14/05/23

Qual teu sonho de vida?

      “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.II Pedro 3.13-14

      Se Deus te concedesse um pedido, como concedeu a Salomão (passagem bíblica no final deste texto), o que você pediria? Não sejamos hipócritas, nem insanos, todos nós queremos vidas materiais dignas para nós e nossas famílias, mas isso é resultado de temor a Deus e muito trabalho honesto, ninguém se engane. Contudo, será que nos satisfazemos com o suficiente, ou se tendo isso desejamos mais? Quem não está no espírito plenamente satisfeito em Deus, sempre terá a alma vazia, assim, sempre desejará mais prazeres e bens materiais para preencherem esse vazio, ainda que sejam prazeres e bens mais baratos. 
      Muitos nem querem ser milionários, mas terem o suficiente para usufruírem quando e quanto quiserem. Mas seja com filé mignon ou com asas de frango, ainda é solução material para problema espiritual, alma vazia não se satisfaz com comida, mas só com a água do Espírito Santo. A história de Salomão tem seu propósito, uma lição que ensina os seres humanos e sempre ensinará. Quem pede sabedoria terá inteligência para adquirir e administrar bens. Salomão foi sábio, não pediu o peixe, mas o ensinamento de como pescar, contudo, precisamos entender que mesmo ele quis usufruir neste mundo, não na eternidade. 
      Nosso mestre mais elevado sempre será Jesus, ele tinha sabedoria, mas para abrir mão dos valores materiais, então, amar os homens e obedecer a Deus em santidade. Se Salomão achou o segredo de saciar o efeito, Jesus ensinou como anular a causa, a causa é espiritual, só totalmente superada com ferramentas espirituais. Quem quer ter vida religiosa e fé para ter vida próspera neste mundo, pode acabar tentando encher sacola furada. Quando entenderemos o ensino de Pedro, no texto bíblico inicial? Nossa esperança está em aguardar novos céus e nova terra, não em tentarmos construir um mundo confortável.
      Isso não significa que não temos que tratar bem o planeta e crescer intelectualmente, melhorando a vida da humanidade com justiça e ciência para todos. A providência divina coloca espíritos eternos em corpos mortais neste mundo, para que o ser humano encontre as prioridades da existência e cresça moralmente. Cuidarmos bem do plano físico é deixarmos para filhos e descendentes, um lugar melhor para que esses cresçam espiritualmente. Imagina um mundo onde não precisássemos trabalhar tanto, não para sobrar tempo para prazeres físicos, mas para conhecermos mais a Deus e ajudarmos os mais fracos? 
      Isso é vivermos, não pensando no fim do mundo para termos eternidades melhores, mas na continuação da vida na Terra, para que outros também possam, com mais possibilidades até que nós, conhecerem mais a Deus e também viverem conosco bem na eternidade. O cristão precisa, sob alguns aspectos, pensar mais no mundo que no céu, não para usufruir prazeres materiais, mas para crescer espiritualmente. Esse crescimento, nossa decisão por Cristo, nossa prática de caridade com o próximo, nossa vitória contra vícios e obras da carne, a anexação do fruto do Espírito em nossos espíritos, isso tudo é feito aqui. 

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      “E em Gibeom apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos; e disse-lhe Deus: Pede o que queres que eu te dê.” “A teu servo, pois, dá um coração entendido para julgar a teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque quem poderia julgar a este teu tão grande povo? E esta palavra pareceu boa aos olhos do Senhor, de que Salomão pedisse isso. E disse-lhe Deus: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem pediste para ti riquezas, nem pediste a vida de teus inimigos; mas pediste para ti entendimento, para discernires o que é justo; eis que fiz segundo as tuas palavras; eis que te dei um coração tão sábio e entendido, que antes de ti igual não houve, e depois de ti igual não se levantará. E também até o que não pediste te dei, assim riquezas como glória; de modo que não haverá um igual entre os reis, por todos os teus dias.I Reis 3.5, 9-13

13/05/23

Conectados no Espírito temos paz

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.Tiago 4.4-6

      Ainda que vivendo uma vida, na maior parte do tempo, buscando agradar a Deus, nós pecamos, não necessariamente adulterando fisicamente, mas por outros pecados, que ainda que julguemos menores nos fazem perder a paz. O amigo de Deus solicita perdão instantes depois de ter errado, a Deus e se possível a homens, mas ainda que tenha reiniciado certo, com a obrigação de seguir praticando obras boas, se apossando do perdão de Deus pela fé e sabendo que Deus está em paz com ele, a paz que ele tem consigo mesmo pode não vir tão depressa. É assim que é e é assim que tem que ser, o ser humano maduro espiritualmente prosseguirá não cometendo o mesmo erro, indiferente se está ou não sentindo paz interior.
      Por que a paz interior pode demorar a vir? Podemos entender que somos e precisamos ser seres sensíveis, o normal é agirmos certo, não errado, assim se erramos nosso emocional se machuca. Mas será que é só isso, o “templo” do Espírito Santo se suja e sente-se mal com isso? Isso é só parte da verdade. Ainda que pela fé tenhamos o restabelecimento de nossa aliança com Deus, assim direito à paz, à sua proteção, a sermos ouvidos e atendidos pelo Deus Altíssimo, o Espírito Santo também se “ressente”, e precisamos entender isso do jeito certo, sem antropomorfizarmos Deus. É difícil explicarmos isso sem sairmos da doutrina cristã tradicional, ainda que não usando antropomorfismos que essa se acostumou usar. 
      Nesse caso usaremos a frase do texto bíblico inicial, o Espírito que em nós habita tem ciúmes, não entenda esse ciúmes como aquele que temos uns dos outros, sentimento de possessão egoísta, experimentado bastante em relações afetivas, isso de fato não existe em Deus. Mas existe o respeito, reconhecimento de graduações, posições e do protocolo moral necessários para que haja comunicação. A pessoa do Espírito Santo, e é importante que o vejamos assim, como uma pessoa, não como influência ou energia, nos respeita, assim como precisa de respeito para agir. Se não fosse assim, vida com Deus não seria busca de aperfeiçoamento moral, e o Santo Espírito é a presença santa de Deus que se conecta conosco. 
      A frase final do texto bíblico inicial esclarece, Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. O Espírito de Deus resiste ao soberbo, assim como se afasta temporariamente de templo que foi recentemente desrespeitado pelo próprio dono do templo, nosso coração por nós. Mas Deus dá graça aos humildes, assim, por mais sério que tenha sido nosso pecado e por mais sérios que forem os efeitos que teremos que enfrentar no mundo e com os homens por causa do pecado, se o Espírito Santo ver humildade em nós não resistirá, nos conectará novamente com Deus e sentiremos paz. Humildade, contudo, não é virtude natural, ainda que muitos a aparentem com facilidade e desde jovens, humildade interior se aprende no tempo. 
      Não podemos entrar na sala de nosso chefe, muito menos no gabinete de nosso pastor, de qualquer jeito, a qualquer hora. Com Deus não é muito diferente. Deus não se cansa, não se magoa, não se esquece, não se enfraquece no amor, na santidade, na justiça e no poder em nenhum momento, mas ele pede respeito, isso para que possamos aprender a dar valor para as coisas. Eis um mistério, o crente, santo e humilde, tem sempre acesso imediato a Deus, quem sabe perguntar sempre é respondido, quem sabe pedir, nada lhe é negado. Contudo, enquanto estamos aprendendo, Deus precisa calar às vezes sua voz e reter sua paz maior, para que nossos homens interiores sejam impressionados e aprendam a ser crentes, santos e humildes. 

12/05/23

A diferença está no coração

      “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.Salmos 139.23-24

      A diferença não está no intelecto, mas no coração. Tenho insistido muito aqui na necessidade, que o momento atual já nos permite ter, de reavaliarmos o cristianismo, católico e protestante, multiplicado em tantas igrejas evangélicas, pentecostais e outras. Isso é entendermos Bíblia como contendo a palavra de Deus, e não como sendo e ao pé da letra, respeitando contextos históricos, culturais, sociais e religiosos. Isso nos permite ver o antigo testamento como testemunhos de homens do passado sobre experiências com o verdadeiro Deus, muitas dessas experiências já mitificadas. Leva-nos também a retirar do novo testamento o principal da Bíblia, o exemplo de prática de vida de Jesus como homem, e sua posição espiritual eterna como porta para Deus e meio para sermos perdoados e termos paz com o Altíssimo.
      Como tantas vezes tenho repetido aqui, nosso mestre vivo e ensinador é o Espírito Santo, a Bíblia é só o início de uma experiência com Deus, ainda que muitos de seus textos possam nos consolar sempre. Quem estiver limpo e crente, querendo conhecer a Deus, e não a qualquer outro espírito, será fortalecido pelo Espírito Santo para que tenha vitória sobre o pecado e se aprimore, mas esse fortalecimento se dá à medida que conhecemos a verdade mais alta e os mistérios de Deus pelo Espírito Santo. O que temos instado aqui é que o cristão pode saber muito mais sobre o mundo espiritual que o que aprende em igrejas, delimitadas por doutrinas, rituais, liturgias e dogmas. Conhecimento de Deus é intelectual, mas é muito mais espiritual, não é só opção de curiosos que querem saber mais, mas alimento para todos que querem vitória moral.
      E quanto a tantos cristãos, que são maioria na humanidade atual, que se conformam com a doutrina tradicional das igrejas, serão surpreendidos na eternidade? Sim, serão. Mas isso fará diferença na qualidade da existência que terão como espíritos liberados de corpos físicos? Depende de seus corações. Muitos sabem pouco e seguirão assim até à morte, lá “acordarão” com esse nível de conhecimento, mas a surpresa os deixará muito felizes. Eles sempre tiveram corações humildes, que ainda que não achassem explicações para tudo no que igrejas lhes diziam, confiaram pela fé em Deus, amaram a todos sem preconceitos e julgamentos, buscaram vidas santas. Por Jesus bastar, mesmo para quem sabe menos, é que o cristianismo, ainda que limitado, tem existido por tanto tempo no mundo e sido usado por Deus para salvar o homem.
      Quanto a outros, ainda que saibam muito, terão surpresas tristes na eternidade. Foram arrogantes, acharam-se donos da verdade, quiseram usar a Deus para propósitos materialistas no mundo, não serem usados por Deus para se aprimorarem moralmente para a eternidade. Esses são preconceituosos, julgadores, limitadores do amor de Deus, dentro ou fora do cristianismo, com muito ou pouco conhecimento. Não conheceram o verdadeiro evangelho, e se conheceram, se desviaram dele assim que Jesus lhes mostrou os preços que tinham que pagar para seguirem esse evangelho. Não pense que esses estão no mundo, vivendo os prazeres da carne, não, são religiosos, reconhecidos em suas igrejas, exercem cargos e lideranças, conhecem a Bíblia de cabo a rabo, mas não param para ouvir a voz transformadora do Espírito Santo. 

11/05/23

Identidade se constrói

      “Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oraçãoRomanos 12.12

      Identidade se constrói com reputação que permanece no tempo. Somos aquilo que fazemos na maior parte do tempo, ainda que tenhamos feito muita coisa inadequada, temos até o final de nossas vidas para revertermos essa situação. Se temos uma reputação ruim, ainda podemos ter tempo de construirmos uma boa, basta que trabalhemos e persistamos em melhorarmos. Mas não devemos dar atenção àquilo que as pessoas pensam, muitas nos julgarão e nos condenarão por toda a vida por algo que fizemos lá no início, quando éramos jovens. Não importa, Deus é amigo paciente, é pai misericordioso, é mestre eterno, ele tem sempre a porta aberta para que construamos em nossos homens interiores identidades de qualidade moral. 
      Você se sente derrotado pois aos cinquenta anos vê que muitos projetos pessoais, na área profissional e talvez na área afetiva, desmoronaram? Que fez com que você desse as costas para grupos sociais, empresas, famílias e mesmo igrejas, para se reconstruir? Não desanime, Deus sempre prioriza o aqui e agora, considera a decisão que você toma no presente para, em primeiro lugar, te perdoar e te dar paz, e depois para permitir novas oportunidades profissionais e afetivas para que você possa construir uma identidade de ser humano do bem. Só seja responsável, não se vitimize, não jogue a culpa nos outros, administre as consequências ruins e duradouras de seus erros passados com amor e justiça, e siga em frente trabalhando. 
      Não podemos desistir, ainda que nossos corpos estejam fracos e nossas mentes cansadas, nosso espírito pode ser renovado no Espírito Santo. Não nos enganemos, algumas oportunidades não teremos de novo na vida, se perdidas, portas se fecharão de forma irrevogável, mas calma, em Deus mesmo isso tem propósito maior. Como sabemos se uma grande derrota não foi Deus quebrando nosso ego, libertando-nos de ilusões, abrindo nossos olhos para a vaidade humana, não só nossa como dos que nos colocaram a partir dessa derrota num lugar de derrotados irreversíveis? “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28). 
      Entretanto, tenham outros uma certeza, se insistimos em fazer algo para termos uma identidade que agrada a nós, aos homens, mesmo à nossa família e à nossa igreja, ainda que seja algo que a princípio até é bom, Deus respeitará isso. Deus chama muitos a vocações mais espirituais, mas esses, depois de sofrerem decepções, ao invés de buscarem a Deus e entenderem o que ele quer deles, abrem mão de espiritualidade, ainda que não de religião, e insistem em fazerem o que Deus não pediu deles. No final até terão boa reputação no mundo, construirão uma identidade de ser humano trabalhador, honesto e bom profissional, mas como ocorre com todo que se rebela contra Deus, com identidades arrogantes, rancorosas e solitárias. 

10/05/23

Somos seres humanos

      “Que é o homem, para que tu lhe dês tanta importância, para que dês a ele atenção, para que a cada manhã o visites, e que a cada momento o ponhas à prova?Jó 7.17-18

      Não somos eternos, ainda que a paixão maximize-nos, maior que nossos corações, elevando-nos às estrelas, ainda que a tristeza nos comprima, tornando-nos grãos de areia presos ao chão, em meio a incontáveis outros grãos, somos seres com início, meio e fim. Aceitar os tempos, viver cada um deles de maneira adequada, sem culpa e sem ansiedade, é o que nos permite viver o presente em paz, isso é o mais próximo que chegamos da eternidade aqui. O humilde acha equilíbrio entre estrelas e grãos de areia, não cobra do homem, mas o ama, não dá a si mais valor que possui, mas se guarda do mal como guarda um tesouro. 
      Não somos deuses, ainda que buscando, assumindo e compartilhando a nossa verdade, não a temos como um quarto fechado, mas como chave para infinitas salas. Pisarmos um degrau, firmarmo-nos nele, mas olharmos o próximo e prosseguindo, com responsabilidade sobre o que aprendemos, mas sem medo de mudarmos de opinião se isso for para sermos melhores. Uma verdade não é chão, é um degrau da escada, não deve ser esquecida, mas fortalecida, expandida, iluminada, fundamento para a próxima verdade. Só Deus é a verdade mais alta sobre tudo e sempre, nós somos seres humanos, aprendendo a aprender sempre.
      Não somos super-heróis. Não podemos tudo, não sabemos tudo, não somos maior que ninguém, não temos mais direito que ninguém, devemos ser servos, não patrões, ouvidos, não bocas. Ainda que no centro da vontade de Deus descubramos e possamos usar uma qualidade só nossa, que nos faz especial para sermos úteis no meio de pares, cada um de nós tem sua kriptonita, que pode levar-nos de super-homem a um fraco, rendido no chão, caso percamos o temor do Senhor. Se houve super-herói no mundo esse foi Jesus, que foi forte, mas não se impôs por isso, foi humano e ainda assim amou a todos e até à morte. 
      Não somos “santos”. Não “santos” como são os estereotipados pelo catolicismo, empoderados por superstições e invencionices, só para darem a homens um lugar para apoiarem espiritualidades infantis. “Santos”, anjos e fantasmas podem ser usados de maneira semelhante, mesmo que cada um se diga enviado por divindade distinta. Ainda que muitos “santos” tenham sido cristãos separados, têm suas missões manipuladas, não receberam honra em vida, mas são usados por maus religiosos para terem após a morte a utilidade que a religião desses não tem. Santo, só Jesus, que convida a todos para serem santificados nele.  
      Não somos eternos neste mundo, não somos deuses do outro mundo, não temos que ser super-heróis para sermos felizes, muito menos sermos vistos pelos outros como “santos” para agradarmos a Deus. Nossa espiritualidade mais alta só pode iniciar-se numa posição, a de seres humanos sem medo de serem só isso, sem auto-exigências, sem nos importarmos com cobranças externas, sem mentiras, nem certezas. A única certeza que precisamos é que Deus existe e nos atrai pelo seu amor à sua luz mais alta de santidade. O resto Deus até usa, religião, dinheiro, dores, mas só como meios para nos tornarmos seres humanos melhores. 

09/05/23

A matéria cobra seu preço

      “O que semear a perversidade segará males; e com a vara da sua própria indignação será extinto.Provérbios 22.8

      Nossos corpos e o planeta, feitos de matéria perecível, ambos podem cobrar caro pela má administração que fizermos deles. A chuva cai na terra, as pequenas gotas solitárias que viajaram pelo céu, transformam-se em enxurrada, que move-se das regiões mais altas para as mais baixas. Assim, rios se formaram nos vales, e por causa da abundância de água, civilizações se desenvolveram em suas margens. A água pode ser usada, mas a terra deve ser respeitada, assim, não faça-se habitações em encostas dos morros, nem arranquem árvores dessas áreas. Sem vida vegetal como obstáculos naturais, encostas tornam-se caminhos livres para a água da chuva se mover até as regiões mais baixas, e dependendo do caso, com violência. 
      O planeta pode ser usado, mas respeitando-se os caminhos que a natureza criou, na maioria das vezes por milhões de anos, se invadirmos esses caminhos sofreremos as consequências. Isso é o que têm ocorrido com as enchentes causadas pelas chuvas no Brasil, na Bahia, em Minas Gerais, mas principalmente no Rio de Janeiro, em regiões mais urbanas. O descaso da administração pública e de políticos, que não orientaram para que certas áreas não fossem habitadas, nem deram condições para que se pudesse habitar áreas melhores, tem causado muitas mortes. A culpa não é do planeta, da natureza, da chuva, nem dos rios, é só do homem. A natureza nunca erra, mas busca outro meios, caso seus meios naturais estejam impedidos. 
      No plano material nossos corpos são parte da natureza, do pó para o pó (Gênesis 3.19), possuem regras que se infringidas trazem sérios problemas. Nos adaptamos, isso é certo, fígado, pulmões, estômago, coração, rins, membros, cabeça, se forçados tentam sobreviver ainda assim, mas isso não é para sempre. Se mesmo fazendo tudo certo com nossos corpos, morremos, quanto mais se os violarmos de algum jeito, dor, enfermidade, interrupção do funcionamento de algum órgão virão e padeceremos, com tempos de vida abreviados. Quem passou a existência jogando dentro do corpo todo tipo de bebida, de comida, de fumaça, não pode achar que terá qualidade de vida até o fim. A matéria cobra seu preço neste mundo e de todos.
      Graças a Deus que não somos só matéria, somos espírito, esse pode ser perdoado e consolado, ele habitará a eternidade, não nossos frágeis corpos. Deus faz chover sobre nós as águas do Santo Espírito, se acharem corações humildes e crentes as águas nos alimentarão na medida certa, contudo, se nossos corações estiverem endurecidos e nossas mentes cauterizaras, o mesmo Espírito que traz palavra de vida trará palavra de juízo. Como o planeta paga se a natureza é ultrajada, assim somos nós, pagaremos na eternidade se não administrarmos no mundo virtudes morais. Contudo, ainda que nossa vocação seja a eternidade, cuidemos bem do planeta, nossos filhos precisarão dele para se aperfeiçoarem espiritualmente. 

08/05/23

Viver deixa marcas

      “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados“ Mateus 5.4

      Viver deixa marcas, no corpo e na alma, mas que sejam as marcas, medalhas, condecorações, não feridas abertas ainda não tratadas sofridas por atos violentos. Hoje, mais que nunca, principalmente para aparecer em imagens em redes sociais, as pessoas usam filtros que deixam a pele do rosto perfeita, sem rugas ou sinais de expressão. Maquiagem é algo bem antigo, assim como cremes e outros recursos para se manter a pele jovem. Depois surgiu a toxina botulínica (botox), que aplicada em pequenas doses, bloqueia a liberação de acetilcolina (neurotransmissor responsável por levar as mensagens elétricas do cérebro aos músculos) e, como resultado, o músculo não recebe a mensagem para contrair. O efeito é o procurado pelo ser humano desde sempre, aparente rejuvenescimento, pelo menos na pele do rosto.
      O fato hoje é que ninguém quer envelhecer, e se isso fosse só um propósito relacionado à estética externa, que pode levar as pessoas a objetivos saudáveis, como melhor alimentação e exercícios físicos, nada teria de errado, se feito com equilíbrio, não como obsessão ou vício. Mas o problema está nas pessoas não quererem envelhecer e não assumirem responsabilidades sociais, principalmente com casamento e filhos. Não estou dizendo que o destino de todo ser humano seja casamento e filhos, não é isso, mas para muitos de nós casamento e filhos assumidos com consciência e amor são ferramentas do universo para nos fazer seres humanos melhores, mais maduros. Podemos fazer uma outra avaliação sobre a negação do envelhecimento e das marcas que isso deixa no corpo, a negação de nossa principal missão neste mundo. 
      O que nos marca profundamente, não só nossos corpos, mas nosso emocional e nossa mente, é o arrependimento que conduz a mudanças para melhor. Não basta chorarmos porque alguém nos magoou, ou porque não temos tudo que queremos, crianças choram por motivos assim e não amadurecem. O choro tem que ser efeito de um autoconhecimento sincero, que reconhece um erro e deseja, do fundo do coração, não mais cometê-lo. Por quê? Para não se machucar, sim, mas principalmente para não machucar os outros. Amadurecer é entender que não somos o centro do mundo, que precisamos dos outros, os outros de nós e que carências devem ser compartilhadas com respeito e amor. Entender isso dói, é essa dor que deixa marcas em nós, marcas que devemos nos orgulhar em ter, são sinais de nosso aperfeiçoamento moral. 
      “Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus” (Gálatas 6.17), longe de mim me sentir digno desse texto de Paulo, para ter as marcas de Jesus é preciso cumprir a missão de Jesus. Eu sei que minhas marcas são, em grande parte, efeitos de libertações que tive do meu egoísmo e da minha vaidade, se salvei alguém foi a mim mesmo. Mas a bem-aventurança no início deste texto nos deixa mais à vontade para usá-la, se é que choramos para agradarmos mais a Deus, não reagirmos às injustiças humanas e resistirmos aos apetites do corpo físico. O choro que põe medalhas em nossos rostos traz no final alegria, efeito maior de estarmos obedecendo a Deus, medalhas que são na verdade só pequenas distinções. A honra maior receberemos na eternidade, lá entenderemos que as marcas valeram a pena.