segunda-feira, dezembro 14, 2020

Muros ou pontes? (1/2)

      “Assim, cheguei a esta conclusão: Deus fez os homens justos, mas eles foram em busca de muitas intrigas.Eclesiastes 7.29

      Muros e pontes, uma metáfora conhecida, mas sempre eficiente, principalmente nesses dias de polarizações ideológicas em que vivemos. Os muros nos protegem, mas nos limitam e impedem outros de se aproximarem, de conhecerem melhor o que somos assim como de ameaçarem nossas crenças. Veja que só é ameaçado aquilo que é fraco, por isso necessita da proteção de muros, mesmo que sejam deixados de vez em quando para atacar e escravizar. O que é forte se expõe passivamente, nem ataca nem se defende, nada tem capacidade de prejudicá-lo, não luta porque não está em guerra.  
      Assim, a questão principal talvez não seja o muro, mas uma disposição constante de belicosidade, de mostrar aos outros o que se pensa e tentar convencer outros que o que se pensa é o mais certo. Obviamente, essa belicosidade, que pode começar em termos ideológicos, pode levar à violência, em algum nível. Ainda que não se manifeste em ações gera no coração do belígero um desconforto constante, uma insegurança, que vê a muitos como inimigos. Numa guerra não há paz e quem leva a guerra dentro de si não terá paz em nenhum lugar e com ninguém, nunca.
      Isso não significa que não possamos discordar das pessoas, podemos e devemos, mas o ponto é o que fazer com essa diferença. É preciso entender quando expor a diferença de ponto de vista, para quem expor, e quando parar de defender um ponto de vista diferente daquele de outra pessoa para poder conviver bem com essa pessoa. Isso, contudo, se de fato desejamos conviver bem com alguém e não só convencê-lo a ver as coisas como nós vemos. Se for o segundo caso não estamos procurando amigos, seres humanos para trocar experiências, mas só plateia de adoradores. 
      Se não tivermos amadurecido, alcançado alguma paz e equilíbrio, seremos crianças obcecadas por atenção, buscando quem nos aplauda e nos venere, não nos colocando como seres humanos nas relações, como semelhantes, mas como melhores. Falsos deuses buscando adoração são na verdade seres espirituais que em algum momento tiveram um conhecimento alto, mas que ao invés de crescerem com esse conhecimento, foram corrompidos pela vaidade de tê-lo e se tornaram algo horrível, conhecedores de alta espiritualidade mas moralmente infantis ainda que com aparência adulta.
      Ou confiamos em Deus, buscando-o com todo o coração e achando nessa relação satisfação maior, ou seremos soldados cercados de muros lançando dardos sobre os muros para destruir defesas alheias e fazer dos outros nossos adoradores. Quem não adora ao Deus Altíssimo de alguma maneira quer o lugar Deus e adoração, essa mentira, impossível de ser realizada, leva mesmo gente inteligente, repleta de conhecimento e cultura, a ser rebaixada moralmente. Além de serem escravos de vícios, adoram falsos deuses, sim, quem não adora a Deus acha semelhantes não entre homens de bem, mas entre outros falsos deuses.
      Facilmente encontramos, próximas a nós, pessoas inteligentes, graduadas, bem posicionadas socialmente, mas que por não terem se humilhando diante do Deus Altíssimo se acham sinceramente superiores a nós. São pessoas estranhas, cativas das trevas ainda que jurem ter uma lucidez elevada, gente que vê inimigos em tudo e crê em teorias de conspiração as mais malucas possíveis. Quem não aceita a verdade maior do Altíssimo se faz cativo facilmente de mentiras complicadas com aparência de verdades melhores, quem não adora a Deus adora o diabo, ainda que negue o diabo com todas as forças. 

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