segunda-feira, agosto 15, 2022

Vício sexual: tabu? (15/92)

      “Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” I Coríntios 6.16-20

      Culpa e ansiedade são as causas mais comuns de dores não resolvidas, mesmo quando desnecessárias, mas traumas também são difíceis de serem enfrentados, e os mais comuns são os domésticos, advindos de criação violenta ou ausente. Tudo isso se resume numa palavra: cobrança. Nos sentirmos cobrados o tempo todo dói, como nos faz cobrar outros injustamente, assim também pode nos isolar. Sofrendo e sozinhos somos facilmente viciáveis, ainda que no vício mais barato e eficiente de todos, sexo a um, ou masturbação.
       A vida moderna com internet e celulares baratos e acessíveis, disponibiliza sexo para quem quiser, em qualquer lugar ou hora, assim uma legião de viciados em sexo solitário é mantida no mundo. Isso é um problema, precisa ser encarado como tal e cura deve ser buscada. Muitos cristãos, bons cristãos, têm esse vício, que se tornou tão comum que muitos nem chamam de vício, alegam que são só coisas das pessoas, particulares, que elas fazem em suas vidas privadas, ninguém fica sabendo e não prejudica ninguém. 
      Mentira, prejudica sim, é só efeito de causa não resolvida, menosprezada e por isso tão útil nas mãos do mal espiritual. Muitos vivem pesados e amarrados por causa desse vício, faz sofrer e assim é porta para outros vícios, num loop maldito. Sexo de maneira geral pode ser vício, e como tal precisará de cada vez mais “artifícios” para ser prazeroso, por isso fetiches e tantos desvios. Isso nada tem a ver com sexualidade emocional, seja ela qual for, tem a ver com prazer físico, por isso sem afeto, sem respeito, só pelo clímax. 
      Um aspecto precisa ser considerado sobre esse assunto, aliás, um tema demonizado por pastores que não o enfrentam com maturidade e realismo. Como se comportam pessoas sem vida sexual com outras pessoas, tendo organismos sadios e libidos normais? A posição “oficial” de muitas igrejas evangélicas é que não se comportam, solteiros não devem praticar sexo. Nem vou refletir sobre o aspecto moral de sexo e casamento, não é tema desta reflexão, mas algo precisa ser dito sobre o funcionamento de nossos corpos.
      Pessoas com boa saúde física e emocional, num ideal de vida onde buscassem espiritualidade, controlariam desejos sexuais que não podem ser saciados na fonte, em suas mentes, não precisariam consumir pornografia na internet ou outras coisas para as excitar. Aconteceria com elas o que é comum com adolescentes, polução noturna, ou mesmo o êxtase de maneira rápida e natural durante o banho, por exemplo. Por que pessoas adultas dificilmente provam isso? Porque seus corpos não têm tempo para isso. 
      Muitas pessoas estão tão viciadas em masturbação, e como vício é algo bruto que mais machuca que relaxa, que só saciam suas tensões sexuais provocadas não pelo funcionamento normal de seus corpos mas por excitação forçada, com imaginações imorais. Isso é vício mental. O desejo não pode simplesmente sumir, se a pessoa tem boa saúde ele existirá, mas pode ser resolvido com mais naturalidade, sem que se torne vício que fira o corpo, suje a alma e esfrie o espírito. A cura está em manter a mente limpa.  
      Sexo não é pecado, o melhor dele é provado de forma ao mesmo tempo leve e intensa, é assim quando compartilhamos intimidade física e afetiva com alguém que amamos, e como nos sentimos limpos depois. Mas creiam, solteiros focados em espiritualidade verdadeira também podem conviver com sexualidade sem peso e sem violência, insisto num ponto que não vejo pastores evangélicos falando a respeito. A maioria considera sexo problema sem solução para solteiros e simplesmente finge que o assunto não existe. 
      Sexo solitário como vício leva as pessoas a terem vidas duplas, uma vida temendo encontrar a outra, ambas existindo dentro da mesma alma. Isso nos enfraquece, já que mantemos em nós um conflito desnecessário, mas também enfraquece casamentos, ainda que muitos viciados nunca tenham coragem de viver adultérios reais, só virtuais. Há psicoterapeutas que dizem que isso é sadio, que as pessoas devem ser incentivadas a essa prática, mas vício nunca é bom, porque é efeito de algo pior escondido e não resolvido.
      Nos dias de hoje muitos dizem, “se te dá prazer e não prejudica ninguém, faça”, mas isso considera o ser humano só como matéria e emoção, desconsidera espírito e a finalidade maior desse, ter comunhão com um Deus espiritual e moralmente santo. Quando sabemos a importância da mente em nossa comunhão com Deus, da relevância da limpeza moral, e do quanto o mal espiritual é atraído por mentes sujas, entendemos que não é só questão de satisfação física, tem a ver com nossa essência eterna e com um Deus de amor. 
      Pode-se usar o texto bíblico inicial para alegar que masturbação não é pecado visto que não realiza conjunção carnal com profissionais de prostituição, ainda que meretrizes, homens ou mulheres, não sejam só quem troca favores sexuais por dinheiro. Mas pelo evangelho entendemos que forçar um orgasmo sozinho requer imaginação, isso suja nossas mentes, nossa essência interior, portanto nosso espírito. É justamente sobre isso que o texto fala, de sujar o templo do Espírito Santo com presenças inadequadas. 
      Case-se bem, eis uma boa solução para sexualidade, mas não se apresse. Muitos, querendo se casar a qualquer custo, só para terem sexo legítimo como cristãos, se casam e como o problema principal não era sexo, não se resolvem, continuam sofrendo e susceptíveis a vícios. Após um tempo casados voltam ao vício do sexo solitário. Tenha Deus como amigo, um amigo nos entende, sabe de nossos segredos e nos ajuda sempre, contudo, aceite, vida espiritual precisa ser prioridade e ela não é fácil neste mundo, para ninguém.

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José Osório de Souza, 12/10/2021

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