21/08/22

Dimensões de Deus (21/92)

      “Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei.” Salmos 16.8
      “Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” Salmos 121.1-2

      Deus tem dimensões? Comprimento, largura, altura, podemos ver Deus assim? Na verdade Deus não pode ser medido, ele é infinito em todos os sentidos, mas podemos interagir com Deus olhando-o assim. O comprimento é a dimensão que mais usamos, ele é horizontal assim o experimentamos principalmente quando buscamos de Deus coisas materiais, para nossos corpos neste mundo. Para isso cremos que Deus é todo-poderoso para nos dar algo, que é dono de tudo e que por isso não precisamos temer homem, mesmo que seja proprietário de muitas coisas e que se considere grande e rico. 
      É mais fácil para nós enxergarmos o comprimento da atuação de Deus, porque é uma dimensão que para nós se manifesta no plano físico, ainda que seja expulsando seres espirituais do mal (o diabo e os demônios) de regiões espirituais. Enxergarmos uma largura na atuação de Deus também não é algo difícil para a maioria dos seres humanos, ainda que seja menos experimentado por muitos. Se no comprimento há coisas materiais no presente, a largura envolve o futuro, assim, não só matéria, mas tempo, contudo, ainda assim a maioria crê num Deus largo e Senhor do tempo para ter coisas materiais. 
      Vermos a largura de Deus é entender que ele não faz e não dá-nos coisas aqui e agora, mas que pode fazer isso mais à frente, no futuro, e isso com uma finalidade melhor para nós. Temos mais dificuldades para esperar, para administrar tempo, somos ansiosos, imediatistas, míopes para ver um pouco adiante de nossos olhos físicos, isso nos impede de crescer numa das virtudes que mais nos amadurecem, a fé. Acreditar num Deus que pode tudo e nos dá agora não exige tanta fé, mas ter que aguardar, confiar que Deus nos dará algo depois e que enquanto isso temos que esperar em paz requer mais fé. 
      Para ver o comprimento basta olharmos à direita e à esquerda, para vermos a largura olhamos para frente (ou para trás), mas uma experiência com a terceira dimensão requer olhar para o alto. Altura é a dimensão mais espiritual, nela não só fé é pré-requisito, mas também maturidade espiritual, que abre mão da matéria e deseja uma experiência moral com Deus. Na velha aliança, Israel tinha mais experiências com o comprimento e a largura da atuação de Deu neste mundo, mas na nova aliança do evangelho de Jesus, a Igreja é chamada para conhecer a altura espiritual e eterna de Deus. 

      Assim chegamos ao ponto desta reflexão, uma pergunta: qual a altura do teu Deus? Se ela for baixa, ainda que entendamos e queiramos um Deus espiritual, nossa vida estará presa aos valores deste mundo, e em termos espirituais práticos poderemos estar mais susceptíveis a relações com seres espirituais inferiores, do mal. Fica difícil o Esprito Santo atuar em templos humanos que não elevam seus olhos para o alto, que até creem em Deus, mas vivem focando seus espíritos em coisas, valores, regozijos baixos, deste plano. Somos levados para onde nossa fé olha, limitados por ela, não por Deus.
      Quando somos vencidos por tentações inferiores, aquelas que todos em todos os lugares sofrem, nosso olhar espiritual está colocado num ponto baixo do gradiente espiritual, assim os desejos físicos mais baixos e instintivos nos dominam com facilidade. Esses desejos não são errados em si mesmos, mas devem ser dominados, para sabermos quando, como e com quem, se for o caso, devem ser saciados. Isso se refere aos apetites do corpo de maneira geral, como fome, sede e sexo, mas também outros elementos que se consumidos nos dão alguma sensação de bem estar, como drogas e bebidas alcoólicas.
      Outra espiritualidade baixa que pode nos aprisionar atua diretamente em nossos pensamentos, além de fantasias sobre os desejos básicos falados anteriormente, estão também devaneios de ódio, vingança, ciúmes, e nesses podem agir sobre nós diretamente seres espirituais do mal, que pegam carona nas tendências de pensar bobagens que todos nós temos. Não se engane, ninguém que esteja com a cabeça cheia de sensualidades e de homicídios, será templo do Espírito Santo, mesmo que a boca fale de Bíblia sua “unção” será carnal e maligna, capacitada por demônios, não por Deus. 
      Por outro lado, e isso digo principalmente a cristãos tradicionais cheios de preconceitos, a mesma coisa que Jesus disse a líderes religiosos judeus do primeiro século (João 10.19-21). Casa limpa abriga o Espírito Santo, e se além disso as palavras forem sábias e as obras forem de amor, como dizer que os olhos espirituais não estão focados nas regiões espirituais mais elevadas? Colocando alguém em contato com Deus e sendo instrumento dele, ainda que não seja protestante ou evangélico? Podemos até não entender certas coisas, crermos diferente, mas nesse caso é melhor nos calarmos que julgarmos.
      Não nos enganemos, assim como Deus pode estar longe de muitos pregadores e cantores em púlpitos, ainda que obedeçam à risca protocolos de uma igreja, Deus pode ser amigo íntimo de outros religiosos, que muitos cristãos aliam ao diabo. Que altura tem meu Deus? A altura de Jesus, essa é a resposta, quem colocar os olhos realmente em Jesus estará protegido de todo engano, de toda potestade e principado do mal. Eis a razão do cristianismo permanecer útil à humanidade por tanto tempo, mesmo em meio à tanta corrupção do catolicismo. Deus não despreza quem chega a ele por Cristo. 
      Quando orar erga teu rosto, ainda que esteja num pequeno quarto, no escuro ou com os olhos fechados, imagine-se olhando para as regiões espirituais mais altas, e creia, isso não é só uma questão de fantasia mental, mas é uma postura espiritual que foca os olhos espirituais no Altíssimo. Isso tira de nós uma atitude corajosa de fé, que já nos posta, ainda que com humildade e temor e Deus, como vitoriosos, isso ergue nossos pensamentos e sentimentos de coisas baixas, de ressentimentos, de pecados, de descrenças, e nos posiciona em Deus. Faça isso tendo no espírito as palavras, “em o nome de Jesus”.

20/08/22

Instantânea ou gradativa? (20/92)

       “Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.” João 16.25-28
 
      “Aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13), essa afirmação é repetida várias vezes no novo testamento, entendemos por ela que salvação ou espiritualidade não é algo que se obtém instantaneamente, mas através de persistente trabalho. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” (Atos 16.31a), nesse texto, contudo, podemos entender diferentemente, que quem crê é instantaneamente salvo, assim possui salvação ou espiritualidade baseada numa decisão inicial de fé, não por contínuas obras no tempo. Seriam salvação e espiritualidade a mesma coisa para o cristianismo tradicional? Isso pode ser concluído quando se entende que só o salvo terá direito eterno ao céu, efeito final daquilo que o cristianismo considera espiritualidade. 
      A Bíblia possui ensinos contraditórios, apesar de muitos teólogos não admitirem, e nisso nada há de excepcional, como poderiam homens de tempos, lugares e níveis intelectuais diferentes, interpretarem espiritualidade da mesma forma? Prefiro entender que Deus permite ensinos em alguma instância distintos, para que não se use a Bíblia como leis, que devem ser obedecidas ao pé da letra, mas para que o homem atual, e do futuro, possa aprender com experiências dos antigos sob interpretação viva do Espírito Santo, conhecendo a verdade com questionamentos racionais e perseverante vida de oração. Fé é trabalho constante, o tempo todo nossa fé é confrontada, largamos mão dela e voltamos a senti-la com fervor mais vezes que assumimos.

      O texto bíblico inicial ensina-nos alguns princípios importantes sobre a espiritualidade verdadeira, não necessariamente a das religiões, mas a de Deus. Um deles é que Deus revela-nos espiritualidade de forma gradativa, assim Jesus disse verdades eternas, mas muitas delas, por causa dos níveis moral, intelectual e espiritual do homem do primeiro século, assim como de muitos homens dos séculos futuros a esse e mesmo do século atual, através de parábolas. Comparemos essas parábolas às estórias que contamos a crianças, existe uma interpretação ao pé da letra dessas estórias, benéfica para a criança e que ela entende sem muitos esforços, mas existe uma interpretação mais profunda que ela só entenderá quando crescer e amadurecer.
      Por trás de chapeuzinho vermelho, da floresta, do lobo, do caçador e da vovozinha, existe muito mais que um conto de fadas infantil (pesquise na internet e achará muitas interpretações desses simbolismos), assim há muito mais por trás das parábolas de Jesus. Mas Cristo disse que na hora certa não usaria mais de parábolas, porque não precisaria usar mais, para que ele não precisasse usar mais esse recurso duas coisas tinham que acontecer, o ser humano estar preparado e uma ferramenta mais adequada para isso estar disponível. Essa ferramenta não poderia ser Jesus, seu ministério como homem foi curto, a ferramenta é o Espírito Santo, que permite mesmo no mundo, que Deus fale ao ser humano de maneira mais profunda.
      Por não aceitar que espiritualidade é experiência gradativa (já refletimos em Uma espiritualidade gradativa), é que religiões são criadas e que homens são amarrados a conhecimentos iniciais, ainda que tenham direito à espiritualidade mais alta. Por isso textos bíblicos são idolatrados, quem não tem a viva palavra do Espírito precisa de leis em papel para ter um guia, mas é também por isso que dogmas e tradições são construídos, prendendo os homens a uma liberdade restrita que não deixa o Espírito Santo agir e que não coloca em risco o poder de manipulação dos líderes. Não é só na religião que essa estratégia é usada, pela política também se mantém pessoas com pouca escolaridade na sociedade para que não saibam votar certo.
      Mas no texto bíblico inicial é na seguinte parte que algo importante sobre espiritualidade é revelado, “não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai, pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes”. Pode-se interpretar esse texto simplesmente entendendo que se referia só aos discípulos que andaram com Cristo no mundo, que Jesus só estava dizendo que não poderia mais interceder por eles, como fazia, porque morreria, mas que continuaria fazendo isso no plano espiritual. Contudo, podemos entender algo mais profundo, e de uma forma mais ampla, que homens de todos os tempos chegarão a níveis espirituais onde terão acessos mais diretos a Deus, quando poderão nem necessitar de certas ajudas de Deus. 
      Jesus diz que não pedirá a Deus pelos homens, mas Deus os responderá pelo amor que eles deram a ele como filho de Deus. Jesus será sempre um meio único para nos achegarmos a Deus, “naquele dia pedireis em meu nome”, mas não da maneira que muitos acham que é. Levanto uma questão: Jesus é o meio, por nos mostrar como fazer, ou por ter feito por nós? Na verdade é as duas coisas, ele fez o que não poderíamos fazer colocando-se numa posição espiritual que nos dá acesso a Deus de forma exclusiva, mas isso é só o primeiro passo da espiritualidade. Os outros passos, usando a força que o primeiro passo dá, que nos permite ter a paz dos perdoados (Romanos 5.1), são para trabalharmos neste mundo e crescermos. 
      Paz é fundamental, já que muitas vezes o que nos impede de prosseguir para construir um futuro melhor, é a culpa pelo que fizemos no passado. Jesus nos dá perdão de Deus no presente, retira a condenação da lei que mostra onde erramos, mas não nos capacita para acertar. Contudo, trabalhar para sermos alguém melhor no mundo é algo que depende só de nós, nisso não estamos sozinhos. Está conosco hoje no mundo o Espírito Santo, é esse em nós que nos dá a possibilidade de nos movermos espiritualmente e diretamente para a porta, que é Jesus, para termos acesso a Deus. Fé não transforma, nos posiciona nas virtudes espirituais mais altas de Deus para que nos transformemos neste mundo através de boas obras.
      Por qual razão sinto de Deus que é tão importante entendermos isso? Porque uma doutrina, no mínimo infantil e no máximo mal intencionada, tem mimado os cristãos, acomodando-os e limitando-os, o resultado é uma grande maioria de cristãos imatura espiritualmente, escravizada a superstições e presa fácil de heresias e de homens maus. Aceitar algumas coisas só pela fé pode alimentar e legitimar preconceitos, como por exemplo achar que quem crê vai para o céu, e que quem não crê vai para o inferno, extremos opostos e eternos, desconsiderando prática de vida, e só levando em consideração aceitação de um credo religioso pela fé. Será que isso basta para salvar e condenar para sempre, para definir espiritualidade? 
      Um filho que recebe uma enorme herança não se esforçará para trabalhar, para quê? Já tem tudo o que precisa de graça? É isso que falsas doutrinas evangélicas têm feito por séculos a muitos homens, e não venham com o argumento que enaltece a graça e a misericórdia de Deus. Nenhum pai se alegra com filhos que crescem no corpo, mas não na responsabilidade, que não adquirem independência para saírem do lar paterno para terem seus próprios lares, por que Deus desejaria isso para seus filhos? Mas a Igreja Católica e as denominações protestantes e evangélicas querem filhos infantis para que possam controlar e usar. Tenhamos, pois, coragem para romper com cordões umbilicais, então adquirirmos espiritualidade. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 3/09/2021

19/08/22

O que é espiritualidade? (19/92)

      “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
      “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.
  I Coríntios 2.9-11, 14-16

      Para a doutrina cristã protestante espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo nos homens, permitida pela conversão a Cristo salvador, para se tornar meio para acessar Deus pela porta que é Jesus espiritual no céu. Jesus é começo e fim, o Espírito Santo é o único meio, Deus é tudo em todos e suas virtudes mais altas são o objetivo da espiritualidade cristã. O texto inicial diz que quem sabe de Deus é seu Espírito, assim não é a religião ou costumes religiosos que fazem de um ser humano possuidor de espiritualidade, mas a liberdade que o Santo Espírito tem nele para conectá-lo a Deus. 
      O texto diz mais, sem o Espírito de Deus o homem é um ser “natural”, toda a humanidade está originalmente nessa condição, nela o ser é incompatível para entender a espiritualidade mais elevada de Deus, ainda que tenha conexão com “outros” espíritos, porque só o Santo Espírito nos dá a “mente de Cristo”. Não basta o corpo, os sentimentos e mesmo os pensamentos experimentarem conhecimentos espirituais, o homem precisa provar uma metamorfose que transforma sua mente natural em “mente de Cristo”, só assim poderá conhecer a verdadeira espiritualidade e praticá-la. 

     Espiritualidade, termo usado por pessoas e religiões diferentes para referirem-se a coisas semelhantes, mas não exatamente iguais. De maneira geral o termo refere-se a valores espirituais, uma parte do ser humano que opõe-se à matéria, que não pode ser percebida puramente pelos sentidos físicos, que não pode ser provada cientificamente, que é eterna, que dialoga com o divino. Refere-se também a capacidades e talentos que seres humanos têm para se comunicarem com o plano espiritual, e nisso pode não existir qualidade moral, já que no mundo espiritual podem existir deuses, divindades, entidades, potestades, anjos, arcanjos, demônios, e como creem muitos, espíritos de pessoas mortas, dentre outros seres espirituais. 
      O cristianismo tradicional usa o termo espiritualidade para definir a boa espiritualidade, já que para ele só com essa é autorizado ao homem ter comunhão especificamente com Deus pai, Deus Espírito e Deus filho, Jesus Cristo. Para a doutrina protestante os seres humanos não devem tomar iniciativa de fazer conexão mesmo com anjos, os bons seres espirituais. Para a doutrina cristã protestante em espiritualidade implica contato com bons seres espirituais, assim o termo está ligado a boa moral, virtudes morais, santidade, justiça, amor etc, já vícios e pecados estariam ligados à ausência de virtudes e moralidade, assim para o meio cristão se não há Deus, não há espiritualidade, quem não tem moral não é espiritual.
      A religião espírita, o kardecismo ou espiritismo, é mais humanista, entendendo espiritualidade como elevação moral do indivíduo, dependendo dele construir sua graduação espiritual, assim ser espiritual é adquirir virtudes e virtudes expressas em obras. Para o espiritismo ser espiritual está mais ligado ao que o homem faz do que ao que ele crê, não se é espiritual porque se é cristão e se adora a Deus, mas porque se tem uma vida prática de caridade, justiça e santidade, e principalmente de caridade, servindo o próximo em amor. Se para o cristão tradicional ser espiritual é relacionar-se com Deus pela fé, para o espírita relacionar-se com o próximo em amor é o que de fato evidencia espiritualidade, e isso não é mais fácil, é mais difícil. 
      Não vou refletir sobre outras críticas que o cristianismo tradicional faz ao kardecismo, não é o ponto deste texto. Contudo, é justamente aquilo que o protestantismo considera falta de espiritualidade, ou seja, comunicação com mortos e reencarnação, vendo um como contato com anjos caídos e o outro como negação da salvação gratuita pela fé em Cristo, que o espiritismo considera pontos de espiritualidade, ou seja, mediunidade que ensina e evolução por mérito próprio. Será que os evangélicos não deveriam considerar o fato de que muitos que eles acham ter ligações com Satanás, possuirem em suas vidas práticas virtudes morais e obras reais de amor, para então reavaliar seus conceitos de espiritualidade?

      Esse entendimento do que é espiritualidade foi introdução para o ponto desta reflexão, que é uma pergunta: qual é a essência de Deus? Muitas linhas religiosas ou metafísicas, entendem Deus como uma luz, ou como uma frequência muita alta, como uma onda, ou mais, como uma energia. Nem vou afirmar que Deus não possa ser percebido pelos nossos sentidos físicos, impressionados por nossos espíritos, dessa maneira. Como não podemos ver e ouvir Deus diretamente por nossos sentidos físicos, que recebem um eco daquilo que nossos espíritos percebem e tentam fazer uma interpretação grosseira disso, quando oramos ao invisível podemos sentir o Espírito Santo como uma luz, como um som, mesmo como uma energia. 
      Apesar de crer que a humanidade chegará num tempo onde muita coisa que se considera parte do mundo espiritual poderá ser comprovado pela ciência, um momento onde religião e ciência não serão mais oponentes, mas amigas, pessoalmente não considero adequado considerar as coisas espirituais como elementos e eventos inteligentes mas desprovidos de virtudes morais. Ainda que possamos perceber Deus como uma luz claríssima, é uma luz provida de amor, santidade e principalmente de extrema empatia com o ser humano, por isso Jesus homem é e sempre será a expressão mais completa de Deus que a humanidade conheceu. Se Deus se mostrou como Jesus, ter espiritualidade é ser como Jesus, não como uma energia. 
      Ainda que sinceros e bem intencionados, os que tentam ver Deus, seres espirituais e comunicações com esses, só como um estudo científico, se possível para obterem comprovações materiais, mapeando as partes invisíveis do ser, alma, espírito, perispírito, fluídos espirituais etc, podem até conhecer a Deus, mas só seu “corpo”, não seu “espírito”. Um médico pode definir o ser humano como ossos, nervos, veias, órgãos, membros, carne e pele, mas todo esse conhecimento não curará depressão e insanidade, contudo, alegria, esperança, paz, podem harmonizar não só o corpo físico, mas também o espirito. Deus está em todo o universo, visível e invisível, conhecer isso é bom, mas só tem vida eterna quem conhece sua essência.
      Deus nos atrai com amor, para que sejamos santos respeitando nossas idiossincrasias, isso é um contato pessoal e afetivo buscando nosso aperfeiçoamento moral. Não é como o de um transmissor de ondas para um receptor, como de uma emanação de luz para uma área escura, de um raio do céu para um campo vazio, mas como o apelo carinhoso de um pai para um filho, respeitando todas as imperfeições desse filho. Não precisamos entender intelectualmente como isso acontece, por isso a fé é tão enfatizada no evangelho, basta-nos crer, e isso qualquer ser humano, indiferente de sua cultura, educação ou posses, pode fazer. A espiritualidade mais elevada se manifesta com simplicidade, traz paz e nos faz seres humanos melhores.

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão.
José Osório de Souza, 3/09/2021

18/08/22

O invisível no escuro (18/92)

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivoSalmos 42.1-2b

      Ter uma experiência eficiente de diálogo com Deus permite respiração espiritual de forma profunda, que renova o corpo e nivela o espírito com o melhor de Deus. Esse tema tem que ser falado aqui sempre, já que muitos perdem a luta contra as diárias tentações do pecado, assim como nunca superam as provações existenciais mais importantes, simplesmente porque não são alimentados adequadamente em bons períodos de orações com Deus. 
      Procure um lugar escuro e silencioso, pare, se acalme, se limpe e preste atenção, olhe o invisível, Deus pode ser visto mais claramente nele. O mundo espiritual se vê com olhos espirituais, anulando-se o máximo possível distrações e interferências materiais e morais. Fechando os olhos podemos fazer isso, mas de olhos abertos é ainda melhor. Os antigos faziam isso à noite e sobre os montes, buscar o Senhor assim é uma experiência libertadora. 
      Muitos cristãos amam a Deus, o adoram, oram a ele, mas são crianças em experiências espirituais, porque não se dão ao trabalho que outros homens se dão. Isso não impede a humanidade de ter comunhão e ser abençoada por Deus através do cristianismo, mas entrega uma experiência espiritual menor, que se fosse expandida traria aos seres humanos paz e elevação moral superior. A aventura de ver o invisível no escuro é poderosa. 
      Enquanto espera Deus falar, adore o Senhor, mas discretamente, sem estressar seu corpo, descansando-o, deixando que suas emoções e pensamentos adquiram leveza e se deitem. Isso elevará teu espírito, permitirá que ele voe nas asas do Santo Espírito até às regiões espirituais mais altas em Cristo, então chegue à mente de Deus. Se fizer certo, em santidade e humildade, no momento aprovado por Deus, verá o invisível no escuro e será iluminado. 
      Antropomorfizando Deus, algo não totalmente adequado, mas metaforicamente didático, entendemos que o “coração” de Deus ama todos sempre, suas “mãos” acolhem os humildes que o buscam, seus “pés” pisam as regiões, terrestres e celestes, e tomam posse daquilo que é para ser nosso, mas sua “mente”, como num corpo humano, é o lugar mais alto. Na “mente” de Deus temos acesso aos  pensamentos do Altíssimo, conhecimentos exclusivos. 
      Não pense que esses conhecimentos são revelações de mistérios do universo, até são, mas esses pensamentos não são fáceis, nem para todos. Para mim e para você, em nosso dia a dia, podem ser palavras simples, uma frase curta, que num momento de angústia, onde achamos que a solução de um problema é impossível, dizem somente, “descansa e espera”. Parece pouco? Mas se forem palavras que vêm da “mente” do Senhor bastarão.
      Receberemos esse conhecimento embebido de uma unção tão forte que nos dará paz imediata, porque contém a vontade direta de Deus para aquele momento de nossa vida. Ah, se pudéssemos ver todos os “anjos”, seres espirituais de luz, que se aproximam de nós para nos consolar, limpando nossas mentes, libertando nossas emoções. Nesse momento os “braços” do Senhor nos abraçam, com um afeto que ninguém pode nos dar. 

      “Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém.” I Timóteo 1.17

17/08/22

As coisas do alto (17/92)

      “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
      “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria;” “despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca.” 
      “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
      E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.”  
Colossenses 3.1-3, 5, 8, 12-16

      Coisas que são de cima, o que entendemos com isso? A primeira coisa que nos vem à mente é santidade, pensar nas coisas do alto, nas coisas de Deus, não nas de baixo, do mundo, portanto, coisas espirituais, santas. O que entendemos como coisas santas? O senso comum alia santidade à abstinência ou controle dos prazeres e dos impulsos do corpo físico, como não fumar, não consumir bebidas alcoólicas, não usar drogas ilícitas, não adulterar, não se prostituir, não matar, não roubar, dentre outros pecados. 
      Apesar de quase dois mil anos do evangelho de Cristo no mundo, ainda temos uma visão da velha aliança de Moisés, da Lei judaica, dos dez mandamentos, sobre santidade, assim, uma ótica dos efeitos externos e não das causas interiores. Dessa forma pensar nas coisas de cima seria não pensar nos prazeres do corpo e pensar em Deus, principalmente louvando-o. Mesmo muitos que exercem os dons do Espírito, preferem adoração que palavras de sabedoria, acham que ser santo é adorar a Deus, não conhecê-lo.
      Vida de consagração e oração é vista pela maioria basicamente como louvar a Deus, por isso música como louvor tem feito tanto sucesso nas últimas décadas em cultos evangélicos, mais até que o estudo da Bíblia. Esse entendimento é transportado para a eternidade, para muitos o céu será um espaço para adoração, assim, a vocação mais alta de Deus aos homens é para serem eternos coristas num coral celestial. Mas será que as coisas que são de cima, que santidade, que a eternidade, são de fato isso, ou só isso? 
      De maneira alguma estamos menosprezando a importância do louvor, principalmente porque junto do amor, gratidão é a maior virtude que podemos expressar, amor e gratidão terão poderosa utilidade mesmo na eternidade. “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças” (Colossenses 4.2), louvor a Deus é importante como preparação e vigilância, assim, antes de receber a palavra de Deus, louve-o, e depois de receber, continue louvando. Adoração nos mantém em conexão com o Deus Altíssimo pelo Espírito Santo.
      Contudo, uma visão errada limita, e é errada porque usa referências das coisas de baixo, do mundo, ainda que confessando o nome do pai, do filho e do Espírito. Por isso muitos veem eternidade como os períodos de excelência dedicados a Deus na Terra, missas e cultos, só que mais duradouros. Para católicos a eternidade pode ser uma missa eterna, para protestantes tradicionais, um longo estudo teológico, para evangélicos, um período de louvor sem fim, para carismáticos, êxtases ilimitados em línguas estranhas.
      A verdade é que o homem não tem capacidade para acessar as “coisas do alto”, e muitos que tentam o fazem usando referências de religiões, que se desviaram do evangelho original calando o Espírito Santo ou experimentado-o limitadamente. Acessar as coisas de cima só o Espírito Santo pode, assim nós podemos se entramos em sintonia com o Espírito. Se sozinhos não podemos nos mover para Deus, pegamos “carona” no Espírito, que nos leva a Jesus e que nos dá acesso ao Altíssimo, nenhum outro “espírito” pode fazer isso.
      Só depois que entendemos o “como” é que podemos entender o “o quê”. O que o Espírito Santo nos permite buscar e pensar das coisas lá de cima? Não são “nãos”, mas “sins”, ser santo não é saber o que não se pode fazer, mas entender o que se pode fazer e estar tão satisfeito com isso que o que não se pode fazer perde a graça. Posso beber uma dose de scotch doze anos envelhecido? Posso, não é pecado. Mas quando nos posicionamos pelo Espírito Santo nas coisas que são de cima achamos prazer nisso? Não. 
      Uísque foi só um exemplo, poderia citar outros prazeres deste mundo, ocorre que entendendo coisas do alto como “nãos”, muitos lutam contra os prazeres e perdem. Não se pode vencer algo que é agradável aos nossos sentidos físicos, o que se pode é provar algo melhor, o melhor está lá em cima, com Deus por Jesus e através do Espírito Santo. A única coisa que vence a morte é a vida, a matéria existe para morrer, só no Espírito Santo há vida, que nos liberta das coisas de baixo e nos posiciona nas coisas de cima. 
      As coisas que são de cima na verdade são uma única coisa: a palavra de Deus. Essa não importa como chega a nós, pela Bíblia, por um testemunho, por uma música, por línguas estranhas, por profecia, por uma visão, por um sussurro inexprimível, por um sentimento inefável, mas que depois nossa mente esmiuça o significado, no nível intelectual que cada um de nós tem. Esse conhecimento, que começa puramente espiritual e acaba racional, nos vivifica, consola, cura, apazigua nossa alma de maneira singular. 
      Nós, protestantes, costumamos ter uma noção, que não digo que é errada, mas que é limitada do que seja a palavra de Deus, pensamos que é só a Bíblia. O termo é citado no antigo testamento, mas aos homens daquele tempo significava a Lei de Moisés, por outro lado o termo é citado no novo testamento, mas escrito num tempo que não se tinha em mãos a Bíblia que conhecemos hoje. Palavra de Deus é a pessoa do Espírito Santo, que inspirou escritores bíblicos, mas que nos fala ao vivo hoje quando paramos e ouvimos.
      Sim, meu querido, você pode buscar e pensar nas coisas que são de cima da tua maneira, do jeito que você sabe e se sente melhor, mas entenda que pedidos e agradecimentos não são o fim, andar por uma pista de mão única, mas o começo, só parte do processo. Há uma outra via, com mão contrária, e se tua busca e tua intenção forem humildes, sinceras e crédulas, Deus te responderá pelo Espírito Santo. Então, você achará a vida eterna espiritual maior, que te dará as condições melhores para vencer as coisas de baixo.
      A primeira parte do processo é humana, exige esforço emocional e limpeza moral, que depois conduz ao silêncio de alma que espera com olhos e ouvidos espirituais abertos. A segunda parte é divina, nessa recebemos a “palavra viva de Deus”. Essa “palavra” não é só palavras e frases racionais, é vida eterna, que desce até o homem como um poderoso facho de luz muito clara e pura, emanada diretamente do Altíssimo. Essa é a coisa do alto que entrega ao homem santidade verdadeira, de dentro para fora, de cima para baixo.

16/08/22

Santidade sempre! (16/92)

      “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” Mateus 5.8

      Santidade, a virtude que a maior parte dos homens entende como o efeito principal de quem quer ser espiritual, mais até que o amor. Santidade, por mais preciosa que seja, é vista como uma virtude que cresce no insulamento, muitos acham que ela melhora se viverem mais longe dos homens, e isso porque ela está muito relacionada ao controle do desejo sexual na cabeça de muitos. Já o amor requer o contrário, que se conviva socialmente servindo ao próximo. A principal característica do amor é paciência, já que com pressa não se ama, se julga olhando o outro com olhos sujos, não santos.
      Mas se amor é fazer, mais que sentir ou falar, santidade é simplesmente ser, e sem santidade não se pratica o amor verdadeiro. Por ela, entretanto, muitos cometem equívocos, limitando-a a ausência de prazeres físicos e aliando-a a isolamento social. Não se conhece a Deus porque se tem limpeza moral, não no sentido que essa limpeza seja um fim em si mesma, muitos cuidam do corpo e da mente e não são santos. Contudo, quando se ama a Deus ele nos atrai para amá-lo mais, nisso a santidade acha lugar em nós de maneira natural, queremos ser santos para agradar a Deus. 
      Assim, santidade é efeito de quem conhece o Senhor e então se torna causa para que ele seja conhecido ainda mais. Muitos, contudo, interpretam santidade de forma errada, por medo do inferno e da culpa tentam dominar seus corpos físicos pelas próprias forças, carne tentando controlar carne para que haja espiritualidade. Santidade é experiência espiritual, não física, e quando vivida traz paz e liberdade, não dor e aprisionamento, santidade alegra o coração, na verdade é a maior felicidade que o ser pode experimentar porque coloca o ser na íntima presença de seu santíssimo criador. 
      O homem pode criar religiões, pode buscar coisas e lugares diferentes para focar sua fé, pode achar o divino de maneiras distintas, mas uma relação genuína com o verdadeiro Deus sempre implica em santidade, em abrir mão dos prazeres do corpo e do ego, em pureza moral e em se posicionar direto e reto no Deus altíssimo. Muitos se perdem, incluindo pregadores e cantores famosos de grandes ministérios, porque acham que não há mais necessidade de santidade, que lhes basta o carisma humano, o talento e a experiência na palavra e no canto, a facilidade para seduzir os homens. 
      No caminho para conhecer o Senhor podemos abrir mão de muitas coisas, incluindo posições e serviços dentro de igrejas que muitas vezes podem se tornar só vaidades e jugos pesados de homens. Todavia, aquele que ama a Deus, que teme o Senhor, que deseja com humildade fazer sua vontade, nunca abrirá mão da santidade, ele entendeu que um Deus santo se agrada de filhos santos, e a esses nada nega. Mas não se é santo para se ter créditos para se ganhar coisas de Deus, ou por se ter medo que ele castigue caso não seja santo, se é santo por amor a Deus, um amor desinteressado. 
      Você quer uma prova se tua vida está de acordo com a vontade de Deus, se tuas ações e escolhas têm agradado ao Senhor? Verifique se está andando numa santidade que permanece, que representa a maior parte do tempo de seus dias. Quem desobedece a Deus, por mais que seja esforçado em muitas áreas, no trabalho, mesmo na participação ativa de ministérios nas igrejas, não conseguirá ser santo, não na sua vida mais íntima, aquela que só a pessoa e Deus conhecem. Muitos passam vidas como cristãos, assíduos em cultos, estudando Bíblia, sem nunca conseguirem vitória sobre pecado. 
      Deus não santifica ocioso, e com ocioso não me refiro a vagabundo que não trabalha secularmente, me refiro a não fazer a real vontade de Deus. Muitos trabalham e trabalham e permanecem ociosos, porque desobedecem a Deus, fazem tudo, menos o que de fato Deus quer deles, esses nunca provarão santidade. Deus limpa instrumento útil para que seja mais útil, “toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira, e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto” (João 15.2), assim, se estiver sobrecarregado e não conseguir ser santo não jogue a culpa no trabalho, mas em tua teimosia. 
      Superar ansiedade, gula, sensualidades, traições, invejas e vícios, é santidade. Ter paciência com as pessoas, suportar suas fraquezas, não querer fazer justiça com as próprias mãos, é santidade. Não segurar pensamentos sujos e violentos, de autocomiseração e de orgulho, é santidade. Acalmar os sentimentos e os pensamentos, buscar todos os dias uma experiência viva de oração, quando se ouve uma palavra do Senhor e então pode-se repousar em paz, é santidade. Não se acomodar com o pecado, persistir nisso até o final, ser puro mesmo se ninguém vê, é santidade que pode ver a Deus.

15/08/22

Vício sexual: tabu? (15/92)

      “Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Coríntios 6.16-20

      Culpa e ansiedade são as causas mais comuns de dores não resolvidas, mesmo quando desnecessárias, mas traumas também são difíceis de serem enfrentados, e os mais comuns são os domésticos, advindos de criação violenta ou ausente. Tudo isso se resume numa palavra: cobrança. Nos sentirmos cobrados o tempo todo dói, como nos faz cobrar outros injustamente, assim também pode nos isolar. Sofrendo e sozinhos somos facilmente viciáveis, ainda que no vício mais barato e eficiente de todos, sexo a um, ou masturbação.
       A vida moderna com internet e celulares baratos e acessíveis, disponibiliza sexo para quem quiser, em qualquer lugar ou hora, assim uma legião de viciados em sexo solitário é mantida no mundo. Isso é um problema, precisa ser encarado como tal e cura deve ser buscada. Muitos cristãos, bons cristãos, têm esse vício, que se tornou tão comum que muitos nem chamam de vício, alegam que são só coisas das pessoas, particulares, que elas fazem em suas vidas privadas, ninguém fica sabendo e não prejudica ninguém. 
      Mentira, prejudica sim, é só efeito de causa não resolvida, menosprezada e por isso tão útil nas mãos do mal espiritual. Muitos vivem pesados e amarrados por causa desse vício, faz sofrer e assim é porta para outros vícios, num loop maldito. Sexo de maneira geral pode ser vício, e como tal precisará de cada vez mais “artifícios” para ser prazeroso, por isso fetiches e tantos desvios. Isso nada tem a ver com sexualidade emocional, seja ela qual for, tem a ver com prazer físico, por isso sem afeto, sem respeito, só pelo clímax. 
      Um aspecto precisa ser considerado sobre esse assunto, aliás, um tema demonizado por pastores que não o enfrentam com maturidade e realismo. Como se comportam pessoas sem vida sexual com outras pessoas, tendo organismos sadios e libidos normais? A posição “oficial” de muitas igrejas evangélicas é que não se comportam, solteiros não devem praticar sexo. Nem vou refletir sobre o aspecto moral de sexo e casamento, não é tema desta reflexão, mas algo precisa ser dito sobre o funcionamento de nossos corpos.
      Pessoas com boa saúde física e emocional, num ideal de vida onde buscassem espiritualidade, controlariam desejos sexuais que não podem ser saciados na fonte, em suas mentes, não precisariam consumir pornografia na internet ou outras coisas para as excitar. Aconteceria com elas o que é comum com adolescentes, polução noturna, ou mesmo o êxtase de maneira rápida e natural durante o banho, por exemplo. Por que pessoas adultas dificilmente provam isso? Porque seus corpos não têm tempo para isso. 
      Muitas pessoas estão tão viciadas em masturbação, e como vício é algo bruto que mais machuca que relaxa, que só saciam suas tensões sexuais provocadas não pelo funcionamento normal de seus corpos mas por excitação forçada, com imaginações imorais. Isso é vício mental. O desejo não pode simplesmente sumir, se a pessoa tem boa saúde ele existirá, mas pode ser resolvido com mais naturalidade, sem que se torne vício que fira o corpo, suje a alma e esfrie o espírito. A cura está em manter a mente limpa.  
      Sexo não é pecado, o melhor dele é provado de forma ao mesmo tempo leve e intensa, é assim quando compartilhamos intimidade física e afetiva com alguém que amamos, e como nos sentimos limpos depois. Mas creiam, solteiros focados em espiritualidade verdadeira também podem conviver com sexualidade sem peso e sem violência, insisto num ponto que não vejo pastores evangélicos falando a respeito. A maioria considera sexo problema sem solução para solteiros e simplesmente finge que o assunto não existe. 
      Sexo solitário como vício leva as pessoas a terem vidas duplas, uma vida temendo encontrar a outra, ambas existindo dentro da mesma alma. Isso nos enfraquece, já que mantemos em nós um conflito desnecessário, mas também enfraquece casamentos, ainda que muitos viciados nunca tenham coragem de viver adultérios reais, só virtuais. Há psicoterapeutas que dizem que isso é sadio, que as pessoas devem ser incentivadas a essa prática, mas vício nunca é bom, porque é efeito de algo pior escondido e não resolvido.
      Nos dias de hoje muitos dizem, “se te dá prazer e não prejudica ninguém, faça”, mas isso considera o ser humano só como matéria e emoção, desconsidera espírito e a finalidade maior desse, ter comunhão com um Deus espiritual e moralmente santo. Quando sabemos a importância da mente em nossa comunhão com Deus, da relevância da limpeza moral, e do quanto o mal espiritual é atraído por mentes sujas, entendemos que não é só questão de satisfação física, tem a ver com nossa essência eterna e com um Deus de amor. 
      Pode-se usar o texto bíblico inicial para alegar que masturbação não é pecado visto que não realiza conjunção carnal com profissionais de prostituição, ainda que meretrizes, homens ou mulheres, não sejam só quem troca favores sexuais por dinheiro. Mas pelo evangelho entendemos que forçar um orgasmo sozinho requer imaginação, isso suja nossas mentes, nossa essência interior, portanto nosso espírito. É justamente sobre isso que o texto fala, de sujar o templo do Espírito Santo com presenças inadequadas. 
      Case-se bem, eis uma boa solução para sexualidade, mas não se apresse. Muitos, querendo se casar a qualquer custo, só para terem sexo legítimo como cristãos, se casam e como o problema principal não era sexo, não se resolvem, continuam sofrendo e susceptíveis a vícios. Após um tempo casados voltam ao vício do sexo solitário. Tenha Deus como amigo, um amigo nos entende, sabe de nossos segredos e nos ajuda sempre, contudo, aceite, vida espiritual precisa ser prioridade e ela não é fácil neste mundo, para ninguém.

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José Osório de Souza, 12/10/2021