sexta-feira, agosto 27, 2021

Fé até que ponto?

      “Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. 
      E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. 
      E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” 
João 20.24-29

      O ensino da passagem bíblica inicial, que relata o encontro de Tomé com Jesus depois de ressuscitado, deve ser repetido à exaustão, ele revela um dos maiores mistérios espirituais. Algumas vezes uso a palavra “mistério” aqui, sei que há um certo costume no meio pentecostal para usá-la, mas o que ela quer dizer no contexto desta reflexão? Toda a relação do ser humano encarnado no mundo físico com o plano espiritual é um mistério, e céticos, materialistas e ateus não creem no plano espiritual e não interagem com ele porque não conseguem ou não querem aceitar o primeiro mistério, a fé. 
      Essa não é a fé do texto bíblico inicial, mas a fé primeira, aquela que admite a existência de uma divindade espiritual e a possibilidade de interagirmos com ela, essa fé permite que o homem seja salvo. À medida que o homem convertido anda com Deus novos mistérios vão sendo apresentados a ele, ele os conhece se quiser, Deus nunca obriga ninguém a nada com respeito às coisas espirituais. Já com respeito às coisas materiais o homem precisa interagir com elas para sobreviver no mundo, e para isso ele não precisa necessariamente crer em Deus e na relação desse com a matéria. 
      A fé que Jesus cobrou de Tomé é algo mais profundo, que leva a mais que à salvação, ao perdão, à paz com Deus, às primeiras curas e práticas das doutrinas cristãs. Os dons espirituais representam o segundo grande mistério que os homens precisam entender para crescerem, mais que como seres equilibrados e justos no plano físico, mas como seres espirituais eternos rumo ao céu. Tomé era um dos doze, andou com Cristo e estava com ele no final, ele acreditava em Jesus, mas sua atitude de incredulidade revela que ele entendeu só até um ponto a fé necessária para provar o evangelho. 
      Crer sem ver, eis o mistério, não porque Deus priva o homem e exija dele algo injusto, confiar sem saber certo em que, e nem porque somos ignorantes e manipulados que acreditam em qualquer coisa. Aliás, em muitas coisas não devemos confiar sem ver, sem ouvir, sem comprovar seu funcionamento e fim, e nisso está a ciência e seu método para nos auxiliar, exercício para a inteligência humana, fator importante no desenvolvimento do homem no mundo. Contudo, não somos só matéria temporária, somos também espírito eterno, esse só evolui crendo sem ver manifestado no plano físico.
      A tensão entre matéria e espírito que ocorre quando acreditamos sem que os sentidos físicos percebam, dá acesso aos dons espirituais, que é ver, ouvir e sentir as manifestações espirituais através do mover do Espírito Santo pela porta que é Jesus até Deus. Crer sem ver é a aventura mais maravilhosa que o ser humano pode provar se for realizada no Espírito do Altíssimo, nos dá acesso às ferramentas psíquicas para entendermos os demais mistérios. Isso entrega uma felicidade exclusiva, que ciência e interação só intelectual com religião não dão, é a experiência que nos liberta do pecado.
      Tomé foi até um ponto com Jesus, talvez porque até então estava enxergando com os olhos físicos o mestre realizar maravilhas também físicas. Podemos dizer que ele foi lúcido, usou sua inteligência de forma científica, pois confiou no que pôde comprovar com os olhos. Ele não creu nos milagres e na sabedoria prática de amor do Cristo porque os outros lhe contaram a respeito, porque leu, mas porque presenciou ao vivo como apóstolo. Mas lhe restava ainda uma provação, que ocorreu justamente nos últimos momentos de Jesus entre os encarnados, nessa ele não foi aprovado sem ser exortado.

Esta é a 1ª parte de uma reflexão 
dividida em três partes, leia as duas próximas 
postagens para um entendimento melhor.
José Osório de Souza, 02/07/2021

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