domingo, fevereiro 06, 2022

O cristianismo e o tempo (7/90)

      “Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.” 
II Tessalonicenses 3.5

      Quem você será na eternidade? A verdade é que pode ser melhor você nem se importar com isso. Seja teu melhor aqui e agora, é isso que você levará à eternidade, nem mais nem menos, o céu construímos no mundo e dentro de nós, o resto é fantasia, é superstição, manipulação de líderes religiosos para controlarem e explorarem os homens. Seremos melhores se bebermos da fonte original do cristianismo, principalmente as palavras diretas do Cristo nos evangelhos. O ensino da Bíblia feito em muitas igrejas sérias e bem intencionadas atuais, ainda que num número menor que há trinta anos atrás, muitas vezes mais confunde que ajuda, principalmente as últimas gerações, avessas à leitura e aprendizagem mais profunda de qualquer coisa, que querem aprender tudo com tutoriais em vídeos curtos, que mal sabem escrever o português. 
      Quem tem cabeça hoje para entender os protocolos da religião israelita do antigo testamento, os detalhes da construção do templo de Salomão, ou as profecias de Daniel e de João? Se aprendessem sobre a vida de Jesus já entenderiam o principal, já poderiam ter homens interiores melhores preparados para a eternidade. Por outro lado, aproveitando-se desse desinteresse por profundidades, é que as heresias se proliferam, simplificando o cristianismo à fé, aos dízimos, a não beber e não fumar, a legalizar o último casamento. Será que isso basta para termos direito ao céu, a melhor eternidade de Deus para os homens? Para muitos até pode bastar, Deus é amor e usa o que está disponível para alcançar os homens, não nos enganemos sobre isso, mas aproxima-se o momento em que será exigido mais da humanidade. 
      Já passamos tempo demais sendo alimentados com leite, logo, se não tivermos alimento sólido, não conseguiremos viver em Deus e muitos poderão negar de vez o cristianismo. Tudo que o cristianismo católico-protestante podia explorar da humanidade, já foi explorado, o que Deus pôde fazer, mesmo através desse cristianismo mutilado, logo não será mais o suficiente, não para salvar uma humanidade com acesso à ciência, que liberta de superstições e que facilita uma existência na Terra sem que os homens façam uso de crenças infantis no sobrenatural. O misticismo não basta mais, nem o da esquerda e nem o da direita, não é só o Deus ensinado pelo cristianismo que está caindo em descrédito, o diabo também está, e enganam-se os cristãos que acham que o mal está se fortalecendo e preparando um final onde possa prevalecer. 
      A noção de tempo do cristianismo sempre foi equivocada, isso não é privilégio de evangélicos atuais. A maioria dos cristãos, como ocorre com outros religiosos, se apaixona por suas crenças, pelo menos a princípio, nessa paixão quer deixar o mundo e se unir a Jesus no céu o quanto antes. Cristãos primitivos achavam que Jesus voltaria ainda no primeiro século, católicos também poderiam ter essa perspectiva principalmente durante crises mundiais como no período da peste negra que dizimou milhões. No século XX teve muito cristão que achou que o mundo acabaria nas guerras mundiais, há relato de seita que subiu a monte esperando a volta de Cristo. Sempre que um avivamento carismático ocorre, movimento que naturalmente infla os corações de paixão, as pessoas creem que o fim e a volta de Jesus são próximos. 
      Assim, cuidado, dizer “Jesus está voltando e temos que nos preparar”, pode não ser discernimento espiritual de gente mais ungida que as outras, mais santa que as outras, mas pode ser só paixão humana. Estar sempre preparado é o entendimento mais sábio, não esperando ou querendo que o mundo acabe, mas vivendo em vigilância todos os dias, mesmo que o Cristo só volte daqui a um bilhão de anos. Esse é um cristianismo maduro, o que se prepara mesmo sabendo que vai demorar muito, não por medo do inferno ou por sentir um final iminente, mas por amor a Deus que trabalha sempre a longuíssimo prazo, esse foi o ensino original de Jesus. Espiritualidade não gera ansiedade, mas serenidade e paciência, e ansiedade por coisas espirituais também pode ser pecado e conduzir a formidáveis enganos, abramos os olhos. 
      Nossa sensação de tempo, que pode importar mais que o tempo de fato, aquele medido pelo relógio e indicado pela rotação e translação da Terra, está bastante relacionada com nossa paz interior, quem tem paz, tem paciência, e quem tem paciência nem se liga ao tempo. Eternidade é existir desprendido de matéria, espaço e tempo, mas penso que tempo tenha uma relevância especial no plano espiritual, porque mesmo com um corpo transformado, não constituído de matéria física, e com liberdade para ir e vir na velocidade do pensamento, se houver no espírito “inferno”, a sensação de tempo será eterna. Já ao espírito que estiver em paz no amor de Deus, isso é, no céu, nem dará conta que tempo existe, quando estamos felizes não sentimos o tempo passar, se é assim no plano físico, muito mais será no plano espiritual. Glória a Deus! 

Esta é a 7ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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