05/12/21

Amor escandaliza os falsos

      “E disse o Senhor: A quem, pois, compararei os homens desta geração, e a quem são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, assentados nas praças, clamam uns aos outros, e dizem: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamo-vos lamentações, e não chorastes. Porque veio João o Batista, que não comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Tem demônio; Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um homem comilão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos. Lucas 7.31-35

      O que mais escandalizava os líderes judeus do primeiro século era o amor de Jesus, diferente do conceito de amor que eles tinham, se é que eles de fato tinham algum amor. Será que há lugar para o amor quando a vaidade religiosa impera? Quando mostrar para os homens que se obedece a protocolos detalhados de costumes, regras e liturgias, é mais importante que exercer misericórdia com o pobre e amar o pecador? Muitos líderes judeus da época de Jesus eram só homens vaidosos, vaidade sempre nasce na insegurança de quem confia nas coisas erradas, no caso deles, em si mesmos e nas tradições, não em Deus e em seu maior representante, o Cristo. 
      Sempre me surpreende o fato da liderança religiosa judaica não ter reconhecido em Jesus o messias prometido, mas será que ela não reconheceu mesmo? Penso que reconheceu, só não teve coragem de assumir, e não teve coragem porque era arrogante demais, vaidosa demais, afinal, tudo que Jesus ensinava, vivia e representava punha em xeque o estilo de vida religioso dela, seu status quo, seu poder na sociedade. A mesmíssima coisa ocorre com a Igreja Católica e isso desde o seu nascimento no século IV, creio que sempre houve homens que perceberam a grande mentira que o catolicismo é, mas não tiveram coragem, até hoje, para desmascarar a farsa. 
      Mas no antigo testamento, parte da Bíblia judaica, não havia profecias sobre o Cristo? Sim. Por elas não se poderia reconhecer o filho do carpinteiro nazareno como o salvador prometido? Sim. Então, porque muitos líderes judeus não reconheceram? Respondo essa pergunta com outra pergunta: não existem na Bíblia, que os cristãos veneram tanto, indicações de que a espiritualidade vai além dos dogmas católicos e da doutrina da reforma? Sim. Mas os cristãos entendem, aceitam, praticam isso? Não. Preferem a comodidade da interpretação tradicional que seus teólogos e líderes fazem da Bíblia, afinal, nisso eles têm a proteção das instituições contra superstições. 
      No texto inicial o escritor alia a Jesus uma fala poética, “tocamo-vos flauta e não dançastes, cantamo-vos lamentações e não chorastes”. Esse ditado, que devia ser popular naquela época, fala sobre insatisfação, de quem não se agrada com quem faz rir nem com quem faz chorar, ou que não crê nem em boas e nem em más notícias. João Batista e Jesus, apesar de serem mensageiros da mesma mensagem vinda da mesma origem, tinham estilos diferentes porque vinham em momentos distintos. Um profetizava e preparava, o outro entregava e ensinava a cumprir, o que João predisse ocorreu em Jesus, um era profeta, o outro a própria profecia encarnada no mundo.  
      O arrogante não admite verdade que não seja a sua, e que verdade é mais contundente que o amor? “sabedoria é justificada por todos os seus filhos”, em outras palavras, pelos frutos se é reconhecido, talvez não importe ter o estilo de João ou o de Jesus, mas haver verdade de Deus e essa sempre cumpre seu objetivo de dar bons frutos. Se o fruto de João nos corações dos homens era o quebrantamento que vinha pela aceitação da justiça de Deus, o de Jesus era esse coração quebrantado experimentar o amor de Deus. Muitos não aceitavam o ministério de Jesus porque não admitiam a simplicidade e a eficiência do amor que vai além de aparências religiosas. 
      Deus nunca tem o objetivo de fundar uma religião, não como instituição poderosa e material no mundo. Um Deus espiritual tem no Espírito Santo seu representante, bastaria o homem com essa experiência espiritual compartilhá-la, com obras e palavras, Deus é vivo e não precisa do auxílio de aparências para agir. Contudo, Deus é principalmente amor e Jesus foi e sempre será a encarnação mais perfeita desse amor, estudando seu exemplo de vida e seus ensinos, conhecemos esse amor, praticando-o conhecemos a Deus. Mas que homem resiste à vaidade? A Lei de Moisés não resistiu, foi assim com o cristianismo da igreja primitiva, só o Espírito Santo resiste à vaidade. 
      O falso sempre verá uns como endemoniados, outros como loucos e outros como devassos. Muitas religiões são tidas por muitos cristãos como crenças em demônios, outras como ideias de malucos e ainda outras como antros para esconder devassidões, só veem santidade é verdade em seus próprios umbigos. Meus queridos e minhas queridas, a eternidade surpreenderá a muitos, e muito mais a quem viveu, ainda que com aparência religiosa, sem amor, o que torna o homem sábio não é conhecimento intelectual ou teológico, mas amor. O amor não tem medo de dizer verdades, como dizia João Batista, mas também não teme ser amigo de pecadores, como foi Jesus.  
      Não é que não existam endemoniados, loucos e devassos, existem, e às pencas, mas a eles não nos cabe julgar, só ajudar. Infelizmente, como fizeram os líderes judeus da época de Jesus, muitos cristãos estão mais ocupados em mandar alguns para o inferno e eles para céu, que em viver o amor. Pode-se argumentar, “se não falarmos sobre inferno as pessoas não saberão que suas escolhas têm consequências”, mas será que no século XXI medo do inferno e do diabo são argumentos eficientes para convencer as pessoas? Não são, a maioria ri dessas crenças, mas poucos desdenharão do amor, principalmente num momento quando injustiças e preconceitos têm sido trazidos à luz. 

04/12/21

Se não é bom pra você, não dê aos outros

       “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mateus 7.12

     “Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.Mateus 5.38-41

      Muitas religiões e textos sagrados orientam o homem sobre santidade e busca do divino, muitos religiosos não cristãos têm uma vida de privações de prazeres do corpo e dedicação a uma existência isolada da sociedade e focada na espiritualidade, que muitos cristãos não só não têm noção que existe, como demonizam por acharem que esses creem num Deus diferente do deles. Contudo, o evangelho de Jesus é único em orientar o homem a viver com o homem com amor e justiça, não isolando o homem do mundo, nem incentivando-o a mudar o mundo, mas só a ter uma vida pessoal realmente humilde e espiritual, interagindo com a realidade. 
      O evangelho é basicamente um protocolo de vida social, mais que de consagração pessoal, isso diz muito sobre a vontade mais alta de Deus para o homem. Contudo, isso não significa que prioriza vida social sobre vida privada, mas que ensina que só existe vida pessoal espiritual quando se vive para servir os outros. Se santidade é ênfase no hinduísmo, se serenidade é ênfase no budismo, amor é a bandeira mais alta do verdadeiro cristianismo. Para aprender sobre o amor e praticá-lo é preciso estar perto das pessoas, não longe, interagir com elas, ser cúmplice delas, mas tem mais, o principal desafio do amor não é amar quem nos ama, mas quem não nos ama.
      Amor, um tema que nunca é demais refletir a respeito, não pense que Deus nos fortalece, nos supre seja física, emocional ou espiritualmente, para que tenhamos dinheiro para comprar casa, carro, celular, boa comida e boas roupas. Isso tudo Deus dá, mas como consequência. Deus nos capacita para amarmos os outros, essa é a missão principal de todos os seres humanos, não só no plano físico como também no espiritual. Por outro lado, se você tiver tudo na vida, mas não amar, será inútil, por isso tantos procurando sentido em sonhos pessoais e aprovação dos outros não são felizes e nunca têm prazer suficiente, ainda que achem justas e legítimas suas causas. 

      Como sempre alerto aqui quando falo sobre amor e pagar preços, Deus não quer que ninguém suporte relação abusiva principalmente em casamento e em relacionamentos afetivo mais próximos. Algumas pessoas não devemos nem tentar amar, e muitos menos perder tempo odiando, dessas devemos só nos distanciarmos o máximo que pudermos. O amor que paga preços que me refiro, está dentro de limites, e principalmente tem autorização de Deus, que sempre nos protege do mal e não nos chama para missões impossíveis. Se sentir que uma pessoa estão te desafiando a amá-la, ore antes a Deus e pergunte qual a sua vontade, mas nada é desculpa para sofrermos violência, tenhamos cuidado. 

      Se a vontade do Senhor for você amar alguém de maneira diferenciada, alguém que deixou claro que não quer te amar, poderá não ser fácil, nem rápido, mas Deus te capacitará para isso, e creia, você será feliz e forte nessa missão. O grande desafio que temos nessa situação é não darmos ao outro aquilo que ele nos dá, mas se aquilo que ele nos dá não é bom para nós, não devemos querer dar a mesma coisa para ele. Se não é bom para mim, não devo dar aos outros. Se a lei da antiga aliança for seguida, quem não ama tem o direito de não receber amor, mas o evangelho diz o contrário, dar a alguém o que esse não merece quando é o melhor que nós merecemos. 
      Temos duas bênçãos nessa situação, uma é beneficiar alguém, já que quando amamos oramos por alguém, desejamos tudo de bom para ele, a outra é vitória sobre sentimentos nossos de rancor e de revolta. Esses sentimentos devem ser vencidos porque apesar de serem legítimos, refletem a injustiça de alguém não gostar de nós sem motivo, e podem ser usados para nos prender ao mal. O que vence o mal? O amor, outra coisa não pode nos dar forças para convivermos com a escolha de alguém não nos amar, amar é dar ao outro até o direito de não nos amar. Essa missão pode parecer difícil, mas no momento que você vencer sua dor Deus poderá dispensá-lo dela. 
      Não que Deus te exima de amar alguém, mas quando amar não for peso evidenciará que você aprendeu a amar, e amar não pesa, não amarra, não oprime, mas nos torna leves para subirmos para o Altíssimo. Algumas pessoas nos fazem mal e nem têm noção disso, e podem ainda achar que dão para nós mais até que o que damos a elas, essas são as que mais necessitam de amor paciente e silencioso, um amor espiritual, muito mais que emocional. Aprendamos a dar aos outros o que mais queremos receber, respeito, paciência, oração, ouvidos, perdão, novas chances, enfim, todas as maravilhosas facetas da mais poderosa e mais eterna das virtudes, o amor. 

03/12/21

A verdade é linda

      “Examina-me, Senhor, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração. Porque a tua benignidade está diante dos meus olhos; e tenho andado na tua verdade.Salmos 26.2-3

     Cabelos brancos são consequências naturais da idade, assim como cicatrizes são feridas fechadas e curadas. Esteticamente, cabelos brancos e cicatrizes podem não representar perfeição física, mas representam as verdades de nossas jornadas no mundo, negar os efeitos esconderá as causas, assim como o processo entre eles. O processo entre a causa e o efeito, entre a ferida e a cicatriz, entre os cabelos de cores originais e os alvos, são nossos tempos de vida aqui, aquisições de experiências e de curas no mundo. Num momento de nossas existências eternas onde estamos presos a tempo, espaço e matéria, marcas e envelhecimentos são inexoráveis, nossos corpos físicos são nossos históricos, nossos curriculum vitae.
      Contudo, cabelos brancos e cicatrizes são mais que defeitos adquiridos, são heranças que levaremos de coisas que nos transformaram, seja para melhor, seja para pior. Podíamos até ser mais perfeitos antes dos cabelos brancos, das cicatrizes, das rugas, do olhar contemplativo que procura dentro de si pelo que viveu antes de falar e agir, mas com certeza éramos inferiores. Viver tem um preço, sempre chegamos ao final diferentes, não tão perfeitinhos, mas verdadeiros. Verdade é refletir em nossos corpos físicos o que são nossos espíritos, nem todas as verdade são boas, nem todo espírito, escondido lá dentro de nós, consegue evoluir neste mundo, ser curado, amadurecer, mas só levaremos à eternidade as verdades.
      O ser humano sempre gostou da mentira, ninguém se iluda sobre isso, ele sempre gostou de esconder pecados em aparências moralistas, de sepultar grandes erros com semblantes tranquilos que dizem, “está tudo bem, nada aconteceu, não me arrendo”,  de compensar inseguranças e carências com perfis públicos de prosperidade e segurança. Mas no tempo atual de internet, dispositivos móveis e redes sociais, a mentira se sofisticou e virou estilo de vida da grande maioria. Somos de fato o que postamos no Instagram, o que comentamos no Facebook, o que curtimos no Youtube, o que seguimos no Twitter, o que compartilhamos no Whatsapp? Ou tudo isso é só o que queremos que as pessoas pensem que somos, portanto, mentiras?  
      As pessoas não entendem que há beleza na verdade, ela reflete nossa permissão para que a luz mais alta nos atravesse. Existe verdade ruim? Sim, mas é mais difícil, só os loucos e criminosos têm essa verdade, os sãos sentem culpa e vergonha, assim, se não permitirem que a luz de Deus brilhe neles e revele suas verdades, eles usarão de mentiras para tentar esconder suas verdades. No mundo podemos fazer isso, mas na eternidade, não, lá seremos expostos à luz do Altíssimo, todas as nossos intenções serão exibidas e assim seremos avaliados. A luz de Deus emana sobre o homem que se permitir que ela o tome por inteiro terá as mentiras purgadas e as verdades mostradas, verdadeiro ele será atraído para a melhor eternidade de Deus. 
      Muitas pessoas estão feias atualmente, ainda que através de filtros nas fotos, que debaixo de regimes alimentares, exercícios físicos, cirurgias plásticas e embelezamento em clínicas e salões de beleza. Elas tentam negar as marcas do tempo no que mostram em redes sociais, escondem suas limitações emocionais, todas querem ser jovens e super heróis sempre, seus corpos não refletem seus espíritos, seus corpos mentem. A beleza maior é moral, a verdade mais linda é eterna, a luz mais alta é de Deus, não dos iluminadores de led para selfies e vídeos, ter vergonha da própria verdade ou é falta de cura ou de confiança em Deus, que nos trata e nos dá a alegria de sermos verdadeiros, ainda que com cicatrizes e cabelos alvos. 

02/12/21

Vitória até o fim

      “Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa. Porque ainda um pouquinho de tempo, e o que há de vir virá, e não tardará. Mas o justo viverá da fé; e, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele.Hebreus 10.36-38

      Na ginástica olímpica duas coisas são importantes em várias provas, os movimentos que são feitos no ar e a chegada ao chão. Muitos se lançam bem ao ar, fazem peripécias extraordinárias por lá, mas quando tocam o chão perdem o controle e colocam tudo a perder. Vemos nas olimpíadas vários atletas cometerem esse erro, muitos, por serem suas últimas oportunidades de vitória, arriscam movimentos aéreos mais ousados, mas por não estarem totalmente preparados, ou focados naquele momento, encerraram a prova derrotados. Podemos tirar lições espirituais dessas provas atléticas. 
      A primeira lição é que nossa avaliação só ocorrerá no final, na eternidade, assim por mais que façamos aqui se não persistirmos no bem até o final não obteremos vitória. As provações que temos no mundo existem para que possamos anexar virtudes ao nosso espírito, e esse, enquanto encarnado, só retém virtudes após persistente trabalho moral aqui. As fraquezas do corpo, as limitações que temos para segurar as virtudes mais altas, são permitidas por Deus para que nosso espírito cresça e amadureça, mas o que de fato crescemos e amadurecemos só saberemos com toda certeza na eternidade. 
      A segunda lição é um alerta, tomemos cuidado, não façamos o que não estamos preparados para fazer, e os que mais podem incorrer nesse erro, não são os principiantes, mas os experientes. Esses, por excesso de confiança, podem tentar fazer “peripécias” para as quais não estão preparados e nem lhes são pedidas por Deus, essas “peripécias” ocorrem bastante em empreendimentos arriscados no mundo. Muitos pastores, depois de trabalharem por anos com sinceridade na obra, se acham no direito de colher aqui prosperidade material, isso pode levá-los a envolverem-se em negócios escusos. 
      Todos somos tentados pela vaidade, e há vaidade até no desejo de ser espiritual e no querer fazer o bem, ainda que a princípio não haja nisso segundas intenções. Às vezes pode ser melhor fazermos menos, mesmo coisas boas, o bem só é bem quando for obediência à palavra de Deus, e essa palavra até pode ser “não faça nada nessa situação, não se envolva nisso”. “Melhor é o pouco com justiça, do que a abundância de bens com injustiça” (Provérbios 16.8), entenda como bens qualquer coisa aparentemente benigna. Sigamos corretos até o fim, não sucumbamos às várias facetas da vaidade. 

01/12/21

Um passo por vez

      “Rogamo-vos, também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos.I Tessalonicenses 5.14

      Sabe como chegamos a pé a um lugar distante? Dando um passo de cada vez, se cada passo for dado de maneira adequada teremos forças para chegar ao final, ainda que demorando algum tempo. Contudo, se formos dominados pela ansiedade, poderemos correr demais ou perder o foco e desistirmos no meio, ou até, achando a jornada difícil demais, nem iniciando-a. Viver a vida um passo de cada vez permite que nos conheçamos aos poucos, firmando os pés e só então dando a próxima passada. Se pensarmos no tamanho do caminho e nos homens, e não em Deus, nos acharemos fracos. 
      Interessante que o que faz com que nos sintamos menos capazes não é a consciência real que temos de nós, mas a equivocada que temos dos outros, o problema está na comparação que considera os homens como referências. Olhar para os homens e não para Deus são coisas relacionadas, se uma ocorre a outra também ocorre, quando olhamos para os homens os colocamos no lugar de Deus. Se isso acontece passamos a “caminhar” para agradar a eles, não para alcançar o final que nos é proposto por Deus. Só o Deus do caminho pode capacitar o homem para caminhar e até o fim.
      Quando oramos a Deus com todo o coração, o Senhor nos mostra o que devemos fazer de forma clara, contudo, pior que não saber é saber e não administrar isso corretamente. Se Deus pede ele capacita, mas façamos o que ele pede com calma, nem o propósito sério e maior legitimiza pressa, estupidez, falta de amor, destrato, doenças emocionais e físicas que podemos nos infringir pela ansiedade. Um passo de cada vez, devagar e sempre, a vida não é numa prova de velocidade, mas de resistência, e o que deve resistir são os valores morais mais altos que glorificam ao Altíssimo Deus em nós. 

30/11/21

Amar é ir além da decepção

      “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.I João 4.18

      Quem já não pensou, “eu até que gostava daquela pessoa, mas ela me decepcionou, agora não gosto mais”, usamos a decepção como desculpa legítima para não termos que amar alguém, pelo menos não mais. Quando pensamos dessa maneira, na verdade ainda não entendemos o que é o amor, ainda que tenhamos passado muito tempo de nossas vidas achando que amamos as pessoas. Decepção é conhecimento de uma verdade que não gostamos sobre alguém, que se conhecêssemos antes não nos causaria decepção. Decepciona-se quem ama uma mentira, uma ilusão muitas vezes criada, não pelo que é “amado”, mas por alguém que quer pensar que pode amar, ou pelo menos para fingir para si mesmo que pode. 
      Infelizmente, querendo se proteger de decepções é que muitos dizem a si mesmos que não amarão mais, e nem me refiro a amor de namoro e casamento, me refiro a amor com amigos e parentes. O medo de ser machucado cria casca dura no coração, medo muitas vezes originado de decepção ocorrida na infância e na adolescência, no seio familiar, dos próprios pais e irmãos. Por isso tantos passando vidas experimentando paixão e atração física, até se casando e mantendo relacionamentos por anos por isso, mas sem de fato amarem e consequentemente serem amados. Com essa atitude teremos dificuldade para provar o amor de Deus, e em algum momento poderemos até injustamente alegar que Deus nos decepcionou.
      O verdadeiro amor só acontece quando amamos alguém em sua totalidade, com suas qualidades e defeitos, amar é ter consciência da realidade e querer o melhor dentro dela, por isso temos que diferenciar amor de paixão ou atração física. Essas são passageiras, quem as prova já sabe que não durarão muito tempo, enquanto que o verdadeiro amor é virtude eterna, a essência do Deus altíssimo que atrai todos à sua luz através de Jesus. Quem se decepciona e para de “amar” na verdade nunca amou, nunca soube o que é amar, contudo, se amadurecer pode achar na decepção não o fim, mas o início, na verdade só amamos alguém depois que esse nos decepciona, depois que conhecemos e aceitamos alguém como é.

29/11/21

A prova de cada um é a prova de cada um

      “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.
  I Pedro 4.12-13
      “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.
  Tiago 1.13-14
      “Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus.” 
Atos 14:22

      Como numa escola, na vida espiritual crescemos com provas e consequentes aprovações nelas. Nem toda a oração que fizermos e a melhor vigilância que exercemos nos impedirá, assim como àqueles pelos quais oramos, de passar por provas. Provas não são tentações, dessas somos livrados com vigilância e oração, tentações não são exercidas diretamente por Deus, mas por nós mesmos e pelos outros, homens e demônios, tentações mantêm-se as mesmas dia a dia. Provas são a providência de Deus criando situações específicas para que passemos, onde é provado nosso livre arbítrio para fazer boas escolhas morais. Nosso caráter, o homem espiritual que levaremos à eternidade, no qual é construído céu e inferno ainda aqui, é amadurecido pelas provas, e não simplesmente por vitórias sobre tentações. 
      É importante discernirmos provas de tentações assim como quais provas são nossas e quais não são, para não trazermos para nós problemas que não são nossos, e que muito menos são nossas responsabilidades suas soluções. Ainda que uma pessoa ou uma situação estejam bem próximas a nós, podem estar experimentando uma provação que não nos diz respeito, contudo, muitas vezes, em situações assim, nossa prova pode ser justamente não se envolver em provas alheias. Não sofrer com problemas que não podemos resolver, sejam nossos ou dos outros, retermos a paz e mantermos a fé diante deles, também é prova, não para vencermos em questões externas, mas para vencermos a nós mesmos, numa vitória interior. Todos somos igualmente tentados, mas a prova de cada um é a prova de cada um. 
      Podemos ter uma terceira ótica de nossas lutas, além de tentações e provações, lutas como tribulações. Muitas vezes queremos ter uma vida espiritual de qualidade para não termos mais tentações e para não sermos mais provados, mas só entramos no reino de Deus, segundo a Bíblia, vivenciando tribulações, assim podemos ser espirituais e termos fé não para não termos tribulações, mas para termos paz apesar delas. Seja nas tentações ou nas provações, a vida é luta sempre, e para os lúcidos é mais ainda, os maduros entenderão como viver com tribulações, aprenderem com elas, serem humildes aceitando que só Deus tem controle de tudo, mas tendo uma visão espiritual, não material, da vida neste mundo. Não viemos ao mundo a passeio, mas para crescermos, só crescemos confrontados com a dor e superando-a.