sexta-feira, outubro 29, 2021

Saulo e Paulo, diferentes militâncias (29/31)

     “Procura vir ter comigo depressa, Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica, Crescente para Galácia, Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Também enviei Tíquico a Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras. Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado.
II Timóteo 4.9-16

      Paulo sempre foi um militante. Lendo as primeiras menções bíblicas sobre ele, ainda citando-o com o nome de Saulo, podemos achar que ele era só um vilão, perseguidor de cristãos, ligado ao violento assassinato de Estêvão que pregava o evangelho. Mas será que Saulo se via assim, como um opressor? Penso que não, ele se achava um militante, e por uma causa justa, ele era só um enviado de autoridades judias e romanas, que zelava pela religião oficial e pela ordem do império. Alguém que é mais que um funcionário recebendo ordens, que defende algo em que acredita como sendo o melhor para a sociedade, que faz isso mesmo que não seja só por retorno financeiro, não se vê como vilão, mas como justiceiro, ainda que usando de violência. 
      Militantes, revolucionários, políticos, pelo menos a princípio, são pessoas que acreditam em algo e querem levar isso a outros. Um cristão é um militante, e mais que os adeptos de outras religiões, ele não só vivencia uma experiência de mudança de vida, como também quer compartilhar isso com os outros. Isso é feito adequadamente? Nem sempre em se tratando de um cristão, que se diz ligado a uma religião baseada no amor de Deus aos homens por Jesus, onde o compartilhamento dessa experiência deveria ser também através do amor, não por qualquer espécie de imposição ou violência. Infelizmente o cristianismo foi corrompido desde o início, não nos iludamos sobre isso, homens reconheceram o poder dele, e por isso quiseram usá-lo para manipular outros homens. 
      O poder do cristianismo é o Cristo, não as poderosas instituições que foram construídas sobre e não pelo Cristo, que de tão pesadas e pomposas acabaram deixando o humilde e simples Cristo esquecido e distante. É exatamente isso que sentimos quando assistimos certos ritos cristãos, que até falam da verdade, mas que é situada tão longe que faz com que as pessoas respeitem por medo, não por interagirem intimamente com ela. Assim era a religião judaica que Saulo defendia, e por ser instituição de homens, muito distante de Deus, não teve a sensibilidade espiritual para ver e aceitar que o que Estêvão e outros defendiam e pelo que morriam, era o verdadeiro e prometido Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
      Talvez seja difícil acreditar, mas mesmo nas perseguições em que Paulo era protagonista, havia sinceridade, mal direcionada, mal usada, mas havia e Deus viu essa sinceridade. O militante errado sempre cai do cavalo, sua causa é enganosa, não se sustenta, um dia ele perceberá que sua militância só o está conduzindo para o lado errado, não esta beneficiando ninguém, só está exercendo injustiça, justamente o oposto daquilo que ele queria fazer no início de sua empreitada. O homem é cego, mesmo com as melhores intenções poderá cometer erros absurdos, se não tiver um coração quebrantado na presença de Deus. Foi justamente isso que transformou o Saulo, perseguidor de Jesus, em Paulo, pregador do evangelho, caiu do cavalo sem poder ver.
      Paulo se converteu por volta do ano 34 d.C., pouco tempo após a morte de Jesus, com aproximadamente vinte e nove anos de idade, sua morte pode ter ocorrido por volta do no 67 d.C, dessa forma trabalhou pelo evangelho por mais ou menos trinta e três anos. Foram três viagens missionárias até sua segunda prisão em Roma, onde acredita-se que tenha sido degolado. O texto da segunda carta a Timóteo é revelador, uma de minhas passagens preferidas da Bíblia, que diferença o Paulo em seu final de vida, depois de ter fundado várias igrejas pelo mundo de sua época e escrito a base teológica das igrejas cristãs, do jovem e poderoso Saulo, que estudou com o famoso rabino Gamaliel, que entrava e saía de onde queria, perseguindo e encarcerando.
      O último capítulo da segunda epístola a Timóteo não precisa de muita interpretação, é explícita a tristeza de Paulo descrevendo sua solidão, mesmo detalhes de alguns que não estavam com ele quando ele mais precisava, traições, displicências, mesmos mau-caratismo, por exemplo quando cita Demas e Alexandre o latoeiro. Mas o que me chama a atenção é o pedido que ele faz ao jovem Timóteo: “quando vieres traze a capa e os livros, principalmente os pergaminhos”, isso era tudo que Paulo tinha na vida? Se tivesse mais roupas ou como comprá-las não pediria que lhe trouxesse uma simples capa. Que diferença de tantos pastores atuais, que fazem careira usando o evangelho e por isso se acham no direito de terem vidas materiais prósperas. 
      Estamos preparados para ser militantes como o velho Paulo? Ou só queremos ser o jovem Saulo, exercendo truculência sobre aqueles que discordam de nossas bandeiras. Meus queridos, não é isso que muitos evangélicos estão fazendo no Brasil hoje? Apoiando uma ideologia política que é a favor de armas, de volta ao militarismo, que demoniza outras religiões e que se acha no direito de agredir por se achar militando por Deus? Deus nada tem a ver com isso, infelizmente muitos evangélicos e protestantes não percebem que se desviaram tanto no engano, que o próprio Deus permitiu que o engano encarnasse num líder político. Oremos para que após a vergonha que isso trará, esses se humilhem, se arrependam e voltem ao Deus verdadeiro. 

      “E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos libertinos, e dos cireneus e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão. E não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava.” “E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.“ 
      “E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se naquele dia uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto os apóstolos. E uns homens piedosos foram enterrar Estêvão, e fizeram sobre ele grande pranto. E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.” 
      “E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. 
      E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Duro é para ti recalcitrar contra os aguilhões.” “E Saulo levantou-se da terra, e, abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco.
 Atos 6.8-10, 7.58-59, 8.1-3, 9.1-5, 8

Está é a 29ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

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