01/09/21

Falsos deuses

      “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não vêem. Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta.Salmos 115.4-7
      “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado, já saiu da minha boca a palavra de justiça, e não tornará atrás; que diante de mim se dobrará todo o joelho, e por mim jurará toda a língua.Isaías 45.22-23

      A diferença entre os falsos deuses e Deus é que os falsos deuses querem ser alimentados, Deus não precisa de alimento, ele nos alimenta. Os falsos deuses não podem nos alimentar, são carentes, fracos e vazios, existem enquanto os alimentamos, se pararmos de alimentá-los eles somem. Deus não precisa receber nada para existir, nem adoração, somos nós quando o adoramos que somos alimentados, fazermos isso não nos enfraquece ou nos submete, mas nos faz fortalece. 
      Os falsos deuses, por mais formidáveis que se apresentem, por mais adornados de pedras e metais preciosos, por mais gloriosos que se mostrem e se digam ser, são no máximo criaturas, como nós, até os seres espirituais, e eis um mistério. Pedem alimento e louvor porque não buscam isso de Deus e não dão isso a Deus, quem não admite Deus como ele é tentará se fazer de falso deus, exigindo algo que Deus recebe sem exigir, querendo algo que alimente seu ego equivocado. 
      O verdadeiro Deus não pede oferendas, ofertas, dinheiro, bens materiais, nem dízimos, sacrifícios ou fé irracional, ele não faz trocas de favores nem precisa receber algo para nos abençoar, a não ser nossa intenção de estar nele. Para isso basta que olhemos para ele, nos levantemos e sigamos em sua direção, deixando para trás nossos erros, nossos passados, assim como os falsos deuses, todos eles, sejam homens, espíritos, ideologias, objetos ou figuras, nisso há vida e eterna.

31/08/21

Pobres felizes

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” Mateus 5.3

      Já refletimos outras vezes no Sermão do Monte (ou das bem-aventuranças), assim como especificamente na bem-aventurança do versículo inicial (veja reflexão “Pobres de espírito” de 6/02/2021), o texto, em minha opinião, mais importante do evangelho, se não de toda a Bíblia, nunca para de nos ensinar algo novo. Bem-aventurados significa muito felizes, a primeira coisa que temos que saber é que felicidade é possível e é nosso direito, não é uma quimera, um luxo, crer em sua possibilidade e que Deus pode nos dá-la é a base para conhecermos e obedecermos a Deus. Infelizmente tem muito cristão, fiel à igreja e à doutrina, que na prática não vive isso, não é feliz, não de verdade. 
      Bem-aventurados os pobres, paremos aí. Como assim, um pobre pode ser muito feliz? Jesus disse que sim, desde que entendamos o significado da palavra pobres (não vou me aprofundar na adjetivação de espírito, esse foi o tema da reflexão do link anterior). Pobre é alguém que tem falta de algo, não está totalmente satisfeito, e numa condição que não mudará, pelo menos neste mundo, mesmo que ele faça tudo o que possa para não ser pobre. Ainda que alguém que tema a Deus possa ter uma vida materialmente não luxuosa, mas digna, e ainda que devamos fazer tudo o que está ao nosso alcance para termos uma vida material melhor, estudando e trabalhando com honestidade, há limites. 
      Um dos segredos de se ser muito feliz é aceitar com humildade os limites, não com revolta contra Deus e a sociedade, nem com inveja ou mágoa dos que têm uma situação melhor que a nossa, mas com uma resignação salutar. Nesse caso só conseguimos essa resignação quando entendemos que virtudes morais e espiritualidade são mais importante que bens materiais. Assim, ainda que tenhamos que passar uma vida como empregados e “servos”, podemos ser felizes se entendermos a vontade de Deus para que tenhamos uma vida assim. Muitas vezes uma área emocional que se sente submetida nos faz sofrer mais que o valor baixo de nossa conta no banco, mas isso também pode ser pobreza permitida por Deus. 
      Sempre que pensamos em limites autorizados por Deus não podemos deixar de lembrar de II Coríntios 12.9, “a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”, onde Paulo fala de seu espinho na carne. Se de tentações podemos ser livrados com vida com Deus, e por provações tenhamos que passar até que sejamos aprovados e então outras venham e continuemos crescendo, espinhos na carne são provações para toda a nossa existência neste mundo, eles não vão embora, são os limites que Deus colocou e com os quais temos que aprender a conviver para sermos felizes. 
      Timidez, melancolia, hiperatividade, ansiedade, são características que podem ser superadas, e devemos procurar cura para elas caso elas nos prejudiquem demais, seja psicológica ou espiritual, mas essa cura pode ser limitada. Algumas coisas não são defeitos, mas traços de personalidade, que na área profissional adequada podem ser ferramentas vantajosas, como sensibilidade em áreas mais estéticas e artísticas. Contudo, não esperemos que todas as áreas profissionais permitam o mesmo retorno financeiro, não em um mundo injusto e desigual, assim para sermos felizes podemos ter que aceitar nossas características e nossos limites. Esses limites emocionais podem nos fazer mais pobres na área material? Sim. 
      Mas desses pobres esclarecidos em Deus é o reino de Deus, assim chegamos à última lição do versículo inicial. Que reino queremos, o do mundo ou o de Deus? Tem muito cristão usando fé e religião para ter um reino no mundo, querendo igrejas poderosas, religiosos na política, mesmo um presidente cristão. Isso é impossível tanto quanto desnecessário, não viemos a este mundo para estabelecer reinos, ainda que possamos ser bem-aventurados nele. Viemos para sermos provados e aprovados, para crescermos moralmente e construirmos espiritualmente o reino de Deus dentro de nós, reino que só será manifestado plenamente e exteriormente na eternidade, o chamado céu

30/08/21

Forças da natureza

      “Tu, tu és temível; e quem subsistirá à tua vista, uma vez que te irares? Desde os céus fizeste ouvir o teu juízo; a terra tremeu e se aquietou, quando Deus se levantou para fazer juízo, para livrar a todos os mansos da terra.Salmos 76.7-9

      Forças da natureza não são para serem confrontadas, mas evitadas. Não tem como brigar com um forte temporal, com um furacão, com uma nevasca, o que podemos fazer é evitar ou sair dos lugares onde esses eventos estão acontecendo ou acontecerão. Assim é nossa relação com algumas situações e certas pessoas em nossa caminhada neste mundo, algumas coisas são assim, forças da natureza, autorizadas e empoderadas por Deus, ainda que nos pareçam duras, injustas ou insensíveis demais. Forças da natureza têm seus motivos de ser, têm uma razão para agir como agem, e creia, algumas pessoas são colocadas em nossas vidas por Deus como forças da natureza, nem tente lutar contra elas, você não prevalecerá. 
      Há algo muito sério para entendermos quando Deus precisa usar “forças da natureza” para chamar nossa atenção, em primeiro lugar é porque meios “normais” não foram suficientes para que atentássemos a algo importante que ele quer nos falar. A pandemia da Covid 19, por exemplo, pode ser considerada uma “força da natureza”, não porque seja efeito de uma causa dos elementos terrestres, mas porque é algo poderoso, que veio sem aviso prévio, que alcançou a todos, sem distinção, e de uma forma mortal. Ela pode ser evitada? Em termos, sim, com vacina, isolamento social, máscara e higiene, mas anulada de vez só com esses procedimentos seguidos pela maior parte possível da humanidade, pelo menos, e por algum tempo. 
      Entendo que eventos aleatórios, ou que pensamos que são, como acidentes de carro, roubos e assaltos, são potências destrutivas que Deus autoriza sobre nossas vidas para nos chamar a atenção quando estamos sendo desleixados. Esses, quando ocorrem, nos pegam de surpresa, fazem com que nos sintamos expostos, indefessos, sem controle de coisas básicas de nossas vidas, quando essas coisas acontecem já é tarde, devíamos tê-las evitado antes, vivendo de forma mais sábia. Algumas enfermidades nos pegam de surpresa e nos fazem reavaliar nosso modus operandi até então, são gritos de alerta informando-nos que não podemos tudo e que precisamos andar com temor a Deus sempre, e isso inclui cuidar melhor da saúde. 
      Contudo, existem pessoas que são usadas como verdadeiras forças da natureza, Deus as autoriza para terem um efeito avassalador em nossas vidas, e quando isso acontece não devemos brigar com o “vento”, só administrá-lo, nos aproximarmos quando possível e sempre com cuidado. Não pense que algumas pessoas são estúpidas ou equivocadas, elas são instrumentos divinos nas vidas dos outros. Em relação às suas próprias vidas, provações, necessidades de crescimento espiritual e moral, isso tudo não nos compete julgar, não é problema nosso, mas que Deus pode usá-las para nos quebrantar, acordar e crescer, isso pode. Como dito desde o início, não lute com forças da natureza, seja manso e evite-as, com elas só Deus pode.
      Vai aqui algo sobre “pessoas - forças da natureza”, por algum motivo, que só Deus sabe e que nós como cristãos sob teologia protestante tradicional não podemos especular com mais profundidade, tais pessoas têm direito de serem o que são, Deus nunca é injusto com ninguém, seja conosco e muito menos com os outros. Interpretando a coisa de maneira mais direta, se alguém é patrão e rico é porque trabalhou para merecer e administrou seu negócio com inteligência, se nós somos só empregados desse é porque não temos capacidade ou talento para sermos mais que funcionários, ainda que trabalhemos bastante. É claro que há outras variáveis neste mundo, e tem muitos que desfrutam mais que nós sem de fato merecerem.
      Isso não nos compete julgar, todavia, podemos buscar a Deus e entendermos melhor as coisas, para então agirmos com respeito às tais forças. Deus livra os mansos e mesmo as forças da natureza Deus pode usar de maneira extraordinária para abençoar os mansos, quem vive no tempo com sabedoria constata isso. Ninguém tem poder, nenhuma autoridade no plano físico, ou potestade e principado nos ares espirituais, sem que Deus permita, e se ele permite é para um fim útil, disciplinar os rebeldes, suprir os mansos, julgar os maus. Dessa forma não pense que alguém que te oprime e te trata injustamente está funcionando fora do controle de Deus, não está, persista nos valores espirituais mais altos e confie em Deus, ele é justo juiz.

29/08/21

Feliz quem crê sem ver

      “E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração.Jeremias 29.13

      Só entendemos de fato o que Jesus disse a Tomé em João 20.29, “bem-aventurados os que não viram e creram”, depois de passarmos por uma experiência onde não temos outra saída senão crer sem ver. Se for o plano de Deus para que você cresça e se você estiver preparado, esteja atento, o Senhor te conduzirá para uma situação, muitas vezes mais interior e emocional que por contingências exteriores e materiais, em que você não achará solução senão crer sem ver. Nessa experiência você só achará Deus e a paz se o buscar de um jeito como nunca antes buscou, não que você não o tenha buscado antes com todo o teu coração, mas o Espírito Santo pedirá que essa experiência seja ainda mais profunda, mais com todo o teu coração.
      Fé é um mistério espiritual porque é algo que não pode ser avaliado materialmente, de modo que possa ser formulado um protocolo, uma lista passo a passo, para que ela seja usada com eficiência, e a eficiência maior da fé é nos conduzir à presença de Deus. Não, fé não é uma ferramenta para que se possa obter coisas, sejam vitórias e prosperidades no plano físico ou comunicação e favores no plano espiritual. Qualidade e quantidade de fé não são avaliadas pelas coisas que a fé nos dá acesso, mas pela porta que ela nos abre para experimentarmos a presença mais alta do único e verdadeiro Deus. O que obtemos depois disso, seja no plano físico ou espiritual, é quase que irrelevante, a presença de Deus é fim em si mesma.
      Conhecimento de Deus é gradativo, por mais profunda que seja uma experiência, acredite, você sempre poderá ir mais fundo. Esse é o grande mistério da fé, ainda que nos leve uma vez ao melhor de Deus não podemos fazer disso uma fórmula que nos conduza de novo a Deus, cada experiência de fé é nova e única. Mas isso não significa que não existam princípios que a própria Bíblia nos ensina, para que tenhamos uma experiência legítima de fé. Boa sinceridade, prática de amor e santidade possível, são três desses princípios, um se refere à nossa relação com nós mesmos, o outro à nossa relação com os homens e o terceiro à nossa relação com Deus, constituem o chão sobre o qual nos apoiamos para nos elevarmos espiritualmente.
      Sinceridade deve ser uma verdade pessoal benigna, verdade todos têm, todos possuem justificativas para serem, falarem e agirem, assim todos são sinceros de algum jeito. Mas essa sinceridade precisa ser benigna para nos preparar moralmente para a presença de Deus, intenção benigna começa a unir nosso espírito ao Espírito de Deus, mas tem mais. A essência da espiritualidade é o amor ao próximo, responder ao chamado para a presença de Deus é ser atraído pelo amor de Deus e quem assim é, também ama os outros. Por último a santidade, uma inconformidade persistente contra o pecado, que busca no perdão e na mudança de atitude mente limpa e coração tranquilo, para estar leve o suficiente para subir pela fé a Deus. 
      O que tem uma experiência de fé além das primeiras coisas, com as ferramentas dos dons espirituais, experimentando uma presença plena do Altíssimo, conhece um novo mistério, uma felicidade singular. Essa felicidade é a força que precisamos para seguirmos neste mundo com vitória sobre os rancores, a ira, as invejas, a vingança, a ansiedade. Muitos estão sempre infelizes, apesar de serem bons cristãos, porque não acham a Deus em oração, e não o acham porque não se dão ao trabalho de buscarem com todo o coração, num segundo nível de fé. Quem tem chamada e está preparado sabe disso, ainda que teime em não obedecer isso, e se desobedecer não será feliz e tentará achar em outras coisas substitutos para tal elevação. 
      Eis-me aqui novamente tentando explicar o inexplicável, por isso, mistério, Tomé pode ter entendido isso só nos últimos momentos de Jesus no mundo. Muitos de nós, infelizes porque estamos insatisfeitos com o que somos, e insatisfeitos porque temos que ir mais além e não vamos, podemos nos desviar do caminho. Se a simplicidade do evangelho não te satisfaz mais, e se você tem achado relevância em esoterismos e outros mistérios, saiba que Deus pode responder aos teus questionamentos, se buscá-lo com todo o coração. Não precisa ficar buscando consolo em misticismos e superstições, assim não permita que tua chamada te desvie, mas que ela te permita achar aquilo que Deus quer te mostrar, só assim será feliz.

Esta é a 3ª parte de uma reflexão 
dividida em três partes, leia as duas postagens 
anteriores para um entendimento melhor.
José Osório de Souza, 02/07/2021

28/08/21

Até onde vai nossa fé?

      “Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto; e folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele. Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.” João 11.14-16
      “Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João 14.4-6

      Até que ponto você foi com Cristo? Crê porque os pastores ensinam? Porque sua religião tem dois mil anos e é poderosa no mundo? Porque muitos dizem que Jesus é o caminho, a verdade a a vida? Porque seus pais te ensinaram e você os respeita? Porque tem medo do inferno e do diabo? Isso tudo pode ser só fé baseada no que os olhos veem. Crer sem ver é ir além da tradição religiosa, é de fato ter novas e pessoais experiências com Deus. Talvez a ausência de paz e a dificuldade em ter libertação de pecados existam em tua vida porque, apesar de ser cristão, até agora você não creu sem ver. 
      Interessante que Tomé talvez tenha crido enquanto Jesus desempenhava seu ministério no mundo, mas teve dificuldade para crer no Cristo transformado que iniciaria um ministério espiritual na eternidade (João 20.24-29). A Bíblia é um livro físico, com doutrinas aprovadas por tradição religiosa humana, ainda que seja preciso fé para entendê-la e praticá-la, ela ainda é um cristianismo visível e do mundo. O Espírito Santo, que só veio depois que Jesus partiu, é invisível, não pode ser comprovado pela ciência, mas só ele pode nos revelar mistérios maiores que nos permitirão conhecer mais a Deus. 
      Infelizmente muitos cristãos são como Tomé, e talvez muitos desses não entendam o que estamos dizendo aqui, ao contrário, muitos se acham cheios de fé e não como o incrédulo Tomé. Mas a fé limitada de Tomé pode tê-lo levado a conhecer só a primeira parte da missão do Cristo, a segunda ele quis ver para crer, não entendeu que para crescer e acessar a continuação da obra do mestre precisava de uma fé mais profunda, que vai além do que os olhos podem ver. Hoje, nós podemos ver o Cristo ressuscitado? Não, e para nós hoje é ainda mais necessária a fé de nível dois, digamos assim. 
      Não podemos ver o Jesus espiritual, mas podemos experimentar aquele que ele mandou em seu lugar como professor e consolador no mundo, o Espírito Santo interage conosco através dos dons espirituais, uma experiência espiritualmente gradativa e íntima. Quem nega os dons ou só vai com Cristo até um ponto, age como Tomé, e acreditem, muitos chamados pentecostais ou carismáticos, mesmo tendo alguma experiência com dons, estão longe de conceder ao Espírito Santo toda a liberdade que ele pode ter em suas vidas para levá-los mais perto de Deus através do Cristo Deus e espiritual. 
      Excetuando os textos com as listas dos doze apóstolos, Tomé, chamado Dídimo (significa gêmeo em grego), é citado só mais duas vezes na Bíblia além de no capítulo vinte de João, e ambas também no evangelho de João. Podemos entender mais sobre a fé de Tomé nessas passagens, verificar como ela podia estar limitada à obra de Jesus no mundo. Antes da crucificação os discípulos já tinham receio dos judeus, mas foi justamente a boca de Tomé que verbalizou o medo de serem mortos pelos inimigos de Jesus, assim como foi ele quem declarou que não sabia para onde Jesus iria após a morte.
      Um discípulo com medo da morte e sem certeza do que ocorreria após ela não creu na ressurreição, ele até cria no evangelho, mas um evangelho limitado a esse mundo. Nossa vida com Deus não pode ser completa se acreditarmos em suas providências e propósitos para nossas vidas somente para o plano físico. Dons espirituais são mais que fé para recebermos coisas neste mundo, mesmo perdão e paz espirituais, eles nos colocam em contato com o plano no qual passaremos a eternidade. (Após a descida do Espírito Santo Tomé estendeu seu apostolado até à Índia onde foi assassinado, mais no link). 

Esta é a 2ª parte de uma reflexão dividida 
em três partes, leia a postagem anterior e 
a próxima para um entendimento melhor.
José Osório de Souza, 02/07/2021

27/08/21

Fé até que ponto?

      “Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. 
      E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. 
      E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” 
João 20.24-29

      O ensino da passagem bíblica inicial, que relata o encontro de Tomé com Jesus depois de ressuscitado, deve ser repetido à exaustão, ele revela um dos maiores mistérios espirituais. Algumas vezes uso a palavra “mistério” aqui, sei que há um certo costume no meio pentecostal para usá-la, mas o que ela quer dizer no contexto desta reflexão? Toda a relação do ser humano encarnado no mundo físico com o plano espiritual é um mistério, e céticos, materialistas e ateus não creem no plano espiritual e não interagem com ele porque não conseguem ou não querem aceitar o primeiro mistério, a fé. 
      Essa não é a fé do texto bíblico inicial, mas a fé primeira, aquela que admite a existência de uma divindade espiritual e a possibilidade de interagirmos com ela, essa fé permite que o homem seja salvo. À medida que o homem convertido anda com Deus novos mistérios vão sendo apresentados a ele, ele os conhece se quiser, Deus nunca obriga ninguém a nada com respeito às coisas espirituais. Já com respeito às coisas materiais o homem precisa interagir com elas para sobreviver no mundo, e para isso ele não precisa necessariamente crer em Deus e na relação desse com a matéria. 
      A fé que Jesus cobrou de Tomé é algo mais profundo, que leva a mais que à salvação, ao perdão, à paz com Deus, às primeiras curas e práticas das doutrinas cristãs. Os dons espirituais representam o segundo grande mistério que os homens precisam entender para crescerem, mais que como seres equilibrados e justos no plano físico, mas como seres espirituais eternos rumo ao céu. Tomé era um dos doze, andou com Cristo e estava com ele no final, ele acreditava em Jesus, mas sua atitude de incredulidade revela que ele entendeu só até um ponto a fé necessária para provar o evangelho. 
      Crer sem ver, eis o mistério, não porque Deus priva o homem e exija dele algo injusto, confiar sem saber certo em que, e nem porque somos ignorantes e manipulados que acreditam em qualquer coisa. Aliás, em muitas coisas não devemos confiar sem ver, sem ouvir, sem comprovar seu funcionamento e fim, e nisso está a ciência e seu método para nos auxiliar, exercício para a inteligência humana, fator importante no desenvolvimento do homem no mundo. Contudo, não somos só matéria temporária, somos também espírito eterno, esse só evolui crendo sem ver manifestado no plano físico.
      A tensão entre matéria e espírito que ocorre quando acreditamos sem que os sentidos físicos percebam, dá acesso aos dons espirituais, que é ver, ouvir e sentir as manifestações espirituais através do mover do Espírito Santo pela porta que é Jesus até Deus. Crer sem ver é a aventura mais maravilhosa que o ser humano pode provar se for realizada no Espírito do Altíssimo, nos dá acesso às ferramentas psíquicas para entendermos os demais mistérios. Isso entrega uma felicidade exclusiva, que ciência e interação só intelectual com religião não dão, é a experiência que nos liberta do pecado.
      Tomé foi até um ponto com Jesus, talvez porque até então estava enxergando com os olhos físicos o mestre realizar maravilhas também físicas. Podemos dizer que ele foi lúcido, usou sua inteligência de forma científica, pois confiou no que pôde comprovar com os olhos. Ele não creu nos milagres e na sabedoria prática de amor do Cristo porque os outros lhe contaram a respeito, porque leu, mas porque presenciou ao vivo como apóstolo. Mas lhe restava ainda uma provação, que ocorreu justamente nos últimos momentos de Jesus entre os encarnados, nessa ele não foi aprovado sem ser exortado.

Esta é a 1ª parte de uma reflexão 
dividida em três partes, leia as duas próximas 
postagens para um entendimento melhor.
José Osório de Souza, 02/07/2021

26/08/21

Prepare-se para o pior, espere o melhor (4/4)

      “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.Efésios 5.15-17

      Encerrando a série de quatro reflexões sobre a gangorra e emocional, que todos nós provamos neste mundo, eis algo que pode ajudar-nos a superá-la: nos prepararmos para o pior, mas esperarmos o melhor. Pior e melhor, nossa gangorra emocional nos remete para esses extremos, balança para um lado e para outro, equilibrar-nos parece impossível. Em ambos os lados há expectativas e expectativas sempre conduzem a sofrimento, ainda que no lado de cima nos achemos poderosos e possamos sentir a princípio algum prazer. Mas o espírito só tem de fato prazer maior na paz, e na paz não há expectativas, já ansiedade, empolgação e ilusão são momentos curtos, que antecedem sempre a depressão, o desânimo e a desilusão. 
      Isso não significa sermos pessimistas ou incrédulos, mas estarmos preparados para surpresas ruins, e isso é temer a Deus. Quem teme não é livrado de surpresas ruins? Como tentação e como armadilhas, nas quais podemos cair por falta de vigilância prática e vida de oração, sim, nós somos. Quem teme a Deus não cai em tentação nem é surpreendido por homens e espíritos maus, mas como provação não somos livrados. Provações são permitidas por Deus para o nosso aperfeiçoamento, e nenhum de nós sabe até que ponto seremos provados neste mundo, assim nos preparemos para o pior, com temor a Deus e humildade, ainda que um pior autorizado pelo Senhor tenha o objetivo de nós fazer seres melhores para a eternidade.
      Por outro lado, esperarmos o melhor, orarmos, trabalharmos por ele, não é ingenuidade ou insanidade, mas é a disposição que o Espírito Santo nos chama a vivenciar. Entendamos bem isso, Deus é bondade, é luz, é amor, é paz, nele há alegria e vida, esse é o objetivo de todos os seres humanos, estarmos nessa posição espiritual de vitória e de iluminação, o tempo todo. Isso não é exceção ou privilégio de alguns, mas a chamada de todos. Como alcançamos isso neste mundo? Pela fé e por obras, equilibrando corpo físico e suas necessidades, com espírito eterno e suas virtudes, tendo comunhão com Deus mas interagindo com homens. Esteja preparado para o pior, vigie sempre, mas creia de todo o coração no melhor possível.
      O mal, as trevas, a infelicidade, sempre estão nos extremos, ou no pessimismo exagerado dos velhos de alma, ou na fantasia insana dos infantis fora de tempo, ambos são construções mentais, nascem e se mantêm vivos em nossas cabeças. Equilíbrio só é alcançado com prática de vida, que confronta ideias e paranóias com a realidade, que mostra que nada de bom é para sempre e que nada é tão ruim para levarmos a sério demais. Quem nos nivela não é a religião, mesmo a sabedoria de espiritualistas e de cientistas, mas o vivo e verdadeiro Espírito Santo de Deus através de Jesus. Só Deus para nos dar o tom certo, não tão grave e nem tão agudo, centrado e harmonizado com o seu tom, o tom do criador e Senhor do universo. 

Leia nas postagens anteriores 
as outras partes da reflexão
“Gangorra emocional”.
José Osório de Souza