos não pela condenação que o pecado original traz, só precisa crer. Se o homem volta para Deus o diabo perde todas as possibilidades de vitória.
      Talvez seja por isso que o “diabo” tivesse tanto interesse em corromper o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que foi feito superior mesmo aos anjos e que recebeu do pai direitos maiores que os de qualquer outra criatura. Talvez o diabo não pudesse ter nada que não lhe fosse autorizado, e como Deus não autorizou porque ele se rebelou e não estava preparado para administrar nada além do inferno que para ele fora criado, ele teria que desviar o homem para que esse desse a ele algum direito. Foi justamente o que aconteceu, quando o pecado original foi cometido, por ser uma desobediência ao criador o homem sai de sua proteção e fica só, então, naturalmente o diabo passa a ter direitos.
      Qual foi o primeiro direito que o diabo recebeu? De existir no coração do homem, em qualquer outro espaço o diabo não poderia derrotar Deus, mas no coração do homem ele pode, por isso ele tinha tanto interesse nesse território, mais do que em qualquer outro. Através desse lugar o diabo pode dominar o mundo, e mais que isso, pode dominar mesmo o universo, dependendo do que o homem conquista. Contra o diabo Deus pode ir e destruir totalmente suas obras, mas contra o homem não, por causa do livre arbítrio, assim se o homem escolhe obedecer ao diabo e entregar a ele suas conquistas, Deus nada pode fazer. Deus só destrói as obras das trevas quando o homem pede e permite. 
      Esse raciocínio parece estranho, o homem ter tanto poder e Deus nenhum, e o diabo só ter algum poder porque o homem lhe deu? Mas é isso, por isso os seres encarnam, vivem nesse mundo, para terem oportunidades de livre arbítrio, e com dessa forma os espíritos rebeldes que não encarnam passam a ter também direitos. Nossa curta existência neste mundo é muito especial, significativa, muitos não entendem isso, mesmo cristãos. Não, meus queridos, não é o homem que adora o diabo, é o diabo que adora o homem, que o inveja, que deseja o que o ele mesmo não tem, mas que ao homem foi dado por Deus. O que acontece é que o diabo é astuto e focado, enquanto o homem é tolo, volúvel, vaidoso, amante do passageiro.
      Vou dizer outra coisa que talvez te surpreenda, à medida que o homem foi vivendo no mundo, conquistando-o e infelizmente buscando espiritualidade errada, pelos espíritos rebeldes das trevas e não por Deus, o diabo e os demônios foram sendo “modificados“, humanizados. Sempre nos parecemos com aquilo que mais gostamos. Se um cristão diz que adora a Deus e o serve, mas mostra em seu jeito de ser, de se trajar, nas coisas gasta suas rendas, referências não tão adequadas ao que diz que crê, não tão santas quanto o Deus que diz obedecer, nesse caso podemos dizer que esse cristão mente, não adora a Deus, mas o mundo e seus valores. O que fazemos de fato é o que nos define, não o que dizemos.
      Toda essa pluralidade de religiões, de mitos, de folclores, que variam conforme e região geográfica da Terra, do povo que a habita e de sua identidade cultural, influenciou os seres espirituais rebeldes das trevas. E não é só como o homem vê os espíritos, os espíritos se manifestam com aparências variadas conforme o povo. Na cultura celta, por exemplo, os seres espirituais rebeldes aparecem de um jeito, na nórdica europeia de outro, na hindu de outro, na africana de outro, no extremo oriente de outro, entre os indígenas da América do Sul de outro. São todos diabos e demônios, mas que se apresentam conforme os homens que os buscam, suas aparências físicas e suas estéticas culturais. 
      Se Deus fez originalmente o homem à sua imagem e semelhança, o homem transformou o diabo à sua imagem e semelhança, sempre a partir de uma guerra do diabo contra Deus que tem início no coração humano. Não, não precisamos ser poderosos soldados espirituais porque não existe uma guerra, não depois que aceitamos Jesus como único e suficiente salvador, assim se gabar de ser espiritual porque se tem competência para fazer uma guerra no plano espiritual é desnecessário. Não vencemos nos esforçando, avançando, mas nos posicionando, em Deus, no lugar mais alto, no qual nenhum ser espiritual do mal têm acesso. Nesse lugar não se avança ou se retrocede, se abraça, no amor eterno de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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