“Os que esperam no Senhor possuirão a terra.
Os mansos herdarão a terra.
Os ímpios puxam da espada e preparam o arco para abater os pobres e necessitados.
Mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios.
Não serão envergonhados nos tempos difíceis e nos dias da fome se fartarão.
O ímpio pede emprestado e não paga; o justo, porém, se compadece e dá.
Aqueles a quem o Senhor abençoa possuirão a terra.
Jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão.
Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.
Espere no Senhor e ande nos seus caminhos; ele o exaltará para que você herde a terra.”
Salmo 37, versículos 9, 11, 14a, 16, 19b, 21, 22a, 25b, 29 e 34a
Os dez versículos acima, selecionados do Salmo 37 (versão Nova Almeida Atualizada), citam os termos possuirão ou herdarão a terra, além de outros termos também relacionados a necessidades materiais, como pobreza, abundância, fome, emprestar e mendigar. O salmo é uma das passagens mais belas da Bíblia em versículos como o 4, 5, 23 e o 24, “agrade-se do Senhor e ele satisfará os desejos do seu coração, entregue o seu caminho ao Senhor , confie nele, e o mais ele fará”, “o Senhor firma os passos do homem bom e se agrada do seu caminho, se cair, não ficará prostrado, porque o Senhor o segura pela mão”. O versículo 37, em especial, é um que amo, “observe aquele que é íntegro e reto, porque o futuro dele será de paz”.
Com insistência tenho dito aqui que a Bíblia em sua totalidade pode ser palavra de Deus se entendida do jeito certo, racionalmente colocando os textos como registros históricos de homens antigos, conforme contexto histórico antigo. Mesmo que possamos entender certos entendimentos morais como vontade de Deus, era o que homens antigos entendiam como vontade de Deus, e nisso estão temas tão repetidos aqui como sexualidade e família. Mesmo as palavras de Paulo às igrejas cristãs no novo testamento, devem ser consideradas com cuidado, e repito, isso não é reavaliar a palavra de Deus, mas o que homens antigos entendiam ser palavra de Deus para seus tempos. A palavra final de Deus é a do vivo Espírito Santo.
O mais triste é vermos evangélicos hoje, querendo pôr ensinos bíblicos na prática, interpretando-os ao pé da letra, como se o contexto cultural e social atual fosse o mesmo de séculos atrás. E muitos que fazem isso ainda se consideram mais santos, mais ungidos, mais “bíblicos” que outros, porque, por exemplo, demonizam e condenam homoafetivos ou colocam a mulher como inferior ao homem. Não podemos ler a Bíblia como palavra direta do Deus vivo para nós hoje! Mas Deus usa a Bíblia para nos falar diretamente? Sim, e como, eu sou orientado, consolado e reanimado por textos bíblicos todos os dias, muitas vezes sem me ater a contexto histórico, só ouvindo e obedecendo pelo que sinto em meu coração objetivamente.
Se há um texto que deixa claro a visão do ser humano dos tempos bíblicos, sobre vida vitoriosa e o plano de Deus para o homem, é o salmo 37. Ele não fala de eternidade, de salvação no céu e perdição no inferno, a passagem também não cita virtudes morais como fins em si mesmas, mas como causa para se ter o favor de Deus para ser abençoado no plano físico. Essa era a visão de Israel, do povo judeu, aliás uma ótica religiosa que estabelece uma diferença entre espiritualidade ocidental e oriental. Enquanto para o judeu o homem devia estar jovem e forte para vencer guerras e trabalhar na terra, outros povos, ainda que também limitados a seu tempo, queriam envelhecer para se isolar e buscar o reino espiritual e eterno.
Virtudes espirituais como fins em si mesmas, não só para sermos aprovados por Deus e recebermos dele dádivas neste mundo, eis o ponto. “Busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas” (Mateus 6.33), dizemos a nós mesmos que entendemos isso, mas somos dissimulados, queremos ser bons só por conveniência, para não nos faltar dinheiro. “Porque o Reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder” ( I Coríntios 4.20). Não digo que seja fácil tirarmos os olhos deste mundo, precisamos trabalhar, sustentar famílias, não vivemos aqui de lindas pregações, mesmo de experiências espirituais extasiantes, mas vivemos eternamente por Deus se priorizarmos valores eternos.
O que muitos protestantes e evangélicos entendem hoje como cristianismo é só uma “evolução” do judaísmo, e ainda que Jesus tenha vivido no mundo e esteja disponibilizando (pelo Espírito) no céu a mais verdadeira e eterna religião, para todos os povos e de todos os tempos, muitos cristãos insistem em desviar a nova aliança para muitos fundamentos da velha aliança. Por isso teologia da prosperidade, por isso fé na fé, por isso “artistas” gospel, pregando e cantando para lotarem templos onde se troca dízimos por riquezas no mundo, por isso tanto valorização do Templo de Jerusalém e mesmo da nação de Israel. Muitos teimam olhar para trás, quando o Espírito Santo nos dá a visão do futuro, e isso já há quase dois mil anos.
Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão
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