sábado, fevereiro 12, 2022

Fé (13/90)

      “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus.
 Efésios 2.8
      “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
Hebreus 11.1
 
      Dois princípios são verdades espirituais eternas, condições para que o ser humano, no mundo físico, possa ter comunhão com Deus e com o mundo espiritual: fé e livre arbítrio. Na verdade um princípio, a fé, veio como efeito do uso errado do outro, o livre arbítrio, olhando a humanidade sob o ponto de vista da doutrina bíblica tradicional. Antes do primeiro homem mítico, Adão, ter cometido o pecado original, Deus vivia com o ser humano de maneira “visível”, pelo que entendemos em Gênesis, assim não havia necessidade de fé para ter acesso a Deus (ou não havia, ou crer era algo mais natural, mais fácil). Com o pecado veio a queda e com a queda a necessidade do homem viver no mundo, sem a inocência original, para passar por provas e só no plano espiritual ter de novo comunhão plena com Deus. Se foi fácil usar livre arbítrio para separar-se do criador, agora, é mais difícil usá-lo para restabelecer comunhão com Deus. 
      Para Israel foi entregue a velha aliança, uma religião que dava acesso a Deus através de sacrifícios de animais num templo, e da obediência à Lei, os mandamentos morais e outras instruções sobre vida social, política e mesmo de saúde. Mas basicamente a velha aliança dos hebreus é baseada em obras, quem segue a Deus deve mostrar isso praticando protocolos religiosos, foi só em Cristo que uma nova aliança entregou ao ser humano na Terra o princípio de salvação pela fé. O evangelho ensinou que o homem está naturalmente separado de Deus, assim, é necessário uma escolha pela fé em Cristo para que ele se torne filho de Deus, receba o Espírito Santo, e tenha direito ao suporte do Senhor aqui e ao céu lá. Obras para salvação foram substituídas pela fé em Jesus, já que seu sacrifício valeu por todos. Apesar de textos como o de Tiago ensinarem sobre a importância de obras, na prática do cristão tradicional fé tem prioridade sobre tudo. 
      Mas porque Deus, em sua excelsa providência, decidiu que no mundo o homem precisaria de fé para acessar o plano espiritual, ainda que seus órgãos físicos não possam comprovar essa experiência? No mundo material as coisas funcionam de forma perceptível pelos nossos sentidos, por exemplo, se eu quiser comprar um carro, eu pesquiso, acho o veículo que desejo adquirir, informo-me sobre o custo dele e faço a compra. No plano físico eu sei até onde posso chegar e posso conhecer exatamente o que preciso para chegar, contudo, nesse plano tudo o que eu adquirir um dia acabará, ficará velho, desgastará, e mesmo que dure um bom tempo, poderá virar lixo e ser jogado fora, incluindo nossos corpos. O mundo material é dimensional, tem início, meio e fim, ninguém precisa de fé ou subjetividade para percebê-lo, comprovamo-lo com as faculdades de nossos corpos físicos e podemos explicá-lo pela ciência do homem na Terra. 
      Deus não faz propaganda enganosa das coisas concernentes ao mundo espiritual e à eternidade, não o Deus verdadeiro, ainda que religiões e homens possam fazer tentando formatar o intangível. Por isso ele não revela valores espirituais diretamente aos sentidos físicos, visão, audição, tato, ferramentas do plano material. Por um motivo que só Deus sabe, saímos da condição de mortos espirituais para a de vivos, pela fé, vendo na mente, sentindo com o coração e nos movendo pelo Espírito Santo, para termos acesso a algo que a princípio não existe no plano físico. É só depois de crermos que nossos corpos receberão informações espirituais, ainda que limitadamente, para interpretá-las. O que cremos passa a existir, não no universo, nesse Deus já criou tudo, mas para nós, depois que reivindicamos por fé. Fé não cria, mas manifesta aos nossos sentidos, nos coloca na posição onde as coisas existem, coisas criadas anteriormente por Deus. 
      Se coisas materiais, mesmo recebidas pela melhor vontade de Deus, têm fim, dons espirituais de vida eterna acessados pela fé não têm. Ninguém é humilde o suficiente, tem paz o suficiente, é santo o suficiente, é amoroso o suficiente, é generoso o suficiente, quem chega a um patamar de espiritualidade sempre será desafiado a ir em frente, a conquistar mais, a subir. O topo é o homem interior à imagem de Cristo, uma posição elevadíssima, acima de toda potestade e principado, seja neste mundo ou no outro. Coisas espirituais se acessam com ferramentas espirituais e são percebidas com faculdades espirituais que nos preparam para uma existência espiritual em um Deus espiritual. Se vivemos sessenta e poucos anos no mundo, poderemos viver eternamente no plano espiritual, esse plano é muito mais importante, nele nosso verdadeiro homem interior é manifestado, é avaliado por justos juízos e recebe penas e recompensas. 
      Fé não é um delimitador, disposição de gente ignorante e retrógrada, apesar de parecer assim aos que não andam nela ou só começaram a andar, fé é a maneira de conhecermos coisas que de outra forma são impossíveis de serem conhecidas por nós enquanto encarnados. Os que acham que podem explicar tudo pela ciência, porque são orgulhosos demais para admitirem que existem coisas que vão além da matéria e de seus egos, não creem, assim se tornam frios fazendo de suas mentes e de suas conquistas mundanas seus deuses. Pobres esses, ainda que se achem iluminados intelectualmente, não constróem a melhor eternidade dentro deles neste mundo e pela fé, mas também não entendem que pelo livre arbítrio se não se constrói uma coisa, se constrói outra. Esses não terão seus falsos deuses para darem-lhes luz depois da morte do corpo, para o plano espiritual só levarão as trevas espirituais, nas quais eles mesmos escolheram existir. 

Esta é a 13ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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