sexta-feira, janeiro 21, 2022

Prazer e identidade

      “Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros.Salmos 119.24
      “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.João 13.15

      Na minha ótica, já disse várias vezes que o papel de drogas ilícitas, maconha e cocaína por exemplo, é oferecer um prazer que anule uma dor insuportável. Talvez eu veja as coisas assim porque sempre tive uma luta muito grande contra a dor da alma, que a princípio não conseguia anular com vida com Deus, nem com os pecados mais convencionais e menos danosos, digamos assim, sexo, bebidas alcoólicas e outros prazeres mais lícitos do mundo. É certo que enfrentei sérias consequências na vida conjugal e profissional por causa disso, mas nunca recorri à maconha, cocaína e tabagismo. 
      Deus usou efeitos vergonhosos de más escolhas que fiz a princípio para anular a dor. Falsos cristãos, mais interessados em condenar que em curar, não ajudaram, e concordo que corroborados em sua falta de amor pela meu distanciamento. Mas como alguém que sempre viveu submerso pode saber que está afogado? Exigiram de mim lucidez que eu não tinha, que só obtive à medida que me esforcei sozinho, colocando a cabeça para fora, entendendo minha situação e permitindo que a mão de Deus me levasse à terra firme. Lutas solitárias têm um benefício, nos ensinam a confiar só em Deus. 
      Mas voltemos ao assunto, ninguém começa a usar drogas porque é ruim, usa porque é bom, incentivar jovens a não usarem drogas argumentando que elas são ruins é mentiroso e ineficiente. A solução, para não recorrer a prazer ilícito, ou que depois se torna vício, sendo, então, consumido não para se ter prazer e anular dor inicial, mas para anular a dor da abstinência do que viciou, é curar a dor inicial, aquela que fomentou o primeiro uso de droga. Quem tem dor da alma bem administrada, ainda que prove drogas uma vez, não se viciará, e isso não é incentivo para se provar uma única vez drogas.
      Contudo, muitos jovens usam drogas não só pelo prazer que elas dão ajudando a viver com uma dor terrível de alma, usam pela identidade que ela confere, sim, drogado tem uma identidade, de descolado e de poderoso. O drogado não se sente menos por ser drogado, mas mais, não só pela sensação de capacitação que a droga oferece, mas por lhe entregar um estilo de vida, jeito de falar, de andar, de se portar, de ouvir música, ele se sente um super homem, enquanto os outros são vistos como trouxas, otários, caretas. Por isso o drogado não se esconde, mas exibe com orgulho sua identidade alterada.
      No passado jovens já se escondiam na identidade alterada de drogado, aqueles sem caráter fortalecido para enfrentarem as consequências de vícios, já que droga ocupa o tempo e usa a força que as pessoas deveriam usar para estudar e trabalhar. Nos últimos tempos, contudo, isso tem se tornado mais comum, hoje todo mundo quer ter uma identidade descolada, isso parece até mais importante que simplesmente usufruir do relaxamento e da euforia que as drogas injetam no corpo e na mente. Ninguém quer ser normal, querem aparentar-se no controle, assim, parecer drogado está na moda, é chique.
      Por que essa obsessão atual por querer se parecer o que não se é, de se ter vergonha de ser visto como alguém bom e manso, de achar que ser humilde e santo são sintomas de fraqueza? Hoje é bonito ser feio e é feio ser bonito, e me refiro à beleza moral interior, não à aparência do corpo. Enquanto o corpo parece vagar sem rumo, enquanto o olhar malicioso olha algo que ninguém mais vê, enquanto as palavras são codificadas por gírias, para deixar claro que se está acima da realidade, não se importando com o que os outros pensam, o espírito está em trevas, feio, intimidado, fugitivo, atormentado. 
      Precisamos ser justos, essa busca de identidade no caos, no sujo, no alienado, não representa todo mundo, tem o outro lado. Nesse lado estão os de poder aquisitivo um pouco mais alto, que zelam pela saúde física e mental, que buscam na ioga serenidade e auto-controle, mas penso que esses são até mais alienados e mimados que os pseudo-drogados, e se consideram sinceramente superiores. Onde fica o exemplo de Jesus homem nisso tudo? Esse exemplo parece antiquado e falso, desconstruído como foi por um catolicismo e um protestantismo hipócritas e materialistas. Cristo hoje parece feio.
      Prazer na palavra recebida diretamente do Santo Espírito e identidade baseada no exemplo de Jesus homem, isso protege de ilusões da carne e da falta de amor do mundo. Até hoje luto contra as satisfações artificiais e passageiras da matéria, entendi que pessoas com problemas extremos precisam, não como escolha, mas como obrigação, de soluções extremas. Se outros podem ser dar ao luxo de terem comunhão espiritual com Deus até um ponto, pessoas como eu, viciáveis e escapistas, não, a nós só resta ter intimidade profunda com o Senhor, mas nós temos um privilégio, unção singular de Deus. 

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