segunda-feira, maio 08, 2023

Viver deixa marcas

      “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados“ Mateus 5.4

      Viver deixa marcas, no corpo e na alma, mas que sejam as marcas, medalhas, condecorações, não feridas abertas ainda não tratadas sofridas por atos violentos. Hoje, mais que nunca, principalmente para aparecer em imagens em redes sociais, as pessoas usam filtros que deixam a pele do rosto perfeita, sem rugas ou sinais de expressão. Maquiagem é algo bem antigo, assim como cremes e outros recursos para se manter a pele jovem. Depois surgiu a toxina botulínica (botox), que aplicada em pequenas doses, bloqueia a liberação de acetilcolina (neurotransmissor responsável por levar as mensagens elétricas do cérebro aos músculos) e, como resultado, o músculo não recebe a mensagem para contrair. O efeito é o procurado pelo ser humano desde sempre, aparente rejuvenescimento, pelo menos na pele do rosto.
      O fato hoje é que ninguém quer envelhecer, e se isso fosse só um propósito relacionado à estética externa, que pode levar as pessoas a objetivos saudáveis, como melhor alimentação e exercícios físicos, nada teria de errado, se feito com equilíbrio, não como obsessão ou vício. Mas o problema está nas pessoas não quererem envelhecer e não assumirem responsabilidades sociais, principalmente com casamento e filhos. Não estou dizendo que o destino de todo ser humano seja casamento e filhos, não é isso, mas para muitos de nós casamento e filhos assumidos com consciência e amor são ferramentas do universo para nos fazer seres humanos melhores, mais maduros. Podemos fazer uma outra avaliação sobre a negação do envelhecimento e das marcas que isso deixa no corpo, a negação de nossa principal missão neste mundo. 
      O que nos marca profundamente, não só nossos corpos, mas nosso emocional e nossa mente, é o arrependimento que conduz a mudanças para melhor. Não basta chorarmos porque alguém nos magoou, ou porque não temos tudo que queremos, crianças choram por motivos assim e não amadurecem. O choro tem que ser efeito de um autoconhecimento sincero, que reconhece um erro e deseja, do fundo do coração, não mais cometê-lo. Por quê? Para não se machucar, sim, mas principalmente para não machucar os outros. Amadurecer é entender que não somos o centro do mundo, que precisamos dos outros, os outros de nós e que carências devem ser compartilhadas com respeito e amor. Entender isso dói, é essa dor que deixa marcas em nós, marcas que devemos nos orgulhar em ter, são sinais de nosso aperfeiçoamento moral. 
      “Desde agora ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus” (Gálatas 6.17), longe de mim me sentir digno desse texto de Paulo, para ter as marcas de Jesus é preciso cumprir a missão de Jesus. Eu sei que minhas marcas são, em grande parte, efeitos de libertações que tive do meu egoísmo e da minha vaidade, se salvei alguém foi a mim mesmo. Mas a bem-aventurança no início deste texto nos deixa mais à vontade para usá-la, se é que choramos para agradarmos mais a Deus, não reagirmos às injustiças humanas e resistirmos aos apetites do corpo físico. O choro que põe medalhas em nossos rostos traz no final alegria, efeito maior de estarmos obedecendo a Deus, medalhas que são na verdade só pequenas distinções. A honra maior receberemos na eternidade, lá entenderemos que as marcas valeram a pena. 

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