12/02/22

Fé (13/90)

      “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus.
 Efésios 2.8
      “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
Hebreus 11.1
 
      Dois princípios são verdades espirituais eternas, condições para que o ser humano, no mundo físico, possa ter comunhão com Deus e com o mundo espiritual: fé e livre arbítrio. Na verdade um princípio, a fé, veio como efeito do uso errado do outro, o livre arbítrio, olhando a humanidade sob o ponto de vista da doutrina bíblica tradicional. Antes do primeiro homem mítico, Adão, ter cometido o pecado original, Deus vivia com o ser humano de maneira “visível”, pelo que entendemos em Gênesis, assim não havia necessidade de fé para ter acesso a Deus (ou não havia, ou crer era algo mais natural, mais fácil). Com o pecado veio a queda e com a queda a necessidade do homem viver no mundo, sem a inocência original, para passar por provas e só no plano espiritual ter de novo comunhão plena com Deus. Se foi fácil usar livre arbítrio para separar-se do criador, agora, é mais difícil usá-lo para restabelecer comunhão com Deus. 
      Para Israel foi entregue a velha aliança, uma religião que dava acesso a Deus através de sacrifícios de animais num templo, e da obediência à Lei, os mandamentos morais e outras instruções sobre vida social, política e mesmo de saúde. Mas basicamente a velha aliança dos hebreus é baseada em obras, quem segue a Deus deve mostrar isso praticando protocolos religiosos, foi só em Cristo que uma nova aliança entregou ao ser humano na Terra o princípio de salvação pela fé. O evangelho ensinou que o homem está naturalmente separado de Deus, assim, é necessário uma escolha pela fé em Cristo para que ele se torne filho de Deus, receba o Espírito Santo, e tenha direito ao suporte do Senhor aqui e ao céu lá. Obras para salvação foram substituídas pela fé em Jesus, já que seu sacrifício valeu por todos. Apesar de textos como o de Tiago ensinarem sobre a importância de obras, na prática do cristão tradicional fé tem prioridade sobre tudo. 
      Mas porque Deus, em sua excelsa providência, decidiu que no mundo o homem precisaria de fé para acessar o plano espiritual, ainda que seus órgãos físicos não possam comprovar essa experiência? No mundo material as coisas funcionam de forma perceptível pelos nossos sentidos, por exemplo, se eu quiser comprar um carro, eu pesquiso, acho o veículo que desejo adquirir, informo-me sobre o custo dele e faço a compra. No plano físico eu sei até onde posso chegar e posso conhecer exatamente o que preciso para chegar, contudo, nesse plano tudo o que eu adquirir um dia acabará, ficará velho, desgastará, e mesmo que dure um bom tempo, poderá virar lixo e ser jogado fora, incluindo nossos corpos. O mundo material é dimensional, tem início, meio e fim, ninguém precisa de fé ou subjetividade para percebê-lo, comprovamo-lo com as faculdades de nossos corpos físicos e podemos explicá-lo pela ciência do homem na Terra. 
      Deus não faz propaganda enganosa das coisas concernentes ao mundo espiritual e à eternidade, não o Deus verdadeiro, ainda que religiões e homens possam fazer tentando formatar o intangível. Por isso ele não revela valores espirituais diretamente aos sentidos físicos, visão, audição, tato, ferramentas do plano material. Por um motivo que só Deus sabe, saímos da condição de mortos espirituais para a de vivos, pela fé, vendo na mente, sentindo com o coração e nos movendo pelo Espírito Santo, para termos acesso a algo que a princípio não existe no plano físico. É só depois de crermos que nossos corpos receberão informações espirituais, ainda que limitadamente, para interpretá-las. O que cremos passa a existir, não no universo, nesse Deus já criou tudo, mas para nós, depois que reivindicamos por fé. Fé não cria, mas manifesta aos nossos sentidos, nos coloca na posição onde as coisas existem, coisas criadas anteriormente por Deus. 
      Se coisas materiais, mesmo recebidas pela melhor vontade de Deus, têm fim, dons espirituais de vida eterna acessados pela fé não têm. Ninguém é humilde o suficiente, tem paz o suficiente, é santo o suficiente, é amoroso o suficiente, é generoso o suficiente, quem chega a um patamar de espiritualidade sempre será desafiado a ir em frente, a conquistar mais, a subir. O topo é o homem interior à imagem de Cristo, uma posição elevadíssima, acima de toda potestade e principado, seja neste mundo ou no outro. Coisas espirituais se acessam com ferramentas espirituais e são percebidas com faculdades espirituais que nos preparam para uma existência espiritual em um Deus espiritual. Se vivemos sessenta e poucos anos no mundo, poderemos viver eternamente no plano espiritual, esse plano é muito mais importante, nele nosso verdadeiro homem interior é manifestado, é avaliado por justos juízos e recebe penas e recompensas. 
      Fé não é um delimitador, disposição de gente ignorante e retrógrada, apesar de parecer assim aos que não andam nela ou só começaram a andar, fé é a maneira de conhecermos coisas que de outra forma são impossíveis de serem conhecidas por nós enquanto encarnados. Os que acham que podem explicar tudo pela ciência, porque são orgulhosos demais para admitirem que existem coisas que vão além da matéria e de seus egos, não creem, assim se tornam frios fazendo de suas mentes e de suas conquistas mundanas seus deuses. Pobres esses, ainda que se achem iluminados intelectualmente, não constróem a melhor eternidade dentro deles neste mundo e pela fé, mas também não entendem que pelo livre arbítrio se não se constrói uma coisa, se constrói outra. Esses não terão seus falsos deuses para darem-lhes luz depois da morte do corpo, para o plano espiritual só levarão as trevas espirituais, nas quais eles mesmos escolheram existir. 

Esta é a 13ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

11/02/22

Portais da mente (12/90)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” 
I Coríntios 13.12

      O termo portal, usado nesta reflexão e na anterior, você já deve ter visto em filmes de ficção científica, referindo-se a lugares pelos quais pode-se sair de uma dimensão e entrar em outra, tanto num mesmo mundo, como em mundos diferentes, ou mesmo em universos distintos, com leis físicas diferentes. O mundo espiritual é um outro universo, com leis físicas diferentes das leis do mundo material. Ainda que o portal pareça uma porta, um túnel, um buraco no espaço, é só um ponto qualquer onde focando uma intenção se chega a outro ponto. Neste texto, portal é um ponto de saída e de entrada criado pelo homem, ainda que permitam que ele se mova entre universos criados por Deus. 
      A chave do portal é a fé, se não houver fé, o portão será apenas uma imaginação, se restringirá à mente humana, não fará contato com o outro plano. O formato do portal muda conforme a subjetividade do homem, mas usando uma fé comum, como a ensinada pelo evangelho, chega-se a um objetivo comum, Deus. É por essa razão que não podemos julgar mal fés alheias, ainda que usem portais diferentes dos que nós usamos, se a intenção for boa e a fé sincera, podem alcançar o mesmo destino que nós, obtendo as mesmas respostas que nós. Quem garante a você que um católico, mentalizando a mãe de Jesus, não é atendido por Deus do mesmo jeito que você é quando foca em Cristo? 
      Mas o conceito de portal pode nos auxiliar a entender muitas outras religiosidades e espiritualismos, aliás, portal é uma ferramenta para acessar o plano espiritual tão antiga quanto a humanidade. Angeologia e demonologia classificam seres espirituais de diversas maneiras, dão nomes a eles, especificam funções, personalidades, formas e propósitos, a mitologia greco-romana assim como a hinduísta também usam esses conceitos. Referem-se de fato a seres espirituais reais? Não necessariamente, podem ser só portais criados por imaginações humanas de culturas diferentes, que dão acesso não a indivíduos, mas a legiões, principados e potestades. Isso vai muito além do que muitos cristãos sabem.
      Diabo, Satanás, Lúcifer, e mesmo o arcanjo Miguel e o anjo Gabriel, representam um ente, ou uma entidade coletiva? O mesmo ocorre com as divindades do afroespiritismo, Pombagira, Preto-velho, Orixá, Exu, por exemplo, são identificações de grupos, não de indivíduos, e as imagens que se fazem deles, em pinturas e esculturas, seus trajes, cores e adereços, podem ser só imagens mentais estabelecidas por homens antigos e passadas de geração em geração para novos adeptos. O mesmo se dá com lugares, céu, inferno, purgatório, trono de Deus, nova Jerusalém, são imagens mentais baseadas em elementos materiais, não representam a realidade espiritual, ainda que usadas por quem conhece a Deus. 
      Isso ocorre porque referências espirituais não têm equivalentes precisos no plano físico, são dimensões diferentes, o ser humano sente em seu corpo físico emoções e articula em sua mente raciocínios decorrentes de uma experiência espiritual, nossa mente e nossa emoção lê tudo para que possamos interagir com isso com alguma racionalidade. Mas ainda que sejam sensações e racionalizações decorrentes de experiências espirituais reais, não inventadas, não meras imaginações de nossa psiquê, são só correspondências. Correspondências mudam de homem para homem, de acordo com tempo, cultura, religião, vivência pessoal, assim como sujeitam-se à qualidade moral do ser humano. 
      Ainda que um homem tente ser o mais preciso possível ao relatar experiência espiritual, como muitos escritores do cânone bíblico, como Ezequiel, Daniel e João, foram, a descrição dessa experiência sempre, ou pelo menos até o momento no atual nível intelectual e espiritual da humanidade, será só uma correspondência. Essa é a razão de porque não devemos interpretar muitas coisas da Bíblia ao pé da letra! É preciso vê-las como metáforas e entender em que elas foram relevantes para os homens que as registraram, para depois podermos, pelas relevâncias que não mudam para homens tementes a Deus de todos os tempos, aplicar ao nosso contexto. Isso obviamente nos levará a criar novas imagens mentais.
      Há um entendimento que muitos podem ter dificuldades para aceitar, portais mudam com o tempo. Como uma imagem física tão popular do diabo ainda hoje foi criação do catolicismo da idade média, tempo que a humanidade tinha determinado nível espiritual e intelectual, no futuro poderemos descrever fisicamente esse diabo de forma diferente. Veja, o ser espiritual do mal, que se rebela contra Deus e que tenta influenciar os homens no mundo para o mal, continuará existindo, em alguma instância ao menos, mas os homens no mundo poderão usar portais diferentes para focá-lo, seja para repreendê-lo, seja para evocá-lo. Deus e o plano espiritual são imutáveis, o homem no mundo e seus portais não.

Esta é a 12ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

10/02/22

Gafanhoto ou helicóptero? (11/90)

      “E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leões. E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate. E tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e aguilhões nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco meses.” 
Apocalipse 9.7-10

      Na passagem inicial João descreve o que viu numa revelação, prestem atenção aos detalhes que ele dá, será que se tivéssemos a mesma visão hoje, usaríamos os mesmos termos para fazer a descrição? Veja os termos que João usou: gafanhotos, cavalos aparelhados para a guerra, coroas semelhantes ao ouro, rostos de homens, cabelos de mulheres, dentes de leões, couraças de ferro, asas com ruído de carros com cavalos em combate, caudas de escorpiões, aguilhões nas caudas, com poder para danificar os homens por cinco meses. João, pela qualidade de vida espiritual que tinha, recebeu uma profecia bem detalhada, o que o limitou foi sua mente de homem do final do primeiro século.
      Não sei quanto a você, mas à minha mente, lendo Apocalipse 9.7-10, vem a imagem de um veículo aéreo moderno de combate, como um poderoso helicóptero paramentado para a guerra. Um helicóptero se parece com um gafanhoto, a parte frontal arredondada assemelha-se ao rosto de um homem, os cabelos longos de mulheres podem ser as hélices superiores, os dentes de leões podem ser os canhões fixados na parte frontal, o ruído das asas descrito como o som de muitos carros parece o som forte, assustador, múltiplo, das hélices, a cauda de escorpião pode ser a parte traseira fina e alongada do veículo, com agulhões, a hélice traseira. Não podemos desconsiderar espantosa similaridade. 
      O que você vê quando ora a Deus? O que você imagina quando fala com Deus, com o Espírito Santo, com Jesus? O que você enxerga quando pensa no mundo espiritual? Se perguntarmos a um velho católico que imagem lhe vem à mente quando ele pensa em Deus, ele poderá dizer que é a tradicional, descrita em textos bíblicos, de um velho ancião, de barbas e cabelos longos, todo branco. Se fizermos a mesma pergunta a um físico nuclear que busca a Deus ele talvez diga que vê a imagem mental de uma luz, forte e muito clara, como uma energia. Qual dos dois estão corretos? Não importa, não se a intenção for estabelecer contato com o Deus verdadeiro e obedecê-lo.
      Vou usar aqui um termo que talvez seja novo para muitos cristãos, pode não ter embasamentos bíblicos diretos, e apesar de haver linhas espiritualistas que usem conceitos semelhantes, o termo é um entendimento pessoal meu. Nosso contato com o mundo espiritual se faz através de nossa mente, nela são criadas imagens nas quais focamos, e se tivermos a intenção correta, através dessas imagens, podemos acessar o Senhor. Muitos só fecham os olhos e não veem nada, só o escuro, e isso já lhes basta para terem comunhão com Deus, mas se tivermos uma vida devocional mais longa e trabalhada, nossa mente poderá visualizar coisas, ainda que só uma luz no final de um túnel. 
      Essas imagens mentais são construídas com memórias, lembranças que guardamos no decorrer de nossas vidas, recordações de muitas coisas, da tradição religiosa em que fomos criados, da arte que consumimos, filmes, quadros, músicas, de experiências que tivemos e nos impressionaram de alguma forma, ligando, mesmo que inconscientemente, imagens a emoções. Assim a imagem que nos vem à mente quando pensamos em Deus é algo muito pessoal, e não arrogue ninguém o desejo de achar que sua imagem é mais legítima que a imagem do outro. Essas imagens não se referem necessariamente a algo real do mundo espiritual, são só portais, eis o termo que disse que usaria. 
      Onde estaremos na eternidade? Não será nos portais, esses são relativos à visualização mental individual de cada ser humano. A imaginação humana, por mais criativa que seja, não pode construir de fato céu e inferno, por outro lado o mundo espiritual é indescritível para o homem no mundo, ainda que o visse não teria referências para descrevê-lo com as informações e ferramentas que possui vivendo num corpo físico. Pode aliar sofrimento infinito a um fogo que queima e faz doer sem consumir, para que o ser siga sofrendo indefinidamente, ou pode imaginar o céu como um palácio de pedras e metais preciosos, com uma sala de banquete onde só se adora a Deus e se descansa. 
      Muitos imaginam isso porque a eternidade será de fato assim? Não, mas talvez porque no mundo muitos encontrem seu “céu” num culto de domingo à noite, quando podem descansar de uma semana de trabalho e cantarem louvores num templo, muitas vezes mais confortável que suas casas, protegidos do “inferno” do mundo exterior. O ponto é mostrar como imaginação mental tem relevância em nossas existências no mundo, ainda que não represente uma realidade espiritual, tem a função de conectar o ser humano com o mundo espiritual. Por outro lado, impregnada pelo Espírito Santo, a mente busca interpretar informações puramente espirituais com os recursos disponíveis nela. 

Esta é a 11ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

09/02/22

Definidos no tempo (10/90)

      “O temor do Senhor aumenta os dias, mas os perversos terão os anos da vida abreviados.” 
Provérbios 10.27

      Quantas vezes Deus mandou você fazer algo e você não fez? Não me refiro a coisas do cotidiano, as orientações diárias que o Espírito Santo nos dá para agirmos certo, para não sucumbirmos aos apetites desenfreados da carne, ao adultério, à pornografia virtual, para não retermos rancor, ódio, inveja, para não sermos gananciosos nos negócios, para não cobiçarmos aquilo que não é nosso, e mesmo que seja, para não usarmos isso do jeito errado, não é a isso que me refiro. Também não me refiro a diretrizes maiores, sobre casamento, vida profissional, mudança de casa, de cidade, sobre ministérios na igreja, para servirmos pelo evangelho e para o evangelho sem esperarmos retorno financeiro, para colocarmos essas obrigações como premissas por as considerarmos mais espirituais que as outras, ao menos na teoria, porque na prática dificilmente não pomos dinheiro antes do resto.
      Muitas vezes Deus nos mandou parar e naquele momento, nas prioridades que eram importantes para nós, na pessoa que éramos naquele momento, nós não obedecemos, não paramos, porque achamos que aquilo não era ordem de Deus. Consideramos como voz de nosso medo, de nossa covardia, que fossem até vozes de espíritos do mal tentando impedir que fôssemos vitoriosos, que conquistássemos algo que o Senhor estava querendo nos dar. Sim, meus queridos, podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Isso pode acontecer mesmo quando buscamos a Deus de todo o coração para saber sua vontade para nossas vidas, mas sem termos a mesma intensidade de intenção para fazermos essa vontade, querendo saber, mas não querendo fazer. Sendo Deus sempre verdadeiro ele não nos engana, se perguntamos, ele responde, ainda que não queiramos acatar sua resposta. 
      Mas essas desobediências só enxergamos com o tempo, quando projetos que achamos que eram adequados e aprovados pelo Senhor não permanecem de pé em nossas vidas, quando entendemos o que de fato é melhor para nós, e não só para um momento. Obviamente isso está intrinsecamente ligado a auto-conhecimento em Deus, quem se conhece sabe o que pode ter, quando e para quê, só com tempo nos conhecemos, Deus simplesmente aguarda. Com o tempo podemos entender que aquela resposta que demorou para vir, não foi por falta de fé nossa, mas foi um não de Deus que não aceitávamos, que a resposta que achamos que tivemos não era de Deus, mas de nossa teimosia. Por isso até obtivemos algo, mas que nunca funcionou direito, nos trouxe inconvenientes, fez mais mal que bem. Sinceramente, você já teve experiência assim? Todos tivemos.
      Por que essa questão é levantada numa reflexão sobre quem seremos na eternidade? Porque somos aquilo que retemos por mais tempo em nossa essência, é isso que nos define e é isso que apresentaremos a Deus no “juízo”. Interessante que na eternidade o tempo não existe, não como experimentamos no mundo, aqui percebemos o tempo pelo envelhecimento de nosso corpo e pelos movimentos e estações da Terra interagindo com o universo material. Na eternidade não teremos os limites da matéria, mas ainda assim, para alguns, poderão haver limites de espaço e tempo, limites relacionados com suas qualidades morais, com as essências espirituais que construíram no corpo físico, no mundo e no tempo material. Quem sofre fica paralisado num lugar, sente o tempo pesar, enquanto fora de si vê o tempo passar e os outros livres para irem e virem, isso é um tipo de inferno. 
      Eis a chave do mistério da eternidade: administrar bem o tempo no mundo, e isso não significa fazer mais coisas em menos tempo, mas fazer a coisa certa, ainda que leve todo o tempo do mundo. A pressa tenta mudar uma vida que muitas vezes não pode ser mudada, só deve ser aceita, mas na aceitação de certas coisas exteriores como imutáveis, somos nós que mudamos e por dentro. Mas nunca generalize, certas coisas podem e devem ser mudadas, com trabalho e fé. Contudo, precisamos avaliar nossas vidas com lucidez, o que fizemos, o que ficou de pé e onde tudo isso nos levou, fora de nós e dentro de nós, não nos esquecendo que só levaremos à eternidade aquilo que retemos dentro de nós. Não adianta negarmos nossa essência, teimarmos em dizer para nós mesmos que somos isso, conquistamos aquilo, quando não é verdade, quem olha para dentro de si sabe sua verdade.
      Por isso o evangelho diz, “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.12-13). Só estará em nossa essência como parte de nossa identidade espiritual, aquilo que for retido no mundo, por isso cada instante no plano físico é importante, uma oportunidade de crescimento, tolos os que desejam a morte antes do tempo. Só retemos, só seguramos, transformando velhas essências em novas, perseverando, teimando em fazermos o bem, em sermos melhores, em entendermos, aceitarmos e praticarmos a vontade de Deus para nossas vidas, não as nossas vontades ou as dos homens. Como é nosso homem interior? É vitorioso como nossa aparência externa, ou contém um espírito oprimido, entristecido, desprezado, não pelos outros, nem por Deus, mas por nós mesmos? Atenhamo-nos mais a ele, é ele quem nos define. 
      Na eternidade receberemos conforme nossas obras no mundo, mas não porque elas comprem direitos, mas porque elas nos transformam, assim, não basta fé em alguma crença religiosa, mesmo em Cristo como salvador, é preciso que mostremos obras como frutos de seres arrependidos e mudados. Por isso não nos adianta de nada ganharmos no mundo, mesmo honra de homens. Na eternidade seremos iluminados pela glória de Deus e pela luz de seres superiores, os “anjos”, se houver luz em nós seremos atraídos para o amor do Altíssimo, senão nós mesmos nos afastaremos, de um amor que na verdade já negamos em nossas vidas encarnadas no mundo. Luz atrai luz, trevas se escondem nas trevas, céu vai ao céu, inferno continua no inferno. O que construímos no mundo material dentro de nós é o que definirá quem seremos na eternidade espiritual, sem maiores surpresas, simples assim. 

Esta é a 10ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

08/02/22

Jesus veio no tempo certo (9/90)

      “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” 
Gálatas 4.4-5

      O nível de desenvolvimento do mundo na época de Israel do antigo testamento, nos transportes, na comunicação, nas relações internacionais, não permitia um conhecimento global como temos nos tempos atuais, assim, é injusto exigirmos que Israel pudesse compartilhar com mais abrangência a experiência que tinha com Deus. Israel entendia o mundo do seu ponto de vista, como entendiam hindus, chineses, japoneses e outros. Isso faz parte da fase infantil da humanidade, que como crianças pequenas se veem como centro do mundo, como a tradição judaico-cristã viu o planeta Terra como centro do universo até que a ciência provasse o contrário. O erro, contudo, não está no passado, mas no presente, quando depois de sabermos de tantas coisas ainda continuarmos vendo a existência como viam hebreus de milênios atrás. 
      Se Deus tinha o propósito de evangelizar, digamos assim, o mundo antigo através de Israel, como dizem muitos estudiosos, isso deveria ter sido possível dentro das condições do mundo daquela época, mas isso não foi feito. Deus desprezou o resto do planeta e privilegiou os hebreus? Onde está o amor de Deus por toda a humanidade nisso? Parece que sob esse ponto de vista Deus agiu com parcialidade, se não foi isso, e não foi, já que Deus não faz acepção de pessoas, quem está errado é quem interpreta a religião de Israel no antigo testamento como único meio do ser humano conhecer a Deus. Não negamos a importância e a singularidade de tudo que a religião judaica produziu, principalmente sendo berço do Cristo, mas com certeza enquanto cuidava dos hebreus, Deus também cuidava do resto do mundo, com o mesmo amor. 
      Por que Jesus não veio no lugar de Moisés, no momento histórico que esse veio? Se pensarmos de forma prática, sob o ponto de vista limitado e humano, Jesus deveria ter vindo longo após Adão e Eva terem pecado. A humanidade, contudo, não estava preparada para Jesus, nem no tempo de Moisés e muito menos logo após o homem ser expulso do Éden. Além do mais, Moisés teve uma relevância nacional, elevou um clã familiar, que foi o que entrou originalmente no Egito, à condição de nação com território próprio. Jesus, contudo, não veio para um povo, mas para todos os povos. Isso ensina que Deus revela o conhecimento espiritual de maneira gradativa aos homens, à medida que estão preparados. Se foi assim com Moisés e Jesus, por que não seria com o restante do conhecimento? E há, sim! mais a se aprender. 
      Se para uma pessoa da nação de Israel e da época de Moisés fosse revelado os ensinos do Cristo, essa pessoa chamaria os ensinos evangélicos de apócrifos, não aceitaria que Deus ama mesmo seus inimigos e que quer dar a esses o mesmo destino, tanto no mundo quanto no céu, de paz e prosperidade. Você acha que não? Que um israelita saindo do Egito aceitaria pela fé os ensinos do Cristo? Pense bem a respeito. Nessa lógica podemos entender que existem conhecimentos que hoje são considerados heréticos, mesmo diabólicos, em relação ao evangelho básico, e não me refiro aos ensinos morais, mas àqueles sobre o plano espiritual, que na verdade podem não ser. Pode ser só o cristão atual ainda não preparado para aceitá-los, assim, temos que entender um Deus que se revela aos poucos, ou ficaremos presos ao passado. 
      Mas se mesmo no campo social os cristãos ainda têm dificuldades para aceitarem certas novidades, como no casamento e na sexualidade, que é a prática da realidade de suas vidas diárias, que se diria sobre inferno e céu, que muitos aceitam só porque na verdade nunca pensaram seriamente no assunto, e por terem medo de serem “excomungados”, mesmo de igrejas protestantes, caso pensem diferentemente. Contudo, mesmo a religião da velha aliança se corrompeu, no tempo de Jesus homem era liderada por homens, que se importavam com exibir aparência externa superior diante de homens, para dominarem sobre esses, mas que interiormente eram sujos e distantes de Deus (Mateus 23.27). Como resultado tinham vidas hipócritas, que lhes deixaram cegos para verem a luz mais alta de Deus manifestando-se para salvá-los, Jesus. 
      Alguma semelhança entre os líderes religiosos judeus do século I, os líderes católicos que surgiram a partir do século IV, e muitos líderes evangélicos atuais no Brasil? Toda semelhança, mas é assim que o mundo funciona até o momento. Sempre foi assim e sempre será? Eu penso que não, a humanidade chegará num ponto de sua evolução espiritual onde conseguirá reter com mais fidelidade a palavra original de Deus, e ao invés de dilacerá-la, a renovará e multiplicará, sem que essa perca a pureza. Isso não aconteceu até o momento porque a ganância do homem, que tantas injustiças causam na sociedade, corrompem todos os homens, principalmente aqueles que de alguma maneira detêm poderes. Líderes religiosos não escapam disso, são corrompidos e assim mutilam a palavra genuína de Deus de acordo com suas conveniências.
      Cristãos, precisamos ter uma visão mais divina de tudo, do universo, da Terra, do homem, do plano espiritual, e ainda que muitos pensem o contrário, a divindade que tradições religiosas cristãs defendem não é a divindade do verdadeiro Deus, mas de um deus humanizado e limitado, um ídolo feito de dogmas e crenças, construído por homens. A Terra não é o centro do cosmos, não foi criada em seis dias, o homem não surgiu pronto do pó da terra, e Deus não é uma potência espiritual parcial que a uns defende e salva e a outros destrói e condena. Deus é misteriosamente maior, seu processo de trabalho é sem começo e sem fim, ele usa o tempo em dimensões gigantescas, o ser humano existirá ainda por milhares de anos neste mundo, pelo menos. Quem seremos na eternidade? Seres bem melhores que imaginamos ser, cristãos ou não. 

Esta é a 9ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

07/02/22

Deus e deuses para Israel (8/90)

      “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” 
Deuteronômio 6.4

      Numa reflexão sobre eternidade, inferno e céu, pode ser interessante, para entendermos que o que Bíblia diz e as tradições ensinam sobre as coisas do fim podem não ser uma verdade atemporal, mas algo ligado a entendimentos de homens de outros tempos, vermos que também existem entendimentos limitados a um tempo sobre o início de tudo e o começo da relação de Deus com a humanidade. O senso comum cristão diz que Deus escolheu um homem, Abraão, depois um filho, Isaque, depois um neto, Jacó, depois um descendente desse, Davi, e finalmente um descendente desse descendente, Jesus, para manifestar à humanidade sua vontade. Mas essa escolha na verdade começou em Adão, passando por Sete, Noé e então Sem, para assim chegar a Abraão. Seja como for a Bíblia conta a história de uma nação específica. 
      Você já pensou o que achariam os seres humanos que viviam no extremo oriente, no sul da África, nas Américas, na Austrália, se soubessem da promessa que os judeus dizem que Deus fez a Abraão sobre a nação de Israel em Gênesis 22? Pensariam que Deus escolheu um homem, ou um povo, e desprezou os outros, ou você acha que existiam naquele momento só descendentes da família de Noé no planeta? A arqueologia já encontrou restos humanos em várias partes de mundo e não é possível que todos sejam descendentes de Noé. Mesmo que fossem, não poderiam mudar tanto de aparência (compare um árabe com um japonês, com um africano, com nativo peruano, com um aborígene australiano), e viajarem para tão longe do oriente médio, não em pouco tempo, onde a Bíblia diz que foram criados os primeiros homens. 
      Isso nos faz pensar em muitas coisas, não só sobre o fim, como sobre o início, se de fato toda a humanidade foi originada de um único casal do oriente médio. Não seria Gênesis, como todo o antigo testamento, mitos da história, não da humanidade, mas de um único povo, do qual hoje sobrou uma tribo, a dos judeus? Ou você tem alguma explicação de como os filhos de Noé conseguiram se reproduzir e darem origem a povos de todo o globo terrestre. Mas se pegarmos só Sete, com quem ele teve relações sexuais e formou famílias, com suas irmãs, com a descendência de Caim? A Bíblia, do começo ao fim, não pode ser interpretada ao pé da letra, mesmo Jesus foi um messias profetizado para o povo judeu, teve seu ministério entre judeus, ainda que seus ensinos tenham alcançado, a princípio, pelo menos a civilização ocidental. 
      Outra coisa importante para entendermos é o monoteísmo, na prática não existia nos tempos do antigo testamento. Nós evangélicos nos acostumamos a ler e compreender a Bíblia pelo senso comum que temos hoje, já sob a ótica das tradições teológicas, e não é bem assim. A Bíblia tem registros de momentos históricos diferentes, ela não foi toda escrita de uma vez, o antigo testamento sofreu alterações pelo próprio povo hebreu, vários  homens a escreveram. Isso ainda que alguns tenham escrito vários livros, como Moisés que escreveu o Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia), Salomão que escreveu Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos (ou Cantares), Sabedoria (só nas Bíblias católicas), e alguns Salmos, Paulo que escreveu várias cartas, e João que escreveu um evangelho, cartas e o livro de Apocalipse. 
      A teologia tradicional é uma fábrica de argumentos para tentar explicar a Bíblia como os teólogos acham que a Bíblia tem que ser, não como realmente é. Mesmo a nação de Israel tinha dificuldades para aceitar seu Deus como único Deus, cria que seu Deus era o mais poderoso e que era uma nação privilegiada por ter sido escolhida por esse Deus, mas não estava certa que só existia esse Deus. Tanto era assim que volta e meia Israel deixava de adorar esse Deus, que identificava como o “Deus de Abraão, de Isaque, de Jacó”, e adorava outros deuses. Mas Israel não devia achar que estava indo para o lado do diabo por isso, mas só para outro deus, essa concepção maniqueísta que temos hoje, que divide poderes espirituais entre bem e mal, de Deus e do diabo, só ficou clara para a humanidade com o cristianismo católico.  
      Não significa que não havia homens com experiências espirituais profundas, que sabiam da existência de um único Deus acima de tudo, e que muitos desses registraram textos bíblicos importantes, mas faziam isso sob relevâncias de seus contextos, o que queriam promover para suas sociedades. Uma sociedade que se mantinha com guerras, dava valor a um Deus que desse vitória em guerras, um homem que separava o mundo entre seu povo e seus inimigos, não podia entender direitos iguais para toda a humanidade. Um povo materialista via a necessidade de qualidades morais para ter favores de Deus, mas favores no plano físico, não no espiritual. Israel não pensava em eternidade espiritual, e mesmo seres espirituais do mal não eram parte importante de sua prática religiosa, Israel via um reino de Deus no mundo, não na eternidade. 
      Mesmo que outras nações não estivessem em guerra com Israel, portanto fora da condição de inimigas, Israel não se via comissionada a evangelizá-las. Israel não se achava em papel missionário, ainda que homens como Daniel e Jonas tenham testemunhado Deus a outras nações. Pela ótica do antigo testamento parece-nos que só Israel conhecia o Deus verdadeiro no mundo, mais ninguém, você nunca achou isso estranho? O objetivo era obedecer a Deus dentro de uma nação com uma religião exclusiva, não havia o conceito de salvação pessoal, israelitas não viam homens de outros povos como semelhantes, eram gentios que não tinham privilégios em sua religião, apesar de haver regras para bom tratamento de estrangeiros. Por causa disso, será que é justo usar a religião de um povo fechado como referência para todo o mundo? 

Esta é a 8ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

06/02/22

O cristianismo e o tempo (7/90)

      “Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.” 
II Tessalonicenses 3.5

      Quem você será na eternidade? A verdade é que pode ser melhor você nem se importar com isso. Seja teu melhor aqui e agora, é isso que você levará à eternidade, nem mais nem menos, o céu construímos no mundo e dentro de nós, o resto é fantasia, é superstição, manipulação de líderes religiosos para controlarem e explorarem os homens. Seremos melhores se bebermos da fonte original do cristianismo, principalmente as palavras diretas do Cristo nos evangelhos. O ensino da Bíblia feito em muitas igrejas sérias e bem intencionadas atuais, ainda que num número menor que há trinta anos atrás, muitas vezes mais confunde que ajuda, principalmente as últimas gerações, avessas à leitura e aprendizagem mais profunda de qualquer coisa, que querem aprender tudo com tutoriais em vídeos curtos, que mal sabem escrever o português. 
      Quem tem cabeça hoje para entender os protocolos da religião israelita do antigo testamento, os detalhes da construção do templo de Salomão, ou as profecias de Daniel e de João? Se aprendessem sobre a vida de Jesus já entenderiam o principal, já poderiam ter homens interiores melhores preparados para a eternidade. Por outro lado, aproveitando-se desse desinteresse por profundidades, é que as heresias se proliferam, simplificando o cristianismo à fé, aos dízimos, a não beber e não fumar, a legalizar o último casamento. Será que isso basta para termos direito ao céu, a melhor eternidade de Deus para os homens? Para muitos até pode bastar, Deus é amor e usa o que está disponível para alcançar os homens, não nos enganemos sobre isso, mas aproxima-se o momento em que será exigido mais da humanidade. 
      Já passamos tempo demais sendo alimentados com leite, logo, se não tivermos alimento sólido, não conseguiremos viver em Deus e muitos poderão negar de vez o cristianismo. Tudo que o cristianismo católico-protestante podia explorar da humanidade, já foi explorado, o que Deus pôde fazer, mesmo através desse cristianismo mutilado, logo não será mais o suficiente, não para salvar uma humanidade com acesso à ciência, que liberta de superstições e que facilita uma existência na Terra sem que os homens façam uso de crenças infantis no sobrenatural. O misticismo não basta mais, nem o da esquerda e nem o da direita, não é só o Deus ensinado pelo cristianismo que está caindo em descrédito, o diabo também está, e enganam-se os cristãos que acham que o mal está se fortalecendo e preparando um final onde possa prevalecer. 
      A noção de tempo do cristianismo sempre foi equivocada, isso não é privilégio de evangélicos atuais. A maioria dos cristãos, como ocorre com outros religiosos, se apaixona por suas crenças, pelo menos a princípio, nessa paixão quer deixar o mundo e se unir a Jesus no céu o quanto antes. Cristãos primitivos achavam que Jesus voltaria ainda no primeiro século, católicos também poderiam ter essa perspectiva principalmente durante crises mundiais como no período da peste negra que dizimou milhões. No século XX teve muito cristão que achou que o mundo acabaria nas guerras mundiais, há relato de seita que subiu a monte esperando a volta de Cristo. Sempre que um avivamento carismático ocorre, movimento que naturalmente infla os corações de paixão, as pessoas creem que o fim e a volta de Jesus são próximos. 
      Assim, cuidado, dizer “Jesus está voltando e temos que nos preparar”, pode não ser discernimento espiritual de gente mais ungida que as outras, mais santa que as outras, mas pode ser só paixão humana. Estar sempre preparado é o entendimento mais sábio, não esperando ou querendo que o mundo acabe, mas vivendo em vigilância todos os dias, mesmo que o Cristo só volte daqui a um bilhão de anos. Esse é um cristianismo maduro, o que se prepara mesmo sabendo que vai demorar muito, não por medo do inferno ou por sentir um final iminente, mas por amor a Deus que trabalha sempre a longuíssimo prazo, esse foi o ensino original de Jesus. Espiritualidade não gera ansiedade, mas serenidade e paciência, e ansiedade por coisas espirituais também pode ser pecado e conduzir a formidáveis enganos, abramos os olhos. 
      Nossa sensação de tempo, que pode importar mais que o tempo de fato, aquele medido pelo relógio e indicado pela rotação e translação da Terra, está bastante relacionada com nossa paz interior, quem tem paz, tem paciência, e quem tem paciência nem se liga ao tempo. Eternidade é existir desprendido de matéria, espaço e tempo, mas penso que tempo tenha uma relevância especial no plano espiritual, porque mesmo com um corpo transformado, não constituído de matéria física, e com liberdade para ir e vir na velocidade do pensamento, se houver no espírito “inferno”, a sensação de tempo será eterna. Já ao espírito que estiver em paz no amor de Deus, isso é, no céu, nem dará conta que tempo existe, quando estamos felizes não sentimos o tempo passar, se é assim no plano físico, muito mais será no plano espiritual. Glória a Deus! 

Esta é a 7ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021