"O Senhor prova o justo e o ímpio, a sua alma odeia ao que ama a violência"
Livro de Salmos, capítulo 11, versículo 5
Injustiça e mesmo alguma humilhação vêm para todos, tanto para os que caminham com Deus quanto para os que não. Contudo, os próximos a Deus veem as aflições deste mundo de maneira diferente da maneira como veem os que estão distantes de Deus.
Abrindo parênteses logo de cara, não caminhar com Deus não implica necessariamente em fazer males, agir com injustiça, deixar de fazer o bem. O homem pode ter uma vida de ações aparentemente justas e boas sem que ande com Deus.
Fechando parênteses, a diferença está na ótica, na maneira como se vê a injustiça sofrida. O que caminha com Deus vê como uma provação, uma maneira de crescer, de vencer uma fraqueza sua que ainda está pendente. Por isso não coloca a culpa de tal injustiça nem nas pessoas e muito menos em Deus. Ele procura em seu coração forças para reagir de maneira benigna à injustiça, e é claro que se agir assim contará com a ajuda de Deus, com o consolo de Deus, com a paz de Deus. Essa paz tira do coração do homem todo o desconforto trazido pelas fantasias de violência. Sim, porque na maioria das vezes, os que andam com Deus não exteriorizam a violência mas são atormentados por fantasias dela.
O que não anda com Deus, que pode até ser religioso e esforçado, não verá a injustiça como uma oportunidade de crescer. Ele se revoltará contra ela, procurará culpados para que ela exista. Ao invés de lutar contra a própria fraqueza, lutará contra as outras pessoas e até contra Deus, mesmo que chame Deus de "destino" ou genericamente de "vida".
Ação para vencer a própria fraqueza que não seja através de Deus, mesmo que tomada por quem caminha com Deus, é violência. O que é violência? Tudo aquilo que se faz que não seja a vontade de Deus. A vontade de Deus sempre confronta, em primeira instância, o próprio indivíduo e não os outros. O que caminha com Deus chama a responsabilidade para si mesmo. Violência é odiada por Deus, é justiça feita com as próprias mãos, que uma vez executada impede Deus de entrar na história.
Contudo, quando a injustiça é assimilada da maneira correta, diante de Deus, com o homem procurando entender o que ele pode melhorar e não jogando a responsabilidade para os outros, Deus mesmo se encarrega de lutar pelo injustiçado, é dado lugar à ira de Deus, dele será a vingança, caso ela seja necessária.
Davi sabia muito bem o que era esperar pela justiça de Deus, enquanto estava foragido na caverna de Adulão, protegendo-se dos ataques de Saul, aguardando que se cumprisse a promessa de ser empossado como rei de Israel. Ele não se apressou, fazendo justiça com as próprias mãos, não faltou com respeito a Saul, mas esperou, sem violência. Na hora certa Deus cumpriu a promessa em sua vida.
"E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre: Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome", Apocalipse 3:7,8.
Não sei quanto a você, mas é assim que eu me sinto. Nunca fui forte, errei muito, acabei me cansando de errar e escolhendo o caminho certo, não porque achei o certo melhor, mas porque enjoei de andar pelo errado e o certo se tornou a única opção. Como fui burro, o caminho certo não enjoa, nele há fonte de água para a vida eterna jorrando constantemente. Assim é a minha história.
Me consola muito saber que Deus me entende, me perdoa e continua me abençoando. Mas será que sou exceção? Não são, todos os chamados para experimentarem a Deus, fracos? Acredito que sim, pelo menos todos os que realmente andam com Deus se consideram assim. É nos fracos que Deus é forte, usando um chavão do "evangeliques", ao contrário de todo o positivismo moderno, de toda a pregação na fé em si mesmo, e mesmo do triunfalismo insano que até o meio evangélico prega.
Eu prefiro acreditar em "toma a tua cruz e segue-me", em "no mundo tereis aflições mas tende bom ânimo, eu venci o mundo", e assim vai. Esse é o evangelho que tenho experimentado, o evangelho que até conta com a fraqueza do homem, como plano B, já que é só assim que nossa dura serviz é dobrada e pode conhecer os mistérios de Deus.
"Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambos os ouvidos. Naquele mesmo dia suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa, começarei e acabarei. Porque eu já lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu. Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a sua iniquidade, nem com sacrifício, nem com oferta de alimentos". Postei somente o trecho acima, mas recomendo a leitura de todo o capítulo 3 do 1o. livro de Samuel.
O momento de vida que Eli havia chegado era muito sério. Veja que ele era alguém que conhecia a Deus, que tinha experiência e sensibilidade para saber quando Deus falava. Ele mesmo ensinou o jovem Samuel, orientando-o a ouvir a voz de Deus. Ele mesmo tomou a iniciativa de perguntar para Samuel o que Deus havia lhe falado.
Eli também não duvidou da legitimidade da palavra e nem se colocou em posição arrogante de não aceitar uma admoestação trazida a ele por alguém tão jovem. Mas ele não obedeceu a Deus, na verdade não fazia isso já a muito tempo, por isso Deus foi tão duro com ele. Eli tinha virado as costas para Deus, um Deus que ele conhecia bem.
Oremos a Deus para nunca chegarmos a esse ponto, o ponto em que o pecado não pode ser mais perdoado, com certeza, sob a ótica do novo testamento, por causa da dureza de Eli e não pela falta de misericórdia de Deus.
"O Senhor Deus me deu uma língua erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem", Livro do profeta Isaías, capítulo 50, versículo 4.
"A vós vos é dado conhecer os mistérios do reino de Deus, mas aos outros por parábolas, para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam", Evangelho de Lucas, capítulo 8, versículo 10.
"Porque o perverso é abominável ao Senhor, mas com os sinceros ele tem intimidade", Livro de Provérbios, capítulo 3, versículo 32.
"Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer", Evangelho de João, capítulo 15, versículo 15.
Amigo fiel, comigo pra sempre,
que desce do céu, a mão me estende.
O homem passou e não se importou,
e o fariseu de mim se esqueceu.
Mas tu não te esqueces, prometes e cumpres,
amor que persiste, é paz sem limites.
Se fé fosse o esteio de minha jornada,
que pobre meu reino, não seria nada.
A fé é pequena, um grão de mostarda,
mas ela é lançada naquele que atenta
pra fortes e fracos, pra reis e vassalos,
pra dignos, santos, pra ímpios ingratos.
Não tenho tesouros na terra, na vida,
apenas um ouro, a minha querida,
presente do amigo, que é dono do mundo,
que anda comigo, que cuida de tudo.
Não falo, ele entende, não ando, ele corre,
me abraça e sente a dor que me ocorre.
Eu sei que os anos não vão impedir
que seu lindo plano se cumpra em mim.
Eu sei como perdem quem não acredita,
que diz que a ciência a tudo explica.
Soberbos, dementes, sozinhos, ateus,
prefiro ser crente que fia-se em Deus.
Sabes falar minha língua, não que eu seja erudita,
tu és o que me afina, os meus ouvidos tu livras.
Tens as palavras corretas que me ensinam mistérios,
o invisível revelas, tudo o mais fica belo.
Casa fechada, faxina que minha alma precisa?
Abres a porta, me limpa, deixas feliz o meu dia.
Tu tens o pote com água fresca em tempo de estio,
tu és a brisa que abraça meu coração ressequido.
Se não consigo correr, meus pés tropeçam no nada,
quero mas não posso ver, o mal é como fantasma?
Domas as sombras com as mãos, desfaz os laços, os nós,
tocas o meu coração, tiras meu corpo do pó.
Sabes chegar sem alarde, és educado, paciente,
sem criticar meu disfarce, vês o que outros não veem.
Podes ficar, cá comigo, o teu silêncio é doce,
és muito mais que amigo, és meu amado, meu noivo.
Nasça em meu quarto, o dia, uma manhã de setembro, a novidade da brisa, lança no ar teus temperos. Como jardim cor de rosa numa cidade pequena, como romance de outrora, como as canções de setenta. Tua presença em meu quarto, depois da noite tão negra, quando viver era fardo, onde vingava a descrença, faz o meu mundo tranquilo, águas frescas de rio, trem que viaja nos trilhos rumo ao teu infinito. Quero a vontade que é tua, sinceridade desnuda, que não tem medo das ruas, e faz a vida mais lúdica. Me ilumina com risos, apruma assim minha alma, faz-me de novo menino, que acredita em sagas. Saga de príncipe nobre que vai livrar sua amada de uma fera disforme numa masmorra encantada. Saga de jovem franzino que um gigante enfrentou para cumprir seu destino e libertar seu amor. Vem, arreganha as cortinas, deixa o Sol me tocar, escandaloso, desminta a escuridão do lugar. Quero acordar desse jeito, abrir os olhos sem luto, encher de paz o meu peito, tão satisfeito com tudo. E encontrar na cozinha mesa repleta, cuidados, leite, café, pão, família, o que for do teu agrado. Depois da porta da sala, ver que há um novo dia, a esperança me aguarda, uma porção de alegria.
"Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá, tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar, tem gente enganando a gente, veja nossa vida como está, mas eu sei que um dia a gente aprende." Renato Russo
Escrevo esta reflexão com uma tristeza muito grande em meu coração, você, que me acompanha neste blog, peço que me entenda nesta cumplicidade de ser humano com ser humano, se eu conseguir te ajudar em alguma coisa com isso, glórias a Deus, senão, tenha apenas misericórdia e ore.
Estou triste por ver como algumas pessoas, e pessoas de liderança que precisariam estar mais preparadas para valorizar todo mundo, sem distinção, não valorizam trabalho intelectual e artístico. Isso é uma ofensa direta a mim e a minha família, onde estudo é prioridade. Não, não somos melhores que ninguém, de forma alguma, mas gostamos de usar o cérebro, e de trabalhar com compartilhamento de conhecimento. Minha esposa é mestra em matemática, eu vivo de aprender e compartilhar sobre cultura de música e instrumentos musicais, além de estudar prática de piano e órgão, minhas filhas têm um excelente aproveitamento em todas as escolas que frequentam.
Contudo, para alguns, trabalho de verdade é só o braçal, eu respeito o trabalhador braçal, tanto quando respeito o neurocirurgião, mas sei que o neurocirurgião se esforçou, ou porque teve oportunidade ou porque escolheu se esforçar, muito mais que uma faxineira. Não, emocionalmente e espiritualmente somos todos iguais, diante de Deus e de estados civilizados, mas devemos honrar a quem honra merece, ao invés de ficar incentivando as pessoas a fazerem atividades que exigem pouco estudo, a se acharem até melhor que pessoas cultas e bem formadas. Infelizmente são muitos desses desinformados, não todos, que pagam hereges e pilantras nas igrejas, que elegem corruptos e manipuladores na política.
Então, que trabalhadores braçais deem aulas aos filhos desses que não valorizam conhecimento, que quem se satisfaz com pouco estudo escrevam os livros científicos para esses que desrespeitam os que se esforçam mais, que primitivos batedores de tambor produzam a música utilizada no entretenimento e nas cerimônias religiosas, no lugar de violinistas, pianistas e trompistas, que se esforçaram para desenvolver suas aptidões naturais através de horas a fio de estudo.
O mais ingrato e injusto disso tudo, é que tais equivocados não entendem, que do trabalho braçal se descansa fácil, uma boa noite de sono e já estamos novos. Agora de tocar um instrumento musical, lendo partitura, administrando mãos, dedos e teclas, prestando atenção a um regente, e ainda tento que fazer tudo isso com sentimento, não de forma repetitiva e fria, como se fazem alguns trabalhos físicos em chão de fábrica, descanso para isso é difícil. Muitos entram em estresse e depressão profundos, após se dedicarem por anos a preparo e ministração de aulas, tentamos dormir e notas e números, ideias e raciocínios, ainda permanecem grudados em nossas mentes.
O que me consola é Deus, é sempre Deus, esse é justo, amoroso, e realmente nos conhece, sabe de nosso trabalho e esforço, esse Deus, a quem sirvo, recompensará cada um conforme a obra que fez, nesse Deus eu não julgo ninguém, nem me considero melhor, nesse Deus eu espero, a esse Deus eu obedeço, é esse Deus que tem sustentado a mim, minha esposa e minhas filhas, de maneira maravilhosa, esse Deus tratará com cada um. Repito, aqui não existe qualquer tipo de desrespeito para com os trabalhadores braças, mas sim, respeito para com os que se esforçam intelectualmente.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados." Mateus 5.6
A Bíblia não é um livro de regras que devem ser obedecidas cegamente, do 1o. verso de Gênesis ao último de Apocalipse.
As palavras ditas por Jesus nos evangelhos têm prioridade sobre as palavras de Paulo nas cartas, o Novo Testamento de forma geral tem prioridade sobre o Antigo Testamento. Isso sem falar de contexto histórico e cultural e de linguagem metafórica que devem ser considerados nos dois testamentos escritos do século I pra trás.
Mas olhar a Bíblia assim dá trabalho, exige que pastores e ovelhas pensem, estudem e orem buscando do Espírito Santo orientação. Aliás em termos de Novo Testamento, quando a Bíblia se refere à palavra de Deus ensinada e obedecida, se refere ao "paracleto" Espírito Santo, não a um cânone de 66 livros escritos por homens, a própria Bíblia não dá ao cânone, a legitimidade que teólogos dão a ele.
Contudo, em nome dessa "bibliolatria", preconceitos são mantidos, ciência é menosprezada, o Evangelho é restringido e o Espírito Santo, amordaçado. Quem tem interesse nisso? Não se engane, não é o mundo, mas lideranças cristãs que têm como objetivo controlar as massas e enriquecer-se materialmente.
Ps.: eu amo a Bíblia, toda ela, tenho mais de 30 versões diferentes de vários cânones em casa, nenhum texto no mundo, filosófico ou religioso, é tão sábio, tão profundo, tão abrangente e tão usado por Deus como os textos bíblicos.
"O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará. Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá. Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino. Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido."
Sobre o livro de Joseph Campbell "O Herói de Mil Faces”, que influenciou dentre outros, George Lucas em Star Wars, usando os arquétipos de Jung. Segue parte do texto que achei interessante (a frase que dá título a essa reflexão é de Confúcio, com certeza tem a ver com o mundo dos homens e demônios, não com Deus). Existem alguns erros de linguagem, não sei se por causa de tradução, mas ainda assim o material pode ser entendido e é muito interessante, recomendo a leitura do texto todo contido no link no final desta postagem.
"A explicação mais razoável para a existência da figura do Cristo cinemático foi a partir da influência das teorias de mitólogo americano Joseph Campbell e sua famosa obra ”O Herói de Mil Faces”(The Hero with a Thousand Faces)tem exercido sobre os cineastas americanos contemporâneos. Na verdade, a figura de Cristo pode ser considerada uma forma subsidiária do ciclo heróico. A partir do momento em o livro de Campbell foi leitura obrigatória para a maioria dos roteiristas de Hollywood, uma série de manuais de escritos criativos foram inspirados nele, é lógico que, inevitavelmente, muitos scripts atuais demonstram a influência das doutrinas Campbell. Por exemplo, George Lucas foi um leitor aplicado nas obras deste autor e observou corretamente ressonâncias de seus escritos e idéias na trilogia Star Wars, bem como no apocalíptico Mad Max, George Miller.
A obra-prima do mitologista J. Campbell influenciou várias gerações de cineastas de Hollywood. O herói de mil faces (publicado pela primeira vez em 1949) é um livro de não-ficção, e seminal obra de mitologia por Joseph Campbell . Nesta publicação, Campbell discute sua teoria da viagem do arquetípico herói encontrado no mundo das mitologias . Desde a publicação de O Herói de Mil Faces, a teoria de Campbell tem sido conscientemente aplicada por uma grande variedade de escritores e artistas modernos. O mais conhecido talvez seja George Lucas , tem uma dívida para com Campbell em relação às histórias dos filmes Star Wars .
O Joseph Campbell Foundation e New World Library emitiu uma nova edição de O Herói de Mil Faces, em Julho de 2008, como parte das Obras Completas de Joseph Campbell, uma série de livros, áudio e gravações de vídeo. Em 2011, a Hora colocou o livro na sua lista dos 100 melhores e mais influentes livros escritos em Inglês desde a revista foi fundada em 1923.
Joseph Campbell disse que não há um padrão estrutural básico em mitos, épicos, histórias folclóricas, etc., que se baseiam na construção das figuras heróicas. Em termos junguianos, estas pautas ou padrões são semelhantes aos arquétipos, enquanto no âmbito cristão podem ser vistas como figuras Cristicas (daí o grande erro de julgamento a que são levadas muitas pessoas de considerarem certos filmes como ”cristãos”, na verdade foram influenciadas e condicionadas a pensarem assim). No entanto, para alguns, todos estes heróis do tipo de Campbell ou arquétipos junguianos são comparáveis ou intercambiáveis com a figura Crística, ou mesmo descobrimos que o mesmo Cristo pode ser entendido a partir de uma perspectiva não-cristã, ou anticristã- diretamente como um episódico ou forma particular do herói arquétipo definido por Cambpell.
A verdadeira habilidade desses cineastas consiste em recontar uma e outra vez as mesmas histórias antigas (“A maior história já contada”), tão fielmente quanto puderem, usando modismos e fórmulas modernas, usando técnicas mais inovadoras e tornando-as críveis, pelo menos do ponto de vista mítico próprio da fabricação subliminar(subconsciente), então Klaatu, ET, Superman, Jonh Connor, James Cole, Prot, Surfista Prateado e outros excelentes exemplos de Cristos cinemáticos serão particularmente bem acolhidos pelo público ocidental cujo contexto cultural e condicionamento é de herança principalmente judaico-cristã."
Uma versão em PDF do livro de Campbell pode ser baixada no link:
"Como, pois, dizeis: Nós somos sábios, e a lei do Senhor está conosco? Eis que em vão tem trabalhado a falsa pena dos escribas. Os sábios são envergonhados, espantados e presos; eis que rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria, pois, têm eles?" Jeremias 8:8-9
Se os auto-denominados evangélicos não conhecem nem os 66 livros "oficiais" do protestantismo, o que diríamos dos chamados apócrifos, em especial "O Livro de Enoque", leitura interessantíssima. Mas isso é para quem se dá ao trabalho de raciocinar e não somente de aceitar preguiçosamente, nem a Bíblia (quem dera fosse pelo menos assim para a maioria), mas alguns poucos textos repetidos e mal estudados do cânon que são tantas vezes "gritados" convenientemente em púlpitos.
A tempo: heresia não é somente algo considerado "mentira" para uma maioria, mas é também centralizar partes da verdade que estão na periferia, sem coerência com o todo e que vão contra aquilo que é considerado centro pela maioria. Como diria "X-Files: The Truth is Out There", mas é preciso coragem para sair da proteção cômoda das verdades dos outros para descobrir (não estou aqui "legalizando" algo considerado historicamente ilegal pelo cristianismo, mas alguns fatos precisam ser considerados, fatos que você só saberá se der-se ao trabalho de se informar).
Para quem quiser ler "O livro de Enoque" e outros livros apócrifos, segue link para baixar cópia em PDF: Os livros apócrifos
Agora, fique com a matéria do site "Paradoxos Bíblicos" sobre o assunto.
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A Bíblia e o Livro de Enoque - Quem copiou quem?
Este livro foi amaldiçoado pelos rabinos e por alguns pais da igreja que achavam que o mesmo por não fazer parte da lista de livros inspirados dos judeus deveria ser banido do meio cristão. Isto tudo devido ao seu profundo conteúdo de mistério no tocante a questão angelical e os bastidores do capítulo 6 do livro do Gênesis, o que torna a sua leitura um tanto inconveniente.
Assim este livro outrora respeitado por cristãos e judeus caiu em descrédito justamente por suas afirmações sobre os anjos caídos. O rabino Simeon Ben Yohai, no século II, lançou uma maldição contra todos os que nele acreditavam. Tendo sido amaldiçoado, queimado, banido e perdido durante mil anos, o livro de Enoque voltou a circulação há dois séculos. Em 1773, rumores de uma cópia do livro levaram o explorador escocês James Bruce até a Etiópia. Lá ele encontrou um exemplar preservado pela igreja etíope que o coloca lado a lado com outros livros da Bíblia.
Cristo o Examinou
A versão atual do livro de Enoque foi escrita em algum momento do século II a.C., e teria sido popular durante pelo menos 500 anos. O mais recente texto etíope foi aparentemente escrito a partir de um manuscrito grego que, por sua vez, já seria uma cópia de um texto ainda mais antigo. O original foi provavelmente escrito na língua semítica (aramaico, hebraico). Apesar de já ter sido considerado um livro pós-cristianismo, devido as semelhanças com terminologias e ensinamentos cristãos, mas descobertas de cópias do livro entre os manuscritos do mar Morto, em Qumran, provam que o livro data de um período ainda anterior á época de Jesus.
O livro pode não ter sido escrito originalmente por Enoque, mas talvez seja o resultado de um conjunto de tradições, cuja origem se perderam no tempo. Esta é uma suposição, já que a verdadeira autoria do livro é um completo mistério. Muitos cristãos do primeiro século o consideravam como escritura inspirada.
Muitos conceitos e termos usados pelo próprio Jesus estão diretamente relacionados com o livro, o que demonstra que ele não só o examinara como também o respeitara, a ponto de comentar descrições especificas relacionadas ao reino vindouro e o julgamento final do qual tomarão parte os inimigos de Deus. Em 1891, o reverendo William J. Deane protestou contra a associação entre os ensinos de Jesus e o recém-lançado livro de Enoque, afirmando com indignação:
"Somos obrigados a acreditar que o nosso Senhor e seus apóstolos, consciente ou inconscientemente, acrescentaram nas suas falas e escritos idéias e expressões tiradas do livro”.
Além das familiares citações do Antigo Testamento, Jesus pode até mesmo ter se referido ás profecias contidas em textos apócrifos não incluídos pelos pais da igreja e pelos rabinos que selecionaram os livros que fizeram parte da Bíblia cristã e das Escrituras Hebraicas. Muitos textos antes desconhecidos, descobertos em Qumran e Nag Hammadi,(os rolos do Mar Morto) indicam que Jesus ensinou baseado em outras fontes escritas anteriormente. Os manuscritos das cópias do livros, segundo teste carbono 14 apontou para o ano 100/150 A.C. Charles Cutler Torrey, professor da Universidade de Yale, mostra evidencias de que Jesus usava citações de uma obra apócrifa perdida. Veja Lucas 11:49;
“Por isso diz a sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei e eles matarão a uns e perseguirão a outros”.
A expressão “sabedoria de Deus”, indica que Jesus está citando diretamente uma fonte, obra apócrifa provavelmente, que hoje se encontra perdida. Além disso, Torrey nota que há outras referências no Novo Testamento das escrituras nas mais existentes que foram conhecidas pelos apóstolos nos primeiros anos da era cristã. Uma destas referências pode ser encontrada em Mateus 27:9-10;
“Então se cumpriu o que predissera o profeta Jeremias: Tomaram trinta moedas de prata, o preço avaliado pelos filhos de Israel. E as deram pelo campo do oleiro, conforme me ordenou o Senhor”.
O texto de Jeremias do qual Mateus retirou a citação acima, não está no atual livro do profeta do Antigo Testamento. Mas Jerônimo, um dos pais da igreja do século IV, escreveu um relato contando que um membro da seita dos nazarenos lhe mostrou um texto apócrifo de Jeremias em que esta citação de Mateus aprece na sua forma exata.
Apóstolos Foram Influenciados Pelo Livro
O Dr. R. H. Charles, estudioso do livro, escreveu na virada do século XX que a influência do livro de Enoque no Novo Testamento tem sido maior do que a de todos os outros livros apócrifos juntos. Todos os escritores do Novo Testamento estavam familiarizados com a obra e seus estilos e pensamentos foram de alguma forma influenciados por ele. Expressões que Paulo usa aparecem no livro. João também faz menção de algumas expressões chaves, como: “Senhor dos senhores, Rei dos reis, os anjos maus sendo punidos, a visão dos sete espíritos, os quatro animais ao redor do trono, e o livro da vida".
As semelhanças entre o Apocalipse e a obra de Enoque são tantas que quase o impediu de ser considerado obra canônica. No século III, Dionísio de Alexandria, juntamente com muitos outros bispos das igrejas da Síria e da Ásia Menor (atual Turquia), rejeitou o Apocalipse como obra autêntica.
No livro de Atos 10:34; apresenta uma citação de Pedro afirmando que “Deus não faz acepção de pessoas”, frase também usada por Paulo e encontrada no livro de Enoque, bem como do Deuteronômio, Crônicas e em diversas passagens do Velho Testamento. O livro de Enoque foi a origem desta citação.
As cartas de Pedro podem ser atribuídas a este livro. Ele fala do aprisionamento e do envio ao inferno dos anjos pecadores. Rendel Harris e M. R. James, especialistas em grego, além de outros estudiosos, argumentam que a primeira epístola de Pedro continha originalmente uma referência explicita ao livro.
Judas cita Enoque diretamente e transcreve uma passagem completa no verso 14. O termo “eleito” é muito significativo no livro de Enoque e influenciou o seu uso entre os apóstolos. A expressão “ancião dos dias” ou “de dias”, como aparece no livro do profeta Daniel, também está presente no livro de Enoque, da mesma forma a expressão “filho do homem”, o que indica de forma absolutamente clara a influência desta obra na mente e corações dos apóstolos.
Pais da Igreja Concordam com Enoque
Muitos amavam e respeitavam o livro. Convencidos de que os anjos do mal estavam em atividade no mundo, os primeiros pais da igreja citavam frequentemente o livro.
Justino mártir, Em sua “Segunda Apologia”, concorda com a história abordada pelo livro.
Atenágoras, em sua obra “Legatio”, escrita no ano 170, apresenta Enoque como um verdadeiro profeta.
Lactâncio (260-330) e Taciano (110-171), apologistas cristãos, especularam com detalhes sobre a encarnação dos anjos caídos.
Irineu, bispo de Lyon no século III, faz referências a história de Enoque.
Tertuliano (160-230) era um grande defensor do livro.
Clemente de Alexandria (150-220) fala dos anjos que renunciaram á beleza de Deus em troca da beleza que desvanece, caindo do céu para a Terra.
Origines (186-255), um aluno de Clemente e grande pensador da sua época, mais de uma vez chamou Enoque de profeta e citava livremente o seu livro.
A Rejeição do Livro
Os pais da igreja tiveram dificuldade para aceitarem o ponto de vista do livro de Enoque e procuraram outra explicação para encaixarem o capítulo 6 do Gênesis. Estes mestres da igreja também acreditaram que o profeta Isaias no capítulo 14:12-15; está descrevendo a queda de um arcanjo e seus aliados. Esta queda seria em função da sua soberba, ele queria ser igual a Deus.
Para evitar a idéia de que os anjos haviam se materializado e mantido contato sexual com as mulheres humanas, eles seguiram a linha de raciocínio de um mestre da igreja, Julio Africano, que aceitava os “filhos de Deus” como sendo uma referencia aos filhos de Set que teriam tomado como esposas as filhas de Caim. No século IV, Ephraem, uma autoridade eclesiástica da Síria, também seguiu esta idéia. Jerônimo (348-420), doutor da igreja e especialista em hebraico, qualificou a obra de Enoque como apócrifa e declarou que seus ensinos eram iguais aos do maniqueísmo.
O maniqueísmo foi uma religião que competiu com a igreja, foi fundada no ano 240 pelo profeta Mani, que se declarava um apóstolo de Jesus. Ele pregava uma síntese (budismo, zoroastrismo, cristianismo). Crisóstomo (346-407), concluiu que aceitar os “filhos de Deus” como anjos é uma idéia absurda. Santo Agostinho (354-430), rejeitou igualmente que os anjos jamais poderiam ter assumido um corpo e terem tido relações com mulheres, mesmo afirmando que há casos na Bíblia em que anjos aparecem aos homens em corpos que podiam não só ser vistos mas tocados.
O rabino Simeon Bem Yohai lançou uma maldição aos que acreditassem serem anjos, “os filhos de Deus”, do Gênesis 6.Esta maldição proferida no século II A.D., colocou o mundo judeu contra o livro de Enoque. Como tinha conhecimento desta questão, Orígenes (séc. III), afirmava ser esta a razão principal pela qual o livro não era mais aceito pelos judeus.
Algumas passagens deste livro que apresentam semelhanças com as da Bíblia:
Enoque - “...e o julgamento será para todos, até para os justos.” Enoque 1:6;
Bíblia - “Pois já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus...” I Pe 4:17;
Enoque - “Os eleitos possuirão luz, alegria e paz e herdarão a terra”. Enoque 6:9;
Bíblia - “Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra”. Mt 5:5;
Enoque - “Quando naqueles dias os filhos do homem se multiplicaram, suas filhas nasceram elegantes e belas. E quando os anjos, os filhos do céu, contemplaram-nas ficaram enamorados, dizendo uns aos outros: Vamos, escolhamos para nós esposas entre a progênie dos homens para com elas gerarmos crianças. Tomaram esposas, cada um escolhendo a sua...As mulheres deram á luz os gigantes.” Enoque 7:1-2;10,11;
Bíblia - “Viram os filhos de Deuses que as filhas dos homens eram formosas e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Havia naqueles dias gigantes na Terra e também depois, quando os filhos de Deus conheceram as filhas dos homens, as quais lhe deram filhos”. Gn 6: 2,4;
Enoque - “...Eles então se dirigiram ao Senhor, o Rei, o Senhor dos senhores, Deus dos deuses, Rei dos reis...” Enoque 9:3;
Bíblia - “...porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis...” Ap 17:4;
Enoque - “Entre miríades e miríades que estavam diante dele”. Enoque 14:24;
Bíblia - “Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono e dos seres viventes e dos anciãos e o número deles era milhões de milhões e milhares de milhares.” Ap 5:11;
Enoque - “Oferecendo sacrifícios aos demônios como a deuses”. Enoque 19:2;
Bíblia - “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, é aos demônios que sacrificam não a Deus.” I Cor 10:20;
Enoque - “E aquela árvore de aroma agradável, cujo odor nada tem de carnal não poderá ser tocada até o tempo do grande julgamento...Ela será entregue aos justos e humildes; os frutos desta árvore deverão ser dados aos eleitos.” Enoque 24:9;
Bíblia - “No meio de sua praça, em ambas as margens do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês. E as folhas da árvore são para cura das nações.” Ap 22:2;
Enoque - “...Ouvi desde o início e compreendi as coisas sagradas que proclamo na presença do Senhor dos espíritos.” Enoque 37:1;
Bíblia - “...Não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos e não viveremos?” Hb 12;9;
Enoque - “E qual será o local de descanso dos que rejeitaram ao Senhor dos espíritos. Seria melhor para eles que jamais houvessem nascidos”. Enoque 38:2;
Bíblia - “Mas ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Melhor lhe fora que não tivesse nascido”. Mt 26:24;
Enoque - “Então farei o meu eleito habitar no meio deles...” Enoque 45:4;
Bíblia - “Aqui está o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito...justiça produzirá entre as nações.” Is 42:1;
Enoque - “Naquele dia o eleito assentará num trono de glória...” Enoque 45:3;
Biblia - “...então se assentará no trono da sua glória.” Mt 25:31;
Enoque - “...este é o Filho do homem a quem pertence a justiça e que revelará os tesouros ocultos”. Enoque 46:2;
Bíblia - “...para conhecimento do mistério de Deus – Cristo, em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência”. Colossences 2:2;
Enoque - “Então vi o ancião de dias enquanto se sentava no trono de sua glória, enquanto abria, na sua presença, o livro da vida e enquanto todos os poderes acima do céu postavam-se ao redor e diante dele.” Enoque 47:3;
Bíblia - “Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos e um ancião de dias se assentou...Assentou-se o tribunal e abriram-se os livros”. Daniel 7:9;10;
Enoque - “...pois está próximo o dia da sua salvação”. Enoque 50:2;
Bíblia - “...porque a vossa redenção está próxima”. Lucas 21:28;
Enoque - “No dia dos pecadores, o dia será encurtado.” Enoque 79:3;
Bíblia - “Se aqueles dias não fossem abreviados...” Mt 24:22;
Enoque - “Vede, o Senhor vem com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram.” Enoque 7;
Bíblia - “Concernente a estes profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, Vede, o Senhor vem com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram.” Judas 14
Uma coisa que precisamos entender, antes de tudo, é que não temos certeza de quando o Livro de Enoque foi escrito, só o que sabemos é que partes de cópias mais antigas estão datadas entre o IV e o I século antes de Cristo, isso acontece não só com os apócrifos, mas com todo o cânon. Eu li o livro e o achei muito interessante, e na minha ótica, não desaprovou o centro dos 66 livros protestantes, não no principal, é claro que o que diz sobre anjos poderem procriar vai contra uma tradição cristã milenar e mesmo os judeus não aprovam o livro em seu cânon.
Mas penso que nos acomodamos com as tradições, de uma forma ou de outra, nos escondemos do inferno dentro de templos construídos de ritualismos frios e mortos. Deus é vivo e o Espírito Santo é que nos conduz à verdade, através de Jesus Cristo, muita coisa que é aceita pela maioria, o é, por puro comodismo de quem crê e conveniência de quem ensina. O que Deus pensa disso? Deus usa tudo isso, com misericórdia, e na maior parte das vezes na exceção e não na regra.
Se não fosse assim, o representante oficial do cristianismo na terra não teria sido a Igreja Católica, por +/- 1300 anos, uma instituição herege, corrupta, responsável por tanta violência e perseguição, seja física ou intelectual. Depois veia a reforma protestante, mas então novos hereges e manipuladores seguiram e seguirão até o final. É nossa intimidade com Deus que nos dará qualquer garantia no final das contas, uma experiência pessoal e sincera, toda religião é corrupta, isso é o que eu penso e tenho visto e vivido com Deus, paz a todos.
Segue um vídeo do pastor Caio Fábio, em poucas palavras ele dá sua posição sobre os livros apócrifos, posição, como outras que ele tem, que encontra paz em meu coração:
Segue um resumo da história da música cristã, ou da música do povo de Deus: no antigo testamento, no novo testamento, entre os cristãos primitivos, entre os protestantes, entre os avivalistas, e finalmente no mundo atual e no Brasil. Espero poder ajudar os músicos das igrejas com essas informações valiosas, sobre o ministério de adoração e louvor através dos tempos.
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Achar um título para este texto foi um pouco difícil. A intenção é estudar as manifestações musicais legitimamente de louvor, obviamente, estas manifestações só podem acontecer no meio do verdadeiro povo de Deus. Mas quem é o povo de Deus?
A Bíblia identifica dois conceitos de povo de Deus. Primeiro, o povo geográfico, que teve início com a promessa feita a Abraão. Fundamentou-se em Jacó e em seus doze filhos, apareceu como nação no Egito sendo liderado pelo libertador e legislador Moisés e conheceu com os reis Davi e Salomão o seu auge político e religioso. Este povo foi escolhido por Deus para ser sua testemunha entre as nações da terra.
Segundo, o povo espiritual, a Igreja, formada por aqueles que creem em Cristo como o salvador da humanidade que teve o seu início com a pregação do evangelho feita pelos primeiros discípulos de Jesus. Constituído por filhos de Deus de todas as nações, agora é esse povo que tem a missão de levar as boas novas do evangelho para os homens.
Mas não é só isso, o evangelho foi pregado, igrejas foram formadas e após centenas de anos e muitos desvios doutrinários novos profetas se levantaram para exortar e conduzir os homens ao conhecimento do plano de Deus para o mundo. Um novo povo se levantou, protestando e evangelizando, mas seguindo os mesmos mandamentos originais da Bíblia.
Finalmente o Brasil foi alcançado e aqui também está uma parte importante do chamado povo de Deus, que luta contra a idolatria, o espiritismo e o materialismo.
Quem é o povo de Deus? Todos esses são o povo de Deus, os israelitas, os cristãos, os protestantes, muitos de nós brasileiros e com certeza muitos outros mais.
1. Israel
Jubal é citado como “pai de todos os que tocam harpa e flauta”, esta é a primeira citação bíblica sobre música e se encontra em Gênesis 4:21. Em Gênesis 4:23 aparece o obscuro canto de Lameque, essa é a primeira referência bíblica de uma composição musical.
Em Êxodo 15:1, 20 e 21 está a primeira referência bíblica de louvor musical onde Moisés e Miriã agradecem a Deus pela libertação dos egípcios. Esta apresentação foi vocal, com homens e mulheres, instrumental e acompanhada por dança.
Em Juizes 5 esta registrado o cântico de Débora agradecendo a Deus pela vitória na batalha. Em I Samuel 10:5-6 é mencionada claramente uma tradição musical de adoração do tipo espontânea e em êxtase quando Saul é preparado para se tornar rei de Israel. A música é um fruto direto de uma manifestação poderosa do Espírito Santo, é uma ação profética.
Em II Reis 3:15-16 o profeta Eliseu pediu que um músico tocasse, quando isso aconteceu o poder de Deus veio sobre ele e então profetizou. A capacidade da música afetar o temperamento humano aparece também em I Samuel 16:14-23 onde esta registrado um uso primitivo da música como terapia, Davi toca para afastar o espírito maligno de Saul.
Em II Samuel 6:5 está registrado o processional de Davi com a arca de Gibeá, cinco instrumentos musicais diferentes são mencionados ali. Essa é a primeira referência bíblica da música para fins religiosos.
A segunda tradição musical bíblica era formal e profissional e foi iniciada por Davi que além de pastor e rei era instrumentista e compositor. Em I Crônicas 15:16 aparece Davi constituindo o ministério musical cujas características eram:
- trabalho em tempo integral no templo, I Crônicas 25:9-31: 24 turnos com 12 músicos em cada um, num total de 288 músicos louvando ao Senhor, 24 horas, dia e noite no templo;
- formado por ministros escolhidos por seu talento e pertencentes a três famílias específicas da tribo de Levi, os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, I Crônicas 15:22 e 25:1-8;
- os ministros deveriam passar por treinamento de cinco anos no templo antes de serem admitidos no coro oficial.
O livro de cânticos do povo hebreu era o livro de Salmos. Seus hinos proveem de muitos períodos da antiga cultura judaica e foram acrescidos de cânticos que datam da libertação de Israel da escravidão no Egito. Na antiga adoração hebraica, as palavras da Escritura nunca eram faladas sem melodia, fazê-lo era considerado sacrilégio de certa gravidade. Elas eram sempre cantadas em uma sonora cantilena como nos sugere o Salmo 47:1, “celebrai a Deus com vozes de júbilo”.
O principal elemento estrutural da poesia hebraica era o paralelismo que é a repetição ou complementação do pensamento na 2ª linha de uma parelha de versos, isto seria uma indicação que já nos dias primitivos se praticava o uso antifônico ou responsivo dos Salmos. Um exemplo esta em Salmos 51:2.
Metricamente a poesia hebraica era bastante livre tendo apenas algumas acentuações. Não havia preocupação com rima. Os instrumentos não produziam sons muito fortes indicando que as vozes eram bem mais ouvidas do que eles durante a adoração.
Não existe qualquer menção da música no templo ou nas cerimônias religiosas ser utilizada para a apreciação artística, mas sempre e unicamente para invocação e adoração de Deus.
Visto que não se tem nenhuma documentação da música de adoração do Antigo Testamento, total certeza não se tem de como ela era, mas as principais autoridades no assunto concordam que era semelhante às melodias gregorianas, isto é, baseadas em pequenos padrões melódicos de amplitude bastante limitada, não excedendo geralmente uma 4ª ou uma 5ª.
Grande parte dos estudiosos também sugere que a música no templo era quase que completamente profissional, a congregação era praticamente ouvinte e participava apenas das respostas com “Amém” e “Aleluia”.
2. Primeiros Cristãos
Dispersos no século V antes de Cristo, os judeus começaram a adorar a Deus nas sinagogas. Distantes do Templo de Jerusalém ou cativos em outras terras, eles não podiam oferecer os sacrifícios tradicionais então começaram a oferecer sacrifícios de louvor e oração. A adoração nas sinagogas era essencialmente um Culto da Palavra, leitura e discussão da Torá e apesar da figura do rabi (rabino), era uma reunião de leigos.
Subentende-se que certos cantores levitas devem ter continuado o seu ministério nestas reuniões usando o mesmo material musical que se utilizava no Templo. Um ou no máximo dois cantores solistas cantavam em uma reunião e provavelmente sem o uso de qualquer instrumento, pois estes eram relacionados com os sacrifícios de animais. A congregação deveria ter alguma participação nesses cânticos. Jesus e os apóstolos participavam dessas reuniões.
A música dos cristãos primitivos foi herdada dessas reuniões judaicas, porém deixou de ser ministério de sacerdotes ordenados ou cantores profissionais para ser social e congregacional. Paulo lista em Colossenses 3:16 e Efésios 5:19 três manifestações musicais que existiam nessas reuniões: Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais.
I. Salmos
Eram as músicas do Saltério hebraico que cantadas pelos judeus nas sinagogas continuaram a ser cantadas pelos cristãos em suas reuniões.
II. Hinos
Eram composições semelhantes aos cânticos de Lucas que pela importância foram se tornando tradicionais e são cantados pela comunidade cristã até hoje como:
- o “Magnificat” de Maria ( 1:46-55),
- o “Benedictus” de Zacarias ( 1:68-79),
- o “Gloria in excelsis Deo” dos anjos (2:13-14),
- o “Nunc Dimittis” de Simeão ( 2:29-32).
Outros exemplos de hinos estão em I Timóteo 3:16 e II Timóteo 2:11-13.
III. Cânticos espirituais
Deveriam ser composições mais livres e informais que surgiam na comunidade cristã, como hoje surgem os louvores (corinhos), esta seria uma posição das igrejas mais tradicionais. As igrejas renovadas interpretam o cântico espiritual como sendo um dom especial do Espírito Santo onde o crente faz uma adoração, com música e letra, criada na hora e improvisada, espontaneamente.
Toda a congregação pode fazer uso deste dom simultaneamente durante um período do louvor. As melodias parecem usar escalas orientais, simples, mas belas e muitos que normalmente não tem muita habilidade musical natural ficam surpreendidos com a afinação e a harmonia do canto que é concebido, acreditam eles, totalmente pelo Espírito Santo, num estado de êxtase que lembra as manifestações musicais do Antigo Testamento.
Os textos primitivos dos cânticos eram judaicos ou baseados em modelos judaicos. Como a manifestação mais importante da Igreja primitiva aconteceu em Roma, a música, assim como todas as demais manifestações artísticas da época, sofreu influência da cultura greco-romana.
A Igreja perseguida se reunia nas catacumbas e as principais características da sua maneira de cantar eram:
- canto em uma só voz;
- sem acompanhamento instrumental, pois os instrumentos lembravam o culto pagão e por isso foram proibidos;
- somente homens adultos e meninos cantavam;
- as melodias tinham poucas variações de altura, raramente ultrapassavam a oitava, eram “planas” daí o nome Cantochão ou “Cantus planus”;
- os ritmos dependiam dos textos, a melodia acompanhava as acentuações das frases poéticas.
Parece que foi se tornando difícil para a congregação cantar então no século II as Constituições Apostólicas determinaram que um solista entoaria os Salmos e a congregação responderia apenas trechos fáceis. O canto congregacional começava a se afastar do culto e só voltaria a ele no século XVI com a reforma. Por outro lado coros treinados de monges e clérigos se aperfeiçoavam no ministério musical.
Donald P. Hustad, em seu livro “A Música na Igreja”, nos dá uma boa visão sobre este período:
“A adoração na Idade Média conservou os elementos neotestamentários quanto ao conteúdo, mas perdeu o seu espírito evangélico devido a uma distorção da teologia da eucaristia. Ela também perdeu a sua espontaneidade e natureza congregacional no desenvolvimento de uma liturgia fixa, complexa, executada por sacerdotes, com mínimo de envolvimento congregacional. Além do mais, na medida em que a igreja se espalhou para o oeste, devido à expansão missionária, a língua latina oficial passou a ser usada universalmente na adoração, porque as línguas vernáculas eram consideradas demasiadamente vulgares, demasiadamente subdesenvolvidas para veicular a mensagem da liturgia. Consequentemente, o cristão médio, sem cultura, entendia poucas das palavras que ouvia na igreja”.
3. Reformadores
Em 1517 Martinho Lutero inicia a Reforma Protestante e propõem mudanças na liturgia da Igreja:
- restauração do sermão como centro do culto;
- participação musical mais atuante da congregação;
- uso da língua nacional nos cultos e não do latim;
- música mais simples, o estilo coral, com melodia acessível na voz mais alta e com harmonização para quatro vozes.
Pouca diferença existia entre a música sacra e a secular e composição muitas vezes significava mistura. Lutero usou diversas fontes para formar o seu hinário, desde composições passando por rearranjos de cantos gregorianos, até versões de canções populares com letras sacras.
A reforma de Calvino usou os mesmos princípios de Lutero, porém utilizando uma versão dos Salmos, metrificados em língua francesa, como letras para o seu hinário chamado de “Saltério”. Calvino acreditava que a única música digna de louvar ao Senhor era aquela cuja letra tivesse sido tirada diretamente da Bíblia.
No começo da reforma anglicana certos hinos alemães e latinos foram traduzidos para o inglês juntamente com versões metrificadas de salmos e outro material litúrgico, contudo mais tarde o exemplo luterano foi rejeitado em favor do padrão calvinista, isto é, salmos metrificados. Em 1562 todo o saltério foi traduzido do francês para o inglês e publicado.
No século XVIII, os não conformistas ingleses começaram a escrever e cantar salmos parafraseados e os chamados “hinos de composição humana” que são louvores que não utilizam diretamente a Bíblia como letra. Só nos meados do século XIX é que este tipo de música foi totalmente aceito no meio anglicano.
4. Avivalistas e Evangelistas
Aos irmãos Wesleys, criadores do movimento Metodista no século XVIII, se deve a criação dos primeiros hinos de apelo. Letras que cobriam todos os aspectos da experiência devocional cristã unida às músicas seculares demonstravam a disposição da Igreja em ser permanentemente versátil, para se identificar com “o mundo” e transformá-lo para Cristo. A música secular se tornava sacra para que fosse um veículo eficiente de testemunho do evangelho.
No século XIX, pregadores reavivalistas como George Whitefield, Charles Finney e Dwight Moody contribuíram para a criação de um repertório popular de hinos evangelísticos. Esses hinos têm uma poesia mais simples, teologicamente e biblicamente falando, apelam menos à imaginação e a estrutura musical é caracterizada por um coro, uma simples melodia lírica, harmonia simples e um ritmo alegre.
No começo do século XX, Charles Alexander levou o coro evangélico ao seu auge. Diretor musical dos cânticos de R. A. Torrey e J. Wilbur Chapman, se especializou em reger coros e congregações ao redor do mundo. As reuniões evangelísticas em Londres chegavam a durar quatro horas sendo que o pregador Torrey usava quarenta e cinco minutos enquanto o restante do tempo era usado para os cânticos.
Diferente da tradição europeia da época, o diretor musical assentava-se atrás do púlpito junto dos evangelistas e não num lugar separado. “Charlie” Alexander foi responsável por uma inovação secular na música de avivamento, o uso do Piano. Ele achava que este instrumento, sendo quase de percussão, era melhor para marcar o ritmo dos cânticos alegres da sua época.
No começo do século vinte, o evangelista Billy Sunday, junto do seu diretor de cânticos Homer Rodeheaver, propiciou às cruzadas evangelísticas um novo nível de secularismo com maneirismos de entretenimento que agradavam às multidões. “Rody” era um perito em fazer o povo cantar e usava de qualquer truque à sua disposição para quebrar a maneira sossegada de cantar a música religiosa, eles não toleravam caras fechadas no evangelho.
Nos anos vinte o rádio contribuiu para que grande parte da música evangélica fosse do tipo “especial”, Música de Testemunho, e não música para uso congregacional. Técnicas de arranjo vocal e instrumental e padrões rítmicos e harmônicos mais avançados foram emprestados do mundo dos espetáculos.
É importante citar a figura de John E. Peterson que apareceu no fim da década de quarenta e se tornou um compositor popular de cantatas evangélicas. A sua música era geralmente destinada a ser cantada por solistas, coros e conjuntos, e só depois começou a aparecer nos hinários. As suas letras são profundamente bíblicas e as suas músicas variam do estilo do hino evangelístico a uma imitação de canções da Broadway. Suas cantatas já venderam cerca de seis milhões de cópias.
Diferentemente dos seus antecessores reavivalistas, o ministério Billy Graham não produziu e nem promoveu uma grande quantidade de material musical, talvez em parte pelo fato de seu líder musical Clif Barrows não ser um publicador. Conservador, Billy Graham apesar de mostrar um estilo evangelístico novo e atraente, evitou o que era sensacional e hiper emocional. Barrows usou uma seleção de um material musical já aprovado e popular. A nova característica musical das cruzadas de Billy Graham foi o uso de alguns talentos provindos do “show business” para atrair a atenção dos não crentes, assim como dos mais conhecidos cantores evangélicos da época.
Concluindo, a evolução da música sacra caminha no sentido da secularização. Melodia, harmonia e ritmo não precisam ser diferentes da música do mundo, mas usam uma mesma linguagem, a linguagem da alma e das necessidades do coração humano, a distinção esta na letra.
Para algumas pessoas, alguns estilos não são muito convenientes, porém no mundo atual, tão diversificado e individualizado, muita coisa é válida para que todos possam ser alcançados pela salvação de Jesus Cristo. Quem empurrou essa evolução não foi simplesmente a inspiração dos compositores evangélicos, mas o amor ardente dos avivalistas e evangelistas pelas almas gerando a necessidade de criar uma música que comunicasse este amor.
“Porque assim diz o alto, o sublime, que habita a eternidade, o que tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. (Isaías 57:15). Este paradoxo teológico me parece argumento suficiente para um dualismo em questões de música eclesiástica. Estou convencido de que os evangélicos requerem música que expresse a perfeição do Deus “alto e Santo”, e que também revele a experiência religiosa pessoal dos “quebrantado e humildes.” (Donald P.Hustad, A Música na Igreja).
5. Brasil
A Igreja evangélica chegou com mais força em nosso país no final do século XIX com missionários europeus, principalmente, norte-americanos. O que predominou até a década de 1960 foi uma música protestante americanizada com base nos hinários centenários de cânticos cristãos, música tradicional para crentes adultos. Dentro da igreja evangélica, Ministério de Louvor era sinônimo de coral e o Ministro de Música, mesmo que informalmente, era um regente nos moldes clássicos. Legítimos eram o órgão e o piano, instrumentos populares da linguagem mais pop-rock não eram bem vistos.
A partir de 1960, com a revolução da cultura pop no mundo inteiro, começaram a surgir também no Brasil conjuntos jovens de música cristã. O meio tradicional, onde havia mais predominância de música coral, começou a ser influenciado por estes conjuntos. A juventude evangélica, com algum custo, começou a trazer para dentro das igrejas baterias e guitarras elétricas. O grupo Som Maior, ligado á Convenção Batista Brasileira, é um exemplo de grupo musical tradicional.
No meio pentecostal, que naquela época era formado principalmente por um povo culturalmente mais simples, além da liberdade do Espírito que trouxe liberdade emocional para a adoração, coisa que o meio tradicional trocava por um culto mais racional, havia também mais liberdade nas formas musicais de adoração.
Cantores como Luís de Carvalho e grupos como Vozes da Verdade já vendiam muito LP na década de 1970, muito mais que qualquer grupo musical tradicional. A qualidade musical era menor, mas a liberdade lhes possibilitava utilizar estilos musicais nacionais com maior acentuação rítmica, principalmente os do norte do país, enquanto que os grupos tradicionais ainda estavam sobre a influência cultural norte-americana utilizando, na maioria das vezes, versões.
O “Vencedores por Cristo” realizou um dos mais importantes trabalhos musicais dentro da igreja evangélica nacional. Por mais de vinte anos, começando como um trabalho mais tradicional, utilizando muito material traduzido, evoluiu e foi pioneiro em fazer uma MPB evangélica. Música de nível, como alguns dizem, para universitário evangélico, mas que como da qualidade musical e poética não abriu mão da seriedade espiritual. Durante muito tempo a maioria dos louvores cantados nas igrejas brasileiras foram bebidos das faixas dos discos do VPC principalmente da série Louvor.
O Grupo Logos também deve ser lembrado como um conjunto musical evangélico importante da década de 1980. Este ministério, que começou com o músico Jairo Trench Martins dentro do Instituto Palavra da Vida e que depois virou Grupo ELO com o líder Paulo César, começou a trazer um conceito mais profissional e independente para a música evangélica tradicional. Usavam arranjos orquestrais de qualidade nas suas músicas, algo raro de se ver nos LP nacionais que até então se limitavam a uma formação de instrumentos de conjunto pop.
Contudo o que acontecia até este momento é que apesar do compromisso espiritual de muitos grupos não havia trabalhos com uma concepção artística madura. O VPC, com alguns compositores como Sergio Pimenta e João Alexandre, alcançou uma música evangélica com uma identidade, uma arte cristã nacional, mas era ainda uma expressão muita tímida, o que prevalecia era uma música evangélica que soava sempre como algo amador, uma imitação de alguma coisa, geralmente de música internacional.
O conceito de música para coral ainda era predominante, a tecnologia usada para a gravação nos estúdios era bastante limitada, na verdade não existia a ideia de músico evangélico profissional. Não havia, isso tudo no meio mais tradicional onde existia um nível cultural maior, bons cantores e produções evangélicas realmente com uma identidade. No meio pentecostal, apesar de tecnicamente existir uma música mais pobre, já havia uma identidade muito bem definida e que persiste até hoje.
(O que seria essa identidade musical evangélica? Bem, ter identidade é se conhecer e conseguir exteriorizar isso através da arte de uma maneira honesta e pessoal, sem timidez ou exageros. Para o cristão ter essa identidade, primeiramente ele precisa ter a convicção de que realmente é um músico, em segundo lugar ele precisa ter reais experiências com Deus, por último, considero muito importante que o artista, mesmo aquele que não é evangélico, conheça bem o seu país, suas manifestações musicais e rítmicas atuais e históricas.
Bem, um crente que domina a música, o instrumento, o canto e a poesia, que tenha algo verdadeiro para contar sobre sua vida com Deus e que possua um estilo musical próprio, uma formação profunda e de acordo com o contexto cultural em que vive, este sim pode produzir uma música evangélica nacional com identidade. O artista é um profeta cultural e tem que saber falar com a sua geração, ele deve estar no tempo e no lugar certo, só assim a sua arte cumprirá plenamente a sua função. Só existe identidade quando existe maturidade, como homem, como músico e como cristão.)
A partir do final da década de 1980, o artista cristão começou a assumir a formação musical que tinha, toda a sua cultura e não só aquela adquirida dentro da igreja que no Brasil foi por muito tempo uma cultura “gringa”. Começou a se separar área cultural da espiritual, perderam-se os preconceitos. Todas as linguagens valiam para compartilhar uma experiência legítima com Deus para com as outras pessoas, percebeu-se que isso identificava o evangelho com mais gente. O mundo mudou e Deus permitiu que parte da sua Igreja aqui no Brasil também mudasse.
O grupo carioca Rebaião foi um dos primeiros a fazer uma música evangélica com identidade, lembramos também das bandas que vieram da Igreja Evangélica de Indianópolis, cidade de São Paulo, Oficina G3, dentre outros grupos, assim como o ministério musical da igreja Renascer em Cristo que lançou bandas como Kats Barnea. O jovem evangélico brasileiro pôde encontrar dentro da igreja o que culturalmente só existia no mundo ou importado da América do Norte.
Dentre outros estilos foi liberado o rock gospel nacional, para a alegria de muitos. Contudo, muitos outros chamam isso de secularização da arte musical evangélica, o mundo entrando na igreja, porém, todo o processo histórico da igreja evangélica mundial, como já vimos, de Martinho Lutero até os evangelistas norte-americanos, utilizou essa secularização, por que o Brasil não poderia usar? Por que só a secularização norte-americana seria legítima?
A partir da década de 1990 uma grande mudança ocorreu com o neo-pentecostalismo, a música emocional das igrejas pentecostais, ganhou um espaço importante nos cultos, em muitos casos, maior até do que o da palavra pregada. O lado bom foi que a música gospel, termo que começou a ser usado no Brasil desde então, se tornou mais profissional, assim como permitiu a muitos uma libertação emocional e espiritual, através de uma música menos intelectual e racional. Isso foi feito através de letras mais antropomórficas, de melodias simples, migradas do pop-rock secular, assim como com coros repetitivos, como “mantras”, que permitiram uma adoração mais livre.
Gostaria de fazer uma menção especial ao ministério de adoração Diante do Trono, da Igreja de Lagoinha de Belo Horizonte/MG, considero essa a maior, mais séria e mais bela, expressão de música evangélica do nosso país. O que era um grupo se ramificou em diversos ministérios solos e ganhou espaço no mercado secular, sendo no momento contratado da Rede Globo. Opiniões contrárias existem sobre essa aliança, porém ninguém pode negar que isso foi conquistado com música de qualidade técnica e legitimidade espiritual.