quarta-feira, fevereiro 09, 2022

Definidos no tempo (10/90)

      “O temor do Senhor aumenta os dias, mas os perversos terão os anos da vida abreviados.” 
Provérbios 10.27

      Quantas vezes Deus mandou você fazer algo e você não fez? Não me refiro a coisas do cotidiano, as orientações diárias que o Espírito Santo nos dá para agirmos certo, para não sucumbirmos aos apetites desenfreados da carne, ao adultério, à pornografia virtual, para não retermos rancor, ódio, inveja, para não sermos gananciosos nos negócios, para não cobiçarmos aquilo que não é nosso, e mesmo que seja, para não usarmos isso do jeito errado, não é a isso que me refiro. Também não me refiro a diretrizes maiores, sobre casamento, vida profissional, mudança de casa, de cidade, sobre ministérios na igreja, para servirmos pelo evangelho e para o evangelho sem esperarmos retorno financeiro, para colocarmos essas obrigações como premissas por as considerarmos mais espirituais que as outras, ao menos na teoria, porque na prática dificilmente não pomos dinheiro antes do resto.
      Muitas vezes Deus nos mandou parar e naquele momento, nas prioridades que eram importantes para nós, na pessoa que éramos naquele momento, nós não obedecemos, não paramos, porque achamos que aquilo não era ordem de Deus. Consideramos como voz de nosso medo, de nossa covardia, que fossem até vozes de espíritos do mal tentando impedir que fôssemos vitoriosos, que conquistássemos algo que o Senhor estava querendo nos dar. Sim, meus queridos, podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Isso pode acontecer mesmo quando buscamos a Deus de todo o coração para saber sua vontade para nossas vidas, mas sem termos a mesma intensidade de intenção para fazermos essa vontade, querendo saber, mas não querendo fazer. Sendo Deus sempre verdadeiro ele não nos engana, se perguntamos, ele responde, ainda que não queiramos acatar sua resposta. 
      Mas essas desobediências só enxergamos com o tempo, quando projetos que achamos que eram adequados e aprovados pelo Senhor não permanecem de pé em nossas vidas, quando entendemos o que de fato é melhor para nós, e não só para um momento. Obviamente isso está intrinsecamente ligado a auto-conhecimento em Deus, quem se conhece sabe o que pode ter, quando e para quê, só com tempo nos conhecemos, Deus simplesmente aguarda. Com o tempo podemos entender que aquela resposta que demorou para vir, não foi por falta de fé nossa, mas foi um não de Deus que não aceitávamos, que a resposta que achamos que tivemos não era de Deus, mas de nossa teimosia. Por isso até obtivemos algo, mas que nunca funcionou direito, nos trouxe inconvenientes, fez mais mal que bem. Sinceramente, você já teve experiência assim? Todos tivemos.
      Por que essa questão é levantada numa reflexão sobre quem seremos na eternidade? Porque somos aquilo que retemos por mais tempo em nossa essência, é isso que nos define e é isso que apresentaremos a Deus no “juízo”. Interessante que na eternidade o tempo não existe, não como experimentamos no mundo, aqui percebemos o tempo pelo envelhecimento de nosso corpo e pelos movimentos e estações da Terra interagindo com o universo material. Na eternidade não teremos os limites da matéria, mas ainda assim, para alguns, poderão haver limites de espaço e tempo, limites relacionados com suas qualidades morais, com as essências espirituais que construíram no corpo físico, no mundo e no tempo material. Quem sofre fica paralisado num lugar, sente o tempo pesar, enquanto fora de si vê o tempo passar e os outros livres para irem e virem, isso é um tipo de inferno. 
      Eis a chave do mistério da eternidade: administrar bem o tempo no mundo, e isso não significa fazer mais coisas em menos tempo, mas fazer a coisa certa, ainda que leve todo o tempo do mundo. A pressa tenta mudar uma vida que muitas vezes não pode ser mudada, só deve ser aceita, mas na aceitação de certas coisas exteriores como imutáveis, somos nós que mudamos e por dentro. Mas nunca generalize, certas coisas podem e devem ser mudadas, com trabalho e fé. Contudo, precisamos avaliar nossas vidas com lucidez, o que fizemos, o que ficou de pé e onde tudo isso nos levou, fora de nós e dentro de nós, não nos esquecendo que só levaremos à eternidade aquilo que retemos dentro de nós. Não adianta negarmos nossa essência, teimarmos em dizer para nós mesmos que somos isso, conquistamos aquilo, quando não é verdade, quem olha para dentro de si sabe sua verdade.
      Por isso o evangelho diz, “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.12-13). Só estará em nossa essência como parte de nossa identidade espiritual, aquilo que for retido no mundo, por isso cada instante no plano físico é importante, uma oportunidade de crescimento, tolos os que desejam a morte antes do tempo. Só retemos, só seguramos, transformando velhas essências em novas, perseverando, teimando em fazermos o bem, em sermos melhores, em entendermos, aceitarmos e praticarmos a vontade de Deus para nossas vidas, não as nossas vontades ou as dos homens. Como é nosso homem interior? É vitorioso como nossa aparência externa, ou contém um espírito oprimido, entristecido, desprezado, não pelos outros, nem por Deus, mas por nós mesmos? Atenhamo-nos mais a ele, é ele quem nos define. 
      Na eternidade receberemos conforme nossas obras no mundo, mas não porque elas comprem direitos, mas porque elas nos transformam, assim, não basta fé em alguma crença religiosa, mesmo em Cristo como salvador, é preciso que mostremos obras como frutos de seres arrependidos e mudados. Por isso não nos adianta de nada ganharmos no mundo, mesmo honra de homens. Na eternidade seremos iluminados pela glória de Deus e pela luz de seres superiores, os “anjos”, se houver luz em nós seremos atraídos para o amor do Altíssimo, senão nós mesmos nos afastaremos, de um amor que na verdade já negamos em nossas vidas encarnadas no mundo. Luz atrai luz, trevas se escondem nas trevas, céu vai ao céu, inferno continua no inferno. O que construímos no mundo material dentro de nós é o que definirá quem seremos na eternidade espiritual, sem maiores surpresas, simples assim. 

Esta é a 10ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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