quarta-feira, abril 23, 2014

Orai pelos que vos perseguem

I. Introdução

ORAI PELOS QUE VOS PERSEGUEM, esse é o tema da reflexão de hoje, vamos começar lendo Mateus 5.38-42:

Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser levar-te ao tribunal, e tirar-te a túnica, deixa que leve também a capa; e, se alguém te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. Dá a quem te pedir e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.

Como introdução ao nosso estudo, chamo a atenção no texto lido para a frase “não resistais ao homem mau”, identificando que a orientação de Cristo foi para uma situação de conflito, onde um lado pelo menos se porta como inimigo do outro lado.
Começo dizendo que esse estudo não tem a visão maniqueísta de identificar os confrontos humanos, sejam os grandes ou os pequenos, simplesmente como embates entre o bem e o mal, entre o certo e o errado. Em se tratando de conflitos sociais corriqueiros, que é o do nosso assunto, isso geralmente não existe. O que ocorre é que ambos os lados estão errados, principalmente quando ambos acham que estão certos, já que se estivessem realmente certos, não haveria conflito. Então entenda-se o conceito de inimigo e vítima como algo relativo, cada lado de um conflito se sentirá vítima, e terá a tendência de ver o outro como inimigo.
Mas seja como for, a palavra de Deus nos orienta que não devemos resistir ao mal, essa resistência só acontece porque achamos que estamos certos, de alguma maneira. Não resistir é abrir mão dessa certeza, deixar-se ser lesado, entregar aquilo que nos é pedido, mesmo que achemos que é de maneira injusta. Por quê? Porque é a única forma de nos livrar do conflito, já que se ambos os lados insistirem, um em tomar e o outro em não querer entregar, o conflito não terminará nunca.

Agora leiamos o restante do texto, Mateus 5.43-48:

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está no céu; porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos.
Pois, se amardes quem vos ama, que recompensa tereis? Os publicanos também não fazem o mesmo? E, se cumprimentardes somente os vossos compatriotas, que fazeis de especial? Os gentios também não fazem o mesmo? Sede, pois, perfeitos, assim como perfeito é o vosso Pai celestial.

(Veja o mistério desse texto: Deus faz nascer o sol sobre maus e bons, significa que quando você vê alguém como inimigo pode estar impedindo tua própria bênção, já que aquele que você vê como mal pode estar sendo abençoado por Deus, e consequentemente, pode ser usado para abençoar você, Deus é sempre imparcial).

Essa segunda parte do texto responde à primeira: se aquele que se deixou lesar achar que perdeu algo, Jesus diz que não, ele ganhou, não algo humano ou material, mas espiritual. Isso não somente equilibra o confronto, mas honra aquele que agiu de forma espiritual. Como ele ganha? Orando e amando. O estudo a seguir é exatamente sobre isso.

Antes de começar, entretanto, preciso dizer algo. Tenho aprendido uma coisa sobre compartilhar a palavra de Deus, só conseguimos tocar as pessoas com o que falamos, se tivermos sido tocados antes. Por isso, não devemos pregar para impressionar, para convencer, ou para emocionar, mas pregar impressionados, convencidos e emocionados. Se agirmos assim, a palavra terá coerência, terá verdade, e o Espírito Santo fará a sua parte, nos outros, pois já fez em nós, pregadores, antes.
Portanto, por mais que um pregador, principalmente se ele for um pastor, um líder, precise de alguma proteção de privacidade, para ser respeitado, ele não poderá ficar tão distante das pessoas, da realidade, de si mesmo. O pregador perfeito é aquele que sabe compartilhar suas imperfeições com sinceridade e com equilíbrio, agindo assim as pessoas terão empatia com ele, e ele terá cumplicidade com elas, numa abertura onde as lições aprendidas poderão ser compartilhadas e vividas.

(Eu não vejo o apóstolo Paulo se protegendo, ele sempre escancara o coração, confessa mesmo que fez a obra na fraqueza, confira isso em I Coríntios 2.1-5. Isso sem falar do rei Davi, se mantivesse uma postura de profissional de púlpito, que muitos mantém nos dias de hoje, não teria escrito os Salmos, alguns dos textos mais terapêuticos das sagradas escrituras, leia Salmo 51 e tire suas próprias conclusões).

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II. A percepção do mal

Deus dá sentidos e inteligência aos homens, a todos eles, isso é indiferente da cultura, da formação intelectual, do temperamento, da personalidade, ou de qualquer outra variável do corpo, da mente ou da alma humana. Sendo de Deus, cada pessoa tem que trabalhar de maneira positiva com aquilo que recebeu. O assunto principal desse estudo não são os dons espirituais, aqueles recebidos na conversão, que são manifestação sobrenatural do Espírito Santo nos homens. O assunto aqui é sensibilidades, aptidões, entendimentos humanos, recebidos no nascimento ou adquiridos durante a vida, e como administrá-los.
Com esses sentidos e competências nós analisamos a vida, um ser humano normal e saudável, que interage com a realidade, com os outros seres humanos, que é produtivo, trabalha, se casa, estuda, vive em sociedade, sabe observar e chegar a conclusões originais sobre tudo. Contudo, e isso é inegável e bem humano, nós, por causa da natureza espiritual original pecaminosa, criticamos mais que elogiamos, achamos defeitos, mais que qualidades. Muitos desses defeitos que achamos, principalmente nos outros, são verdadeiros, já que o homem sem Deus tem mais defeitos que qualidades, isso é fato.
O que fazemos quando vemos um defeito nos outros? Alguns veem mais defeitos que os outros, e alguns veem defeitos mesmo que não existem, nesse caso são apenas invenções de nossas naturezas caídas, que sempre tentam se eximir dos próprios erros, projetando erros nos outros. Mas isso nem vem ao caso, a questão de se o que vemos de errado nos outros é verdadeiro ou não, o ponto aqui é: o que fazemos com essa constatação?
Primeiro temos que entender que as faculdades que temos são dons de Deus, mesmo que dons físicos e emocionais, não espirituais. Essas faculdades nos são dadas por Deus para cumprir um objetivo positivo, ajudar a nós mesmos e às pessoas. Diante desse conhecimento, devemos agir de uma maneira que tal sensibilidade ou inteligência abençoe os outros, ajude-os a serem pessoas melhores, a se livrarem do mal.
Bem, os não cristãos, e mesmo muitos cristãos, equivocadamente, tentam agir de maneira positiva diante da constatação que fizeram, mas com suas próprias forças. Daí as psicologias e muitas teologias, sem falar em filosofias e outras ciências, que tentam mudar o homem, mas sem Deus. O cristão que está no centro da vontade de Deus vê o problema e pede orientação de Deus sobre como resolvê-lo. Contudo, algumas barreiras podem existir para impedir esse processo que parece tão óbvio.

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III. Barreiras que nos impedem de levar o problema a Deus

Na verdade nós só temos um inimigo real: Satanás, o acusador, o pai da mentira. Efésios 6.12: “pois não é contra pessoas de carne e sangue que temos de lutar, mas sim contra principados e poderios, contra os príncipes deste mundo de trevas, contra os exércitos espirituais da maldade nas regiões celestiais.”. Algumas pessoas podem até se colocar como nossas inimigas, ou nós podemos ver alguns como nossos inimigos, contudo, isso na grande maioria das vezes, não é verdade, é apenas um embaraço espiritual, precisando de uma intercessão com autoridade para ser dissipado. Por ser um embaraço, algumas coisas podem acontecer para nos impedir de nos posicionar e obter vitória sobre a situação, eis algumas:

1º “Eu não tenho inimigos”

Em primeiro lugar podemos achar que inimigo é algo muito forte, principalmente quando o conflito ocorre entre irmãos, de uma mesma igreja local, e tantas vezes, entre ministros e líderes. Podemos arrogar que somos espirituais demais, superiores demais, para termos inimigos. I Coríntios 3.1-7 nos revela que as dissensões mais significativas ocorrem entre irmãos:

Irmãos, não vos pude falar como a pessoas espirituais, mas como a pessoas carnais, como a crianças em Cristo. O que vos dei para beber foi leite, e não alimento sólido, pois não podíeis recebê-lo, nem mesmo agora podeis, porque ainda sois carnais. Visto que há inveja e discórdias entre vós, por acaso não estais sendo carnais, vivendo segundo padrões puramente humanos?
Pois, quando alguém diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu sou de Apolo; não estais agindo segundo padrões puramente humanos? Quem é Apolo? E quem é Paulo? São apenas servos por meio de quem crestes, conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei; Apolo regou; mas foi Deus quem deu o crescimento. De modo que, nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas sim Deus, que dá o crescimento.”

Pensamos que para ser nosso inimigo tem que ser alguém que realmente declarou-se contra nós de maneira clara, verbalmente, violentamente, mais ainda, alguém do mundo, uma pessoa carnal, satânica. Contudo, onde o diabo mais aprisiona as pessoas é em situações não definidas, confusas, bem, confusão é uma especialidade dele. Se não há paz, se não há liberdade de ir e vir, de conversar, de olhar, de estar no mesmo ambiente, existe um mal, e é necessário que se ore contra ele.
É preciso cuidado para não nos acostumarmos com a situação errada, de forma a achar que ela é normal. É preciso cuidado para que as trevas não sejam mais interessantes que a luz. Em alguém em que habita o Espírito Santo de Deus, as trevas nunca prevalecerão, mesmo que oprimam por algum tempo. Contudo, há muitos entre nós que são convencidos, mas ainda não se converteram de verdade.

2º “Eu estou certo”

Outra barreira é acharmos que estar certos num conflito nos exime de ter que tomar a iniciativa para solucioná-lo, leiamos Mateus 5.23-26:

Portanto, quando apresentares tua oferta no altar, se ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do altar a oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; depois vem apresentar a oferta. Entra logo em acordo com o teu adversário, enquanto estás com ele a caminho do tribunal; para que ele não te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último centavo.”

Entenda que estamos fazendo essa reflexão baseados sob o ponto de vista do que está certo, daquele que não fez nada e ainda assim foi mal entendido e colocado como inimigo. Portanto, você não foi colocado como o errado, e é aí que muitos dizem: “mas se eu não fiz nada de errado, por que sou eu quem tem que orar, que resolver o problema?”.
Porque a Palavra de Deus manda assim, e não parece mais sensato? Tomar a iniciativa aquele que está certo, visto que está mais forte, que está na luz, ao invés do que está errado, que está mais fragilizado? Permanecer irredutível, quando se acha que está certo, é estar debaixo da lei, contudo, executar misericórdia, tomar a iniciativa por amor, é para os que provaram a graça de Deus através de Cristo. Estamos debaixo da lei ou da graça?

3º Vemos a questão somente com os olhos carnais

Seja negando o problema, ou achando que se está certo no conflito, de uma forma ou de outra, por causa de nossas fraquezas, inseguranças e vaidades, tomamos a questão como pessoal. Isso principalmente, porque na maioria das vezes só vemos o problema do outro quando ele nos atinge diretamente, enquanto está prejudicando um terceiro, nós não nos importamos muito. Isso sim seria mostrar muito mais a misericórdia de Deus, orar por um conflito de terceiros, que nada tem a ver conosco, mas que nos colocamos como intercessor por amor, para que haja paz.
Aí, contudo, entra a mão de Deus, ela permite que algo nos toque, nos incomode, justamente para que nós possamos ser bênção na vida de outra pessoa. Só entendemos o quanto alguém é invejoso, quando ele inveja a nós. Só entendemos o quanto alguém é irado, quando ele nos odeia. Só entendemos o quanto alguém é arrogante, quando ele nos despreza. Repito, a sensibilidade de perceber a inveja, o ódio e a arrogância é relativa, cada um sente num extensão.

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IV. Aspectos poderosos da intercessão pelo inimigo

Então eu compartilho com você uma palavra de revelação: quanto maior a sensibilidade, maior a responsabilidade, não para tomar o mal de alguém como pessoal, mas para levar o mal diante de Deus e interceder pela pessoa.
Num processo de intercessão que começa então, se feito com persistência, diante de Deus, com liberdade do Espírito Santo, nós podemos discernir se o que sentimos é verdade ou é invenção do nosso coração. Se for invenção, quem precisa de cura, somos nós, e não a outra pessoa.
Com frequência usamos o que os psicólogos chamam de projeção, aliamos ao outro, aquilo que existe em nós. Então vemos inveja no outro, quando somos nós os invejosos, enxergamos ira no outro, quando somos nós que odiamos, sentimos desprezo do outro, quando somos nós os arrogantes.
Todavia, se na oração que continua, após haver perdão em todo a sua profundidade, da nossa parte, ainda continuarmos sentindo o mal no outro, então devemos nos colocar como intercessores da vida do outro. A sensibilidade que Deus nos deu, a inteligência de ver o mal, não é para que nos achemos perseguidos, descriminados, destruídos de alguma forma. Mas é para que nos coloquemos, com coragem como intercessores pela vida daquele que está preso ao mal, seja da inveja, da ira, da arrogância, ou de outro qualquer.
Nessa mudança de visão existem várias bênçãos, citadas na Bíblia e até usadas pela psicologia e outras religiões e filosofias. Mas na verdade, os princípios não são da ciência, das religiões ou do diabo, o princípio é de Jesus, mesmo que usados inescrupulosamente por outros. Eis os princípios:

1º Energia positiva e negativa

 “Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme o SENHOR e desvia-te do mal. Isso te trará saúde ao corpo e vigor aos ossos.” “O coração tranquilo é a vida do corpo; a inveja, porém, apodrece os ossos.” (Provérbios 3.7-8 e 14.30).

Utilizado muito pela nova era e pelo esoterismo, contudo, interpretando isso de uma maneira bíblica, já que não me refiro aqui a nenhuma espécie de energia de anjos caídos, do universo ou da natureza, ou de entidades espirituais do mal, mas me refiro a uma convicção física e emocional que todos os seres humanos têm. Essa convicção, essa energia, essa força, que pode ser usada de uma maneira ou de outra, não é a fé, mas a força que transporta a fé.
É importante que entendamos que muitos chamam de fé, essa energia, por isso dizem que não importa no que se crê, desde que se creia. Mas isso que eles se referem, não é a fé salvadora, aquela que é dom de Deus, é simplesmente essa força vital inerente a todo ser humano. Só essa força não é suficiente para salvar ninguém, não na outra vida, contudo ela é importante, principalmente para revitalizar nosso corpo e nossa alma nesse mundo, tanto que muita gente a usa de maneira positiva.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se orgulhe.” (Efésios 2.8-9).

Quando sentimos inveja, ódio e desprezo, usamos essa força contra nós, por isso ficamos doentes, perdemos a resistência natural do organismo contra gripe, resfriado e outras enfermidades, sem falar das doenças psiquiátricas, como depressão, fobias, psicoses, etc. Quando oramos a Deus, além de usar essa força vital para conduzir a nossa fé espiritual para que o Senhor aja e cure a pessoa pela qual oramos, nós também estamos usando toda essa força vital de uma maneira positiva, e não somente nosso espírito, mas nosso corpo e nossa alma são curados. Veja que tudo isso pode acontecer, antes mesmo que a pessoa pela qual estamos orando, seja efetivamente curada.
Compartilho com você outra palavra de revelação: a oração que você fizer pelo mal do outro libertará em primeiro lugar você mesmo. Veja o exemplo de Jó, em 42.10: “E depois que Jó intercedeu pelos seus amigos, o SENHOR o livrou e lhe deu o dobro do que possuía antes.”. (Entenda como “amigos”, falsos amigos, que acusaram Jó, culparam-no pelo mal que estava vivendo). Tudo aquilo de ruim que você sentiu do outro, que te incomodou tanto, te aprisionou, te enfraqueceu, sairá de você, à medida que você orar por ele. A sua libertação ocorrerá quando você se esquecer de si mesmo e desejar, de todo o coração, a libertação do outro. 

2º O coração do Evangelho: abençoar os que nos perseguem

Ordem presente no texto inicial e aqui repetido por Paulo em Romanos 12.14: “Abençoai os que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis.”.

Só isso bastaria para que mudássemos de opinião diante de alguém que nos faz mal, que nos incomoda, contudo, muitas vezes ficamos tão enfraquecidos pelo posicionamento negativo do outro, que nos anulamos. Isso encontra espaço em nós, quando já temos um histórico longo de nos diminuir, de nos fazer de pobres coitados, de injustiçados. Se naturalmente nos sentimos assim, quando alguém se coloca contra a gente, nós então assumimos de vez uma atitude de perseguidos e de vítimas, enquanto colocamos o outro, como o perseguidor e o inimigo. Isso pode virar uma enfermidade psiquiátrica muito séria.
Atualmente, muita palavra antibíblica, de pregadores que precisam dizer aquilo que agrada as pessoas, para que possa ter retorno financeiro e fama, tem usado com frequência, essa mentira nos púlpitos. Muitos pregadores têm manipulado os mais fragilizados, que são incentivados a continuar numa disposição de vítimas, e a de colocar os outros, como inimigos. Assim esses não são curados de seus males, e não podem ser usados por Deus como intercessores daqueles, que pelo menos em suas mentes, se colocam como inimigos. Um povo sem cura, preso às doenças afetivas, tem se mantido fraco, ao invés de provar a libertação que o Espírito Santo de Deus pode dar.
Com uma heresia o diabo tem mantido muitos escravizados e enganados. Por quê? Porque é mais fácil orar para que o inimigo seja destruído, algo que deveríamos fazer somente como os espírito imundos, e não com seres humanos, do que orar para que as pessoas sejam curadas. Isso é uma visão do antigo testamento usada de maneira errônea atualmente nos púlpitos. Israel tinha inimigos nas nações, nos homens, nos reis. No evangelho, contudo, como já foi dito, nosso inimigo é o diabo, e as pessoas, todas elas, todas mesmo, precisam de Jesus e podem ser salvas, mesmo que no último instante de suas vidas.     

3º Visão espiritual

Devemos orar pelos que nos perseguem porque essa é a visão espiritual da realidade. Eu disse no início desse estudo que falaria sobre aptidões físicas, emocionais, elas existem e não podemos nos livrar delas, contudo elas precisam ser submetidas ao Espírito de Deus. Leiamos I Coríntios 2.14-16:

O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois lhe são absurdas; e não pode entendê-las, pois se compreendem espiritualmente. Mas aquele que é espiritual compreende todas as coisas, ao passo que ele mesmo não é compreendido por ninguém. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.”

Por isso temos que olhar, ouvir, falar e viver como Cristo. Para que nossas sensibilidades e inteligências sejam úteis, elas precisam ser interpretadas pelos dons do Espírito Santo. Os dons do Espírito Santo são a inteligência espiritual do homem, são o cérebro do homem espiritual que existe em cada um que se converteu. É ele que habitará a eternidade, visto que toda a carne, e não me refiro à matéria, mas às tendências do mal que residem em nós, será aniquilada, não habitará o céu. Por isso na eternidade não teremos mais esse conflito constante que habita nosso coração, entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o querer o certo, e muitas vezes, fazer o errado.
Quando se tem uma conversão completa, se experimenta a nova natureza de maneira muito forte e imediata, com batismo do Espírito Santo, com libertação de vícios e fraquezas, com uma capacitação muito grande para ser santo e testemunhar. Enfim, numa conversão genuína, se nasce AVIVADO. Contudo, e aí Deus sabe os motivos, alguns têm uma conversão mais lenta, num processo que demora tempo. O batismo no Espírito Santo às vezes ocorre muitos anos depois do batismo nas águas. Enfim, a desintoxicação da carne, principalmente em nossa mente e em nossas emoções, demora pra acontecer.
Precisamos de um processo de espiritualização do nosso homem interior, onde abrimos mão de qualquer noção de religiosidade que tínhamos. Isso se dá na mente, no conhecimento, através do estudo bíblico, mas também nos nossos sentimentos, através da oração, e na maneira como agimos e reagimos, na prática. Tudo isso para que submetamos nossas sensibilidades e inteligências naturais aos dons do Espírito Santo, tudo isso para que aprendamos a usar nossa visão espiritual.

O propósito desse estudo é mudar justamente isso, nossa visão. Ao invés de nos colocarmos como vítimas, nos pormos como intercessores, ao invés de vermos, o outro como inimigo, vê-lo como alguém que precisa de nossa oração.
Isso não é opcional, Deus pode estar permitindo que você se sinta tão incomodado com a inveja, com o ódio e com a arrogância de alguém porque você é o único que pode lutar, diante de Deus, pela vida dessa pessoa, para que ela seja curada de uma grande ferida emocional.
A mudança de ótica, ou quando priorizamos a ótica espiritual, sobre a carnal, transforma o mal em bem, não só do outro, mas o nosso. Então, revestidos de amor, poderemos transformar a inveja, o ódio e a arrogância do outro em paz e cura. Mudando de ótica seremos instrumentos proativos de bênção, ao invés de vivermos passivamente como vítimas da inveja, do ódio ou da arrogância.

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V. Três coisas necessárias para submeter a ótica carnal à espiritual

Para mudar sua ótica você precisa de três coisas orientadas por Paulo a Timóteo em II Timóteo 1.6-7:

Por essa razão, lembro-te de que despertes o dom de Deus que há em ti mediante a imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.”

1ª Poder leiamos Lucas 4.17-21:

Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías; ele o abriu e achou o lugar em que estava escrito: Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos presos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano aceitável do Senhor. E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhares de todos na sinagoga estavam fixos nele. Então ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir.”

É preciso coragem para deixar de se sentir vítima do mal do outro e se colocar como libertador do mal que aflige a todos nós. É preciso coragem em Cristo para se por de pé, com a autoridade que Jesus nos deu pelo seu sangue, pelo seu nome. Autoridade para curar, não apenas, males físicos, mas emocionais e espirituais, não apenas cegos no corpo, pois esses sabem que são cegos. Os piores cegos são os espirituais, esses não sabem que são cegos.

2ª Amor – leiamos I Pedro 4.7-10:

Mas já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, tende bom senso e estai alertas em oração. Antes de tudo, tende profundo amor uns para com os outros, porque o amor cobre um grande número de pecados. Sede hospitaleiros uns para com os outros, sem vos queixar. Servi uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons administradores da multiforme graça de Deus.

Um amor que vê, não o que a pessoa é, mas o que ela pode vir a se tornar, mediante o poder e a misericórdia de Deus, esse é o amor que precisamos ter. Aquele que se esquece de si mesmo e pensa no outro, que liberta pois não prende as pessoas aos seus erros, mas tem esperança que ela mude. Essa ótica nos amadurece, nos faz pai e pastor.
Não pense que pai é somente aquele que tem filhos físicos, Deus nos chama para sermos pais espirituais de pessoas que as vezes são apenas crianças, precisando de um colo. Não pense que pastor é somente o pastor da igreja, você pode ser usado como pastor de um grupo pequeno, participantes de um ministério, de uma reunião de estudo bíblico ou de oração, em sua empresa, em sua rua, em sua casa.

3ª Moderação – Gálatas 6.1-5

Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vós, que sois espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade. E cuida de ti mesmo, para que não sejas tentado também.
Levai os fardos uns dos outros e assim estareis cumprindo a lei de Cristo. Pois, se alguém pensa ser importante, não sendo nada, engana a si mesmo.
Mas cada um avalie seu próprio procedimento e, então, terá motivo para orgulho somente em si mesmo e não nos outros; porque cada um carregará o seu próprio fardo.”

Esse é o sentimento que enche o coração, e não o ego, é o equilíbrio, necessário para não enlouquecermos. O louco é extremista, ou ele vê todos como inimigos, ou vê todos como amantes, ou odeia tudo, ou está apaixonado por todo mundo. É preciso moderação para administrar as sensibilidades e inteligências de nossa carne através das armas espirituais. É preciso moderação para não se ver como a pior das criaturas, nem a melhor, a mais humilhada, nem a mais importante, e assim ser humilde com os próprias erros e misericordioso com os dos outros.
A cruz de Cristo é o elemento nivelador de nossas consciências (confira isso em Isaías 53), ela nos revela que vítima só existiu uma, Jesus, todo o resto, todos os homens, somos agressores, que levaram Jesus à morte. Ninguém é melhor que ninguém, nenhum pecado é pior que o outro, todos nos separam de Deus, e todos precisam do perdão que há somente em Jesus.

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VI. Conclusão

Orai pelos que vos perseguem, algo tão simples, mas que às vezes complicamos tanto para viver. Compartilhei essa palavra porque eu a tenho vivido, e de maneira bem impactante. Demorei para entender que a sensibilidade que Deus me dava não era para me enfraquecer ou me por em confronto com as pessoas, mas era para que eu orasse por elas. Sim, nossas maiores fraquezas nada mais são que nossas maiores fortalezas, quando usadas da maneira certa, para a glória de Deus, através do poder do Espírito Santo, para a cura das pessoas. Portanto, ore mais, e amargue menos, abençoe, e não despreze, dê lugar ao Espírito Santo, e não a autocomiseração, entronize Deus em seu coração, e deixe que o ego se esvazie, mais e mais. 

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