sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Portais da mente (12/90)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.” 
I Coríntios 13.12

      O termo portal, usado nesta reflexão e na anterior, você já deve ter visto em filmes de ficção científica, referindo-se a lugares pelos quais pode-se sair de uma dimensão e entrar em outra, tanto num mesmo mundo, como em mundos diferentes, ou mesmo em universos distintos, com leis físicas diferentes. O mundo espiritual é um outro universo, com leis físicas diferentes das leis do mundo material. Ainda que o portal pareça uma porta, um túnel, um buraco no espaço, é só um ponto qualquer onde focando uma intenção se chega a outro ponto. Neste texto, portal é um ponto de saída e de entrada criado pelo homem, ainda que permitam que ele se mova entre universos criados por Deus. 
      A chave do portal é a fé, se não houver fé, o portão será apenas uma imaginação, se restringirá à mente humana, não fará contato com o outro plano. O formato do portal muda conforme a subjetividade do homem, mas usando uma fé comum, como a ensinada pelo evangelho, chega-se a um objetivo comum, Deus. É por essa razão que não podemos julgar mal fés alheias, ainda que usem portais diferentes dos que nós usamos, se a intenção for boa e a fé sincera, podem alcançar o mesmo destino que nós, obtendo as mesmas respostas que nós. Quem garante a você que um católico, mentalizando a mãe de Jesus, não é atendido por Deus do mesmo jeito que você é quando foca em Cristo? 
      Mas o conceito de portal pode nos auxiliar a entender muitas outras religiosidades e espiritualismos, aliás, portal é uma ferramenta para acessar o plano espiritual tão antiga quanto a humanidade. Angeologia e demonologia classificam seres espirituais de diversas maneiras, dão nomes a eles, especificam funções, personalidades, formas e propósitos, a mitologia greco-romana assim como a hinduísta também usam esses conceitos. Referem-se de fato a seres espirituais reais? Não necessariamente, podem ser só portais criados por imaginações humanas de culturas diferentes, que dão acesso não a indivíduos, mas a legiões, principados e potestades. Isso vai muito além do que muitos cristãos sabem.
      Diabo, Satanás, Lúcifer, e mesmo o arcanjo Miguel e o anjo Gabriel, representam um ente, ou uma entidade coletiva? O mesmo ocorre com as divindades do afroespiritismo, Pombagira, Preto-velho, Orixá, Exu, por exemplo, são identificações de grupos, não de indivíduos, e as imagens que se fazem deles, em pinturas e esculturas, seus trajes, cores e adereços, podem ser só imagens mentais estabelecidas por homens antigos e passadas de geração em geração para novos adeptos. O mesmo se dá com lugares, céu, inferno, purgatório, trono de Deus, nova Jerusalém, são imagens mentais baseadas em elementos materiais, não representam a realidade espiritual, ainda que usadas por quem conhece a Deus. 
      Isso ocorre porque referências espirituais não têm equivalentes precisos no plano físico, são dimensões diferentes, o ser humano sente em seu corpo físico emoções e articula em sua mente raciocínios decorrentes de uma experiência espiritual, nossa mente e nossa emoção lê tudo para que possamos interagir com isso com alguma racionalidade. Mas ainda que sejam sensações e racionalizações decorrentes de experiências espirituais reais, não inventadas, não meras imaginações de nossa psiquê, são só correspondências. Correspondências mudam de homem para homem, de acordo com tempo, cultura, religião, vivência pessoal, assim como sujeitam-se à qualidade moral do ser humano. 
      Ainda que um homem tente ser o mais preciso possível ao relatar experiência espiritual, como muitos escritores do cânone bíblico, como Ezequiel, Daniel e João, foram, a descrição dessa experiência sempre, ou pelo menos até o momento no atual nível intelectual e espiritual da humanidade, será só uma correspondência. Essa é a razão de porque não devemos interpretar muitas coisas da Bíblia ao pé da letra! É preciso vê-las como metáforas e entender em que elas foram relevantes para os homens que as registraram, para depois podermos, pelas relevâncias que não mudam para homens tementes a Deus de todos os tempos, aplicar ao nosso contexto. Isso obviamente nos levará a criar novas imagens mentais.
      Há um entendimento que muitos podem ter dificuldades para aceitar, portais mudam com o tempo. Como uma imagem física tão popular do diabo ainda hoje foi criação do catolicismo da idade média, tempo que a humanidade tinha determinado nível espiritual e intelectual, no futuro poderemos descrever fisicamente esse diabo de forma diferente. Veja, o ser espiritual do mal, que se rebela contra Deus e que tenta influenciar os homens no mundo para o mal, continuará existindo, em alguma instância ao menos, mas os homens no mundo poderão usar portais diferentes para focá-lo, seja para repreendê-lo, seja para evocá-lo. Deus e o plano espiritual são imutáveis, o homem no mundo e seus portais não.

Esta é a 12ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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