05/10/20

5. Para entender a eternidade

Espiritualidade Cristã (parte 5/64)

      “E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis.” Apocalipse 21.1-5

      O que vou compartilhar a seguir é o que eu sinto sobre a eternidade, não é “achismo” pois eu não acho isso, eu creio em Deus, ainda que em alguns casos não possa dar texto bíblico como base, não de maneira direta. Esteja à vontade para desconsiderar, aliás, ande conforme tua fé, não pela minha, seremos julgados pelo que cremos, não pelo que os outros creem, quem crê que tenha paz nisso e não escandalize ninguém com isso dizendo que é verdade absoluta de Deus, e não só a sua interpretação pessoal. Eu creio que céu e inferno se constroem aqui, levamos daqui, mas isso não é algo que se faz só com ferramentas humanas, com pensamentos sentimentos que interpretam a realidade, os sonhos, os medos e as esperanças. 
      Não, é mais que isso, Deus conhece o homem, sua estrutura, como ele funciona e o que ele necessita, assim tudo o que permitiu que fosse registrado na Bíblia possibilita a todos os homens e de todos os tempos construírem uma eternidade dentro deles. A Bíblia não é conhecimento espiritual puro, nós não suportaríamos isso e muito menos suportariam os homens dos tempos bíblicos, mesmo os apóstolos que andaram com Cristo. Textos bíblicos são interpretação humana de revelações divinas, ainda que entreguem verdades absolutas passam por filtros subjetivos, são registrados com matéria prima emocional e racional humanas, nascem em Deus, mas frutificam no homem e o preparam para voltar a Deus. 
      A eternidade é construída em nós primeiramente quando cremos que em Jesus temos perdão para todos os nossos pecados e paz, a simplicidade do evangelho não “viaja” na doença, não procura culpados, mas entrega o remédio e avisa que cada homem tem a liberdade de tomar ou não esse remédio. Isso é simples e poderoso, por isso o cristianismo é tão especial para conduzir o homem diretamente a Deus, sem reencarnação, purgatório e muito menos inferno, só céu. Em segundo lugar passagens como a inicial de Apocalipse, que dão uma descrição do paraíso, criam em nossas mentes e em nossos corações, imagens da pós morte, imagens que Deus em sua sabedoria autorizou, assim o que o homem precisa saber revelado foi.
      Mas não basta só saber intelectualmente, frequentar cultos, ser membro oficial de igrejas, se parecer com cristão convertido, tem que ser de fato, de todo o coração e em perseverança. Só isso ultrapassará a morte do corpo, e isso é uma opinião pessoal, não penso que quem carregou o inferno em si por toda vida seja simplesmente mudado depois que morrer, nossa identidade não se perde, e no outro plano ela é mais forte já que não está presa aos limites do corpo. Se aqui podemos esquecer a dor provando um bom prato de comida, uma boa bebida, uma relação sexual, ou simplesmente tendo uma boa noite de sono, na eternidade não teremos esses escapismos físicos, mas só nossa existência mental e espiritual.
      Assim, cuidado, os que tentam vender, por um motivo ou outro, imagens de cristãos, mas que sabem que na verdade carregam infernos dentro de si, isso não irá mudar com a morte do corpo, o inferno vai junto e prevalece. Mas entenda certo, ter uma vida de lutas, ter problemas sérios, mesmo fraquezas difíceis de serem vencidas, não significa que não somos cristãos ou que temos o inferno dentro de nós. As lutas podem durar bastante, os problemas podem ser grandes, mas um dia, na vida do verdadeiro filho de Deus, terminam. Alguns mantém o inferno, apesar de todas as boas aparências, outros seguram o céu, mesmo com toda a realidade ruim, mas a verdade de cada um, só Deus conhece.
      Lá no fundo, quem vai pro céu sabe disso, e digo mais, sempre soube, já quem vai para o inferno, pode até negar a existência de qualquer coisa após a morte, mas lá em seu íntimo sabe que está em trevas, simplesmente porque não é humilde o suficiente para se render a Deus, ainda que seja um ser humano de bem em muitos aspectos. Assim, não tente ter uma religião ou buscar as referências de espiritualidade que uma ótica metafísica ensina, só por medo. Ame a Deus, com todo o teu ser, e você verá a luz do altíssimo te abraçando, te ensinando, te ajudando, te curando, te consolando, nessa luz verá a melhor eternidade de Deus e saberá que tem lugar garantido lá, não por méritos próprios, mas pelo amor de Deus. 
      Céu (ou a vida eterna) é uma construção específica de cada ser humano levantada com tijolos constituídos de uma única substância, o amor. Amor por Deus, que nos leva à santidade, amor por nós mesmos, que nos conduz à humildade, e amor pelos outros, que nos faz respeitar a todos. O que é o inferno? É a negação de tudo isso, resumindo, é impedir o amor de existir, quem não ama tem medo e que tem medo já tem o inferno dentro de si, pois não agrada a Deus com santidade, violenta a si mesmo com falta de humildade e desrespeita os outros por não lhes dar o direito de serem indivíduos livres, especiais e amados. Nada substitui o amor, o fim de todas as virtudes é o amor e sem ele nenhuma virtude é legítima. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

04/10/20

4. Para não ir pro inferno

Espiritualidade Cristã (parte 4/64)

      “E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” Mateus 13.37-43

      Algumas pessoas buscam alguma espécie de espiritualidade porque têm medo da morte, ou mais, para se livrarem do inferno, bem, nesse quesito há um ponto positivo para os que creem assim, tem que se acreditar no inferno para se ter medo dele, assim como crer que Jesus pode livrar dele. Mas será que só isso, o medo do inferno, é motivo legítimo para sermos espirituais? Quem é motivado só por medo nunca aprenderá de fato sobre o amor verdadeiro, respeitará, até temerá, mas não amará, e uma relação em e por amor é princípio fundamental da nova aliança em Cristo, seja amor a Deus ou aos homens. É mais sadio amarmos mais o céu, que temermos o inferno, isso é uma motivação mais positiva. 
      Penso que quem busca religião só por temor do inferno precisa, além de crer em Jesus, ter sessões de psicoterapia, esse medo pode ser só uma projeção de outros medos, não espirituais, mas psicológicos e maiores, acumulados em uma vida que sofreu com autoritarismo e violência. Muitos com doenças emocionais têm a tendência de transferir suas referências erradas de família para as coisas Deus, buscam um lar na igreja e um pai no pastor. Por outro lado o medo pode ser só de morrer, dizem que só não tem medo da morte quem tem medo da vida, assim, esse tipo de pessoa intimamente alimenta uma vontade de “partir” para não ter que enfrentar certas realidades ou responsabilidades no plano físico. 
      O que nos leva a temer a morte? Como outros medos, tememos mais a imaginação que fazemos de certas coisas, as imagens mentais que nos vêm à cabeça e os sentimentos que pesam em nosso coração, que a coisa em si, ou o que ela é de fato. É claro que se tratando de morte, ninguém pode saber com rigor científico o que acontecerá depois que nosso corpo físico parar de funcionar, assim, a única referência que temos são as interpretações religiosas que colecionamos durante nossas vidas. Condenação eterna a sofrimento é conceito de várias religiões, mas o cristianismo prega isso de maneira especial, e o cristianismo protestante não deixa meio termo, ou é céu ou é inferno. 
      Ausência de tudo, um lugar fechado e escuro, sem ar, quente e desconfortável, muitos podem sentir que a morte lhes entregará a uma condição assim, mas é preciso entender que essas são sensações que nos aterrorizam porque restrigem o corpo, é o nosso corpo que precisa de oxigênio limpo, de temperatura adequada, de espaço e de luz, o espírito não precisa disso. Mas o que nosso espírito sentirá após morte? Nem a Bíblia traz detalhes de nossa existência pós morte, e como já dissemos, na doutrina protestante, ou é céu ou é inferno. O texto inicial de Mateus 13 fala sobre o inferno, pela doutrina protestante os salvos por Cristo terão direito ao céu, os demais, ao inferno.
      O texto de Mateus 13 é parte da parábola do joio e do trigo, vegetais semelhantes e plantados num mesmo lugar, mas com diferenças, o trigo dá fruto, o joio não, o trigo é mais maleável, o joio é mais duro. A simbologia nos faz pensar na igreja, num grupo onde pessoas diferentes frequentam a mesma comunidade e professam a mesma religião, contudo, umas são de fato convertidas, as outras não. Interessante que Jesus cita como condenados ao inferno não pessoas do mundo, mas o joio, religiosos que dizem professar a mesma fé que o trigo, mas que são joio, não praticam o que professam e devem permanecer assim, enganando, até o fim, quando receberão a justa condenação. 
      Quem prestar atenção verá essa delicadeza em grande parte da Bíblia, os ensinos não cobram os de fora, os do mundo, mas os de dentro, seja da nação de Israel ou de membros de igrejas evangélicas. Isso deveria ser exemplo para pregadores que gostam de julgar e condenar ao inferno aqueles que aparentemente são diferentes deles, enquanto deixam de cobrar muitos dentro de suas igrejas, só porque se parecem cristãos e são fiéis nos dízimos. Quanto adultério, hipocrisia e mentira no joio que muitas vezes é até mais honrado que o trigo, trigo que não aceita o pecado, principalmente aquele do “altar”, e que acaba sendo desprezado pela liderança que não quer confrontar os que lhe oferecem vantagens política e econômicas.
      Devemos ser espirituais para não irmos para o inferno? Cuidado, o céu não é lugar (ou posição) para preconceituosos, assim como o que nunca frequentou igreja cristã não irá necessariamente para o inferno, não só por isso. A verdade é que muitos se surpreenderão quando passarem desse mundo para o outro, desse plano para o outro, um estado de surpresa que poderá levar não instantes, mas milhares de anos. O grau de surpresa está diretamente relacionado com a nível de verdadeira espiritualidade em que cada um estiver, não de acordo com referências que muitos líderes religiosos, incluindo cristãos, ensinam, mas de acordo com a verdade mais alta e iluminada do Deus altíssimo.
      Os cristãos, pela Bíblia, têm pouca informação sobre o céu, e a verdade é que em sua maioria, seguindo a tradição dos israelitas no antigo testamento, pouco se interessam pelo melhor de Deus na eternidade, digo melhor porque o inferno, o pior de Deus, também pertence a Deus, mas ele criou com objetivo diferente do céu e destinado a seres diferentes. Temos informações no novo testamento, principalmente nos evangelhos e no Apocalipse, mas se resumem a um lugar onde não haverá sofrimento, morte e trevas, mas amor, luz, vida eterna e uma comunhão plena com Deus. João o evangelista mostra o céu como uma cidade luxuosa cercada por uma natureza exuberante, enfim, com referências físicas de estética e bem estar. 
      O céu pelo cristianismo é recompensa máxima para quem atingiu a mais elevada espiritualidade, espiritualidade que está, de acordo com o novo testamento, mais relacionada à salvação pela fé em Cristo e a virtudes de justiça e amor, ainda que devam ter como efeitos obras na Terra, que de fato a um conhecimento e uma comunicação profunda com o mundo espiritual. Assim o cristianismo aguarda o céu, mas pouco se interessa por ele, na prática quer vida boa na Terra, e a princípio não há nada de errado com isso. Estamos no mundo físico com orientação de Deus para dominá-lo, com população e conhecimento, e mais, temos todo o universo para conhecer ainda encarnados, luas, planetas, sóis etc.
      Ocorre diferentemente com outras religiões, muitas têm um interesse mais profundo pelo plano espiritual, tanto filosófica quanto praticamente. Isso seria porque elas são conduzidas pela mesma curiosidade pecaminosa que levou o homem a provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden? Basicamente, sim. Se alguém não concorda, acha que a Bíblia fala bastante sobre o mundo espiritual e que isso é bem ensinado nas igrejas, é porque não conhece de fato sua religião, assim como as demais. Mas por favor, entendam corretamente, com isso não vai aqui uma crítica ao cristianismo, apenas uma constatação que nos permite entender algumas coisas, certas prioridades levantadas nas igrejas. 
      O cristianismo é a expressão do mais alto amor de Deus à humanidade, à medida que oferece, através de personagens da nação de Israel no velho testamento, Moisés, Samuel, Davi, profetas e outros, e dos apóstolos e Paulo registrando as palavras de Jesus e do início da Igreja, a maneira mais simples assim como a mais eficaz do homem ter comunhão com o melhor de Deus, sem “atravessadores”. Essa maneira se resume a uma palavra: Jesus. Outras religiões até se aprofundam em alguns assuntos, mas não focam no principal, por um motivo ou outro, e acredite, evangélico e católico que só conhecem as próprias religiões e olhe lá, existe sabedoria em textos sagrados fora da Bíblia, que todos deveriam ler, com o cuidado devido. 
      Existem dois posicionamento sobre saber se se vai para o céu: uns acham que o espiritual tem certeza que vai, crê no evangelho e não pode negar uma promessa que é de Deus, que por sua vez não volta atrás com sua palavra. Outros, porém, acham que a resposta mais espiritual que se pode dar quando se é questionado sobre certeza de ir para o céu após a morte é, “Deus sabe”. Confesso que como crente com base doutrinária de igreja batista tradicional fui ensinado que devo ter certeza e pronto, contudo, ultimamente tenho refletido sobre a resposta “Deus sabe” com mais atenção, mesmo sem que eu tenha perdido a convicção sobre a minha experiência pessoal com Deus, aliás, ela só tem aumentado. 
      “Deus sabe” talvez seja a maneira que devemos encarar os outros cristãos, ainda que os amando e respeitando como cristãos. Quem é meu irmão em Cristo e estará no céu comigo? Eu tenho muito cuidado em usar o termo “irmão”, certeza só terei na eternidade, ainda que queira e tenha amigos que gosto muito dentro de igrejas evangélicas, contudo, também tenho ótimos amigos que não são evangélicos, e alguns que me ajudam mais que muitos que me chamam de “irmão”. Mas isso é como eu encaro as coisas, e eu separo bem pessoas que de fato têm uma verdadeira comunhão com Deus de pessoas simplesmente doutrinadas por comunidades cristãs, muitas vezes convencidas, mas não convertidas.   

Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

03/10/20

3. Para ter prosperidade material

Espiritualidade Cristã (parte 3/64)

      Muitas pessoas querem ser espirituais, por isso procuram religiões e outras práticas, mas por que realmente elas querem isso? Alguns acham que ser espiritual é respeitar a moralidade da sociedade em que vivem, assim virtudes como honestidade, controle emocional, caridade e não se dar a vícios como cigarro, bebida e prostituição devem definir espiritualidade. Contudo, isso tudo é só deveres de cidadania, de vida em grupo, que respeita limites e não invade limites alheios. Outros pensam que ser espiritual é ser fiel a doutrinas religiosas, mas em sua maioria as religiões sempre ensinam e cobras boa moralidade e equilíbrio os apetites carnais, mais regras para se viver em sociedade nesse mundo que de fato espiritualidade. Outros ainda, pensam que ser espiritual ter experiências místicas com o sobrenatural, ter mediunidade, se comunicar com o mundo espiritual. 
      Assim, as pessoas entendem espiritualidade de maneiras e em níveis diferentes, assim como a buscam em lugares e de formas distintas, de acordo com suas idiossincrasias, curiosidades, medos e paixões. Mas e quanto a você, evangélico, que frequenta uma igreja protestante, por que você quer ser espiritual? As questões nessa reflexão têm o objetivo de fazer pensar e conduzir a reavaliações os cristãos, não os outros, olhamos para dentro e não para fora, para os filhos de Deus. Será que nós, que acreditamos que cremos na verdade maior e absoluta do evangelho, experimentamos de fato uma espiritualidade melhor? Será que somos melhores que monges e espiritualistas de outras religiões, que esotéricos, clérigos e tantos que se dedicam exclusivamente à busca do divino? (Ou será que eles são piores por isso?) E se somos melhores, por que somos, ou mais, para que somos? 
      Atualmente muitas pessoas em igrejas evangélicas querem ser espirituais por razões absolutamente materialistas, a prova disso é a dizimolatria da qual tanto falamos aqui no “Como o ar que respiro”. Até querem ter vidas morais melhores e tentam ser fiéis às doutrinas que seus líderes ensinam nos púlpitos, mas que nem sempre conduzem de fato à espiritualidade, só à religiosidade. O que é essa religiosidade? Sim, é a obediência a algumas leis morais e sociais, basicamente no cristianismo aos mandamentos mosaicos, mas a isso são adicionadas regras específicas de uma denominação, e uma presente em muitas, principalmente pentecostais, é a obrigação do dízimo. Nem venham dizer que isso não é verdade, é sim, e ocorre uma verdadeira chantagem que tenta convencer as pessoas que caso elas não dizimem sofrerão os flagelos da tão usada passagem bíblica de Malaquias 3.10-11, ou melhor, mal usada. 
      Assim, no entendimento de muitos, se acha que é necessário ser “espiritual” para receber os favores de Deus neste mundo, principalmente prosperidade material, numa visão infantil, rasa e física do Senhor e de sua mais alta espiritualidade. As pessoas têm no materialismo não só o meio de atingirem espiritualidade, vivendo dessa e daquela maneira, fazendo isso ou deixando de fazer aquilo, mas também o objetivo, já que prosperidade material pode ser vista como critério de avaliação para espiritualidade, quando o próspero é membro de igreja e fiel ao dízimo. Num ambiente que só dinheiro e bens interessam, de um jeito ou de outro, onde fica de fato a espiritualidade, aquela evidenciada na vida simples de Jesus homem? Por isso o evangelho perde muitos para o espiritismo ou para o budismo, porque muitas pessoas encontram nessas religiões mais espiritualidade prática que em igrejas evangélicas, e assim o caminho mais reto e mais eficiente que é o nome de Jesus não é trilhado por tantos. 
      Contudo, fica difícil as pessoas não serem enganadas quando o engano começa na liderança, no conceito que muitos pastores têm do que seja um evangelho vitorioso e glorioso, conceito mostrado nas construções dos templo, nas vidas pessoais dos líderes, e na maneira como dízimos e ofertas arrecadados são administrados. Se quem deve dar exemplo não dá, aqueles que chegam, como novos cristãos, já começam suas carreiras incorretamente. Muitas igrejas atuais nem batistério têm, o que mostra que o objetivo não é converter incrédulos, mas só seduzir crentes insatisfeitos de outras igrejas, o produto usado nessa sedução é a promessa de prosperidade material que ganha ainda mais valor num momento econômico do nosso país onde há tanto desemprego. O erro não é só de líderes, é também dos liderados, enquanto buscam líderes que lhes agradem, que falem o que desejam ouvir, que vendam o produto que querem comprar, contudo, o juízo maior de Deus é, sim, sobre líderes mal intencionados, que ainda que o povo estivesse errado deveriam orientar o caminho certo e não obterem vantagens pessoais com o engano. 
      Mas o que muitos não entendem é que a disciplina de Deus não vem sobre os incrédulos, esses serão julgados no juízo final, no tempo atual ela vem sobre os cristãos, não como condenação eterna, mas como correção passageira. Assim, se o Brasil vai mal é porque os cristãos não estão andando corretamente, a culpa não é dos incrédulos no mundo, usufruindo a vida material e não se importando com espiritualidade, mas de cristãos materialistas dentro de igrejas. Da mesma maneira a bênção voltará ao país não para que o Brasil seja uma nação totalmente convertida e que possa ser chamada de cristã, não, isso não irá acontecer e nem é necessário que aconteça. A bênção voltará especificamente ao povo de Deus, quando esse voltar-se para Deus através de Deus, não de promessas de políticos que se dizem em nome de Deus, uma bênção espiritual e também material. Essa última, suficiente para que os cristãos tenham vidas financeiras dignas, não mais que isso, bênção material que nunca deve ser pedra de tropeço que impeça o cristão de atingir a verdadeira espiritualidade que o evangelho pode entregar pelo nome de Cristo e através do Santo Espírito.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

02/10/20

2. Para não pecar

Espiritualidade Cristã (parte 2/64)

      “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” 
João 3.17-18
      “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade.“ 
Mateus 23.25

      “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
  Mateus 11.27-28

      Não podemos entrar neste estudo sobre espiritualidade sem pensarmos sobre pecado. Se queremos uma resposta rápida para por que grande parte das pessoas quer ser espiritual é: para não pecar. De maneira geral, na maioria das religiões, espiritualidade é buscada como caminho oposto ao pecado, representando virtudes que vencem as fraquezas da carne. Eu disse na maioria das religiões porque é fato que existem cultos para contato com o mundo espiritual onde santidade não é relevância, nesses faz-se uso de práticas nada limpas, como prostituição, orgias, sacrifícios, para “energizar” seus rituais mágicos (se bem que tecnicamente o termo “religare” nem se aplica a essas religiões). 
      Com certeza não são para terem acesso a Deus e muitos menos a seres espirituais, ainda que não por Cristo, que de alguma maneira prezem por limpeza moral e espiritual, mas ainda que a mídia em geral negue, existem cultos “satanizados”, que acham melhores condições de espiritualidade na sujeira e no mal. No senso comum, contudo, a definição para pecado é isso, cair nas fraquezas da carne, assim muitas religiosidades e espiritualidades estão ligadas à vitória sobre os apetites carnais. Como cristãos sabemos que pecado é mais que isso, leva a um desvio do alvo não só o corpo físico, mas coloca todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, em desacordo com o centro da vontade de Deus.
      No texto inicial de João é relatada a trágica condição do homem natural, que antecede ao pecado em si, pior que errar o alvo é já estar passivamente condenado, simplesmente por não se posicionar, “quem não crê já está condenado“. No texto de Mateus está o exemplo dos fariseus, que erraram o alvo exercendo religião, eram ativos na busca do divino, mas por motivos errados, para pousarem como melhores diante dos homens e os dominarem, não para agradarem a Deus e conhecê-lo de verdade. Seja como for, o ser humano não foi criado para o pecado, ainda que tenha livre arbítrio para escolhê-lo, por isso é natural que pecar traga desconforto, culpa que precisa de perdão para ser anulada. 
      Pecado é algo que macula todo o ser: machuca o corpo, suja a alma e esfria o espírito, pensaremos mais a respeito na próxima reflexão. A definição clássica de “pecado” é errar o alvo, assim implica em haver uma iniciativa de seguir um percurso, no uso de um bom esforço, mas que não cumpre o melhor trajeto, ainda que seja o objetivo inicial desejado de quem se esforçou. Isso nos leva a pensar não nos vícios da carne, na busca desenfreada de satisfação dos prazeres do corpo, esses nem seriam pecado como alvo não atingido, mas como algo que não teve nenhum objetivo espiritual, que nem teve início de trajetória. Já é uma condição passiva de perdição, não a causa, mas o efeito final do pecado primal.
      O que chamamos de “pecados da carne” não é o pecado principal, são os efeitos desse, o pecado principal é a tentativa de se viver sem Deus, que erra o alvo, e que tem como consequência a queda nos apetites carnais, na fraqueza moral e espiritual, na morte do espírito. Adão e Eva não pecaram porque quiseram fazer coisas moralmente reprováveis, serem pessoas más e egoístas, adulterarem, não, pecaram porque quiserem ser iguais a Deus. Foi essa a tentação principal que a serpente usou com eficiência (veremos a respeito mais à frente nas reflexões “Três testes para a espiritualidade“), e como consequência eles perderem o rumo de todo o resto de suas existências.
      A prova disso é o fratricídio ocorrido na próxima geração depois deles, que pecado terrível, entre irmãos. Isso nos faz pensar nas religiões, elas, sim, são flechas lançadas para o divino, mas que muitas vezes não chegam a Deus, portanto erram o alvo, assim são pecados no sentido exato da palavra, mais que os “pecados da carne”, são os pecados causais que geram todos os outros. O pecado mais puro tem lugar no espírito, não na carne, vejam os seres espirituais rebeldes, diabos e demônios, eles não têm corpo físico, mas são a expressão mais pura e poderosa do pecado, justamente porque tentam atingir a espiritualidade mais alta sem Deus, ainda que não tenham corpos físicos para caírem nos apetites carnais.  
      Vivemos um momento na história da humanidade onde, talvez como nunca antes, se negue o pecado, e principalmente, a consequência dele, e quem nega a doença, nega o remédio. Na agenda da estratégia final do anti-cristianismo esse é um ponto importante, ao mesmo tempo que agrada ao homem, nega a Jesus, permite que o ser humano faça o que deseja, com quem deseja, onde e quando deseja, sem que tenha que se sentir culpado por isso, em pecado. Se não há pecado, não existe condenação e consequentemente não se precisa de salvação, assim anula-se o cristianismo, nega-se Cristo, desvia o homem definitivamente de Deus, mesmo que tal agenda também pregue coisas boas como tolerância e igualdade.
      O pecado precisa ser repensado, não como a culpa que o catolicismo jogou sobre o homem por séculos, para dominar sobre ele, tradição ruim que o protestantismo dá seguimento, mas como desvio do Deus Altíssimo, o único que pode dar ao homem espiritualidade, o objetivo final de todo ser no universo. Assim, podemos chegar a uma definição final para pecado: é desvio do alvo? Sim, mas não necessariamente fazendo coisas ruins ou erradas, mas simplesmente não caminhando retamente para Deus, pecado é tudo que separa o homem de Deus. Por isso a prioridade do anti-cristianismo final não é pregar o mal, se isso foi em outros tempos, agora mudou, ele prega tudo que é bom e para todos, em todas as áreas.
      Contudo, sem ter Deus como origem e fim, e tendo Jesus somente como mais um homem, bom, sábio, espiritual, mas não um salvador, a solução para o pecado original do Éden é esquecida. O próprio termo anti-cristo já diz tudo, não é contra o amor, contra a justiça, contra a paz, mas contra Cristo, isso basta, e é isso que muitos que insistem em caminhar sem Deus não enxergam, cegos que estão em seus corações orgulhosos que acreditam que podem ser deuses e não adoradores do verdadeiro Deus. Não digo que seja fácil atualmente discernir as coisas, na verdade é difícil e vai ficar cada vez mais difícil, já que o mal prega o bem e aqueles que se dizem do lado do bem cometem equívocos. 
      Por isso é de suma importância que reavaliemos nossas crenças e entendamos o que é de fato espiritualidade, Jesus sempre oferecerá algo superior e exclusivo, os que forem a ele acharão vida que não existe em nenhum outro, só Jesus recebeu de Deus essa vida (Mateus 11.27-28). Mas é preciso que Jesus seja de fato pregado, não prosperidade material, não fé na fé e muito menos um “Deus” fechado na “caixinha” das tradições e do cânone bíblico sem a leitura do Espírito Santo, que só incentiva preconceitos e intolerâncias. Espero que o momento atual, que deu espaço a falsos cristãos principalmente nas lideranças políticas, abra os olhos daqueles que já creram no evangelho e que têm a missão de pregá-lo. 

      Por que quero ser espiritual? Para vencer o pecado, com certeza esse já é um bom motivo, depois podemos ser espirituais para pedirmos a Deus proteção e suprimentos e finalmente conhecimento. Mas por que o pecado é tão ruim, o que ele faz em nós? Ele desarruma todo o nosso ser, machuca nosso corpo, suja nossa alma e esfria nosso espírito, vamos refletir nesses três pontos. 

      “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.” Salmos 51.5-9

      O pecado machuca o corpo, porque insiste em querer tirar da carne algo que a carne não pode dar, prazer que permanece, daí nascem os vícios. Quantas doenças, físicas e psicológicas, vêm dos vícios da carne, da obsessão por sexo, por bebida, por comida, pelas sensações que elementos químicos dão a carne de euforia, de relaxamento, de delírios. Isso machuca a mente, os pulmões, os órgãos genitais, isso inviabiliza as funções normais dessas partes do corpo, não, um viciado em sexo não dará maior prazer ao seu parceiro, mas menor, e um prazer artificial, dependente de recursos não naturais, de objetos e fantasias, que transformam algo simples e bonito em dor e morte.
      O pecado suja a alma, nosso coração e nossa mente, cria caminhos desnecessários para se obter satisfação, que depois serão difíceis de serem deixados. Uma alma suja vê sujeira em tudo e não se sente mal, com culpa, quando suja inocentes e puros só para conseguir seu prazer egoísta, por isso devassos e depravados, que já não têm identidade, ganham a identidade do pecado que cometem. Um adúltero não é mais um homem ou uma mulher, mas o próprio adultério, assim como o viciado em cocaína, não é mais o ser humano, mas a droga, que anda e vive só para se mantê-la viva. Alma em pecado é cega e surda, a sujeira do pecado a impede de ver e ouvir moralmente.
      A sujeira do pecado espalha no ambiente um “cheiro” desagradável, que nem precisa ser necessariamente físico, um adúltero pode estar sempre banhado e perfumado, mas exala um “cheiro” moral horrível de pecado, que traz repugnância aos que têm sensibilidade de alma, aqueles que não são perfeitos, mas que buscam dia a dia o perdão purificador. Muitos de nós muitas vezes sentimos esse “cheiro” de alma suja, que repito, pode não ter nada a ver com o corpo, de alguém que pode estar usando as roupas caras e perfumes raros, mas pelo Espírito Santo, ainda que não conheçamos tais pessoas intimamente, percebemos que elas têm algo de errado, o pecado, e muitas vezes bem escondido. 
      Diferentemente do corpo e da alma, que podem ser “danificados” pelo pecado, o espírito, sopro de Deus em todos os seres criados à imagem dele, não pode, mas ainda assim é afetado pelo pecado, ainda que não possa ser morto ou sujado. Ele pode estar “mortificado”, e naqueles que têm o Espírito Santo, se o ser está em pecado, ainda que por pouco tempo sem se apossar do perdão de Cristo, pode ser “esfriado”. E como o nosso espírito pode se esfriar, e infelizmente muitos cristãos até se acostumam com isso, isso acontece quando o Espírito Santo de alguma forma é negado, negado não ferido, não vou usar o termo machucado pois o Espírito de Deus não pode ser machucado, mas ele pode se calar em nós. 
      Deus cala seu Espírito em nós para nos disciplinar, faz isso por um tempo, e não existe nada pior para um filho de Deus que estar nessa disciplina. Se a pessoa é de fato convertida se sentirá num deserto sem água pura e fresca para saciar sua sede, sofrerá mais que o não convertido que ainda não sabe da satisfação espiritual que a água viva do Espírito dá. Nós precisamos aprender a discernir essa disciplina, ver quando ela está existindo, aceitar que está ocorrendo porque erramos, para então sabermos onde erramos, buscarmos arrependimento, posse de perdão e então termos um desejo sincero de não errarmos mais. A disciplina de Deus, apesar de doer, conduz à vida, não é uma condenação para a morte.
      Todo espírito, de todos os seres humanos, convertidos ou não a Cristo, no plano físico ou no espiritual, está vivo, ele é eterno, mas só pode ser “vivificado” se ganhar o selo do Espírito Santo, que permite que o ser tenha comunhão com o Altíssimo, o que nos confere vida é estarmos ligados a Deus. Mesmo que conheçamos sobre espiritualidade, que saibamos profundamente os mistérios dos principados e potestades, que tenhamos comunhão com o mundo espiritual, com entidades, com espíritos, se não tivermos sido selados com o Espírito Santo, após um novo nascimento em Cristo, nossos espíritos estarão inabilitados para terem plena comunhão com Deus e direito às bênçãos que só ele pode dar. 
      A melhor eternidade de Deus é um dos direitos exclusivos do espiritualmente vivificado por Deus. O que chamamos de céu, o “ceio de Abraão”, para onde vão os salvos, é a melhor eternidade de Deus, já o que chamamos de inferno, para onde vão os diabos, seus demônios e os seres humanos não salvos, é a pior eternidade. Bem, ambas são de Deus, Deus é dono de tudo e tudo fez, mas alguns “lugares” fez para os humildes que se aproximaram dele e conheceram a salvação única e suficiente de Cristo, outros “lugares” o mesmo Deus fez para os condenados, inicialmente para os seres espirituais das trevas, mas depois para os seres humanos que levarem seus infernos pessoais do plano físico ao espiritual.
      Precisamos entender que o espírito é nossa parte mais importante, é a essência do nosso ser, no plano espiritual seremos o espírito com um corpo transformado. É o nosso espírito que leva nossa identidade eterna, que vai além de tudo que fomos e fizemos em nossa existência passageira neste mundo. Assim, o pior mal que o pecado faz, quando machuca o corpo e suja a alma, é esfriar o espírito, impedindo-o de ter plena comunhão com Deus. Todavia, ainda que nos apossemos do perdão espiritual, nossos corpos podem se machucar de forma irremediável, isso poderemos sentir só na velhice, justamente quando o que mais vamos querer é saúde física para nos focarmos em Deus, assim, cuidemos melhor de nossos corpos. 
      A sujeira da alma, por sua vez, pode levar anos para desgrudar de nós, lembranças e sentimentos ruins, culpas e arrependimentos, devaneios imundos, que podem voltar e nos tirar do foco maior, isso se já não tiverem instalado em nossas mentes doenças psicológicas sérias. Deus nos perdoa, mas nós mesmos e os homens, não, não facilmente. A sujeira da alma talvez seja ainda pior que os machucados do corpo, pois pode se esconder dentro de nós, usar mecanismos complicados que nos enganam e até nos convencem de que ela nunca existiu. Dessa forma, precisamos ser sábios e nos livrarmos do pecado o quanto antes, antes que firam nossos corpos frágeis, e sujem nossas almas, mais frágeis ainda, de maneira permanente.
      O texto inicial é uma oração poderosa, assumindo a gravidade de pecado diante de Deus, não colocando a culpa em mais ninguém, mas se colocando como o único responsável pelo pecado, que rouba a paz e separa do melhor de Deus. Junto dessa assunção vem o reconhecimento de quão santo é Deus, pois essa oração coloca o homem perto de Deus, mas isso é só o começo de uma experiência maior com o mundo espiritual, com o conhecimento dos mistérios do Altíssimo. O verdadeiramente arrependido não imputa ao santíssimo erro por ter sido disciplinado, antes aceita a disciplina com humildade e deseja com todo o coração não pecar mais, esse é o terreno mais fértil para que espiritualidade verdadeira brote. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

01/10/20

1. Para que ser espiritual?

Espiritualidade Cristã (parte 1/64)

      É com muita alegria que compartilho aqui no blog “Como o ar que respiro” um livro original, dividido em sessenta e quatro reflexões, sobre o tema espiritualidade cristã. Procurei pensar no assunto sobre diversas abordagens, seja em relação ao tempo de caminhada do Cristão com Deus, assim falando tanto aos mais novos na fé quanto aos mais maduros, seja em relação ao espaço físico de prática de espiritualidade, dentro dos templos ou no mundo. Também abordei um aprofundamento do tema em relação aos ensinos mais tradicionais sobre o que é espiritualidade cristã, isso é algo que na visão que tenho no Esprito Santo falta aos cristãos para que tenham de fato uma existência, ainda que no plano físico, localizada espiritualmente nas regiões espirituais mais elevadas em Cristo, onde há cura para toda dor e resposta para todo questionamento. Que essa leitura possa te fazer reavaliar muitas coisas, mas que ela possa, na prática e não na filosofia de seus ensinos, te trazer paz. O Deus Altíssimo abençoe a todos em amor. 

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      A orientação máxima, segundo a Bíblia, para que o ser humano tenha uma vida de qualidade está contida no texto inicial, amar a Deus acima de tudo e depois ao próximo como a si mesmo, quem ama a Deus obedece-o e quem ama o próximo como a si respeita-o, só isso deveria bastar para que vivêssemos em sociedade com justiça igual para todos, de maneira honesta e sem qualquer espécie de violência ou intolerância. Isso representa o cerne de espiritualidade que antigo e novo testamento ensinam, que a velha aliança de Israel propôs, mas que só foi possível a toda a humanidade viver de fato através do evangelho, o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição do filho de Deus sem pecado salvando o mundo.
      A Bíblia é acima de tudo um texto religioso prático, pouco se fala do mundo espiritual, do diabo e mesmo de anjos, apesar de muitos amplificarem o pouco que é falado, ela ensina como se viver na Terra, com os pés no chão. No antigo testamento mantendo a nação de Israel fiel ao Deus que prometeu guarda-la pela promessa inicial a Abraão, e deixando as outras nações em paz, com suas crenças e deuses, desde que não tocassem o território original dos israelitas. No novo testamento a orientação de Jesus, de Paulo, de João, de Pedro e de outros é clara, não se metam com política ou com os costumes sociais vigentes, aceite-os e seja bom dentro de seus sistemas que Deus os guardará.
      Isso pode parecer resignação demais, mas isso é o evangelho, não o uso tão equivocado da frase “feliz a nação cujo Deus é o Senhor” que muitos utilizam hoje em dia no Brasil, uma orientação para Israel física e não para o reino de Deus espiritual da nova aliança. Mas se quisermos resumir espiritualidade segundo o centro do ensinamento bíblico em uma palavra, a palavra é Jesus. Se estudarmos não só o que Cristo fez para salvar humanidade, que já bastaria para que sua missão fosse cumprida, mas como ele se relacionava com as pessoas, não pelos discursos, mas pelas entrelinhas de suas amizades e reações diante da hipocrisia dos fariseus, saberemos o que é ser espiritual para Deus, de maneira simples e precisa. 
      A verdade é que o termo espiritualidade não é comum na Bíblia, seja na velha aliança de Israel, seja na nova aliança do evangelho, muitos evangélicos, quando usamos o termo, pensam em “espiritismo”, isso porque o cristianismo católico e protestante, se fizermos uma avaliação honesta, representa bem a visão de “religare” ocidental (religar o homem com Deus em latim). No ocidente a grande maioria trabalha seis dias por semana na vida secular e separa só o domingo para a religião, a visão oriental é diferente, nela o ser humano tem uma relação dia a dia com o divino. 
      Enquanto o cristianismo visa uma relação com Deus mais para ter uma vida material decente, com a sociedade, com os bens, as religiões orientais pensam no mundo espiritual e visam a eternidade, ainda que sacrificando vida material. Dessa forma, o termo espiritualidade, é muito mais ligado à religiões esotéricos, espiritualistas e orientais, que ao cristianismo, honestamente a Bíblia fala mais desse mundo que do outro, principalmente no antigo testamento. Mas mesmo no novo testamento, ainda que vise um reino de Deus no coração do homem não na Terra, a eternidade é definida como céu e inferno, mais nada, sem detalhes ou outras gradações, ser espiritual é ser salvo e batizado, quase que na prática bastando isso.
      O movimento carismático, que se renovou relativamente há pouco tempo no cristianismo, começo do XX, ainda que tenhamos registros de grandes pregadores com experiências de milagres nos séculos XVIII e XIX, deu mais ênfase ao termo à medida que espiritualidade começou a ser aliada a dons espirituais. Até então espiritualidade era mais ligada à negação dos prazeres físicos nas ordens católicas, e a um conhecimento intelectual da Bíblia, esse mais exclusivo de sacerdotes e realeza, que podiam estudar mais. A grande maioria do povo não sabia ler e muito menos tinha acesso à Bíblia, cerimônias católicas eram celebradas em latim e o louvor era exclusivo dos corais. 
      Foi o protestantismo que entregou ao cristianismo uma religião mais democrática, menos mística e acessada por fé, não por compra de indulgências, o que fazia de muitos escravos e de poucos com direitos por serem ricos materialmente, não por ser espirituais. O termo espiritualidade no meio cristão tem ganhado nova leitura atualmente, quando revemos as tradições que não funcionaram antes só levaram à hipocrisia e ao materialismo, temos voltado ao evangelho primitivo onde não basta parecer cristão, temos que ser interiormente e isso é espiritualidade. 

      Após essa introdução, propomos uma pergunta: para que ser espiritual? É sobre esse assunto que refletiremos num estudo assim dividido: 

01. Para que ser espiritual?

02. Para não pecar 
03. Para ter prosperidade material
04. Para não ir pro inferno
05. Para entender a eternidade 
06. Para ter o poder de Deus 
07. Para conhecer os mistérios espirituais
08. Para ter vitória numa guerra 
09. Para vencer um inimigo
10. Para cumprir uma missão

- Princípios básicos 

11. Pecado se vence com vontade!
12. Deus é Espírito 
13. Somos templos do Espírito 
14. Espiritualidade e unção 
15. O Espírito Santo é espiritualidade 
16. A espiritualidade dos primeiros cristãos 
17. Uma espiritualidade gradativa 
18. Espiritualidade e o tempo
19. Tempos: de salvação, de galardão
20. Espiritualidade conforme tua fé

- Início da caminhada 

21. Espiritualidade do profeta
22. Espiritualidade é obedecer a vocação maior 
23. O que Deus tem e o que não tem para nós 
24. Espiritualidade gera santidade, humildade e amor
25. Espiritualidade exercida com amor 
26. Espiritualidade exercida com sabedoria 
27. Humildade: opção ou obrigação?
28. Humildade: único jeito de crescer 
29. Humildade: condição para libertação  
30. Espiritualidade para os olhos de Deus
31. Espiritualidade é mudança

- No mundo 

32. Espiritualidade de Cristo 
33. Espiritualidade e vitimismo 
34. Espiritualidade e crítica
35. Espiritualidade e hipocrisia
36. Espiritualidade e obras
37. Espiritualidade e liberdade 
38. Espiritualidade e arte 
39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas 
40. Espiritualidade e sexo 
41. Espiritualidade e o planeta
42. Espiritualidade e a mídia

- Indo além 

43. Rádio espiritual 
44. Atraídos pelo Espírito Santo
45. Ouça o Espírito 
46. Comunicação espiritual 
47. Já perguntou a Deus?
48. Espiritualidade e meditação 
49. Nos lugares celestiais em Cristo 
50. Espiritualidade de graça 
51. Adoração, porta para espiritualidade 
52. Permaneçamos no amor de Deus 
53. Três testes para a espiritualidade 

- Evolução?

54. Onde está teu Deus?
55. A verdade sobre o mundo espiritual
56. Espíritos 
57. Sigamos para o Altíssimo 
58. Evolução espiritual 
59. Causa e efeito 
60. Alfa e Ômega
61. Surpresas na eternidade  
62. Prossigamos em conhecer a Deus
63. Conhecimento é vida 
64. O que é ser espiritual? 

      Acompanhe nas próximas postagens o estudo, “Espiritualidade Cristã”. 

José Osório de Souza, 30/09/2020

30/09/20

O melhor possível

      “E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga.Marcos 9.47-48

      Um dos segredos de felicidade é aceitar em paz que muitas vezes não podemos fazer o melhor, ainda que o conheçamos e o queiramos, assim o possível se torna a única saída, que ainda que não mostre para os outros aquilo que realmente somos ou queremos ser, é o que de fato podemos ser. Se não tivermos a humildade para aceitar essa realidade poderemos seguir num conflito interno que acabará nos mostrando de um jeito pior ainda, manifestando nossas fraquezas para quem não nos ama ainda que não assuma isso e só espera uma brecha para nos difamar ainda mais. Dar prioridade para a paz interior tem um preço, mas compensa, e deixa-nos com tempo sobrando para o que realmente importa. 
      Novamente lembro o ensino, também presente no texto inicial, no qual tenho achado orientação para tomar certas atitudes, principalmente relacionadas à exposição social, seja na vida real e mais ainda na virtual, visto que essa tem ganhado muita relevância nos dias atuais. Traduzindo é o seguinte: se não temos forças para administrar da melhor maneira a opinião que os outros têm sobre a nossa opinião, é melhor não expormos nossa opinião, não para todos. Por outro lado, se alguns não têm a coragem de se afastarem de nós, ainda que não nos amem, tenhamos nós a coragem, para o bem de nós mesmos, continuar com certas coisas só pra manter aparências não leva a nada e só rouba nosso tempo.
      Mas sigamos em paz, perdoados e perdoando, sem mágoas ou vinganças, quem de fato se encontra em Deus descobre em si mesmo alguém especial, forte, não fraco, sincero, não falso, íntegro, não dividido, Deus não fez ninguém menor, todos podemos ser felizes e singulares, desde que sejamos humildes. Algumas coisas podemos resolver, outras não, algumas pessoas nos amarão sem fazer força, outras se esforçarão para achar o nosso pior e divulgar isso, algumas coisas teremos que levar conosco, não como erros indesculpáveis, mas como provas que temos que confiar antes e mais em Deus, não em nós mesmos ou nos homens. Mas trabalhemos até o fim, para sermos o melhor possível. 

29/09/20

Deus está atento

      “Os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos ao seu clamor.Salmos 34.15

      Que versículo mais lindo esse, entendo por ele que se eu precisar de uma palavra de consolo Deus me responderá, porque na verdade ele está sempre pronto para ouvir o “justo”. Contudo, tenho medo de usar a palavra “justo”, eu não sou justo, nunca houve um justo na Terra, a não ser Jesus, melhor é usar o termo justificado, justificado por Cristo, ele nos torna justos porque ele pagou o preço para sermos justos, ele nos justificou em sua obra de redenção. Em Cristo Deus nos vê como justos, e isso é algo maravilhoso, por isso em Cristo o Altíssimo está ligado a nós, pela presença de seu Espírito, nessa comunhão Deus está sempre perto, sempre atento, sempre pronto para nos dar uma palavra de amor que nos entrega paz. 
      Quando estamos bem nem nos preocupamos em dimensionar a distância de Deus, contudo, quando nosso coração aperta e nossa alma se sente só e desprotegida, como ficamos sensíveis, só um abraço apertado fará com que nos sintamos amparados, ouvidos, importantes. Deus nos abraça pelo seu Espírito, nos olha de perto e ouve mesmo nosso sussurro em meio às lágrimas que às vezes nem forças têm para subirem do nosso interior, ficam lá, engasgadas, reprimidas, silenciosas, o tempo pode fazer isso conosco. Mas Deus se aproxima de nós, imutável, Deus nunca desiste de nós, ele não é homem, ele é o amor na essência e têm o bem em seu íntimo reservado para os justos que precisam dele e de mais ninguém.