Que não morramos de tristeza

      “Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.” João 6.68

      Tristeza, não é horizonte, é chão, depois que a revolta passa, que a dor pulsa, que mesmo ódio e vingança perdem forças, desce a tristeza, da mente para o coração, das racionalizações que não acham solução para o sentimento. Tristeza é o sentimento mais puro, depois do amor, mais leve, depois da paz, mais poderoso, depois da esperança. Tristes, não nos achamos no direito de nada, nem de desgostar, nem de nos irar, não temos mais forças para reagir, nos perdemos dentro de nós mesmos porque lá está vazio. Mas a tristeza mais profunda está a um passo de duas coisas extremas, a morte e a vida, não há mais tempo ou vontade para nada mais. Que não morramos de tristeza, mas que nela achemos a vida que há em Deus. 

      Prostrados não temos mais energias para fugir, para pecar, para nos iludirmos, só nos resta olhar. Se olharmos para baixo contemplaremos a morte, mas se com um pedacinho de fé, do tamanho de um grão de mostarda, olharmos para cima, veremos o céu se abrir e a luz do Altíssimo emanar-se sobre nós. Na tristeza achamos a humildade mais pura, ela desmascara o ego e entrega-nos a mais densa das solidões. Os que não quiserem se achar na humildade, visto que essa entrega para os homens nossos lados mais frágeis, não olharão para o alto, tentarão resolver a tristeza sozinhos, e depois da tristeza, se não há morte e vida, há a loucura de negar a verdade. Olhemos para o Altíssimo é escolhamos viver, afinal para quem podemos ir?

Façamos para merecermos

      “Certamente que os homens de classe baixa são vaidade, e os homens de ordem elevada são mentira; pesados em balanças, eles juntos são mais leves do que a vaidade. Não confieis na opressão, nem vos ensoberbeçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração. Deus falou uma vez; duas vezes ouvi isto: que o poder pertence a Deus. A ti também, Senhor, pertence a misericórdia; pois retribuirás a cada um segundo a sua obra.” Salmos 62.9-12

      Nesta vida temos o que merecemos pelo que fizemos e o que precisamos para fazer mais. Quando tivermos feito tudo que Deus pede de nós ou usado todas as oportunidades para isso, partimos. Alguns partem porque cumpriram suas missões, outros porque se continuarem aqui, além de não cumprirem suas missões, pagando dívidas antigas, aumentarão mais suas dívidas. Deus sempre age com amor e posterga a justiça para que ninguém seja condenado, mas tenha novas oportunidades para ser salvo. Entender isso pode até ser fácil, difícil é não usar como isso funciona em nossas vidas como referência para a vida dos outros. A quantidade e a qualidade das dívidas assim como os preços para pagá-los variam de ser para ser. 

      Quem faz não condene quem não faz, achando-se superior, quem não faz não menospreze quem faz, por considerar-se inferior, mas cada um aproveite até seu último instante neste mundo para conhecer e fazer a vontade de Deus para sua vida e esteja em paz. Muitos, fazendo certo, pagam dívidas antigas, mas fazem novas que não assumem, quando não amam aquele que a seus olhos parece fazer menos que eles. Muitos, por não poderem fazer mais e apesar de não serem cobrados por Deus por isso, cobram de si mesmos dívidas que não existem, e fazem novas dívidas por não confiarem em Deus e obedecerem o que ele pede deles. Estejamos até o fim confiantes, humildes e amorosos com o que recebemos de Deus para fazer.

Mais forte que eu?

      “Não me leve a corrente das águas, e não me absorva ao profundo, nem o poço cerre a sua boca sobre mim. Ouve-me, Senhor, pois boa é a tua misericórdia. Olha para mim segundo a tua muitíssima piedade. E não escondas o teu rosto do teu servo, porque estou angustiado; ouve-me depressa.” Salmos 69.15-17 

      Penso que todos já passaram por situações nas quais sentiram que fizeram algo, tanto bom quanto ruim, porque um impulso mais forte que eles os moveu. Não vou ser hipócrita nem ingênuo, dizendo que ter uma amizade genuína com o Senhor e adequada vigilância moral nos livra de nossos “demônios” internos, esses podem ficar um bom tempo “adormecidos”, mas um dia podem acordar. Surpresas demoníacas é o universo jogando em nossas caras que somos limitados, frágeis e imperfeitos, sempre dependentes da misericórdia de Deus. Não devemos nos acostumar com “demônios” pessoais, mas também não precisamos nos torturar além da conta com eles, humildade e paz com Deus pelo seu perdão cura muitas coisas. 

      Algo a se aprender sobre fortes impulsos é que os possuem os fortes, ainda que para fazer coisas erradas. Dizer que pecamos porque fomos fracos não é correto, o fraco de verdade nada faz, não age nem reage, está em tristeza profunda. Se estamos fortes o suficiente para errar, a questão então não é ser forte, mas usar a força de um jeito melhor, para coisas certas. A solução é estar ocupado com o bem, para que a força não esteja livre para ser usada pelo mal. Que o Espírito Santo nos use, não os “demônios”, e impulsos descontrolados para o mal são quase possessão demoníaca. A verdade é que precisamos reeducar sentimentos e pensamentos, para que nossas atitudes sejam iniciativas santas e amorosas.

“Derramarei do meu Espírito”

      “Porque derramarei água sobre o sedento, e rios sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes.” Isaías 44.3

      Até que ponto entendemos o que a Bíblia quer dizer com “derramarei o meu Espírito”? A palavra acima não é para o tempo presente de Isaías, é para o futuro, cremos que se cumpriu só depois que Jesus veio, morreu, ressuscitou, subiu ao céu e o Espírito Santo iniciou seu novo ministério em Jerusalém na festa de Pentecostes. Antes Deus se comunicava com os homens pelo seu Espírito? Sim. Havia homens cheios do Espírito nos tempos do antigo testamento? Sim. Mas após Jesus realizar sua obra algo novo começou. Será que entendemos e experimentamos essa novidade? Os primeiros cristãos talvez até provassem, mas rapidamente a Igreja Católica surgiu e freou o ministério do Espírito, o protestantismo não mudou isso. 

      Experimentar o derramar do Espírito Santo é provar um novo estado de consciência que abre olhos e ouvidos espirituais para a manifestação do Espírito. Dons são recebidos e podemos suportar as provas deste mundo assim como nos preparar para o outro mundo com iluminação divina. Muitos até creem em Deus e aceitam o evangelho, mas só intelectualmente, no máximo provam o êxtase emocional que as primeiras experiências com o Espírito Santo provocam. Mas ainda no século XXI, pelo menos no meio cristão, poucos provam com profundidade o conhecimento e a vocação que o derramar do Espírito de Deus entrega. Aproxima-se o tempo em que isso vai mudar, de outro jeito não poderemos evoluir como humanidade. 

Ouça a sabedoria

      “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” “A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz.” “Atentai para a minha repreensão; pois eis que vos derramarei abundantemente do meu espírito e vos farei saber as minhas palavras.” Provérbios 1.7, 20, 23

      Quem fala em primeira pessoa no livro de Provérbios não é Salomão, é a própria sabedoria, definida pelo filho de Davi como temor a Deus. Quem orienta-nos a atentar-nos à sua repreensão é a sabedoria, a mesma que diz que retribui quem se atenta a ela em seu espírito e em suas palavras de conhecimento. Eu creio que Salomão fala pelo Espírito Santo, que ter sabedoria é ouvir e obedecer ao Espírito Santo, e que esse Espírito repreende-nos para preparar-nos para receber algo nobre e muito importante, o conhecimento das verdades espirituais de Deus e do universo. Infelizmente muitos cristãos trocaram a voz direta do Espírito Santo por dogmas e doutrinas de suas religiões, deixarando de ouvir a sabedoria.

      Apesar de toda avaliação que constantemente faço aqui das religiões cristãs, de novo repito: Deus usa essas religiões e todos que creem em Deus com pureza de coração, ainda que sob as doutrinas e dogmas dessas regiões, ele ouve, responde e cuida. Mas meus queridos irmãos, evangélicos e católicos, Deus tem muito mais para nós que aquilo que construtores e líderes humanos do cristianismo no mundo dizem que ele tem. Quem busca acha, quem acha é preparado, no preparo vai tempo e privações, mas depois lhe é derramado abundantemente do Espírito de Deus e pode saber as palavras de sabedoria que Deus reserva aos que de fato o querem, não só religiões. Assim creio e tenho provado dia a dia em minha vida. 

Evolução moral, não científica

      “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.” Filipenses 4.8

      Um dos maiores enganos que o ser humano comete, não só os materialistas e ateus, mas mesmo muitos cristãos e outros religiosos, é achar que evolução humana se avalia pela evolução científica. O corpo é o carro, o motorista é o espírito, ciência aperfeiçoa o carro, mas o que aperfeiçoa o espírito é a qualidade moral, esse dirige mesmo um carro antigo e simples. A evolução científica não beneficia ou restringe a evolução moral, mas a evolução moral libera a evolução científica, contanto que se entenda um ponto importante, evolução moral não é necessariamente obtida por religiões institucionais bem montadas e consolidadas no mundo. Evolução moral só se obtém com comunhão com o Deus verdadeiro.  

      Aquele que além de respeitar a relevância da ciência na área material, também quer adorá-la como um deus, até tenta receber paz e cura emocional pelos meios científicos. De fato a ciência pode nos ajudar muito, não só com a medicina, mas também com a psicologia e a psiquiatria, mas essas só vão até um ponto, depois, só Deus. A clareza e a limpeza moral ensinada no texto bíblico inicial só alcançamos com o vivo Espírito de Deus interagindo conosco, que nos trata e nos alimenta. O que é o Deus verdadeiro que tanto cito aqui? Na verdade não é o que é, mas como se chega nele, se houver sinceridade do bem, humildade e fé, chega-se a Deus de muitas maneiras, ainda que Cristo seja o caminho mais reto. 

Que mais diremos da fé?

      “E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas, os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos.” Hebreus 11.32-34

      O capítulo onze de Hebreus é conhecido como “galeria dos heróis da fé”, era importante que essa apologia da fé fosse feita pelo autor da carta (que muitos acreditam ser Paulo) aos israelitas do primeiro século, que precisavam entender a relevância da fé na comunhão com Deus. Assim o autor diz que mesmo dentro da velha aliança, onde obras têm prioridade, obedecer a leis mosaicas e seguir protocolos de sacrifícios no templo, muitos foram vitoriosos pela fé, não por obras. Aliás para entendermos corretamente o novo testamento, precisamos aceitar que a maioria dos textos, principalmente as epístolas paulinas, é focada nisso, convencer judeus, nãos gentios, sobre a superioridade da nova religiosidade do Cristo. 

      Por que fé é tão importante? Porque aprouve a Deus colocar um véu nas coisas espirituais para o ponto de vista daqueles que estão no plano material. Existência e ação de Deus e de espíritos, seja o Santo, os anjos ou o diabo e os demônios, não podem ser provadas pela ciência material, pelo menos não hoje, assim o acesso deve ser por fé. Isso não é restrição, é providência com propósito, criar dentro de nós mecanismos espirituais que não podem ser criados de outra forma. Eu creio que um dia a chamada ciência do mundo conseguirá provar a existência das coisas espirituais, mas isso só ocorrerá quando isso não for mais obstáculo para o homem se aproximar de Deus, quando a humanidade estiver evoluída moralmente.