segunda-feira, julho 11, 2011

Viver pela fé, o que é?

      Viver pela fé não é achar que está fazendo tudo certo, que está no centro da vontade de Deus, que faz ofertas e é assíduo nos cultos, por isso está no direito de financiar um carro importado em 48 parcelas e então Deus vai aprovar essa compra.
       Em nome da fé as pessoas fazem muitas loucuras e também se acham no direito de acreditar em qualquer coisa para conseguir qualquer coisa. Sim, os ateus e positivistas também exercitam fé, assim como os idólatras e hereges. E eles conseguem muitas posses materiais e posições sociais com essa fé.
      Pode ocorrer também uma ingratidão maior, quando não se consegue o objeto da fé, põe-se a culpa em Deus, ou com rancor ou mesmo com resignação. Pode se por a culpa em Deus por algo que absolutamente Ele nada tem a ver, não mandou que se pedisse e muito menos deixou de dar o que foi pedido.
      Porém isso nada tem a ver com a fé que é dom de Deus, que permite ao homem a salvação eterna e dialogar com a pessoa do seu criador. Mesmo os seguidores autênticos de Jesus, seus filhos verdadeiros, podem tentar usar a fé, ao invés de serem usados por Deus para que através da fé genuína recebida conheçam mais ao seu Senhor, sua vontade e seu reino.
      “Olhando para os seus discípulos, ele disse: "Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus””, evangelho de Lucas, capítulo 6, versículo 20. Jesus começa o sermão das bem-aventuranças com essa frase. No meu entender todas as bem-aventuranças têm a ver com perda, com a falta, e não com a satisfação, com a abundância. Perda de bens materiais, de honra social, de justiça, de reconhecimento humano, tudo tem a ver com essa pobreza.
      Mas essa pobreza, esse sentimento de falta, é algo subjetivo, não está relacionada, necessariamente, com dinheiro e status. A pessoa pode ser rica e bem sucedida, mas se estiver em sintonia com Deus, não deixará que isso controle seu coração, que isso importe. Ela terá a consciência de que nada é diante de Deus e que toda essa riqueza não dará a ela o direito de se sentir melhor e maior que as outras pessoas, ostentando-se e subjugando.
      Infelizmente, devido a nossa fraqueza e a nossa injustiça, muitas vezes temos que experimentar a pobreza na carne mesmo, a falta de bens materiais, para que a nossa dura cerviz seja quebrada. Não precisaria ser assim, mas o nosso coração duro pede por isso. Mantendo-se arrogante, mesmo depois que a falsa fé não obtém resultados, a pessoa pode apostatar, chegar a insanidade ou a uma enfermidades. Toda aquela força que ela colocou no lugar errado, não sendo satisfeita, retorna como males.
      Viver pela fé, deveríamos ter mais cuidado para dizer essas palavras, além do fato de que a fé é pessoal, individual. Não deve ser comparada, desprezada ou idolatrada. Deus conhece cada coração, sabe da força de cada um, da sinceridade, e responde também a cada um de maneira diferente. Novamente chego a mesma conclusão, os tempos modernos pedem, de cada um, uma vida pessoal com Deus, colhendo das instituições o que elas têm de bom, mas dando prioridade sempre ao Deus do quarto escuro e fechado, aquele que buscamos sozinhos, muitas vezes com uma fé pequena, mas verdadeira.
        Mas o interessante é que se viver pela fé tem a ver com aceitar a necessidade, a dependência, por que é que Jesus começa as frases do texto do evangelho de Lucas, capítulo 6, com bem-aventurados, que quer dizer ser feliz de forma extraordinária? Por que esse texto é chamado de bem-aventuranças? Aí está o mistério, que só experimenta, só é muito feliz ou bem-aventurado, aquele que realmente entendeu o que é viver pela fé em Deus.

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