15/12/20

Muros ou pontes? (2/2)

      “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Coríntios 11.3

      Falsos deuses sempre possuem hierarquias complexas, pensam que o complicado traz legitimidade, quem já estudou um pouco esoterismo e ocultismo sabe disso, o evangelho, contudo, a palavra de Deus na Bíblia, é simples. Sim, existe sabedoria em outros textos sagrados, de outras regiões, mas eles, em grande parte, são muito complicados, há de se ter não só um coração crente para entender, mas também capacidade intelectual. Deus em seu amor e por causa dele é simples, revela o mais alto conhecimento com simplicidade para que os simples aprendam e não se envaideçam por isso. 
      Quando temos verdadeiramente uma experiência com Deus paramos de fazer guerras, de construir muros, porque simplesmente não precisamos disso, temos um “muro” muito mais alto, que na verdade nem é um muro, é um lugar espiritual elevadíssimo no qual podemos nos abrigar, acima de todo castelo, de todo muro. De fato, o que muda é a relevância de dimensão, deixa de ser horizontal para ser vertical. Isso é importante entender porque algumas pessoas têm “castelos” tão amplos, com muros tão distantes, que podem até nos dar a falsa impressão de serem pessoas livres e sem medos. 
      Assim, ainda que seja com delimitadores longínquos, uma pessoa pode ver as coisas de forma horizontal, não vertical, só os que olham as coisas de cima poderão discernir os muros e os tamanhos dos castelos, e eles mesmos não estarão presos em nenhum castelo assim como não necessitarão de qualquer muro, próximos ou distantes. Por isso só quem olha sob o ponto de vista de Deus pode construir pontes, não muros, pontes se elevam, além dos muros, os vencem sem destruí-los, sem fazerem guerras, elevam-se acima dos belígeros em paz e os vencem, uma vitória de Deus, não do homem.
      Infelizmente, as religiões, que deveriam em tese permitir aos homens óticas verticais, muitas vezes são só castelos, alguns luxuosos, antigos e imponentes como o Vaticano, que constroem muros, não pontes. Quem quer de fato conhecer a Deus deve estar acima das religiões, da ótica horizontal, ainda que faça parte delas e seja útil trabalhando dentro delas, é preciso olhar além da torre mais alta, mesmo do castelo mais tradicional e que se proclama oficial. A visão horizontal em algum momento perderá a acuidade, a vertical, não, quanto mais alta mais precisa fica, eis um mistério espiritual.
      Nos façamos a seguinte pergunta: o que eu mais tenho feito, o que de verdade eu consigo fazer, com sinceridade, muros ou pontes? Quero adoradores ou amigos, semelhantes ou plateia? Tenho uma necessidade muito grande de dizer o que penso, principalmente, nesse mundo moderno, em redes sociais, na internet? Ou tenho aprendido a me afastar mais e mais das guerras, sejam elas quais forem, tenho achado paz e a tenho preferido a qualquer coisa, mesmo à vaidade de querer dar a última palavra? Sempre há tempo para mudar enquanto estamos neste mundo, se formos humildes.

14/12/20

Muros ou pontes? (1/2)

      “Assim, cheguei a esta conclusão: Deus fez os homens justos, mas eles foram em busca de muitas intrigas.Eclesiastes 7.29

      Muros e pontes, uma metáfora conhecida, mas sempre eficiente, principalmente nesses dias de polarizações ideológicas em que vivemos. Os muros nos protegem, mas nos limitam e impedem outros de se aproximarem, de conhecerem melhor o que somos assim como de ameaçarem nossas crenças. Veja que só é ameaçado aquilo que é fraco, por isso necessita da proteção de muros, mesmo que sejam deixados de vez em quando para atacar e escravizar. O que é forte se expõe passivamente, nem ataca nem se defende, nada tem capacidade de prejudicá-lo, não luta porque não está em guerra.  
      Assim, a questão principal talvez não seja o muro, mas uma disposição constante de belicosidade, de mostrar aos outros o que se pensa e tentar convencer outros que o que se pensa é o mais certo. Obviamente, essa belicosidade, que pode começar em termos ideológicos, pode levar à violência, em algum nível. Ainda que não se manifeste em ações gera no coração do belígero um desconforto constante, uma insegurança, que vê a muitos como inimigos. Numa guerra não há paz e quem leva a guerra dentro de si não terá paz em nenhum lugar e com ninguém, nunca.
      Isso não significa que não possamos discordar das pessoas, podemos e devemos, mas o ponto é o que fazer com essa diferença. É preciso entender quando expor a diferença de ponto de vista, para quem expor, e quando parar de defender um ponto de vista diferente daquele de outra pessoa para poder conviver bem com essa pessoa. Isso, contudo, se de fato desejamos conviver bem com alguém e não só convencê-lo a ver as coisas como nós vemos. Se for o segundo caso não estamos procurando amigos, seres humanos para trocar experiências, mas só plateia de adoradores. 
      Se não tivermos amadurecido, alcançado alguma paz e equilíbrio, seremos crianças obcecadas por atenção, buscando quem nos aplauda e nos venere, não nos colocando como seres humanos nas relações, como semelhantes, mas como melhores. Falsos deuses buscando adoração são na verdade seres espirituais que em algum momento tiveram um conhecimento alto, mas que ao invés de crescerem com esse conhecimento, foram corrompidos pela vaidade de tê-lo e se tornaram algo horrível, conhecedores de alta espiritualidade mas moralmente infantis ainda que com aparência adulta.
      Ou confiamos em Deus, buscando-o com todo o coração e achando nessa relação satisfação maior, ou seremos soldados cercados de muros lançando dardos sobre os muros para destruir defesas alheias e fazer dos outros nossos adoradores. Quem não adora ao Deus Altíssimo de alguma maneira quer o lugar Deus e adoração, essa mentira, impossível de ser realizada, leva mesmo gente inteligente, repleta de conhecimento e cultura, a ser rebaixada moralmente. Além de serem escravos de vícios, adoram falsos deuses, sim, quem não adora a Deus acha semelhantes não entre homens de bem, mas entre outros falsos deuses.
      Facilmente encontramos, próximas a nós, pessoas inteligentes, graduadas, bem posicionadas socialmente, mas que por não terem se humilhando diante do Deus Altíssimo se acham sinceramente superiores a nós. São pessoas estranhas, cativas das trevas ainda que jurem ter uma lucidez elevada, gente que vê inimigos em tudo e crê em teorias de conspiração as mais malucas possíveis. Quem não aceita a verdade maior do Altíssimo se faz cativo facilmente de mentiras complicadas com aparência de verdades melhores, quem não adora a Deus adora o diabo, ainda que negue o diabo com todas as forças. 

13/12/20

Deus é quem tira e quem dá (3/3)

O homem, meio evolutivo

      “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.” I Samuel 2.6-9

      A última frase do texto inicial, parte da oração de Ana, mãe do profeta Samuel, chama a atenção, “o homem não prevalecerá pela força”.  Por que isso é dito após a potência de Deus ser exaltada? Porque Ana entendeu que pela sua força, o homem nada pode, ela experimentou isso na própria carne, em sua impossibilidade humana de gerar filhos. Contudo, como o homem acha que pode, como se mune de conhecimentos e trabalhos para seguir sozinho, negando Deus, tomando como fracos e ignorantes aqueles que se assumem como dependentes de Deus. Esses são os ímpios, que falam e falam, mas o tempo os deixará mudos, nas trevas, as obras feitas por homens, por mais elaboradas e reforçadas que sejam, não suportam a prova dos anos, a força daquele que se faz sem Deus sempre termina e seu trabalho, por um motivo ou outro, cai por terra.
      Quem destrói o que não se humilha diante de Deus? Ele mesmo, acaba tropeçando nas próprias pernas, se protege tanto, levanta tantos muros, guarda tanto dinheiro para se acautelar de um futuro incerto que acaba sucumbindo antes do tempo, por um mal que nenhuma de suas fortalezas poderá livra-lo. Mas quem destrói o arrogante que não se quebranta aos pés do Senhor pode ser também seus amigos, ou falsos amigos, aquele que anda sem Deus anda em trevas, e em trevas não se tem discernimento para fazer alianças, acaba-se confiando em alguém igual a si, tão egoísta e calculista quanto se é, que não está interessando em fidelidade, mas só em vantagens pessoais. O avarento sempre encontra alguém mais avarento que ele, assim como aquele que se acha esperto, mas fia-se na mentira, achará alguém mais astuto que lhe roubará todas as economias. 
      Pequeninos do Senhor, que não têm em quem confiar a não ser em Deus, que nunca se venderam por conveniências, que nunca se enganaram com vaidades, que muitas vezes são ridicularizados, como foi Ana por Penina, a outra mulher de Elcana, seu marido, que podia ter filhos quando ela não podia (leiam I Samuel 1 para mais informações). Não  temam, nem se exaltem, humilhem-se aos pés do Senhor, sem orgulho, sem preocuparem-se com que os outros pensam. Que achem que vocês são fracos e ignorantes por crerem em Deus, não importa, o tempo nesse mundo é curto, sua glória é vã, mas a honra do Senhor é eterna. No que deram os filhos e filhas de Penina? E Hofni e Fineias, filhos do sacerdote Eli, como terminaram eles? Mas todos nós sabemos quem foi Samuel filho de Ana, dos personagens mais importantes de Israel, juiz e profeta que ungiu dois reis. 
      O ímpio que confia só em si perderá os braços e as pernas de uma vez e lhe será retirado toda a força e todo o direito, visto que usou talentos e oportunidades que Deus lhe deu para benefício próprio, não com sabedoria, não para ajudar o necessitado, antes para humilha-lo e subjulga-lo, foi assim com a família do sacerdote Eli (leia I Samuel 4 para mais informações). Deus não tarda, sua promessa não é esquecida, sua justiça vem como o Sol ao amanhecer, certa e clara, os que confiam no Senhor acharão alegria e paz nesse dia, mas os que tentaram enganar os homens, dizendo-se ser o que não eram, ajuntando para sua perdição e não para a glória de Deus, serão envergonhados, ainda neste mundo, aos olhos de todos, os que tiverem olhos verão. Do bem procede o bem, de Ana, humilhada e crente, nasceu Samuel, com autoridade de Deus, nascido para desempenhar uma missão ímpar.

      “Os que contendem com o Senhor serão quebrantados, desde os céus trovejará sobre eles; o Senhor julgará as extremidades da terra; e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido.I Samuel 2.10

12/12/20

Deus é quem tira e quem dá (2/3)

Jesus, o efeito final

      “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.” I Samuel 2.6-9

      Por que devemos persistir na oração como fez Ana? Porque fazendo isso damos oportunidade ao Espírito Santo para nos ensinar, muitos não entendem intelectualmente, ainda que sintam em suas emoções, o quanto Deus é vivo e fala, se na carne somos atraídos pelo prazer, no espírito somos atraídos pela paz, que conduz os sensíveis à voz de Deus e os desejosos de serem filhos obedientes a fazer a vontade do Senhor, isso os coloca numa posição espiritual onde existe vitória. Contudo, isso pode ser um processo demorado, muitos passam anos e anos orando para receber algo, não porque Deus demore a responder, mas porque eles demoram para entender como devem viver para receberem o que pedem. 
      Admitirmos que “o Senhor é o que tira a vida e a dá, faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela, o Senhor empobrece e enriquece, abaixa e também exalta” é entronizar Deus no lugar mais alto dentro de nós, em nosso espírito, para assim nos posicionarmos na altíssima posição, mas é a intenção, mais que as palavras em si, que nos aproxima de Deus. Deus não mata ninguém, não empobrece ninguém, nem humilha ninguém, são os homens que se matam, empobrecem e são envergonhados quando se afastam do Senhor. Neste ponto precisamos entender um conceito importantíssimo no cristianismo baseado na tradição judaica e no evangelho: Deus é pessoal, mais que uma energia ou uma influência subjetiva.
      Esse conceito, que não é uma construção da psique humana carente de carinho paterno, mas é um mover do Santo Espírito, nos faz buscar o Senhor com uma proximidade afetiva, e isso, mesmo que saibamos mais sobre Deus, e nesta reflexão estou tentando mostrar mais sobre esse conhecimento espiritual. O cristão chama Deus de “aba”, pai, se aproxima do Senhor pedindo colo, para o filho de Deus por Jesus orar não é só “sintonizar-se” com a “frequência energética” mais alta, ainda que eu pessoalmente creia que isso aconteça e que pode bastar, principalmente em situações que nos encontramos mudos diante da gravidade de um problema e que a única coisa que conseguimos fazer e nos focar em Deus. 
     Essa foi a experiência de Ana quando orava, tanto que Eli achou que ela estivesse bêbada: E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o Senhor, Eli observou a sua boca. Porquanto Ana no seu coração falava; só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada. E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. Porém Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o Senhor.” (I Samuel 1.12-15). Ana estava numa comunhão espiritual tão profunda que sua comunicação ia além das palavras, eram gemidos inexprimíveis (Romanos 8.26).
      Todavia, em seu amor Deus não requer de nós ensinos profundos de teologia e espiritualismo para nos responder, nem exige que sejamos estudiosos de “física quântica” ou com capacidades de mentalização aprimorada para estabelecer contato conosco. Mas como um pai que atende mesmo aos filhos menores, que nem sabem falar direito, que trocam o “r” pelo “l” e que ainda assim confiam de todo o coração que seu paizinho os atende quando precisam de algo, Deus nos ouve. Deus é amor, e se existe uma comunhão através de “frequências energéticas” é pelo amor que as ondas mais altas são acessadas, amor que muitíssimo mais que expressão sexual humana é uma ligação intimamente espiritual. 
      Por isso tanta ênfase ao amor dada por Jesus em João 15.9, “como o Pai me amou, também eu vos amei a vós, permanecei no meu amor”, e por Paulo em I Coríntios 13.13, “agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”. Amor, eis aí outro princípio espiritual que a maioria de nós não conhece com profundidade, mas ainda assim o recebe sem limites de Deus, o pai de amor. O “céu”, a melhor eternidade de Deus, para os salvos em Cristo, é puro amor de Deus, Jesus nos chama a permanecer nesse amor ainda estando nós vivos neste mundo, porque assim construímos o céu dentro de nós e nos libertamos de qualquer possibilidade de trevas e inferno. 

11/12/20

Deus é quem tira e quem dá (1/3)

Deus, a causa primal

      “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o monturo exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.” I Samuel 2.6-9

      A oração de Ana, agradecendo a Deus por ter tido o filho Samuel, um daqueles textos singulares da Bíblia, como nos identificamos com ele. Ele inicia-se com uma constatação direta sobre a relação de Deus com o universo: “o Senhor é o que tira a vida e a dá”, e tudo mais incluído tanto no plano físico quanto no espiritual. É sempre importante dizer que Deus não é um poder egoísta e prepotente do qual parte a ação, se quisermos entender de fato como funciona o universo a única ação de Deus, que ele fez como causa primal, que não foi efeito de nada ou ninguém já que Deus não precisa e nem tem nada ou ninguém à altura com que possa reagir, foi a criação inicial de tudo descrita no início do livro de Gênesis.
      Depois que criou, Deus deu livre arbítrio, primeiro aos anjos (?) e depois aos seres humanos, e entrou num “ano sabático cósmico” (Gênesis 2.2), será que o descanso de Deus já acabou? Em João 5.17 Jesus diz, “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”, mas trabalha através de Cristo, chamando os homens ao arrependimento. Mas tudo o que segue à expulsão do homem do Éden são efeitos e novas causas dos erros e dos acertos dos seres, assim se Deus tira, empobrece ou entrega à morte, é porque as leis do universo, estabelecidas por Deus, cobram efeitos de causas. O pecado gera a morte, não Deus, a insensatez gera a pobreza, não Deus, erros são causas que geram efeitos, o criador não erra, quem erra é a criatura.
      Mas se Deus é a causa primal Jesus é o efeito final, ele pode anular o pecado, efeito dos erros de todos os homens, sem gerar nenhum nova causa, em Cristo o ser humano é perdoado e não precisa pagar nada por isso, é de graça. Dois eventos são as manifestações da mais pura graça de Deus, a criação e a salvação! Tudo que está no meio disso e que tem a autorização do homem, incluindo”ações” dos espíritos rebeldes (se é que de fato demônios e diabos façam algo que não seja na mente do homem, pelo menos no plano físico), tem um preço, causas que geram efeitos. Uma pergunta pode ser levantada, diante das afirmações feitas até aqui nesta reflexão: “se Deus não faz nada, então eu não devo orar pedindo que ele me abençoe”? 
      Não, devemos orar, e muito! Eis um mistério espiritual que a grande maioria não entende e que Deus não exige que se entenda, já que abençoa a todos de muitas maneiras, sem fazer exigências, e dos que “entendem” o evangelho só pede que orem em nome de Cristo. Quando oramos não são as nossas palavras que nos colocam na presença de Deus e solicitam coisas a ele, que ele poderá responder e dar, é a nossa posição espiritual. Recebemos em Deus (e “em” é um termo mais adequado que “de”, quando conseguimos entender como a oração funciona) porque nos colocamos nele, através de Cristo temos acesso às regiões espirituais mais elevadas, e nessa posição tudo já foi feito, todas as bençãos já foram conquistadas.
      Deus não cria algo quando pedimos a ele, se fosse assim Deus não seria onisciente e onipotente, não seria completo, mas teria que estar fazendo constantes “upgrades” para poder satisfazer as necessidades dos homens e do universo. Contudo, quando oramos, mesmo não sabendo como orar, mesmo conhecendo pouco a Deus, mesmo pedindo como se Deus não tivesse ainda para dar ou como se tivéssemos falta porque ele em outra ocasião nos tirou, somos levados pelo Espírito Santo a nos posicionar espiritualmente, e nessa posição entramos em comunhão com o Altíssimo e tomamos posse das bençãos. Muito mais que palavras que pedem há na oração de quem se humilha diante de Deus, mais do que muitos imaginam. 

10/12/20

Mundo líquido

      “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de DeusII Timóteo 3.1-4

      Ouvi o filósofo pop star Leandro Karnal usando esse termo e achei interessante: “vivemos atualmente em um mundo líquido”. No que isso nos faz pensar? Água, como outros líquidos, não tem forma fixa e sólida, ela se adapta depressa ao meio, assim como não pode ser retida com facilidade, ela escorre e foge. Essas características dos líquidos, estão bem presentes na vida atual, naquela que muitos chamam de a era de Leviatã, o diabo das águas, as pessoas querem ser a água, não peixes em aquário. 
      A adaptabilidade é a característica básica dessa liquidez, ela leva todos a desejarem ser qualquer coisa e em qualquer tempo, nada é para sempre, assim como tudo pode ser repetido. Vemos isso no fato das pessoas não quererem envelhecer, nem se acomodarem a modos de vida que antes dizíamos ser dos mais velhos, todos querem (e devem) se adaptar para serem jovens para sempre, não aceitam o tempo nem seus efeitos, não aprendem a conviver com a dor, mas a negam e assim impedem a si mesmas de amadurecer. 
      O lado ruim da adaptabilidade é a inconstância, as alianças são sempre temporárias, sejam afetivas ou profissionais. Nas afetivas vemos isso nos casamentos que começam e terminam com facilidade, e consequentemente nas relações sexuais e na geração de filhos, que simplesmente não têm na prática importância, o que importa é o prazer imediato do indivíduo. O aborto é outra trágica consequência dessa inconstância, assassinato, pois o aborto é isso, é só uma ferramenta para viabilizar a irresponsabilidade.
     O modo líquido de viver leva as pessoas a fugirem de qualquer espécie de padronização, nada é sólido, tudo pode mudar e se mover à medida que ser feliz se torna uma obrigação. Não que felicidade não seja algo bom nem as pessoas a devam buscar, mas nessa obsessão levada pelo consumismo, as pessoas negam as limitações do plano físico que conduz o ser humano a amadurecer, quem quer tudo e sempre são as crianças, e se não tiverem choram e esperneiam para que os outros satisfaçam suas necessidades.
      Essa “liquidez“ no plano físico é só uma tentava de simular a liberdade espiritual que só terão os salvos em Cristo no outro plano, é só uma consequência da última estratégia das trevas para terem um domínio temporário neste mundo. Ao verdadeiro filho do pai das luzes cabe não tentar ser “líquido”, mas dar liberdade ao Santo Espírito para ser espiritual, ainda que no corpo físico, no quanto isso é possível. Que os espirituais sejam espirituais, que os carnais sejam o que são, ainda que com nomes mais filosóficos.

09/12/20

A mentira mais eficiente

      “É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça.II Tessalonicenses 2.11-12

      A mentira mais eficiente, que os espíritos rebeldes usam, não é uma mentira escrachada, essa facilmente é desacreditada, mesmo pelos menos avisados. A mentira mais eficiente é em parte verdade, ainda que periférica, que os espíritos das trevas dizem ser a central, fazendo com que mesmo os mais informados, mas que querem ser enganados, não olhem para a verdade central e principal, que conduz ao melhor de Deus. Essa é a estratégia do diabo desde sempre, o marketing das trevas que pode enganar até cristãos. 
      A verdade central é Jesus, o único salvador, as outras podem ser qualquer coisa, conhecimentos espirituais importantes, mesmo presentes no cânone bíblico, mesmo orientações de sabedoria e até de salvação, ainda que anterior à nova aliança estabelecida pela obra redentora de Cristo. Conhecimentos por si só não salvam, contudo, por serem relevantes de alguma maneira e em algum tempo, desviam os olhos de Jesus, a verdade central, a única verdade que leva as pessoas a conhecerem e aceitarem suas verdades.
      Foi isso que o diabo fez através da serpente, ele disse algo que era verdade, o homem teria o conhecimento do bem e do mal, e isso de fato aconteceu, esse era o nome da árvore plantada por Deus, não pelo diabo. Contudo, como não era a vontade principal de Deus para o homem, ao menos naquele momento e daquele jeito, o fez pecar e perder direitos. Só Jesus pode restabelecer esses direitos, por isso o objetivo do diabo hoje é desviar a atenção de Cristo, ainda que seja com verdades espirituais periféricas. 
      A verdade na boca do mentiroso se torna mentira? Não, o mentiroso nunca diz a verdade, mas ele pode manipular meias verdades de maneira que só aparece a parte verdadeira, não a outra metade, a parte mentirosa. A verdade sempre é 100% verdadeira, já a mentira basta que seja 1% num todo para desmerecer os 99% restantes. Quem aceita 1% com o tempo aceitará os outros 99%, é só uma questão de tempo, e o mal conta com isso, com o tempo. O Deus de luz não, ele age agora e para sempre. 
     Preciso citar novamente Tiago 1.16-17, “não erreis, meus amados irmãos, toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação”, esse texto nos ajuda bastante a entender esta reflexão. O que vem de Deus não deixa dúvidas, espaço para fantasias nem teorias de conspiração, o que vem de Deus tem “exatidão científica” ainda que se deva entender com os olhos espirituais, tão subjetivos para os que não creem. 
      Infelizmente esta reflexão nos faz pensar no momento político atual do Brasil, um governante que se elegeu tendo na boca textos bíblicos além de outras ideologias tão agradáveis a muitos, esse tem apoio de muitos cristãos. Mas será que isso basta? Esse tal líder de fato está com a verdade maior de Deus, o pai da luz totalmente branca e sem variação, que justifique apoio do chamado povo de Deus? Um povo que buscou quem dissesse aquilo que queria ouvir em púlpitos, achou alguém maior, em Brasília.
      Nem adianta dizermos nada agora, ainda que esse que vos escreve tenha uma opinião já deixada bem clara em outras postagens, mas certeza muitos poderão ter daqui a um tempo, quando os frutos forem colhidos. Mas eu disse poderão ter, porque infelizmente, quem sempre quis ser enganado, se deixar muito tempo passar nesse terrível desejo, achará alguém que os engane para sempre, mesmo que todas as evidências comprovem que estão diante de um grande enganador.