14/10/20

14. Espiritualidade e unção

Espiritualidade Cristã (parte 14/64)

      “Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção.
      E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo. Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio.” 
Êxodo 30.23-30

      Unção, como esse termo tem sido usado atualmente em muitas igrejas evangélicas, mas o que é unção? Quando alguém de fato está ungido por Deus, e sendo assim, usado por Deus e vivendo, na prática e não só nas palavras, como um ungido de Deus? Para muitos, no meio cristão, algo que está diretamente relacionado com a mais alta espiritualidade é a unção, se acham que alguém está ungido então concluem que com certeza esse alguém é uma pessoa muito espiritual. A definição do dicionário diz que unção é “ato ou efeito de ungir, de aplicar óleo consagrado numa pessoa”, ou o “ato ou efeito de untar, de esfregar com unto, gordura, untadura, untura”, assim o termo unção está ligado ao uso religioso do óleo. 
      A passagem bíblica mais reveladora sobre unção é a de Êxodo 30, onde Deus dá a Moisés a receita para produzir o óleo que seria usado na unção dos objetos e locais do templo assim como dos sacerdotes, “principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him”, isso para criar “o perfume composto segundo a obra do perfumista”, o óleo. Nas medidas atuais seriam mais ou menos assim as proporções: 5,75 kg tanto de mirra quanto de cassia, 2,88 kg tanto de canela quanto de cálamo, e 4 litros de azeite. 
      Vejamos as características dos elementos que compõem esse óleo. A Mirra é uma planta espinhosa, medicinal e usada como cicatrizante, anestesia e no tratamento rejuvenescedor. A canela aromática (cinamomo) além de medicinal, pode ser usada no alimento e tem um cheiro marcante. O cálamo aromático (ou cana cheirosa ou jasmim azul) é uma planta pequena, aquática e rara, é usada para purificação da água que é consumida, mas também tem indicação como cicatrizante, seu cheiro é agradável, assemelha-se a tangerina, mas seu sabor é amargo e picante. A cássia (ou chuva-de-ouro) ao mesmo tempo limpa, ornamenta e perfuma o ambiente. O azeite é o óleo da oliveira, ele reduz o risco de infarto.
      Assim, o óleo têm características diferenciadas, é feito de elementos especiais, não são encontrados com tanta facilidade, são especiarias, são elementos que exalam cheiros agradáveis e únicos, é perfumado e feito com plantas aromáticas. O que dá o corpo ao óleo é o azeite de oliva, que confere ao produto uma consistência gordurosa, líquida mas insolúvel na água, que faz com não seja derramado com facilidade, permanece por mais tempo sobre a superfície. Por isso o termo untado a óleo, e não molhado, a água, por mais pura que seja, não tem cheiro e facilmente escorre e seca. Todas essas características do óleo israelita para unção são metáforas para a unção espiritual do Espírito Santo.
      O óleo nos passa ideia de limpeza, e em se tratando de coisas espirituais, de santidade, mas é mais que isso, se a metáfora fosse só essa bastaria lavar as coisas religiosas com água limpa. Ele tem um cheiro forte e agradável, isso nos passa a ideia de uma limpeza que é compartilhada, todos no mesmo espaço ou próximos sabem quando alguém usa perfume, pelo cheiro. Em termos espirituais nos fala de uma santidade feliz, alegre, exultante, que transborda o “perfumado” (o ungido) e que compartilha sua experiência com os outros. Repetindo a metáfora da água, também usada para identificar o Espírito Santo (“água viva” em João 4.10-14), ela alimenta o que a prova, mas numa experiência mais discreta e pessoal. 
      Mas além da limpeza e do cheiro, o óleo tem uma cor, brilhante e dourada, como o ouro, o que confere realeza a quem o usa, em termos espirituais isso no remete a Deus, o ungido foi tocado por Deus, quem tem essa experiência não a esquece facilmente, fica marcado com ela. Novamente comparando, a água vai e seca com mais facilidade, o óleo não, fica na superfície, não some tão depressa, e além disso, o óleo da unção tinha efeitos fisicamente curativos. Dessa forma entendemos que a unção do Espírito Santo santifica, diferencia socialmente, abençoa os outros e também cura as feridas emocionais. Para entendermos tudo isso temos que nos lembrar das três áreas que compõem o ser humano.
      Com certeza a unção de Deus mexe com nossos sentimentos, mas ela é muito mais que emocionalismo, sentimentos vêm e vão, e facilmente cedem lugar a seus opostos, o efeito emocional da unção de Deus é diferente. Como em tudo na experiência com Deus através de Cristo, fé é a chave, assim a verdadeira unção nem sempre nasce de um momento em que estamos felizes, ao contrário, pela fé podemos experimentar uma unção de Deus num momento de extrema tristeza e solidão, onde tudo contribui para que não nos sintamos bem. Mas ainda assim, o Espírito Santo vem e nos encontra, nos enche, nos alimenta, não, meus queridos, é muito mais que sentimento da alma, é unção, o santo óleo espiritual do Altíssimo.

      “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” Salmos 133

      “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” João 13.34-35

      Existe uma unção no mundo, a “unção do mundo”, e ela é bem forte, artistas a têm, com ela eles hipnotizam multidões em estádios e na internet, com ela eles cantam, dançam, tocam, com um carisma diferenciado. Essa unção baseia-se na alma, uma emoção humana usada com muita inteligência e manifestando-se através de talentos naturais do corpo, como oratória, canto, técnica musical, poética etc. Essa unção tira do ser humano o máximo que ele pode ser e fazer sem o Espírito Santo, o diabo pode ou não ter alguma ingerência direta nela, e na verdade isso nem importa, se não é de Deus, sempre dá glórias ao diabo. Essa unção é tão forte que seduz mesmo homens em púlpitos de igrejas cristãs. 
      A verdadeira unção nasce num espírito tocado diretamente pelo Espírito Santo de Deus, não nasce na alma, seja por emoção, por mais alegria e euforia que se sinta, ou de conhecimento, por mais profundos que sejam, também não nasce no corpo, por cantar, bater palmas, dançar ou correr. O espírito ungido, e ungido pelo Espírito Santo não por outros “espíritos”, entrega à alma pensamentos e sentimentos ungidos, assim entendimentos e emoções são efeitos da unção genuína de Deus, não causas. A alma por sua vez manifestará no corpo, por sons, imagens, outros sentidos e movimentos, os efeitos de fato ungidos pelo Santo Espírito de Deus, com equilíbrio e bom senso. 
      Será que todas essas evidências podem ser notadas em muitos que chamamos de ungidos atualmente? Alguns cheiram forte, mas um perfume barato que ainda que agrade no início depois enjoa, nos repugna e até nos dá dores de cabeça, esses até controlam seus corpos, mas não suas línguas, falam e falam, mas nada de fato profundo. Outros até demonstram uma “consistência oleosa duradoura” em suas “unções”, mas depois que expõem fisicamente seus êxtases não seguram mais nada de espiritual, a lembrança que teremos deles é apenas de gente escandalosa, sem domínio próprio, mais com vontade de exibir uma espiritualidade (falsa) como vaidade, que testemunhar de Deus. 
      Meus queridos, todos nós temos direito a infantilidades espirituais, crianças devem ser respeitadas e cuidadas, muitos de nós quando experimentamos dons pela primeira vez nos encantamos e podemos até perder um pouco o controle. Por isso experiências de busca do batismos do Espírito são mais adequadas de serem feitas em cultos mais íntimos, de preferência só com os cristãos já estabelecidos, não em cultos evangelísticos. Sim, na Bíblia as pessoas provavam dons na conversão e em cultos abertos, mas hoje em dia não é sabido agir assim, deixemos as crianças, mesmo espirituais, serem crianças, mas isso no tempo das pessoas serem crianças, e sempre orientado-as a amadurecerem. 
      A resposta é não! Muitos que se apresentam como “ungidões”, que muitos aplaudem como ungidos, não o são, ainda que preguem e cantem com uma emoção, com uma convicção, que nos impressione emocionalmente muito fortemente. Muitos não imaginam a qualidade moral das vidas íntimas que muitos “gospel famosos” têm de fato, o que fazem depois de participarem de cultos como estrelas máximas, e nem queiram saber, é nojento. Para discernir o critério é sempre um, pelos frutos vos conhecereis (Mateus 7.20-23), o falso não ficará de pé na congregação, não para sempre, o tempo o revelará, mas os justos não devem esperar pelo tempo, devem buscar em Deus discernimento e confrontar esses falsos ungidos já! 
      A mais forte e pura unção nos leva à mais elevada espiritualidade, e como vimos neste estudo, “Por que ser espiritual?”, a mais elevada espiritualidade deixa santidade, paz e amor, depois que nos posicionamos nela, então nos leva a temer a Deus de uma maneira única. Esse temor exige de nós discrição, não exposição, nessa disposição queremos nos calar, não falar, desaparecer, não aparecer, para que Deus seja adorado, mais ninguém. A mais elevada espiritualidade nos permite conhecimentos espirituais sérios, e isso não se revela assim facilmente, a qualquer um, na verdade a espiritualidade mais alta se guarda na mente e no coração, como a pedra mais preciosa, o primeiro passo para ela é a verdadeira unção. 
      O Salmo 133, contudo, entrega um ensino singular, interessante como o óleo da unção é comparado à comunhão que se pode ter com irmãos, sejam esses irmãos de sangue, em Cristo ou amigos queridos, ainda que não cristãos oficiais. Isso nos remete diretamente às palavras de Jesus nos evangelhos, quando ele ensina que o amor seria a marca de seus seguidores, bem, se unção não nos conduzir a uma espiritualidade que nos leve a amar, para nada serve. Quando pensamos em unção como amor, pensamos em algo que não serve só para nos beneficiar, nos mostrar, mas abençoar os outros, honrar os outros e servir aos outros, Jesus como homem encarnado vivia essa unção, uma unção que não escandaliza, mas ama.

      “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.” II Coríntios 2.15

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado
José Osório de Souza, 30/09/2020.

13/10/20

13. Somos templos do Espírito

Espiritualidade Cristã (parte 13/64)

      “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Isaías 55.6
 
     “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Coríntios 6.19-20

      “Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.Gálatas 5.25

      Deus se comunica conosco de maneira espiritual, o Santo Espírito fala ao nosso espírito que depois é interpretado pela nossa alma, através de pensamentos e emoções, que então passa para o nosso corpo que finalmente expressa comunicação para o plano físico, por palavras, imagens ou outros sentidos. Deus sempre ouve nossa oração, mas nem sempre ele pode nos responder de forma mais plena, e isso não é limite dele, mas nosso. O que abriga e interage com o Espírito Santo são nossos seres, espírito, alma e corpo, assim, esses são compõem o templo de Deus, se ele não estiver bem por algum motivo, Deus não pode interagir conosco com total liberdade, não através de construções mais elaboradas. 
      Buscai a Deus enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto, isso nos leva a uma pergunta: Deus está sempre perto, sempre pode ser achado? Não é Deus quem se afasta, somos nós, isso ocorre quando nossos templos estão desabilitados para receberem comunhão plena com Deus. O templo pode não estar adequado por dois motivos, pecado e enfermidade, pecado sai por assunção, confissão e posse do perdão em nosso de Jesus pela fé. Contudo, enfermidades não são pecados, ainda que possam ser efeitos dele, elas precisam de atitudes diferentes que assumi-las com honestidade e anulá-las com perdão. A enfermidade que mais pode limitar uma interação mais ampla com Deus é a mental. 
      Se não estamos “achando” Deus, se ele não está “perto”, e o motivo pode não ser pecado pendente, não se já colocamos nossas vidas em dia com Deus, assim se isso acontecer devemos simplesmente esperar, parar de buscar muitas vezes com uma oração que acaba nos fazendo mais mal que bem à medida que esgota-nos mentalmente. Comunhão espiritual pode ser experimentada em silêncio, e o silêncio de Deus com os que estão em sintonia com ele, santos e em temor, é tão maravilhoso quanto suas palavras, o silêncio da paz do Senhor cura. Contudo, para discernir as palavras de Deus é preciso que estejamos com nossas faculdades mentais sadias, senão não poderemos interpretar a voz Deus com inteligência.
      Quando “Deus se cala” por limite de nossa saúde, algo que pode ser feito, se nossa saúde permitir ao menos isso, é falar em línguas espirituais estranhas, isso não exige esforço racional, é o Espírito Santo falando diretamente ao nosso espírito e depois expressado pelo nosso corpo. O verdadeiro dom de línguas não cansa e é bastante terapêutico para relaxar nossas mentes, algo que poucos sabem ou utilizam. Contudo, é preciso que entendamos isso de forma bem clara, mas não sofrermos desnecessariamente, se não estamos em pecado e Deus se cala, podemos nos dar ao direito de nos calar sem nos sentirmos em pecado ou pensarmos que o Espírito Santo está “ferido” conosco.
      Ficarmos quietos e esperarmos pode ser só obediência a Deus que está nos falando assim: “meu filho, descansa, se refaça, não tenho nada a dizer agora, mas você está me agradando, não está fazendo nada de errado, esteja em paz”. Neste mundo não somos seres espirituais puros, com aquele corpo que Jesus tinha depois que ressuscitou e por um tempo ainda ficou por aqui orientando e consolando seus discípulos, amigos e parentes próximos. Nosso espírito até pode ter experiências bem profundas com o Espírito Santo, mas Deus precisa de nossa estrutura física e mental para nos comunicar muitas coisas, por isso é tão importante cuidarmos bem dos nossos templos. 
      Se eles não estiverem bem, ainda que não estejamos em pecado e que Deus queira nos falar muitas coisas ele não falará, enquanto não colarmos nossos templos em ordem. Somos seres físicos bem complexos, principalmente naquilo que nos faz sentir alegria, tristeza, expectativa, calma, enfim uma variedade de emoções. Essas percepções que depois manifestamos com jeitos, expressões corporais, atitudes e palavras, acontecem junto com produção e administração, por exemplo, de hormônios e outros elementos de nossos corpos. Não estamos sempre emocionalmente cem por cento, e muitas vezes mesmo que nada real de ruim esteja ocorrendo, ainda podemos nos sentir mal, sem nenhuma explicação racional. 
      Por isso é tão importante que entendamos o princípio básico da nova aliança em Cristo, que diz que o justo viverá pela fé, se não estivermos em pecado e nem enfermos, e principalmente não mentalmente enfermos, bastará uma oração de fé, com o coração cheio de temor e humildade, para vermos, mesmo uma condição física de muito desânimo, revertida em entusiasmo. Já provei nem uma nem dez vezes isso, já provei isso várias vezes, bastou que eu desse um paço de fé para Deus, que eu achava estar distante e calado, me falar ao coração de maneira maravilhosa. Quando Deus fala é fácil saber, é rápido, é simples, uma única frase, e é extremamente curativo e consolador.
      Uma coisa eu aprendi, andando com Deus por algum tempo, quando sinto um desejo muito forte de buscar a Deus, eu paro o que estou fazendo, procuro um lugar privado, caso não esteja sozinho, e oro. Clamo a Deus com todo o coração pelas minhas prioridades no momento e adoro ao Senhor. Alguém pode dizer, “mas isso significa que só devemos orar quando sentimos”? Não, devemos orar sempre, e quando não sentimos devemos buscar mesmo que seja só pela fé, como refletimos antes. Mas vou compartilhar outra coisa que aprendi, o Espírito Santo sempre nos chama para orar no momento certo, pelas razões corretas e para os objetivos melhores, o cristão maduro vive, anda no Espírito e não tem falta de nada. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

12/10/20

12. Deus é Espírito

Espiritualidade Cristã (parte 12/64)

      “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isto disse ele do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado.João 7.38-39

      “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” João 4.24

      Comunhão com Deus gera paz e alegria em nossa alma, sentimos muita tranquilidade em nossas mentes e muita alegria em nossos corações (ou nos centros emocionais, estejam eles onde estiverem), dessa forma o que diz ouvir a voz de Deus senti-se muito bem e quer fazer bem aos outros. Quem diz que ouve Deus e sente alguma espécie de tendência violenta ou estranha, que não leve a desejar e vivenciar as melhores virtudes, ou está muito confuso, ou está ouvindo outra voz espiritual ou está mentalmente enfermo. Tenhamos muito cuidado com isso, Deus nos conhece, sabe o que é melhor para nós e sempre respeita nossos limites, ele sempre nos conduz à vida, em todas as esferas, e vida abundante. 
      Rios de água viva, eis uma metáfora perfeita para a maneira como o Espírito Santo pode fazer transbordar de nossos interiores uma satisfação ímpar, uma felicidade sem igual, como águas puras e frescas jorrando de uma fonte sem parar, águas vivas, não parador nem sujas. Isso é vida eterna, que se inicia no plano físico, no mundo, ainda com a gente encarnado, e mesmo se estivermos velhos, cansados, ou até doentes e em grandes lutas e necessidades teremos direito a isso. Isso é a essência espiritual de Deus em nós com liberdade, é a posição que teremos de maneira plena na melhor eternidade com Deus, é aquilo que Deus planeja para o homem em Jesus, o estado que o homem tinha antes de levar no Éden.
      Deus é espírito, e não só essa matéria espiritual que temos dentro de nós, que é espiritual mas está presa à carne, limitada por ela, Deus é espírito em sua mais elevada plenitude, e é para isso que ele nos chama, ainda que tenhamos uma alma e um corpo que tentam nos chamar para valores inferiores. Deus buscamos que o adorem em espírito e em verdade, sim, porque não basta ser uma experiência espiritual, os diabos e os demônios são espirituais, mas são seres ligados à rebeldia e à mentira. Em espírito, pelo Santo Espírito, e assim, em verdade. Tantos adoram em nome de Deus tantas coisas, tantos seres, homens e espíritos, em tantos lugares e de tantos jeito, se entendêssemos de fato o que Deus procura.
      Queremos uma religião, um jeito de sermos espirituais, uma maneira de anular culpas e dores, uma explicação do plano espiritual, o porquê de nossa existência nestes universos? Adoremos ao único Deus Altíssimo, pelo seu Santo Espírito que nos é dado pela salvação em Cristo, só isso basta, essa é toda a religião que agrada a Deus e que de fato é dele de maneira mais pura. Se fizermos isso, o resto, libertação de vícios, paz, amor para tratar bem as pessoas, justiça para termos um mundo bom para todos, é consequência dos rios de água viva que jorram do interior de quem adora Deus em Espírito e em verdade. Isso é tudo o que precisamos, isso é o melhor que Deus tem, isso é a verdadeira espiritualidade.
    Infelizmente o cristianismo está repleto de adoradores de símbolos, e isso há muito tempo, sim, são símbolos de coisas excelentes, genuínas, de conceitos bíblicos, de doutrinas do evangelho, do próprio Cristo, de sua obra, de seu nascimento, vida, morte e ressurreição, mas ainda assim, símbolos, e símbolos são mortos, são só cópias, ritos, não a coisa real. Ele nos lembram do real, nos ajudam a focarmos nossa fé? Sim, e não despreze quem carrega mini crucifixos em miniaturas no pescoço, Deus sabe o quanto ele ama essas pessoas e atende com carinho seus clamores, me que carreguem o que muitos cristãos protestantes chamam de “ídolos”, como se só o fato de não usarem isso em suas crenças os fizessem melhores crentes.
      Contudo, para que complicar quando na simplicidade e objetividade temos acesso ao real, ao verdadeiro? O Espírito Santo é real, é Jesus, é Deus, por isso tinha que ser enviado aos homens depois que Jesus partiu para o pai. Outras religiões até podem ser vividas pelo melhor do homem, são coisas de homens, são o homem querendo alcançar Deus, são o homem tentando se religar a Deus do seu jeito. Mas o cristianismo é diferente, ele é Deus alcançando o homem, é o jeito direto de Deus, e a verdadeira religião cristã só pode ser vivida pelo próprio Deus em nós, Deus vive em nós através de seu Espírito Santo, por ele nos chama e através dele nos eleva, entendam isso, meus queridos amigos protestantes e católicos.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

11/10/20

11. Pecado se vence com vontade!

Espiritualidade Cristã (parte 11/64)
 
      “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante. E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou.Gênesis 4.3-8

      Ser espiritual é vencer o pecado, esse é o primeiro passo, pecado, contudo, não se vence facilmente nem com fraqueza. Ele é inimigo numa guerra e como tal deve ser vencido com persistência e força, é preciso uma decisão de vontade firme para se obter êxito. Vamos entender melhor isso refletindo na passagem inicial, o segundo relato bíblico da eterna luta da carne contra o Espírito, no primeiro relato Adão e Eva foram vencidos na tentação original, agora são seus filhos que enfrentam uma provação. Abel trouxe como oferta a Deus uma ovelha de sua criação, fruto de seu trabalho, Caim trouxe o “fruto da terra”, algo vegetal que colheu na natureza.
      Abel ofereceu algo que lhe custou um preço, assim como um animal que podia ser oferecido como sacrifício pelos pecados, ele acertou duas vezes e agiu conforme a índole de seu coração, esforçado e temente a Deus. Caim, além de ter trazido algo que não lhe custou muito, trouxe algo que não podia ser oferecido como oferta pelo pecado, isso refletia seu nível de espiritualidade assim como a ausência de sensibilidade para com suas culpas. O humilde entra na presença de Deus pedindo perdão, o tolo acha que o privilégio é dos outros de o terem por perto, assim Deus se agradou de Abel, mas não de Caim. Segue no texto a manifestação do que havia no coração de Caim, distância de Deus, inveja, ira e finalmente homicídio. 
    O mal pior não nasce de um dia para o outro, é construído no tempo, com rancor e descrença, assim o que começa com algo pequeno pode terminar em tragédia. O autor da carta aos Hebreus define o diferencial que havia em Abel, “pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala” (Hebreus 11.4), isso deixa claro que já havia a prática de sacrifício de animal, crendo que isso daria direito ao perdão de Deus pelos pecados. Contudo, o ponto dessa reflexão é a frase, “sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”, ela nos fala sobre a dura guerra que enfrentamos. 
      “Deus ajuda quem cedo madruga”, diz um velho ditado, que nos lembra da sociedade que Deus estabelece com o homem, onde cada um tem uma parte a fazer para que o homem evolua. Não só obras, não só fé, mas ambas, não só o homem, e nem só Deus, mas ambos, quanta generosidade de Deus trabalhar assim, dando-nos oportunidade para fazer parte do aperfeiçoamento de sua melhor criação, nós mesmos. Enganam-se os que pensam que o cristianismo é lugar para covardes e ignorantes, que deixam tudo nas mãos de Deus e não fazem nada, isso até pode ser assim com cristãos equivocados, mas não é para os verdadeiros. Temos que buscar a Deus e crer, mas depois temos que vigiar.
      Não podemos passar vinte e quatro horas por dia orando, em comunhão mais íntima com o Espírito Santo, temos responsabilidades no plano físico para com o mundo, trabalharmos, sociabilizarmos, mantermos família.  Assim, na maior parte do tempo, nossa parte é resistir, com todas as forças, tendo na mente as memórias de todas coisas boas e singulares que já experimentamos com Deus, e no coração a deliciosa esperança de tudo que poderemos ainda viver com o Senhor. É preciso uma mente decidida, já que tudo começa na mente, é ela quem ouve o Espírito Santo e também os espíritos rebeldes, que sempre têm uma outra maneira de ver a vida que não a do Altíssimo.
      Pecados diários são vencidos na mente, ainda que a ideia traga um desejo inicial é preciso força para dizermos a nós mesmos que não queremos pecar para não sentirmos o pecado até suas últimas consequências, o sentimento inicial ainda não é o pecado. Para isso, creiam, a simples frase, “eu não vou fazer isso”, pode nos livrar de problemas bem grandes, e principalmente dos “pecadinhos”, aqueles que nos acostumamos a fazer, mas que entristecem nosso espirito, deixando-o frio para ter uma comunhão íntima com Deus. Não, não é o Espírito Santo que se recente, que se afasta, somos nós que esfriamos, quando mantemos uma consciência cheia de memórias sujas e um corpo machucado pelos vícios. 

      Contudo, para algumas coisas temos que ser rígidos, temos que dizer, sim, “eu não posso nem querer”, pois sabemos que se dermos o mínimo de espaço sucumbiremos. Mas só entendemos de fato a necessidade de dominar nossos desejos quando percebemos o quanto isso nos impede de estar próximos a Deus, como em toda amizade, só mudamos quando percebemos que se não mudarmos machucaremos alguém que nos ama e que queremos amar, ainda que não seja Deus quem sofra com o nosso pecado, mas nós. Interessante a palavra que Deus deu a um Caim mimado e orgulhoso, bem pragmática, “por que está bravo? se agir certo as coisas dão certo, a escolha é tua”, simples, assim. 
      Coração acumulador de pecado, contudo, sempre complica as coisas, Caim não entendeu o conselho de Deus e fez ainda pior, exteriorizando todo o mal represado. O que nos surpreende nessa passagem de Gênesis é vermos um crime tão horrível justamente entre os dois “primeiros” irmãos, que ainda deviam ter em suas memórias lembranças tão recentes de um jardim do Éden onde Deus andava no meio dos homens sem véus e sem filtros. Aqueles primeiros homens sabiam muito mais de espiritualidade que nós, mas saber, só isso, não é suficiente para tenhamos vidas de plena comunhão com Deus. Conhecimento só liberta quando é praticado, com todo o nosso ser, corpo, alma e espírito. 
      De fato poucos souberam tanto como Caim e Abel, eram filhos do “primeiro” casal, mas sabiam o que, da espiritualidade de Deus ou a da serpente? Talvez um soubesse de uma e o outro de outra, talvez na família mítica já existisse o modelo para toda a humanidade, escolhas opostas, se for isso fica bem claro o fim de cada escolha, um morreu como vítima, o outro matou um inocente. Abel é modelo de Cristo, Caim do diabo, penso que assim como é hoje, desde o início da humanidade alguns têm no coração um desejo profundo de voltar a Deus, de buscar perdão, de perdoar, de achar o caminho da paz, mesmo que perca fazendo isso, no mundo e diante dos homens. 
      Abel pagou com a vida por ter um coração do bem, “e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (II Timóteo 3.12), ninguém ache que possa ser de fato espiritual e ser um ganhador neste mundo, pagamos preços, mas Deus é pelos espirituais e o “universo” um cobrador implacável para os carnais. Caim tirou a vida de outro para aplacar o mal que não estava no outro, e em mais nada ou ninguém, mas dentro dele, e eis outro procedimento típico de quem não quer admitir o próprio pecado, que não busca a Deus, projeta o desequilíbrio interno no outro, se descontrola e mata. Existem vários níveis de homicídio e muitos não matam o corpo, mas a honra.
      Caim pode ser lido em várias camadas, em uma mais direta não podemos dizer que ele seja o tipo do anti-Cristo, daquele que quer viver sem buscar e adorar a Deus, daquele com intenções escondidas. Os mais sérios e profundos “satanistas” e ocultistas não perdem o controle de forma tão explícita e rápida, como homem comum Caim é o exemplo do tolo, do louco, do fraco, que dá lugar à carne. Mas Caim pode ser interpretado também como o anti-Cristo, em seu momento final e em sua intenção mais profunda e verdadeira, que nega o sacrifico pelo pecado e que mata o inocente, se o bem tem só uma cara, o mal é assim, tem várias caras, ainda que seja trevas no início, no meio e no fim. 
      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne, porque  a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gálatas 5.16-18), a vitória está no Espírito Santo! Se os cristãos dessem de fato liberdade para o Espírito do Altíssimo provariam a vida abundante que prometeu Jesus, quando entenderemos isso de verdade? Quando pararemos de ser só bons religiosos, guardiões de uma palavras linda, mas que é morta se não for vivificada em nós pelo Espírito Santo. Quem não se esforça para viver e deixar viver pelo Espírito, sempre acaba matando alguém. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

10/10/20

10. Para cumprir uma missão

Espiritualidade Cristã (parte 10/64)

      “A ti, Senhor, levanto a minha alma. Deus meu, em ti confio, não me deixes confundido, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim. Na verdade, não serão confundidos os que esperam em ti; confundidos serão os que transgridem sem causa. Faze-me saber os teus caminhos, Senhor; ensina-me as tuas veredas. Guia-me na tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação; por ti estou esperando todo o dia. 
      Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas benignidades, porque são desde a eternidade. Não te lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões; mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor; por isso ensinará o caminho aos pecadores. Guiará os mansos em justiça e aos mansos ensinará o seu caminho. 
      Todas as veredas do Senhor são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos. Por amor do teu nome, Senhor, perdoa a minha iniqüidade, pois é grande. Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança.” 
Salmos 25.1-14

      Alguns conseguem chegar a um entendimento mais profundo de porque devem ser espirituais, eles querem espiritualidade para cumprirem uma missão especial e serem diferentes (e importantes...). Abrindo um parênteses, muitos querem servir a Deus, mas parece que de cara já fazem exigências para isso, querem ser usados de forma diferenciada, e vou explicar, exigem isso baseados na própria Bíblia, em promessas como a de João 14.12, “na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai”. Esses na verdade não entendem o que é fé, o que é espiritualidade e nem se submetem de fato à vontade de Deus, querem milagres físicos e passageiros no mundo, não virtudes eternas nos corações. Um exemplo é como vemos no meio pentecostal pastores querendo ser novos bispos “Macedo” ou “Hernandes“, ou cantoras querendo ser novas “Ana Paula Valadão” e “Cassiane” (e aqui deixo claro que nada tenho contra os nomes citados), esses que querem o que Deus não quer para eles comentem dois erros. 
      Em primeiro lugar quem olha com cuidado para alguns líderes não verá neles de fato espiritualidade, de acordo com o exemplo de vida simples que Jesus homem ensinou-nos a ter, portanto não de maneira realmente agradável a Deus, ainda que tenham grandiosos ministérios e se achem ungidos. Muitos se fizeram baseados em heresias e os frutos que vieram disso foram poder e riqueza nesse mundo, esses que até foram usados por Deus em alguma instância, terão suas intenções reveladas no tempo certo. Infelizmente, de alguma maneira, no final farão mais mal que bem para o evangelho, como já temos visto pelo apoio equivocado que muitos deles têm dado a políticos enganadores querendo estabelecer um reino na Terra e não no céu. Em segundo lugar, mesmo que algumas cantoras tenham legítimas chamadas de Deus, e mesmo essas quando confrontamos com o verdadeiro evangelho achamos no fim de suas carreiras frutos não tão louváveis, quem disse que Deus tem essas “carreiras” para todas? Ainda que haja fé e esforço do homem, se Deus não quiser não vai acontecer, ser espiritual é aceitar isso, ser espiritual é obedecer a Deus, não à própria fé, fecho parênteses. 
      Seja como for, chamada missionária atualmente ocorre menos no meio tradicional protestante, mas infelizmente e por motivos não tão nobres, ocorre bastante no meio pentecostal. Eu disse infelizmente porque muitos desejam ser separados para a obra para terem fama e prosperidade financeira, isso explica a grande demanda dos chamados pregadores e músicos itinerantes, que se sentem livres frequentando uma igreja diferente por culto e embolsam “cachês” para darem seus “espetáculos”, coloquei cachê entre aspas porque considero absolutamente inadequado o uso desse termo para qualquer espécie de retorno financeiro para pessoas que tomam púlpitos se dizendo em nome de Deus. Enquanto que em denominações não protestantes muitos entram em ordens religiosas, sejam católicas, hinduístas, budistas, para abrir mão de valores materiais e luxos, mas usam uniformes, hábitos e outras vestimentas, que os diferenciam das outras pessoas, deixando claro a escolha de vida que fizeram, isso também acontece nas igrejas evangélicas com a obsessão que tantos têm por receberem títulos de pastor, missionário, diácono, presbítero, bispo etc. Mas de um jeito ou de outro, não seria isso também vaidade? 
      Pode não ser, não penso que seja essa a intenção de muitos sacerdotes, clérigos e monges, muitos sinceramente, ainda que por motivos estranhos, querem se sacrificar por uma causa maior, achar identidade em uniformes e normas como simples membros de exércitos que fazem caridade, aliás, muitos evangélicos obcecados por títulos e fama deveriam aprender sobre humildade com sinceras irmãs católicas que passam a vida fazendo o bem num total anonimato. Talvez os verdadeiramente espirituais passem como invisíveis aos olhos humanos, mantenham-se tão discretos e calados que ninguém saiba de suas espiritualidades, nem por vestimentas, nem por títulos. Eles as vivem para si e para o divino, se escondem sendo comuns, iguais a muitos, casando, ou não, trabalhando, sendo diferentes, contudo, sem fazer alarde. Penso que Jesus encarnado vivia assim, um simples homem judeu, não rico, mas também não pobre, equilibrado na aparência e em suas relações sociais, ainda que com vida privada espiritual de qualidade que revelava isso quando de fato era necessário, e o mais necessário ele fez, não aparecer como um líder político ou religioso, mas se sacrificar por amor por todos nós.

      O texto inicial é uma oração que faz uma entrada progressiva na presença de Deus levando o salmista a se conhecer à medida que conhece a Deus, experimentando assim a mais elevada espiritualidade do Altíssimo. Podemos aprender com o texto três lições: os realmente espirituais não são confundidos, eles provam uma misericórdia grandiosa de Deus e conhecem os mistérios espirituais de forma diferenciada. Eu preciso dizer que pela graça de Deus, não por méritos pessoais, tenho sido tratado assim pelo Senhor, com clareza, perdão e intimidade. Muitas coisas tentam nos confundir, principalmente no mundo atual quando tanta informação nos chega depressa e em todo o tempo defendendo todo tipo de ideologia, seja do lado que for, seja na área que for. Todos querem ter razão e provarem que seus opositores não têm nenhuma razão, isso está errado na essência pois uma criatura de Deus, seja ser humano ou ser espiritual, nunca está totalmente certo nem totalmente errado. Para não sermos confundidos é preciso que não durmamos num cômodo extremo, mas buscar em Deus o equilíbrio de seu centro (estudamos a respeito em “O mal está nos extremos”). 
      Mas como saber se estamos certos conforme a vontade de Deus? Sim, porque muitos estão convictos e não se sentem confusos ou se acham errados, mas certos que creem de forma mais correta e que não estão sendo manipulados, ainda que acreditem em algo não aprovado por Deus. A resposta está no tempo, ele mostra a verdade, assim para passar pela prova do tempo em paz é preciso crer em Deus, ainda que muitos sejam contra e pareçam ter argumentos bons para desconstruir o que cremos. Mas se cremos em Deus, se o buscamos e ele nos disse que as coisas são dessa maneira e não daquela, ainda que a realidade pareça dizer o contrário, devemos estar firmes e esperar. Deus não deixa os que confiam nele confundidos, ainda que agora pareçam errados, o futuro mostrará a verdade, já os apressados podem se enganar, por não quer crer, mas ver e ver instantaneamente. 
      Noção do quanto se é pecador e profunda experiência com a misericórdia de Deus, em toda uma vida, eis uma característica do realmente espiritual. Ainda que o tempo passe ele não desiste de pedir perdão e de ser grato a Deus por ele perdoa-lo, e eis outra característica dos tolos e rebeldes também relacionado ao tempo, se eles não olham com fé para o futuro também facilmente se esquecem de seus passados errados, assim não dependem da misericórdia de Deus, mas das próprias justiças. O salmista cita “não te lembres dos pecados da minha mocidade”, ele sabe como pesam esses pecados numa alma sensível que quer agradar a Deus, ele se olha e se assume como pecador, e isso o faz provar um perdão, um amor, uma graça, uma misericórdia, singulares e poderosas de Deus. O tolo se esquece do passado e não confia no futuro, eles despreza tudo o que pode depender de fé em Deus e não em suas própria obras e qualidades. 
      Mas o trecho do Salmo 25 citado inicialmente encerra com algo maravilhoso, o grande presente que aqueles que confiam num Deus de todos os tempos e ainda assim atemporal, o segredo do Senhor, ah, esse segredo não é uma liança que Deus faz com qualquer um. Aquilo que tantos desejam e que pagam tantos preços para ter, que buscam em tantos lugares, o homem pode ter, mas entendamos isso corretamente, só depois de crer em Deus, se admitir pecador e se submeter ao Senhor com mansidão. Ser manso e se deixar comandar, e não fazer exigências, e não dar nem sugestões de melhores opções, mas permitir que Deus faça de nossas vidas só o que ele deseja fazer, mesmo que diante de homens pareçamos menores. Para ser manso é preciso ser humilde e abrir mão de vaidades, mas só assim se tem direito ao segredo do Senhor, o segredo que muitos tentam descobrir por trás de teorias de conspiração, de ideologias, de política, de espiritualidade, de ciência, quando querem saber, mas não querem pagar o preço para isso. Deus aos mansos ensinará seu caminho, e só a eles.
      Eu tenho chegado a uma conclusão, nesses meus sessenta anos de vida, eu quero ser espiritual para obedecer a Deus, não importando o que ele queira de mim ou se alguém sabe disso ou não, e no meu caso tenho descoberto que minha espiritualidade deve ficar o mais discreta possível. Não foi fácil concluir isso e mesmo sabendo não é fácil pôr isso em prática, o que é melhor para cada um de nós é sempre o mais difícil a fazer, quando não for mais difícil Deus nos levará em paz com a gente tendo certeza do dever cumprido nessa curta existência no plano físico. Ainda traio esse conhecimento, e quando isso acontece me arrependo e torno a caminhar em direção ao Altíssimo, mas isso é para mim. E pra você, já sabe o que Deus quer que você faça e seja para ser verdadeiramente espiritual? A verdadeira espiritualidade nos faz crescer, nos liberta de fato, nos dá uma paz sem igual, nos entrega uma vida sem hipocrisia e sem incoerências, nos equilibra e nos permite ser bênção nas vidas de quem realmente importa para nós em Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

09/10/20

9. Para vencer o inimigo

Espiritualidade Cristã (parte 9/64)

      “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz, o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.12-3), em Jesus temos uma mudança de posição espiritual, isso não ocorre com nossos corpos no mundo, mas no plano espiritual. Temos acesso a essa nova posição através do Espírito Santo e nessa posição somos vencedores sobre os seres espirituais rebeldes. “Digo, porém, andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito e o Espírito contra a carne, e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis, mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5.16-18), ainda assim enfrentamos uma batalha constante.
      Essa batalha é contra o Diabo? Não, contra nossa própria carne, contudo, Tiago em sua carta é claro, “sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tiago 4.7), assim a vitória para os salvos é sempre um posicionamento de fé por uma condição de santidade que ganhamos através do perdão pelo nome de Jesus. Mas então, como interpretarmos o texto de Efésios 6.11-12, “revestis-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo, porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais“? Entendendo onde o diabo faz a guerra, se é numa posição material ou espiritual e como isso interage conosco. 
      O plano espiritual não é fácil de ser entendido, não pelas referências materiais, mas ainda que Deus seja só um, os seres espirituais também são espíritos, portanto com faculdades semelhantes às de Deus, e ainda que não sejam onipresentes, oniscientes nem onipotentes, eles existem no espaço e no tempo de maneira espiritual. O exemplo bíblico que temos disso é o de Jesus já ressuscitado no plano físico, onde podemos entender coisas espirituais com olhos materiais, quando ele “aparece” para falar com seus discípulos com o corpo transformado (Lucas 24.36). No plano espiritual e na eternidade, os homens salvos e com corpos transformados são diferentes de anjos, caídos ou não, esses não têm em sua consciências uma identidade pessoal que nós temos, podemos entender isso quando, por exemplo, vemos que anjos não têm nomes. 
      Existem algumas referências a nomes de anjos na Bíblia, como Miguel, Gabriel, e também aos nomes dos grandes anjos caídos, Satanás, Lúcifer, Belial, Leviatã, mas isso pode se referir mais a legiões que a indivíduos, e legiões são seres espirituais unidos por um mesmo propósito ou missão. Mas esses nomes são excessões e ainda assim não podemos dizer, baseados, na Bíblia, se referem-se de fato a indivíduos, podem se referir aos nomes das funções, comuns a toda uma legião. Mas algo que podemos entender é que quanto mais perto de Deus ou distante dele, portanto, extremos acima e abaixo dos homens, em seres espirituais da luz e das trevas a individualidade perde a relevância. Isso já é algo muito importante nos seres humanos, personalidades, nomes, histórias, escolhas, palavras e ações, definem nossas identidades. 
      Contudo, mesmos sendo diferentes no aspecto identidade, na substância os corpos dos seres espirituais são semelhantes aos que vamos ter na eternidade, àquele que Jesus apresentou após a ressurreição, por exemplo. Depois que Cristo subiu ao céu ele mudou de novo, não se tornou só um justo na eternidade, como nós seremos, mas o próprio Deus, visto que Deus pai, Deus filho e Deus Espírito são um. Mas não nos esqueçamos também que Jesus disse que como ele ia ser um com o pai nós também seríamos (João 17.20-23), assim será que haverá diferenças? Quais? Esse assunto é profundo, a Bíblia relata aparecimento mesmo de anjos com corpos humanos e com necessidades físicas (Gênesis 18.1-8), seja como for os seres espirituais rebeldes existem no plano espiritual que chamamos de céu. 
      Esse céu espiritual não está, em relação ao plano físico, nem acima nem abaixo de nós, mas espiritualmente mais perto ou mais distante do Deus altíssimo, numa outra dimensão. A referência não somos nós, os altos montes do nosso planeta, nem mesmo a Lua, o Sol, os planetas e ou as estrelas, mas um Deus espiritual. Como percebemos e nos comunicamos com esse plano espiritual? Pelo nosso espírito. O que nosso espírito entende é decodificado por nossas emoções e por nossos pensamentos que então passam para o nosso corpo. Dessa forma a guerra com inimigos espirituais se passa não fora de nós, mas dentro, depois disso somos nós que damos autorização para eles agirem, fora ou dentro de nós, em atuações que sempre necessitam da autorização de Deus e do livre arbítrio humano. 
      Um dos principais erros que o cristão comete é olhar demais para fora de si, procurar inimigos nos outros, muitas vezes em quem está próximo dele e na verdade só lhe quer bem, isso tudo ao invés de olhar para dentro de si. Por outro lado olhar para dentro de nós não significa nos alienarmos, fugirmos da realidade, não, o mundo é mau e existem muitos homens maus nele, cruéis e egoístas, que não se importam em pisar os outros para terem benefícios próprios, precisamos ser sábios para conviver com isso. Mas em olhar para dentro de nós me refiro ao plano espiritual, e esse nós conhecemos pelo nosso espírito, e todos os homens, salvos ou não, podemos ter contado com o mundo espiritual pelos seus espíritos. Entretanto, é só quando abrimos nossos olhos espirituais pelo Espírito Santo que conhecemos a realidade mais profunda. 
      O melhor dessa mais elevada iluminação espritual é acharmos comunhão com o Altíssimo, só depois disso temos clareza para interagir com nós mesmos, com o diabo, com a realidade exterior e física e com os outros homens, que também enfrentam as mesmas batalhas que nós. Não, não fique procurando inimigos nas pessoas, e também não interprete o texto de Efésios 6 de forma errada, como tantos dessa última geração de cristãos vitimistas interpretam, querendo ver o diabo em tudo para por a culpa de tudo nele. Sim, o diabo autorizado por Deus, nos mostra sempre o lado que não tem Deus como princípio e fim, que não agrada a Deus nem o honra, mas quem escolhe somos nós. Assim, a maior prova de espiritualidade não é vencermos os outros, nem mesmo o diabo, mas a nós mesmos fazendo as melhores escolhas. 
      Adão e Eva não tinham qualquer inimigo e o diabo só precisava receber um não, mas eles perderam a maior de todas as batalhas: para eles mesmos. O que mais se perde nessa batalha? Não é a simplicidade de quem pode andar na luz do dia e dormir uma boa noite de sono sem culpa, não são as colheitas ruins, físicas ou morais, resultados de quem alterou seu equilíbrio no universo, isso tudo é efeito. O casal mítico perdeu o privilégio de ter o Espírito de Deus em seus espíritos, isso foi o principal. Para que isso fosse recuperado Deus teve que se fazer homem, retroceder espiritualmente encarnando. Encaremos a verdade, com coragem e humildade, nosso inimigo não é o homem, por mais que ele nos incomode, e se ele nos incomoda é porque somos incomodáveis, frágeis para o ataque, de quem? Do mal dentro de nós. Permitamos que Deus viva em nós pelo Espírito Santo, isso encerra as guerras e nos dá a paz que permanece. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020

08/10/20

8. Para ter vitória numa guerra

 Espiritualidade Cristã (parte 8/64)

      “E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. E, como desceram a ele, Eliseu orou ao Senhor e disse: Fere, peço-te, esta gente de cegueira. E feriu-a de cegueira, conforme a palavra de Eliseu.I Reis 6.15-18

     Um motivo que leva muitos a desejarem espiritualidade é para ter vitória numa guerra, isso porque muitos veem a existência assim, como uma batalha, contra outros homens, contra os demônios, contra os que são contra os demônios e por aí vai. Existe alguém que tem muito interesse em criar e manter guerras, e esse alguém não é Deus, o Altíssimo não precisa combater ninguém para conquistar algo, ele já é dono de tudo e sempre, quem tem interesse é o diabo. O homem longe de Deus cria o campo de batalha e oferece os soldados, para ambos os lados, e mesmo cristãos sinceros ainda veem a vida dessa maneira, baseados equivocadamente numa visão da vida do velho testamento, não da nova aliança de Cristo. 
      Olhar a existência com uma ótica beligerante faz com que achemos inimigos em muitos lugares, ao mesmo tempo que faz como que nos olhemos como soldados numa guerra sem fim. Assim pode-se achar duas posturas na existência: avançar e ganhar fazendo os outros retrocederem, ou perder quando se tem que retroceder diante do avanço dos outros. Numa busca constante de controle de território só um pode estar num determinado lugar, por isso é preciso expulsar alguém para conquistar o espaço. A verdadeira espiritualidade pode oferecer uma opção superior à guerra, onde não é preciso avançar nem retroceder, mas abraçar, podendo assim dois ou mais ocuparem um mesmo espaço em comunhão, em paz e sem guerra. 
     Podemos entender essa guerra através de uma lei física: dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Pode-se até pedir com educação, “por favor, pode sair para eu entrar?”, mas ainda assim só um estará num lugar em um determinado momento. A solução está em olharmos a existência não sob o ponto de vista material, mas espiritual, nessa ótica dois ou mais seres podem estar num mesmo espaço e ao mesmo tempo, um espação espiritual. Isso é possível através das virtudes espirituais da luz, do bem, do Espírito do Deus Altíssimo, por essas virtudes podemos abraçar os outros, numa união que vai muito além da física, se na terra não tem espaço para dois, no coração há, e para muito mais que dois. 
      Infelizmente muitos usam o conceito “guerra”, avançar e retroceder, tão inferiores e materiais, para exercer o que acham ser espiritualidade. Na verdade isso pode até ser uma ótica espritual, mas das trevas, dos espíritos rebeldes, e no plano espiritual existe, sim, uma batalha por território, ainda que seja para conquistar espaços que os seres encarnados entregam aos seres espirituais do mal. Mas mesmo essa guerra não nos compete entender, a nós basta orar no nome de Jesus, entregar os problemas a Deus e crer que ele solucionará. Só a Deus cabe determinar batalhas espirituais ou comandar anjos, esse é o entendimento da teologia cristã tradicional (já estudamos sobre isso em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”). 
      Quando se fala em inimigos espirituais, se fala em demônio, e vemos pouco sobre demônios no velho testamento, justamente porque ele relata a história de Israel, um povo separado e cuidado por Deus. O diabo aparece, por exemplo, em algumas situações especiais, no Éden tentando o homem, em Jó sendo usando para uma prova, em I Samuel atormentando a alma desobediente de Saul e em Daniel tentando impedir as orações de Daniel no exílio. Relatar atividades demoníacas em Israel seria semelhante a relatar essas atividades dentro das igrejas cristãs, em Israel só aparecem quando a nação está desviada, mas hoje nas igrejas a presença do Espírito Santo impede isso, mesmo em igrejas desviadas em heresias, assim o diabo está no mundo. 
      Nos evangelhos aparecem mais registros de possessões demoníacas porque é o início da nova aliança num mundo longe de Deus sob o império Romano, ainda que em terras originalmente israelitas. Contudo, é interessante como que nas últimas décadas temos visto menos manifestação de possessos nas igrejas evangélicas, em relação ao que víamos, principalmente nas pentecostais, de vinte, trinta anos atrás. Qual o motivo disso, estariam as igrejas menos ungidas? Possessões teriam diminuído? Os demônios estariam agindo de maneira diferente? Isso pode nos dizer algumas coisas sobre a espiritualidade nesses tempos que podem ser o início dos tempos finais, assim como pode nos ensinar sobre as últimas estratégias do diabo.
      Mas existia uma guerra espiritual no tempo do antigo testamento, talvez até maior que depois, mais aliada aos confrontos físicos entre as nações. Num mundo pré-cristianismos o diabo tinha mais liberdade de agir, como em sacrifícios humanos onde até crianças eram oferecidas, e de forma aberta, não velada em cerimônias de bruxaria como aconteceu depois que o cristianismo se instalou. Quando Israel lutava contra uma nação que não temia a Deus e adorava falsos deuses, havia também uma guerra espiritual ocorrendo, por conquista de território, a visão do moço do profeta Eliseu nos mostra isso. Feliz o homem que tem os olhos espirituais abertos para ver que “mais são os que estão conosco do que os que estão com eles”.

      Guerra espiritual: é preciso ter uma espiritualidade superior para enfrenta-la? O cristão é um soldado de Deus contra as trevas? Temos que ser espirituais especificamente para isso, para vencermos uma batalha nesse campo? Não, não e não! A nova aliança do novo testamento entrega um conceito novo, diferente e que será o eterno para a humanidade sobre espiritualidade. O campo de batalha não é mais os campos de Israel, mas o coração do homem, na verdade a humanidade teve que esperar alguns milênios para evoluir e poder enfrentar a verdadeira guerra, que se iniciou no Éden quando o homem caiu na tentação do diabo, comendo do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. 
      Em sua obra de salvação Jesus vence a batalha, não por territórios neste mundo ou mesmo no outro, mas por almas humanas, ele anula a legalidade que o próprio homem tinha dado a Satanás, não no exterior do ser humano, seja ele material ou espiritual, mas no seu interior, em seu coração. Por isso o reino de Deus estabelecido pelo evangelho não foi na nação política de Israel, tendo Jesus como o novo rei Davi, mas no espírito humano. Jesus vence uma vez por todas a guerra e no seu ponto de origem, na causa primordial, de maneira que ninguém precisa mais lutar, pelo menos não pela condenação que o pecado original traz, só precisa crer. Se o homem volta para Deus o diabo perde todas as possibilidades de vitória.
      Talvez seja por isso que o “diabo” tivesse tanto interesse em corromper o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, que foi feito superior mesmo aos anjos e que recebeu do pai direitos maiores que os de qualquer outra criatura. Talvez o diabo não pudesse ter nada que não lhe fosse autorizado, e como Deus não autorizou porque ele se rebelou e não estava preparado para administrar nada além do inferno que para ele fora criado, ele teria que desviar o homem para que esse desse a ele algum direito. Foi justamente o que aconteceu, quando o pecado original foi cometido, por ser uma desobediência ao criador o homem sai de sua proteção e fica só, então, naturalmente o diabo passa a ter direitos.
      Qual foi o primeiro direito que o diabo recebeu? De existir no coração do homem, em qualquer outro espaço o diabo não poderia derrotar Deus, mas no coração do homem ele pode, por isso ele tinha tanto interesse nesse território, mais do que em qualquer outro. Através desse lugar o diabo pode dominar o mundo, e mais que isso, pode dominar mesmo o universo, dependendo do que o homem conquista. Contra o diabo Deus pode ir e destruir totalmente suas obras, mas contra o homem não, por causa do livre arbítrio, assim se o homem escolhe obedecer ao diabo e entregar a ele suas conquistas, Deus nada pode fazer. Deus só destrói as obras das trevas quando o homem pede e permite. 
      Esse raciocínio parece estranho, o homem ter tanto poder e Deus nenhum, e o diabo só ter algum poder porque o homem lhe deu? Mas é isso, por isso os seres encarnam, vivem nesse mundo, para terem oportunidades de livre arbítrio, e com dessa forma os espíritos rebeldes que não encarnam passam a ter também direitos. Nossa curta existência neste mundo é muito especial, significativa, muitos não entendem isso, mesmo cristãos. Não, meus queridos, não é o homem que adora o diabo, é o diabo que adora o homem, que o inveja, que deseja o que o ele mesmo não tem, mas que ao homem foi dado por Deus. O que acontece é que o diabo é astuto e focado, enquanto o homem é tolo, volúvel, vaidoso, amante do passageiro.
      Vou dizer outra coisa que talvez te surpreenda, à medida que o homem foi vivendo no mundo, conquistando-o e infelizmente buscando espiritualidade errada, pelos espíritos rebeldes das trevas e não por Deus, o diabo e os demônios foram sendo “modificados“, humanizados. Sempre nos parecemos com aquilo que mais gostamos. Se um cristão diz que adora a Deus e o serve, mas mostra em seu jeito de ser, de se trajar, nas coisas gasta suas rendas, referências não tão adequadas ao que diz que crê, não tão santas quanto o Deus que diz obedecer, nesse caso podemos dizer que esse cristão mente, não adora a Deus, mas o mundo e seus valores. O que fazemos de fato é o que nos define, não o que dizemos.
      Toda essa pluralidade de religiões, de mitos, de folclores, que variam conforme e região geográfica da Terra, do povo que a habita e de sua identidade cultural, influenciou os seres espirituais rebeldes das trevas. E não é só como o homem vê os espíritos, os espíritos se manifestam com aparências variadas conforme o povo. Na cultura celta, por exemplo, os seres espirituais rebeldes aparecem de um jeito, na nórdica europeia de outro, na hindu de outro, na africana de outro, no extremo oriente de outro, entre os indígenas da América do Sul de outro. São todos diabos e demônios, mas que se apresentam conforme os homens que os buscam, suas aparências físicas e suas estéticas culturais. 
      Se Deus fez originalmente o homem à sua imagem e semelhança, o homem transformou o diabo à sua imagem e semelhança, sempre a partir de uma guerra do diabo contra Deus que tem início no coração humano. Não, não precisamos ser poderosos soldados espirituais porque não existe uma guerra, não depois que aceitamos Jesus como único e suficiente salvador, assim se gabar de ser espiritual porque se tem competência para fazer uma guerra no plano espiritual é desnecessário. Não vencemos nos esforçando, avançando, mas nos posicionando, em Deus, no lugar mais alto, no qual nenhum ser espiritual do mal têm acesso. Nesse lugar não se avança ou se retrocede, se abraça, no amor eterno de Deus. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.