31/10/21

O militante que Deus pode usar (31/31)

      “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.
  Filipenses 1.21-24

      Não quero me proteger de você, eu quero te proteger de mim
      Se muitos militantes pensassem dessa maneira seriam mais eficazes em suas lutas. Esse raciocínio demonstra humildade e autoconhecimento, essas são as referências básicas para que alguém possa sugerir soluções para os problemas dos outros, ter achado e praticado soluções para seus próprios problemas. Contudo, muitos atualmente, por levantarem bandeiras coletivas, por minorias que foram historicamente oprimidas, acham que não precisam olhar para si, basta-lhes indicar, com o dedo na cara, o problema que o outro causa, para que a solução de outros aconteça.
      Não confundamos passividade com paz
      Estar em paz não é ser passivo, paz não é distância do problema, mas resolução dele, para resolver tem que se aproximar, conhecer de perto a questão, sentir na pele uma dor, e isso pode ser feito mesmo por brancos que lutam contra preconceito contra negros. Isso não é apropriação ideológica, como podem até dizer oprimidos orgulhosos, é compaixão, que pode ser experimentada por quem ama e quer ajudar, ainda que por alguém com um problema que originalmente não o atinja diretamente. Paz pode ser conseguida só com luta, mas lutar civilizadamente não violentando.
      O mal está em mim e esse mal compete a mim resolver
      O mal do outro pode ser impedido de se manifestar como violência a outros, pode e deve, mas acabar de vez com o mal é só através de uma escolha de vontade do que retém o mal. A solução não é destruir o que carrega um mal, mas o mal, é assim que uma sociedade civilizada funciona, quanto ao que carrega o mal, esse precisa ser reabilitado com amor. Ensina com amor quem se coloca no lugar do ensinado, não acima, com prepotência e se achando no direito de usar o papel de “mestre” para oprimir só porque se é vítima. Oprimido que oprime também é opressor.  
      O coletivo não pode ser maior que o indivíduo
      Isso não significa que uma bandeira coletiva não deva ser levantada por um indivíduo com problemas, principalmente se seu maior problema for o preconceito contra o qual a bandeira milita. Mas o indivíduo não deve se esconder atrás de uma bandeira, ter identidade nela e não ter identidade como indivíduo, se for assim o indivíduo pode resumir-se a uma dor, e não a um conjunto de escolhas virtuosas. Se colocar como alguém que sofre e que só faz isso, é celebrar mais a opressão que a libertação dela, é gloriar-se de ser oprimido, não de ter vencido a opressão do jeito correto. 
      Seja inútil e será útil para Deus
      O evangelho vê tudo de maneira diferente, ele prepara o homem para o plano espiritual, não só para o físico. No mundo pode prevalecer o mais forte, o que fala mais alto, o que tem mais dinheiro, ou então, vendo pela nova ordem, o que tem a causa mais legítima para militar, o que possui a ideologia mais abrangente, que contempla principalmente as minorias, e não só as maiorias tradicionais. Contudo, tem gente que se acha útil demais, importante demais, é preciso se ver inútil, ainda que com todas as capacidades e direitos, para ser útil de fato, não só para o mundo, mas para Deus. 
      Quero militar por você enquanto você milita por mim. 
      O apóstolo-teólogo Paulo tinha esse entendimento, servir a Deus e aos outros, não a si mesmo, por isso não dava a esta vida e a este mundo mais valor que têm, mas também não desejava a morte antes do tempo, ainda que certo do céu. Paulo amava e quem ama quer ser útil para os outros, se todos vivêssemos assim ninguém teria falta, eu não perderia por lutar por você pois você lutaria por mim e não perderia nada por isso. Mas que importa se os outros nos valorizam? Numa visão mais alta da existência, importa é obedecermos a Deus e esperarmos só dele recompensas. 
      Não militar também é uma militância, a pior delas. 
      Não existe posição em cima do muro, um local privilegiado onde se pode espiar tudo e não se comprometer. Quem tenta se isentar apoia quem está errado e deixa de apoiar quem está certo, não anula o voto, vota duas vezes. Isso pode parecer interessante ao tímido, mas é visto como conveniente por ambos os lados. Nossa eternidade será definida por um posicionamento nosso por Deus, andando com Deus um dia teremos que nos posicionar diante de homens. Jesus andou com sabedoria, não provocou ninguém, só amou, mas quando chegou o momento deu a vida pela maior das causas, nossa salvação.

Está é a 31ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

30/10/21

Jesus: salvador e mártir (30/31)

      “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.” 
Isaías 53.4-6

      Cuidado, não crie falsos mártires, isso transforma líder corrupto em santo, também não acredite em falsos salvadores da pátria, isso empodera líder desonesto só por ter uma bandeira honesta na mão. Jesus é o exemplo genuíno de mártir e salvador. Ele defendia uma causa justa, o amor de Deus pelos homens e o amor desses por seus semelhantes, ele vivia o que pregava, sua maior ferramenta de convencimento era sua prática de vida. Ele não fazia propaganda de suas boas obras, não buscava aprovação de homens, não se expunha irresponsavelmente, não usou a perseguição que sofria como marketing para conferir legitimidade à sua missão. Se suas palavras e seu exemplo de vida não tivessem poder genuíno, ele só seria lembrado como um judeu do século um crucificado pelas autoridades por ter ensinado heresias. 
      A obra do Cristo tem o aval do tempo porque ele teve uma vida correta e lutou com amor o tempo todo, mesmo pelos que não entenderam bem seu amor, ainda que andassem com ele e fossem seus amigos, e pelos que desprezaram seu amor, ainda que tenham experimentado milagres dele na própria carne, e mesmo pelos que o odiaram e o perseguiram, ainda que nunca tenham sido agredidos por ele. Aos que bateram em uma de suas faces, ele ofereceu a outra para ser agredida, e ainda que tivesse aprovação de Deus não usou a autoridade de Deus para punir os que o perseguiam. Carregou sua cruz até o fim com humildade e serenidade, ainda que sozinho e agoniado, porque Jesus também temeu, mas não pecou, sentiu em seu corpo dor terrível, mas não negou sua missão, ele não foi um falso mártir, nem um falso salvador.  
      Tantos militam por causas, e por não terem aprovação de Deus em suas lutas tentam usar subterfúgios para lançarem holofotes em suas militâncias, poucos não sucumbem à tentação de se fazerem de vítimas, de mártires, para convencerem as massas que o problema está nos outros, enquanto que eles só tem a solução melhor. Outros não se importam de serem estúpidos por acharem que suas causas falam por si mesmas, que se são certas eles não têm obrigação de as conduzirem com qualquer delicadeza, não entendem que as únicas causas que sobrevivem ao tempo são aquelas que mudam as pessoas, e que eles devem ser os primeiros a darem o exemplo de mudança. Quem não muda a si mesmo não pode mudar os outros, temos que ser os primeiros a dar testemunho daquilo em que dizemos crer e pelo que lutamos. 
      Como massas políticas, as pessoas têm memória curta, facilmente se esquecem do mal que alguém fez se esse sofrer mal semelhante, da mesma maneira relevam meios errados, se acham que as causas iniciais foram certas. Falsos mártires podem ser exaltados, assim como estúpidos salvadores da pátria podem ser mantidos, porque as pessoas não querem mudar de opinião e assumirem que apoiam pessoas que no momento estão erradas. Loucos, contudo, são tanto os que tornam homens maus em mártires, quando esses na verdade só sofrem as consequências de seus atos e não por serem vítimas, quanto os que apoiam estúpidos que ainda que lutem nos discursos por causas corretas, na ação são insensatos. Contudo, é melhor quem errou se arrepender e mudar, que quem começou certo seguir fazendo do jeito errado. 
      As pessoas querem ser mártires, mas sobreviverem para usufruírem dos direitos de serem mártires, entendem tudo errado, mártir de verdade não sobrevive e morre injustamente, o que vive é a bandeira verdadeira defendida por pessoas que praticam o que acreditam e pelo qual dão a própria vida. As pessoas querem ser salvadoras da pátria, mas não querem salvar a si mesmas, assim militam sem amor, se defendem o tempo todo, mas não lutam pelos outros, não se colocam no lugar dos que sofrem, não entendem que os verdadeiros salvadores dão a própria vida pelos outros. Olhem para Jesus, falsos mártires e pseudos salvadores, não queiram ser ele, nem falar em seu nome, esses direitos não lhes foram outorgados, vocês não são deuses, mas homens, tenham alguma humildade, talvez assim suas militâncias resistam ao tempo. 
      “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido. E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca.” (Isaías 53.7-9). A frase, que mais chama a atenção nesse texto de Isaías, com exatidão profética cirúrgica sobre Jesus, é “não abriu a sua boca”. Um mártir e salvador de verdade tem essa virtude, não milita por discursos, em sua boca não há engano, mas pela prática de uma vida que se sacrifica pelo outro, cala, mas sofre e ama, até o fim.

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José Osório de Souza, março de 2021

29/10/21

Saulo e Paulo, diferentes militâncias (29/31)

     “Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.
II Timóteo 4.9-16

      Paulo sempre foi um militante. Lendo as primeiras menções bíblicas sobre ele, ainda citando-o com o nome de Saulo, podemos achar que ele era só um vilão, perseguidor de cristãos, ligado ao violento assassinato de Estêvão que pregava o evangelho. Mas será que Saulo se via assim, como um opressor? Penso que não, ele se achava um militante, e por uma causa justa, ele era só um enviado de autoridades judias e romanas, que zelava pela religião oficial e pela ordem do império. Alguém que é mais que um funcionário recebendo ordens, que defende algo em que acredita como sendo o melhor para a sociedade, que faz isso mesmo que não seja só por retorno financeiro, não se vê como vilão, mas como justiceiro, ainda que usando de violência. 
      Militantes, revolucionários, políticos, pelo menos a princípio, são pessoas que acreditam em algo e querem levar isso a outros. Um cristão é um militante, e mais que os adeptos de outras religiões, ele não só vivencia uma experiência de mudança de vida, como também quer compartilhar isso com os outros. Isso é feito adequadamente? Nem sempre em se tratando de um cristão, que se diz ligado a uma religião baseada no amor de Deus aos homens por Jesus, onde o compartilhamento dessa experiência deveria ser também através do amor, não por qualquer espécie de imposição ou violência. Infelizmente o cristianismo foi corrompido desde o início, não nos iludamos sobre isso, homens reconheceram o poder dele, e por isso quiseram usá-lo para manipular outros homens. 
      O poder do cristianismo é o Cristo, não as poderosas instituições que foram construídas sobre e não pelo Cristo, que de tão pesadas e pomposas acabaram deixando o humilde e simples Cristo esquecido e distante. É exatamente isso que sentimos quando assistimos certos ritos cristãos, que até falam da verdade, mas que é situada tão longe que faz com que as pessoas respeitem por medo, não por interagirem intimamente com ela. Assim era a religião judaica que Saulo defendia, e por ser instituição de homens, muito distante de Deus, não teve a sensibilidade espiritual para ver e aceitar que o que Estêvão e outros defendiam e pelo que morriam, era o verdadeiro e prometido Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
      Talvez seja difícil acreditar, mas mesmo nas perseguições em que Paulo era protagonista, havia sinceridade, mal direcionada, mal usada, mas havia e Deus viu essa sinceridade. O militante errado sempre cai do cavalo, sua causa é enganosa, não se sustenta, um dia ele perceberá que sua militância só o está conduzindo para o lado errado, não esta beneficiando ninguém, só está exercendo injustiça, justamente o oposto daquilo que ele queria fazer no início de sua empreitada. O homem é cego, mesmo com as melhores intenções poderá cometer erros absurdos, se não tiver um coração quebrantado na presença de Deus. Foi justamente isso que transformou o Saulo, perseguidor de Jesus, em Paulo, pregador do evangelho, caiu do cavalo sem poder ver.
      Paulo se converteu por volta do ano 34 d.C., pouco tempo após a morte de Jesus, com aproximadamente vinte e nove anos de idade, sua morte pode ter ocorrido por volta do no 67 d.C, dessa forma trabalhou pelo evangelho por mais ou menos trinta e três anos. Foram três viagens missionárias até sua segunda prisão em Roma, onde acredita-se que tenha sido degolado. O texto da segunda carta a Timóteo é revelador, uma de minhas passagens preferidas da Bíblia, que diferença o Paulo em seu final de vida, depois de ter fundado várias igrejas pelo mundo de sua época e escrito a base teológica das igrejas cristãs, do jovem e poderoso Saulo, que estudou com o famoso rabino Gamaliel, que entrava e saía de onde queria, perseguindo e encarcerando.
      O último capítulo da segunda epístola a Timóteo não precisa de muita interpretação, é explícita a tristeza de Paulo descrevendo sua solidão, mesmo detalhes de alguns que não estavam com ele quando ele mais precisava, traições, displicências, mesmos mau-caratismo, por exemplo quando cita Demas e Alexandre o latoeiro. Mas o que me chama a atenção é o pedido que ele faz ao jovem Timóteo: “quando vieres traze a capa e os livros, principalmente os pergaminhos”, isso era tudo que Paulo tinha na vida? Se tivesse mais roupas ou como comprá-las não pediria que lhe trouxesse uma simples capa. Que diferença de tantos pastores atuais, que fazem careira usando o evangelho e por isso se acham no direito de terem vidas materiais prósperas. 
      Estamos preparados para ser militantes como o velho Paulo? Ou só queremos ser o jovem Saulo, exercendo truculência sobre aqueles que discordam de nossas bandeiras. Meus queridos, não é isso que muitos evangélicos estão fazendo no Brasil hoje? Apoiando uma ideologia política que é a favor de armas, de volta ao militarismo, que demoniza outras religiões e que se acha no direito de agredir por se achar militando por Deus? Deus nada tem a ver com isso, infelizmente muitos evangélicos e protestantes não percebem que se desviaram tanto no engano, que o próprio Deus permitiu que o engano encarnasse num líder político. Oremos para que após a vergonha que isso trará, esses se humilhem, se arrependam e voltem ao Deus verdadeiro. 

      “E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava.” “E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.“ 
      “E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos. E uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto. E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.” 
      “E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. 
      E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” “E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
 Atos 6.8-10, 7.58-59, 8.1-3, 9.1-5, 8

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José Osório de Souza, março de 2021

28/10/21

Judas e Pedro, inícios iguais, fins diferentes (28/31)

      “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.” 
Lucas 6.45
 
      Judas Iscariotes é um exemplo bíblico de quem milita por si mesmo, para ganhar algum dinheiro ele achou meio e incentivo nas intenções maliciosas de líderes religiosos judeus que tinham o objetivo de calar a militância do Cristo. Quando alguém tem os motivos errados sempre acha simpatizantes, que podem ter intenções muito piores que o usam como fantoche, Judas militou covardemente e só alcançou seu objetivo escondido no meio dos oficiais mandados para prender o salvador. Mas ele já tinha interesse em fazer parte de algo maior quando se tornou um dos doze apóstolos, ser do grupo seleto de discípulos de um mestre que se colocava contra a religião vigente revela sua face militante. Sua intenção desde o início era trair Jesus? Talvez não, e quando resolveu fazê-lo podia pensar que Jesus não saberia, mas Jesus sabia e penso que esperou até o fim que Judas mudasse de atitude, não consigo aceitar que o Cristo passivamente aguardasse que Iscariotes irrevogavelmente o traísse, o amor de Deus não funciona assim.
      Sob alguns aspectos Pedro era parecido com Judas, um deles era a necessidade de militar, o outro aspecto era uma agressividade não resolvida no coração. Contudo, enquanto Judas resolveu isso da pior maneira, entregando à morte aquele que talvez revelasse a ele seu lado pior e que ele não queria aceitar, Pedro tentou fazer justiça com as próprias mãos agredindo um daqueles que tentava prender o líder no qual acreditava. Ambos eram militantes, homens que não querem ser só mais um, mas que tomam partido e lutam por uma causa, ainda que por motivos e para fins distintos, ambos tiveram experiências ruins que revelaram o entendimento equivocado que tinham de suas ideologias. O final de Judas foi pior, o suicídio, proporcional a seu erro, o de Pedro foi parte do plano de Deus para discipliná-lo e melhorá-lo, mas foi amargo, negou por três vezes o Cristo que disse que seguiria até à morte.
      “Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Atos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações” (Fonte), eis outra semelhança entre Pedro e Judas Iscariotes? Pode ser. Todas as militâncias são provadas e só prevalecerão se forem aprovadas, assim, cuidado com o começo de certas lutas, um homem apaixonado munido de uma causa que parece legítima pode brilhar de maneira convincente. Contudo, é preciso mais que uma causa certa, é preciso lutar por ela com as ferramentas corretas e não ser seduzido por trocas que o mal possa apresentar. 
      O comunismo parecia uma causa boa, que tiraria o povo russo do despotismo do império Romanov que beneficiava alguns e fazia muitos sucumbirem na miséria. Contudo, milhões foram assassinados pelos bolcheviques e pelo partido comunista, para se impor uma causa. Será que se não fosse desse jeito o comunismo teria resistido por tanto tempo na União Soviética? Militância que vence pela violência não tem fundamento moral elevado, como tal só continuará existindo com mais violência, nunca tendo apoio de homens de bem e de Deus, é assim na China e na Coréia do Norte até hoje. Algumas militâncias são pesadas, podem sangrar as mãos enquanto são conduzidas, e colocá-las no cano de uma metralhadora pode torná-las aparentemente mais leves, mas aí serão só álibis para matar e destruir, tornando militantes originalmente vítimas que reagem a injustiças em agressores cruéis. Quem diz que décadas depois os que foram originalmente vítimas não se tornarão opressores piores que seus opressores originais? Quando algo começa com violência será mantido assim e assim existirá até o fim, não nos enganemos.  
      O final de Pedro foi dar a vida pela causa em que acreditou, mas antes ele cumpriu sua missão, pregou o evangelho de Cristo no mundo em que viveu, deixou frutos que atravessaram os séculos e que abençoaram milhões. “A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reforma, teólogos e historiadores protestantes afirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur, da Escola de Tübingen. Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia. Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolf Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma. Sua vida continua sendo objeto de análise, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.” (Fonte). 

      “Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles.

João 18.3-5
      “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar.

Mateus 27.3-5
      “Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu? Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.” “E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote. E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, e falou à porteira, levando Pedro para dentro. Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele: Não sou.

João 18.10-12, 15-17
      “Pedro, porém, pondo-se em pé com os onze, levantou a sua voz, e disse-lhes: Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras.” “E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas

Atos 2.14, 40-41

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José Osório de Souza, março de 2021

27/10/21

Jonas, profeta sem amor? (27/31)

      Jonas é o exemplo de um homem que recebeu de Deus uma causa para militar, mas que teimou em não aceitar. Qual o motivo principal que o levou a desobedecer a Deus? Muitos acham legitimidade em qualquer coisa, se empoderam e partem para a luta, mas justamente alguém, que tinha Deus ao seu lado, fugiu da luta, por quê? 

      “E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor.” Jonas 1.1-3

      O barco, fuga para dentro do mundo. 
      Um homem que foge de Deus pode equivocadamente procurar esconder-se em dois lugares, o primeiro deles é o mundo, o barco simboliza isso. O mundo é como as águas do mar, muitas possibilidades são apresentadas, simulando a liberdade que só existe na água viva do Espírito Santo, mas diferentemente do Espírito, que nos faz voar e subir, para mais perto da vida eterna, o mar do mundo é traiçoeiro, em algum momento nos submergirá, conduzindo-nos à morte. 
      Seremos lançados para as profundezas, traídos por aqueles falsos companheiros de viagem, maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17.5b), enquanto o homem ganha alguma coisa conosco, pode até dizer que é nosso amigo, mas quando o perigo se aproximar, ele nos lançará ao mar, para salvar a si mesmo. Pior ainda se aquele que foge no mundo dos homens for um chamado rebelde de Deus, por esse, menos respeito ainda terão aqueles que sempre caminharam longe do Senhor. 

      “E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” “Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe.” Jonas 1.15, 17

      O peixe, fuga para dentro de si mesmo. 
      Quando o mundo desampara aquele que tenta, equivocadamente, fugir de Deus, como se isso fosse possível, o profeta rebelde tentará fugir para dentro de si mesmo, numa disposição de solidão e descrença de tudo, isso é o que o grande peixe simboliza. Se no mundo ainda existem fugas, prazeres, algum espaço para termos alguma liberdade, ainda que amarga, nas entranhas do peixe o espaço é restrito, o coração do que foge de Deus vai se apertando cada vez mais, deixando o rebelde mais e mais torturado. 
      Lugar terrível é esse, ninguém consegue ficar muito tempo nele, e os que insistem em fugir para dentro de si mesmos podem chegar à insanidade, onde não se tem mais luz moral e intelectual para existir, onde não se vê nada, nem a ninguém, só o próprio reflexo dizendo que se é covarde e medroso, que se está fugindo de sua principal razão de existir, da presença do Deus Altíssimo. 

      “E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe.” “Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca.” “E veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: levanta-te, e vai à grande cidade de Nínive, e prega contra ela a mensagem que eu te digo. E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho.” “E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.” “Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado” “E disse o Senhor: Fazes bem que assim te ires?”  Jonas 2.1, 10, 3.1-3, 10, 4.1, 4

      Obediência? Não. 
      Dentro do peixe o profeta rebelde ora, ele não tem outra saída, e um Deus sempre amoroso atende à oração e livra o profeta, então, quase que sem pensar direito, ainda com as lembranças das entranhas do peixe na cabeça, o profeta obedece a ordem inicial de Deus. Entretanto, se o coração não for transformado por amor, o medo não o mudará, ainda que o leve a fazer coisas certas permitindo que Deus cumpra sua vontade com os outros. Mas ordem obedecida com intenção errada não traz paz, logo o profeta rebelde se arrependerá do que fez, a bênção dos outros não sensibilizará seu coração sem amor. 
      Sem amor nada faz sentido, seja família, religião, caridade, amizade, sem amor tudo é desgosto, egoísmo, que exige mas não dá, que critica os outros mas não se avalia, que desobedece mesmo ao Deus Altíssimo. Não nos iludamos com certos cristãos, podem até serem usados por Deus para abençoar os outros, mas se tiverem no coração a intenção errada não abençoarão a si mesmos. No final poderão ser escândalo, para aqueles que falaram do amor de Deus, porque falaram, mas não praticaram. 

      “E fez o Senhor Deus nascer uma aboboreira, e ela subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu enfado; e Jonas se alegrou em extremo por causa da aboboreira. Mas Deus enviou um verme, no dia seguinte ao subir da alva, o qual feriu a aboboreira, e esta se secou. E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas; e ele desmaiou, e desejou com toda a sua alma morrer, dizendo: Melhor me é morrer do que viver. Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte.” “E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” Jonas 4.6-9, 10-11

      Falta de amor! 
      A hipocrisia pode levar o homem a levantar muitas bandeiras, a militar por muitas causas, pelo planeta, pelos animais, contra preconceitos e injustiças, Jonas, que não queria aceitar a ordem de Deus e militar por pessoas, caiu no ridículo, militou por uma aboboreira, é assim mesmo que pode acontecer com todos nós. Como existem pessoas, que teimando contra a vontade de Deus, que virando as costas para uma chamada verdadeira do Senhor, e toda chamada sempre existe pelo amor de Deus e deve ser realizada no amor de Deus, acabam lutando por qualquer coisa, militando por tolos e estúpidos, sendo manipulados por homens gananciosos e vaidosos. 
      Por que Jonas se negou a obedecer a Deus? Não foi por medo da missão que recebeu, mas foi simplesmente por falta de amor, ele não achou que os ninivitas merecessem seu esforço. Um coração que não aprende a amar e que não se permite ser amado, e Deus amou muito a Jonas, não se apaixonará pela causa maior, pela mais nobre das militâncias, levar a palavra de amor de Deus aos homens. Cuidado, não milite por aboboreiras, um pequeno verme, se for enviado por Deus, pode matá-las, por maior que elas sejam, por mais que elas pareçam dar ao rebelde proteção contra o Sol e o vento, não podem resistir à vontade maior de Deus. 
      O livro de Jonas termina com a pergunta que Deus faz no final do capítulo quatro, versículos dez e onze. Pelo registro bíblico, apesar da oração de arrependimento que Jonas fez no capítulo dois, não sabemos qual foi a posição do profeta depois que ele se revoltou pela aboboreira. Teria ele entendido porque lhe era difícil obedecer a Deus? De fato se tornou alguém melhor com a prova, mesmo que os ninivitas tenham recebido a palavra de Deus e mudado de vida? Não podemos dizer com certeza. Fica uma lição para todos nós, uma causa não é totalmente legítima por ser uma militância relevante, nem mesmo por ser aprovada e ordenada por Deus, mas por ser executada com amor.

Está é a 27ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

26/10/21

Daniel militou certo (26/31)

      “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real e dos príncipes, Jovens em quem não houvesse defeito algum, de boa aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e doutos em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para assistirem no palácio do rei, e que lhes ensinassem as letras e a língua dos caldeus. E o rei lhes determinou a porção diária, das iguarias do rei, e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, para que no fim destes pudessem estar diante do rei. 
      E entre eles se achavam, dos filhos de Judá, Daniel, Hananias, Misael e Azarias; E o chefe dos eunucos lhes pós outros nomes, a saber: a Daniel pós o de Beltessazar, e a Hananias o de Sadraque, e a Misael o de Mesaque, e a Azarias o de Abednego. E Daniel propôs no seu coração não se contaminar com a porção das iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; portanto pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar. Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.” 
Daniel 1.3-9

      Daniel foi o homem certo, ainda que num lugar errado, mas que sempre achava o tempo certo para militar não por ele, e mais até que por seu povo, mas por Deus. Daniel pode representar o arquétipo da militância mais coerente do cristão com o momento histórico atual, por ele entendemos que certas coisas no mundo externo não vão mudar, e nem precisam, não mais, o que deve ser transformado é o homem interior do ser humano. Daniel era acima de tudo um servo de Deus, não de militâncias, e se quisesse militar teria razões bem fortes para isso, por seu povo que estava sendo escravizado. Mas ele mantinha os olhos onde Deus queria que ele os mantivesse naquele momento, no futuro, por isso não sofria mais que o necessário, não lutava em guerras inúteis e era cuidado por Deus de forma especial. Segue texto extraído da reflexão “Três justos” aqui do blog, que avalia três personagens bíblicos em tempos internos diferentes.
      “Daniel era um escravo de luxo, digamos assim... nas sociedades clássicas, grega, romana, e nos tempos bíblicos, os escravos eram espólio de guerra, isso é, os perdedores nas mãos dos vencedores num embate, ou aqueles que se endividavam e não podiam mais pagar suas dívidas. Assim, eles não tinham certos direitos sociais, de ir e vir, de participação política, mas podiam desempenhar atividades em várias áreas profissionais, incluindo algumas bem nobres. Esse era o caso de Daniel, era escravo na corte do rei Nabucodonosor, rei da Babilônia, que havia vencido Judá em batalha e levado seu povo em cativeiro... (Vemos pelo texto inicial) que Daniel era um jovem especial que seria usado em tarefas especiais, que seria tratado de forma especial, mas que ainda assim era um escravo... Daniel estava numa situação ruim que não mudaria, seu cativeiro e de seu povo.  
      Ele seria provado várias vezes, seja com privilégios, seja com privações, seja com honras, seja com calúnias, para que não ficasse confortável com a situação de escravo de luxo e continuasse fiel a Deus. Daniel foi fiel, mas outro adjetivo que o define é sensível.... Sensível suficiente para desvendar mistérios espirituais, só João o evangelista recebeu de Deus (e registrou) mais revelações que Daniel, não só sobre seu povo, mas como sobre todo o mundo e para tempos futuros. Foi através de sua sensibilidade espiritual que Daniel foi ganhando a confiança da monarquia babilônica e conquistando posições políticas importantes. Com Daniel aprendemos que às vezes, o homem que Deus quer que sejamos, é alguém que mantenha-se fiel, vivo e sensível mesmo numa situação que temos certeza que não mudará para melhor a curto prazo, aliás, eis outra característica de Daniel, visão espiritual longa, por isso Deus revelou a ele tantos mistérios sobre o futuro.
      Militâncias por não ao racismo, ao trabalho infantil e ao feminicídio, pelos diretos da mulher e respeito às diversas expressões de sexualidade e às religiões, são legítimas, são causas do presente e de todos, mas é importante que entendamos o que Deus quer exatamente de nós como indivíduos, que pode não ser o geral que a maioria está fazendo. O que segue a Jesus deve enxergar a relevância de ser exceção, não regra, deve ser feliz em uma vocação pessoal, e deve entender quem é seu Senhor, Deus, não os homens. Mas não é fácil ser exceção, alguns até gostariam de ser, mas só se percebem assim por terem visões distorcidas de si mesmos e da realidade, causadas por doenças emocionais não curadas. Existe muito doente mental em igrejas evangélicas, pregando e profetizando, que na verdade precisariam de tratamento psiquiátrico, não de púlpitos. 
      Outros preferem ser regra, para fazerem parte de algo grande que lhes dê objetivo de vida e contrabalanceie seus recalques, mas tanto os que se acham especiais do jeito errado quanto os que querem ser regra por medo, precisam buscar a Deus e entender melhor suas chamadas, senão serão só manipuláveis por seus equívocos e por agendas alheias. Não pense que isso diminui seus “itinerários”, Deus tem tudo em suas mãos e de tudo sabe, algo que pode começar pequeno e desconhecido hoje pode se tornar no futuro algo importante no plano maior do Altíssimo, que abençoará mais que um indivíduo, mas muitos. Se formos fiéis e sensíveis, como foi Daniel, poderemos ter essa experiência, Daniel não devia saber que as orações, que fazia por si e pelo seu povo, conteriam, na resposta de Deus, profecias para o futuro da humanidade.

Está é a 26ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

25/10/21

Davi, paciência para militar (25/31)

      “E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. 
I Samuel 24.17

      Quando muitos verificam uma causa que precisa ser defendida, uma necessidade de militância, isso parece já ser tudo que precisam para saírem militando, a existência do problema é suficiente para que se dê uma solução, imediatamente, mas nem sempre deve ser assim. A história de Davi é bem conhecida, um exemplo de que saber-se a vontade de Deus para sua vida, mesmo ter recebido desse uma palavra profética clara de que se tem algo a fazer, pode não ser o suficiente para que se desempenhe uma missão apressadamente. 
      A lição do início da história de Davi é sobre paciência, do homem e de Deus. Deus é paciente com todos, foi com Davi, mas também foi com Saul, esse não foi retirado do trono logo após ter pecado e perdido o direito a ele, ele teve um tempo, para quê? Para se arrepender? Isso seria possível? Deus sempre espera o arrependimento do homem, sempre, isso é o amor mostrando sua principal característica. Deus é paciente e não guarda mágoas, ainda que nos sujemos e nos sujemos ele sempre nos recebe e torna a nos limpar.  
      Mas para Davi, esperar tinha um objetivo, mesmo sabendo que aquele que ocupava um lugar que Deus já havia lhe dado estava em pecado e numa frágil posição, onde ele poderia resolver o problema imediatamente e do seu jeito. A bênção pode estar lá no fundo, exigindo que nós cavemos com esforço e por um bom tempo para alcançá-la, por quê? Porque o objetivo principal de Deus não está no final, mas no processo, no final recebemos algo e pronto, mas no processo nosso caráter é moldado com trabalho. 
      É o que aprendemos no processo que irá conosco para a eternidade e fará diferença, não a bênção que recebemos no final de um processo no mundo. No final pode haver, por mais maravilhoso que seja entre os homens, só algo material e passageiro, no caso de Davi um reinado, mas no processo há virtudes morais que fazem o nosso espírito mais iluminado, e isso é para sempre. Quando você acha que Davi mais cresceu como ser humano, quando assentou-se no trono pela primeira vez ou quando se negou a matar Saul? 
      A bênção maior neste mundo não está no usufruto da vida, mas na negação da morte, e a morte nos confronta o tempo todo, seja em nossa vida ou nas vidas dos outros. Negar a morte é negar o que conduz à segunda morte, a morte do espírito e das virtudes morais. Isso não é fácil, principalmente na situação de Davi, que tinha motivos legítimos para matar alguém. Dois pontos sobre a passagem bíblica (no fim da reflexão) a serem ressaltados, o primeiro é sobre o termo ungido do Senhor e o segundo sobre o temor ao Senhor e a confiança em Deus de Davi.   
      O que muitos não se dão conta, quando usam a passagem para dizerem que é errado revelarmos líderes em pecado, é que o líder ao qual a Bíblia se refere como ungido do Senhor é alguém em pecado e com dias contados para ser julgado publicamente. A lição é que de fato não temos que pesar a mão sobre alguém que recebeu de Deus uma posição na igreja e está em pecado, Deus faz isso, do jeito e no tempo certo. O termo não é orientação para que pastor nunca seja repreendido, mas só para que esperemos a repreensão de Deus.
      Mas isso não significa que nós não possamos ser usados por Deus para repreender alguém em posição de liderança, podemos, sim, mas se for o caso deverá ser feito com temor a Deus, amor e do jeito correto, como orientado em Mateus 18.15-17. O mais sábio é levarmos a questão à liderança e não sairmos falando do assunto por aí, um líder precisa ser protegido, e não por ele mesmo, ele tem responsabilidades que serão cobradas, mas pelos outros, principalmente pelos novos na fé que são alimentados por ele e veem nele um exemplo. 
      Interessante como homens sem amor e sem sabedoria gostam de colocar palavras na boca de ninguém menos que o próprio Deus, “então os homens de Davi lhe disseram, eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz, eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos”. Esses são os que militam errado e pior, que tentam achar legitimidade para suas causas em Deus. Que pecado terrível é esse, se não estivermos vigilantes poderemos ser levados por esses a grandes e estúpidos erros. 
      O segundo ponto que ressaltamos da passagem bíblica são as virtudes de Davi, a primeira é seu temor a Deus, ele chora por ter humilhado Saul diante de seus homens quando cortou a orla de seu vestido, num impulso ele até fez o que estava fácil para fazer, mas depois se arrependeu. Será que eu e você choramos por vermos humilhado alguém que nos odeia e que ocupa um lugar que deveria ser nosso? É por isso que Davi foi o maior líder de Israel, que colocou o povo de Deus como uma nação forte no mundo, e que é a raiz do próprio Cristo. 
      Confiança em Deus é a segunda virtude de Davi, fica clara quando ele diz, “julgue o Senhor entre mim e ti e vingue-me o Senhor de ti”. Temos tal confiança para deixarmos que Deus seja nosso árbitro, escolha entre nós e um rei em uma nação como Saul? Davi conhecia o Deus em quem cria, conhecia a legitimidade de sua chamada, mas temia a Deus o suficiente para esperar, quando desempenharia um papel único na história. Davi teve paciência e fez a mais excelente das militâncias, cumprir uma missão de Deus. 

      “Então tomou Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre os cumes das penhas das cabras montesas. E chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a cobrir seus pés; e Davi e os seus homens estavam nos fundos da caverna. Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia, do qual o Senhor te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul. Sucedeu, porém, que depois o coração doeu a Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul. E disse aos seus homens: O Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do Senhor.
      “Depois também Davi se levantou, e saiu da caverna, e gritou por detrás de Saul, dizendo: Rei, meu senhor! E, olhando Saul para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra, e se prostrou. E disse Davi a Saul: Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Eis que Davi procura o teu mal? Eis que este dia os teus olhos viram, que o Senhor hoje te pós em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a minha mão contra o meu senhor, pois é o ungido do Senhor. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão; porque cortando-te eu a orla do manto, não te matei. Sabe, pois, e vê que não há na minha mão nem mal nem rebeldia alguma, e não pequei contra ti; porém tu andas à caça da minha vida, para ma tirares. Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti.
      “E sucedeu que, acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, disse Saul: É esta a tua voz, meu filho Davi? Então Saul levantou a sua voz e chorou. E disse a Davi: Mais justo és do que eu; pois tu me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal. E tu mostraste hoje que procedeste bem para comigo, pois o Senhor me tinha posto em tuas mãos, e tu não me mataste. Porque, quem há que, encontrando o seu inimigo, o deixaria ir por bom caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, por isso que hoje me fizeste.

I Samuel 24.2-6, 8-12, 16-19
 
Está é a 25ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
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José Osório de Souza, março de 2021