quarta-feira, janeiro 19, 2022

Criatura, filho, servo ou amigo?

       “E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.Gênesis 1.27

     “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.João 1.12-13

      “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.Romanos 6.20-22

      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” João 15.15

      Qual a nossa ligação com Deus? A teologia tradicional protestante trata todos como criaturas de Deus, mas filhos só os convertidos por Cristo, o catolicismo leva isso ainda mais a sério batizando bebês para que esses deixem o paganismo e sejam cristãos o mais rapidamente possível. O espiritismo e outras religiões são menos radicais, creem que todos são criaturas e são filhos de Deus, indiferente se servem ou se são amigos de Deus, com uma relação mais próxima das boas obras. 
      Os evangélicos gostam de usar o termo servo para diferenciar do simples filho, para eles o servo é um cristão mais consagrado que trabalha com mais esmero nos ministérios das igrejas evangélicas. Jesus disse que não chamaria seus seguidores de servos, ensinou que ainda que servos sejam obedientes a ele, não conhecem sua vontade com mais profundidade. Ele chamaria os homens de seus amigos, amizade essa que é possível não por qualquer religiosidade, mas pelo evangelho. 
      Numa relação de pai e filho existem coisas que não existem em relações de senhor e servo e de general e soldado. Por mais útil que possa ser comparar Deus a um senhor e os homens que trabalham para ele a servos, ou Deus a um general que lidera os homens que o obedecem como soldados numa guerra, a obediência de um filho a um pai envolve afeto. Não precisamos gostar, sermos mais próximos ou mesmo passar momentos de lazer com chefes, sejam empresariais ou militares.
      Nós servimos a patrões e capitães enquanto desempenhando uma tarefa, depois nos afastamos deles, mesmo que sirvamos com eficiência profissional eles podem nem nos conhecer intimamente ou terem características pessoais em comum conosco, eles só precisam de nossas habilidades e capacidades como funcionários e subalternos militares. Não é assim a relação de filho e pai, ela pode ter eficiência, mas nela existe uma parte afetiva forte assim como semelhanças mais profundas.
      A diferença é que um filho tem em sua estrutura os mesmos elementos que existem no pai, senão físicos, carne e sangue, semelhanças faciais e de outras partes do corpo, mas também e principalmente elementos emocionais, adquiridos por anos numa criação próxima, compartilhando o mesmo lar, a mesma casa, o mesmo estilo de vida, os mesmos sonhos e lutas. Um filho é um pedaço do pai, e repito, muito mais emocionalmente que fisicamente, é uma extensão dele, mesmo que negue isso.  
      “E ele negou outra vez com juramento: Não conheço tal homem. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.” (Mateus 26.72-74). Pedro tentou convencer os homens que não tinha ligação com o Cristo, mas seu jeito o denunciou, quem anda com Deus é marcado para sempre. 
      Somos tudo, criaturas que nascem inferiores e que tendem à superioridade, só Deus é incriado. Somos filhos, ligados a Deus pelo amor, isso não é frio e “científico”, mas encharcado de carinho e cumplicidade. Somos servos, o trabalho mais nobre do ser é servir, a Deus e aos outros seres, é assim sempre e também será na eternidade, quanto mais superior é o ser mais deve servir. Somos amigos, íntimos de um Deus que por mais alto que seja nos trata como semelhntes e nos revela seus mistérios. 

Esta reflexão faz uma pergunta,
se puder leia a próxima reflexão, 
onde concluiremos o assunto. 
José Osório de Souza, 16/07/2921

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