24/01/22

A verdade merece consolo

      “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximoSalmos 15.1-3

      O único consolo que nos cura e permanece é o consolo de Deus, esse, contudo, só provamos depois que conhecemos e aceitamos toda a verdade sobre nossas vidas, sobres o Senhor, sobre aqueles que convivem conosco, e sobre aqueles que por algum motivo dependemos. Não provaremos o consolo de Deus se nos refugiarmos na mentira, na inveja, no rancor, nas coisas ruins que nos levam a pôr a culpa de nossos problemas nos outros, e a promovermos os defeitos dos outros para escondermos os nossos. Contudo, vivermos a verdade do jeito certo pode não ser algo fácil e nem agradável, requer de nós a humildade, da qual podermos passar muito tempo de nossas vidas tentando fugir. 
      O metal só é purificado quando exposto à alta temperatura, quando as impurezas podem ser separadas dele, só depois ele poderá receber água que o fará voltar à sua temperatura normal, se ele receber água antes só limpará sua superfície externa, não purificará seu interior. Assim somos nós, a verdade pode elevar nossa temperatura, fazer com que nos sintamos desestruturados, desconstruídos, quase desfalecidos, ela não nos deixa confortáveis, mas é a única maneira de sermos purificados. Só depois disso, Deus, o pai de amor, pode derramar seu Espírito sobre nós, a água limpa e fresca, que nos equilibra emocionalmente com paz e nos consola totalmente, agora moral e espiritualmente purificados. 
      Podemos buscar o consolo sem termos assumido toda a verdade, e quando é assim sentimos que oramos a Deus e ele parece não nos responder, Deus sempre responde, mas nem sempre do jeito que queremos, que achamos melhor. O Espírito de Deus não convive com a mentira, e se estamos nos baseando em alguma mentira a “temperatura” aumentará até que ela seja extraída. Por outro lado “não matemos o mensageiro”, Deus pode usar pessoas pelas quais talvez não tenhamos muita simpatia para nos confrontar com alguma verdade, assim não nos revoltemos contra elas, não as difamemos nem desejemos mal a elas, tentando destruí-las já que não podemos destruir a verdade que elas entregam.
      Aceite a alta temperatura humildemente, como mão de Deus tornando-te melhor, ainda que doa, e a verdade sempre dói, mas depois disso, tenha certeza, uma vez aprovado Deus te consolará de maneira singular. Achará a paz, o direito de habitar no tabernáculo de Deus, o santo monte, um lugar espiritual altíssimo onde Deus abriga os verdadeiros. Três virtudes habitam com o Altíssimo, de onde a luz mais forte emana: o amor, a santidade e a verdade, elas se completam, uma não pode existir sem a outra. Somos santos sendo verdadeiros, amamos sendo santos, somos verdadeiros sendo santos e amorosos, do perfeito vínculo dessas três virtudes brotam paz e justiça, o consolo de Deus. 

23/01/22

A verdade, nada mais

      “Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem; ouvirá o seu clamor, e os salvará.Salmos 145.18-19

      O ser humano é hábil em inverter as coisas para se beneficiar, mas essa inversão, mesmo que com aparência de algo bom, nada mais é que uma mentira. Eu, você, todos nós, temos medo da verdade, por isso mentimos muito, afinal, mentir é mais fácil, mais agradável, nos protege principalmente de nós mesmos, da nossa verdade. Temos a tendência de exagerar em nossas qualidades, ou mesmo de inventa-las, e de diminuir nossos defeitos, e ainda que os citemos tentamos dar a eles um viés de virtude, de sinceridade.
      Diz-se, que quando questionadas sobre seus defeitos em entrevistas de emprego, o que muitas pessoas respondem é que são perfeccionistas, exigentes demais com elas mesmas e com os outros, mesmo idealistas. Mas isso é só um jeito conveniente de se dizer que se é chato, inseguro e prepotente, quem é humilde convive bem com sua humanidade limitada, com as dos outros, e sempre é educado. Enfim, isso só são mentiras que contamos a nós mesmos e aos outros. Convencem? A ninguém, só faz perder tempo. 
      Temer a verdade nada mais é que querer colher honra antes do tempo, por isso encontra-se na mentira um jeito mais rápido de se receber reconhecimento. Quem não tem paciência não ama, quem não se mostra como é, o faz por medo e quem tem medo não ama, quem não se aceita, mesmo ainda em construção, a ser melhorado, não ama a si e quem não se ama não pode amar o outro. Interessante como medo, mentira, falta de paciência e incapacidade de amar estão relacionados. O que resolve isso? Achar paz na verdade. 
      Não basta se achar povo de Deus, frequentar igreja, obedecer costumes evangélicos, é preciso prática de misericórdia que acha santidade e a vive, que conhece mais e mais a Deus. Só a verdade resiste ao tempo, palavras falsas, não, só a verdade nos faz puros o suficiente para sermos templos do Espírito Santo, podendo receber a luz do Altíssimo e refleti-la aos homens. Ser purificado pela verdade não é processo rápido, podemos passar uma vida submetidos às provações para que mentiras sejam purgadas.
      Este que escreve também mente, admitir minha verdade não é fácil, mas eu assumo isso e faço do fundo do coração a oração: “Senhor, sei que é difícil, mas eu quero a verdade, somente ela, nada mais que ela, assim, ajuda-me a entender a verdade, a aceitá-la e a vivê-la, pagando o preço que for preciso, sei que nisso está tua luz mais alta e só nela há vida eterna e sentido para existir”. Se entendermos de fato tudo que implica assumirmos nossas verdades veremos que é difícil fazer uma oração assim, mas é necessário. 
      A verdade é escudo contra todo tipo de mal, quando a dizemos não há mais argumentos, acusações, não que possam nos atingir, a não ser que sejam argumentos mentirosos e acusações falsas, e esses não atingem quem está protegido pelo escudo da verdade. Dizer a verdade pode nos colocar numa posição frágil, onde os maus poderão nos atacar com facilidade, mas a verdade nos dá o escudo de Deus e protegidos por esse, ainda que os maus achem que estão nos destruindo, não estão, porque são só armas da mentira. 
      Usar o escudo da verdade ensina a ter paciência, a confiar no Senhor do tempo que na hora certa honra os verdadeiros. Se você estiver errado? Admita. Se não tiver condições de construir algo? Aceite, mas não minta, melhor não fazer nada que mentir. Contudo, humilhe-se diante do Deus da verdade, peça a ele forças e oportunidades para construir uma boa reputação, onde você não precisará mentir para ser reconhecido como ser humano do bem. Deus pode nos construir, mas a base para isso só a verdade pode dar. 
      Que verdade você esconde? Que não é tão feliz no casamento como queria? Que não é tão competente na área profissional como precisaria? Que não é tão espiritual, tão virtuoso, como se esforça em aparentar na igreja? Que não é tão amoroso com teus filhos como eles precisariam que você fosse? Que não tem tanta paciência com parentes, pais, sogros, irmãos, cunhados, como deveria ter como cristão? Mentiras são respostas a cobranças erradas, já que a cobrança certa, a de Deus, nada pede de nós além da verdade. 

22/01/22

Ao nada não se reage

      “Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.Lamentações 3.26

      O bem está sempre em movimento, atraído pelo amor de Deus para sua luz mais alta, o que conecta a Deus é o movimento, movimento é vida. O mal está na ausência de movimento ativo, quem não se move espiritualmente para Deus, ainda que não esteja fazendo um mal, está desligado de Deus, em disposição de morte. Parado se cai, move-se passivamente para baixo e para longe de Deus. Com o bem se interage, quem está ligado a Deus pergunta a Deus e ele responde, com o mal não se interage porque ele é nada, ausência de movimento e de Deus, e para nada não precisa haver reação. 
      Jesus ficava em silêncio muitas vezes quando seus opositores, os maus líderes religiosos de sua época, o inquiriam, ele não fazia isso por displicência ou soberba, mas porque ao nada não se reage. Não há sentido em perder tempo com o mal, com nada, responder ao mal, à malícia, às segundas intenções, à inveja, à ira, é perder tempo, é dialogar com o vazio, é enfadar-se à toa. Assim precisa ser com aqueles que hoje querem ser espirituais, discernirem o que se move para Deus e o que está parado, diferenciar vida de morte, luz de trevas, bem do mal, e ser útil para Deus reagindo ou não.
      Muitas vezes nos vemos em situações onde ofensas, acusações, injustiças e impropérios nos são direcionados e ficamos indignados, nessa indignação diante de palavras e atitudes descabidas, tentamos achar uma maneira de reagir à altura e não conseguimos. Isso nos deixa cansados, angustiados, podendo até fazer com que nos achemos, por não encontrarmos contra-argumentação, os errados na história, mas na verdade não achamos resposta porque não existe resposta, não uma resposta espiritual. Nesses casos o certo é não reagirmos, nada respondermos, permanecermos em silêncio.
      Quando o mal nos deixa sem reação ele nos coloca em xeque-mate e alcança seu intuito, parar nosso movimento em direção a Deus, e acredite, aqueles que se colocam como instrumentos do mal, sejam seres humanos ou espíritos, são mestres em aplicarem essa jogada, são mais astutos que os filhos da luz, são maliciosos, não sábios. A tristeza adora companhia, o mal não quer ficar só em sua morte, desligado de Deus, passivo espiritualmente, ele quer que outros fiquem com ele, pessoas erradas querem a companhia de pares que apoiem suas escolhas erradas para se sentirem vivas.
      Por várias vezes a Bíblia nos orienta ficarmos em silêncio, seja diante de opositores, diante do pecado alheio ou diante de tempos difíceis, como os atuais em que vivemos. Mas no mundo de hoje, onde todos têm opinião sobre tudo, se acham no direito de gritar essas opiniões e na presunção de acreditarem que suas opiniões são mais legítimas que as demais, nunca foi tão difícil ficar em silêncio e ser espiritual. Entretanto, talvez nunca tenha sido tão necessário mostrar o Deus verdadeiro ao mundo, de forma realmente espiritual para glorificar ao Senhor, não nossos egos vaidosos (Amos 5.13). 
      Deus aparece como luz nas trevas, silenciosamente, de forma espiritual, não material, o que se move para ele o faz de maneira simples, leve, quase imperceptível. A vida pulsa por si só, mas ainda que chacoalhemos um cadáver, que o submetamos a eletrochoques, que o amarremos a fios e o movimentemos como um marionete, ele não terá vida e toda demonstração de ânimo será falsa. Como vemos zumbis hoje, dentro de igrejas, defendendo ideologias, fazendo e acontecendo, mas mortos, parados em direção a Deus, não acham virtude no silêncio sábio, mas fraqueza, e por isso morrem. 
      Muitos permanecem em silêncio para encobrirem seus erros, se falarem terão que mentir, mas o que se move em Deus fica em silêncio diante de um ataque do mal para guardar a verdade, que não deve ser compartilhada com qualquer um e de qualquer jeito, simplesmente porque isso para nada serve. Quem não está preparado não entende, não é o argumento que convence alguém, mas todo um processo de vida com Deus que prepara a pessoa, então, quando a verdade for dita, o preparado naturalmente receberá e entenderá. Não cabe ao homem convencer outro homem, só a si mesmo.  
      Não se pode fugir de Deus, Deus está em todos os lugares, assim, resistir a Deus é parar, por isso dizemos que alguém que está possuído pelo mal está amarrado, sem liberdade de se mover espiritualmente para Deus. Todos nós já experimentamos momentos em que nos vemos confusos, sem sabermos o que fazer, em situações assim nos sentimos amarrados. Podemos até buscar fuga em algum ativismo ou prazer do corpo para tentarmos nos esquecer de nossa condição, mas enquanto não nos resolvermos com Deus e seguirmos para ele, estaremos parados e longe do melhor do Altíssimo. 
      Ter um encontro maravilhoso e marcante com Deus em oração é nos colocarmos em movimento espiritual para as mais altas regiões celestes (Salmos 121.1-2), nisso temos libertação das preocupações e sofrimentos do mundo, do mal dos outros e de nossas culpas. O mais formidável disso é que nos movemos espiritualmente, isso impacta nossa mente e nossos sentimentos independentemente do nosso corpo físico, assim mesmo presos a um leito ou a um cárcere, podemos alcançar a paz maior. Isso nos transporta, nos desamarra e nos dá forças para guardarmos silêncio diante do mal.

21/01/22

Prazer e identidade

      “Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros.Salmos 119.24
      “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.João 13.15

      Na minha ótica, já disse várias vezes que o papel de drogas ilícitas, maconha e cocaína por exemplo, é oferecer um prazer que anule uma dor insuportável. Talvez eu veja as coisas assim porque sempre tive uma luta muito grande contra a dor da alma, que a princípio não conseguia anular com vida com Deus, nem com os pecados mais convencionais e menos danosos, digamos assim, sexo, bebidas alcoólicas e outros prazeres mais lícitos do mundo. É certo que enfrentei sérias consequências na vida conjugal e profissional por causa disso, mas nunca recorri à maconha, cocaína e tabagismo. 
      Deus usou efeitos vergonhosos de más escolhas que fiz a princípio para anular a dor. Falsos cristãos, mais interessados em condenar que em curar, não ajudaram, e concordo que corroborados em sua falta de amor pela meu distanciamento. Mas como alguém que sempre viveu submerso pode saber que está afogado? Exigiram de mim lucidez que eu não tinha, que só obtive à medida que me esforcei sozinho, colocando a cabeça para fora, entendendo minha situação e permitindo que a mão de Deus me levasse à terra firme. Lutas solitárias têm um benefício, nos ensinam a confiar só em Deus. 
      Mas voltemos ao assunto, ninguém começa a usar drogas porque é ruim, usa porque é bom, incentivar jovens a não usarem drogas argumentando que elas são ruins é mentiroso e ineficiente. A solução, para não recorrer a prazer ilícito, ou que depois se torna vício, sendo, então, consumido não para se ter prazer e anular dor inicial, mas para anular a dor da abstinência do que viciou, é curar a dor inicial, aquela que fomentou o primeiro uso de droga. Quem tem dor da alma bem administrada, ainda que prove drogas uma vez, não se viciará, e isso não é incentivo para se provar uma única vez drogas.
      Contudo, muitos jovens usam drogas não só pelo prazer que elas dão ajudando a viver com uma dor terrível de alma, usam pela identidade que ela confere, sim, drogado tem uma identidade, de descolado e de poderoso. O drogado não se sente menos por ser drogado, mas mais, não só pela sensação de capacitação que a droga oferece, mas por lhe entregar um estilo de vida, jeito de falar, de andar, de se portar, de ouvir música, ele se sente um super homem, enquanto os outros são vistos como trouxas, otários, caretas. Por isso o drogado não se esconde, mas exibe com orgulho sua identidade alterada.
      No passado jovens já se escondiam na identidade alterada de drogado, aqueles sem caráter fortalecido para enfrentarem as consequências de vícios, já que droga ocupa o tempo e usa a força que as pessoas deveriam usar para estudar e trabalhar. Nos últimos tempos, contudo, isso tem se tornado mais comum, hoje todo mundo quer ter uma identidade descolada, isso parece até mais importante que simplesmente usufruir do relaxamento e da euforia que as drogas injetam no corpo e na mente. Ninguém quer ser normal, querem aparentar-se no controle, assim, parecer drogado está na moda, é chique.
      Por que essa obsessão atual por querer se parecer o que não se é, de se ter vergonha de ser visto como alguém bom e manso, de achar que ser humilde e santo são sintomas de fraqueza? Hoje é bonito ser feio e é feio ser bonito, e me refiro à beleza moral interior, não à aparência do corpo. Enquanto o corpo parece vagar sem rumo, enquanto o olhar malicioso olha algo que ninguém mais vê, enquanto as palavras são codificadas por gírias, para deixar claro que se está acima da realidade, não se importando com o que os outros pensam, o espírito está em trevas, feio, intimidado, fugitivo, atormentado. 
      Precisamos ser justos, essa busca de identidade no caos, no sujo, no alienado, não representa todo mundo, tem o outro lado. Nesse lado estão os de poder aquisitivo um pouco mais alto, que zelam pela saúde física e mental, que buscam na ioga serenidade e auto-controle, mas penso que esses são até mais alienados e mimados que os pseudo-drogados, e se consideram sinceramente superiores. Onde fica o exemplo de Jesus homem nisso tudo? Esse exemplo parece antiquado e falso, desconstruído como foi por um catolicismo e um protestantismo hipócritas e materialistas. Cristo hoje parece feio.
      Prazer na palavra recebida diretamente do Santo Espírito e identidade baseada no exemplo de Jesus homem, isso protege de ilusões da carne e da falta de amor do mundo. Até hoje luto contra as satisfações artificiais e passageiras da matéria, entendi que pessoas com problemas extremos precisam, não como escolha, mas como obrigação, de soluções extremas. Se outros podem ser dar ao luxo de terem comunhão espiritual com Deus até um ponto, pessoas como eu, viciáveis e escapistas, não, a nós só resta ter intimidade profunda com o Senhor, mas nós temos um privilégio, unção singular de Deus. 

20/01/22

Sopro de Deus!

      “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Gênesis 2.7

      “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo.” Gálatas 4.4-7

      “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.João 17.21

      Já abordamos aqui ser amigo de Deus e não só soldado dele, e sobre ser íntimo de Deus e não só vitorioso em guerras físicas, desta vez vamos nos aprofundar na essência espiritual que todo ser humano tem e que o conecta com Deus. Se fôssemos só seres com o objetivo de nos aproximarmos de Deus para sermos melhores, nossa existência já teria sentido, mas só isso seria solitário e bem mais difícil de ser feito. Como filhos temos uma parte de Deus em nós, aliás nossa parte principal e eterna, o fôlego de Deus. 
      É o nosso espírito que consegue se comunicar com o Deus Altíssimo através do Espírito Santo enviado por Jesus. Jesus é início e fim, é começo pois enviou o Espírito Santo e é fim pois é a porta mais alta que recebe nosso espírito nas “asas” do Espírito Santo e o coloca nas regiões espirituais mais altas. O Espírito Santo vem à terra, toma nossa intenção e a leva a Jesus, a porta direta para Deus, acima de potestades, principados e outras potências e seres espirituais, existe um mistério muito importante nesse processo. 
      Negar a Deus não é negar algo fora de nós, é negar nossa essência, nossa razão de existir, o fôlego de vida que nos habita suspira pelo Espírito Santo, precisa dele para viver, se negamos essa vocação intrínseca morremos. Conhecer a Deus e seguir em sua direção não é só questão de opção, ainda que Deus respeite nossas escolhas contrárias a ele, também não é fraqueza de ignorantes e manipulados, mas é aceitar e viver aquilo que temos de mais profundo dentro de nós, a vida eterna. Nossa vocação maior é espiritual. 
      O trabalho mais nobre que o ser humano pode fazer, que o evoluirá para seu mais alto potencial, é não fazer nenhum trabalho. O paradoxo espiritual é deixar livre a essência interior que naturalmente deseja Deus e é atraída pelo amor de Deus. Tudo que pesa e amarra nos deixa parados espiritualmente e nos separa de Deus, espiritualidade nada mais é que leveza moral e emocional que se move para o Altíssimo sem amarras, deixando para trás toda ilusão da matéria e de seus prazeres, egoísmo, vaidades e maldades. 
      Contudo, o trabalho de permitir elevar-se o espírito não é algo fácil, na verdade é o trabalho mais difícil que existe, justamente por ser o mais simples, eis novamente o paradoxo que só entende quem busca humildemente o Senhor com todo o coração, o conhece e o segue. Aumentar a sensação de culpa, tentando mantê-la na alma por mais tempo possível, é uma falsa espiritualidade que muitos criam para tentarem provar a si mesmos e aos outros que ainda que pequem não gostam disso, isso só gera hipocrisia e peso. 
      Muitos provam infernos, não por odiarem o rei, mas por ser acharem mais reais que o rei. Muitos acreditam em Deus, mas por não conseguirem vivenciar sua vontade infringem a si mesmos remorsos infindáveis, não percebem que isso também é vaidade, é trabalho em vão. Deixemos a culpa como a uma mochila pesada que apesar de podermos ter levado por anos não faz parte de nós. Sermos simples para executarmos isso nos dá a paz que nos fortalece para não fazermos as coisas erradas e fazermos as certas. 
      Os autores bíblicos usaram vários termos na tentativa de definirem a relação seres humanos com Deus, criatura com criador, filho com pai, servo com senhor, amigo com amigo, como sempre, mistérios espirituais são difíceis de serem entendidos com conceitos do plano material, porque são espirituais. A verdade é que todos os seres estão ligados uns aos outros e a Deus, seja no plano material com limites, seja mais plenamente no espiritual. Viver esse mistério no Espírito Santo é se entender no universo e ser útil. 

Esta reflexão é uma resposta
à reflexão anterior, se puder leia-a
para entendimento melhor do assunto.
José Osório de Souza, 16/07/2021

19/01/22

Criatura, filho, servo ou amigo?

       “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1.27

     “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.João 1.12-13

      “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.Romanos 6.20-22

      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.15

      Qual a nossa ligação com Deus? A teologia tradicional protestante trata todos como criaturas de Deus, mas filhos só os convertidos por Cristo, o catolicismo leva isso ainda mais a sério batizando bebês para que esses deixem o paganismo e sejam cristãos o mais rapidamente possível. O espiritismo e outras religiões são menos radicais, creem que todos são criaturas e são filhos de Deus, indiferente se servem ou se são amigos de Deus, com uma relação mais próxima das boas obras. 
      Os evangélicos gostam de usar o termo servo para diferenciar do simples filho, para eles o servo é um cristão mais consagrado que trabalha com mais esmero nos ministérios das igrejas evangélicas. Jesus disse que não chamaria seus seguidores de servos, ensinou que ainda que servos sejam obedientes a ele, não conhecem sua vontade com mais profundidade. Ele chamaria os homens de seus amigos, amizade essa que é possível não por qualquer religiosidade, mas pelo evangelho. 
      Numa relação de pai e filho existem coisas que não existem em relações de senhor e servo e de general e soldado. Por mais útil que possa ser comparar Deus a um senhor e os homens que trabalham para ele a servos, ou Deus a um general que lidera os homens que o obedecem como soldados numa guerra, a obediência de um filho a um pai envolve afeto. Não precisamos gostar, sermos mais próximos ou mesmo passar momentos de lazer com chefes, sejam empresariais ou militares.
      Nós servimos a patrões e capitães enquanto desempenhando uma tarefa, depois nos afastamos deles, mesmo que sirvamos com eficiência profissional eles podem nem nos conhecer intimamente ou terem características pessoais em comum conosco, eles só precisam de nossas habilidades e capacidades como funcionários e subalternos militares. Não é assim a relação de filho e pai, ela pode ter eficiência, mas nela existe uma parte afetiva forte assim como semelhanças mais profundas.
      A diferença é que um filho tem em sua estrutura os mesmos elementos que existem no pai, senão físicos, carne e sangue, semelhanças faciais e de outras partes do corpo, mas também e principalmente elementos emocionais, adquiridos por anos numa criação próxima, compartilhando o mesmo lar, a mesma casa, o mesmo estilo de vida, os mesmos sonhos e lutas. Um filho é um pedaço do pai, e repito, muito mais emocionalmente que fisicamente, é uma extensão dele, mesmo que negue isso.  
      “E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.” (Mateus 26.72-74). Pedro tentou convencer os homens que não tinha ligação com o Cristo, mas seu jeito o denunciou, quem anda com Deus é marcado para sempre. 
      Somos tudo, criaturas que nascem inferiores e que tendem à superioridade, só Deus é incriado. Somos filhos, ligados a Deus pelo amor, isso não é frio e “científico”, mas encharcado de carinho e cumplicidade. Somos servos, o trabalho mais nobre do ser é servir, a Deus e aos outros seres, é assim sempre e também será na eternidade, quanto mais superior é o ser mais deve servir. Somos amigos, íntimos de um Deus que por mais alto que seja nos trata como semelhntes e nos revela seus mistérios. 

Esta reflexão faz uma pergunta,
se puder leia a próxima reflexão, 
onde concluiremos o assunto. 
José Osório de Souza, 16/07/2921

18/01/22

Pôs meus pés sobre uma rocha

      “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou os meus passos. E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no Senhor.Salmos 40.1-3

      Um daqueles salmos onde o autor usa com primazia metáforas da natureza para descrever um ambiente emocional interior. Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, isso é perfeito, pelo menos para mim, como me sinto tantas vezes nessa situação, diante de certas pessoas, tendo que enfrentar uma decisão, ou mesmo superar um passado que já pensava ter superado. Não achamos o chão, isso significa não conseguirmos ver referências que nos mantenham firmes, tudo parece rodar, se mover, nos esquecemos quem somos e o que conquistamos até então. 
      Como sempre, só nos resta orarmos a Deus, com muita humildade, com todo o coração e cheios de fé, pedindo que ele nos dê a mão, nos ponha de pé e nos firme sobre sua palavra, uma promessa de esperança. O que ocorre depois é simplesmente uma mudança de olhar, nos desprendemos do chão movediço, do charco de lodo, que no meio da luta parecia envolver tudo, e olhamos para o Deus Altíssimo. Achamos o ar, liberdade para respirarmos, perdão para darmos aos outros, forças para superarmos os ataques injustos do homem egoísta e falso, voltamos a viver, achamos de novo a paz. 
      No final de provas assim o louvor ganha legitimidade, fica novo, pois o Espírito Santo tem facilidade para descer, nos tocar e nos levar para o alto, o caminho espiritual para Deus fica desimpedido. O chão, antes um lago horrível, se transforma numa rocha, confiável, nos lembramos de quem somos, do que trabalhamos para ser o que somos, tomamos posse do que já nos foi dado e obtemos um bem precioso. Esse bem é um testemunho verdadeiro de uma experiência profunda com o Senhor, esse testemunho poderá ajudar a outros, cumprirá nosso propósito no mundo, sermos luzeiros. 
      Se as pessoas precisam de nossa paciência, se nós mesmos necessitamos de tempo para digerirmos as coisas e fazermos as melhores escolhas, Deus também necessita de nossa paciência, não por alguma limitação dele, mas por limitações de outras variáveis do universo que ele pode estar esperando resolverem-se para nos responder. É a isso que o salmista se refere quando diz “esperei com paciência no Senhor e ele se inclinou para mim”. Você tem tido paciência com Deus ou fica exigindo que ele resolva as coisas imediatamente, quando você pede? Ter paciência é ato de amor verdadeiro.