“Depois que Davi terminou de falar com Saul,
Jônatas se tornou muito amigo de Davi; e Jônatas o amou como a si próprio. Daquele
dia em diante, Saul o manteve consigo e não permitiu que voltasse para a casa
de seu pai. Então Jônatas fez um acordo com Davi, porque o amava como a si
mesmo. Jônatas tirou a capa que vestia e a deu a Davi, como também sua
armadura, e até mesmo sua espada, seu arco e seu cinto. Davi ia aonde quer que
Saul o enviasse, e era sempre bem-sucedido; por isso Saul o colocou no comando
das tropas, e isso pareceu bem a todo o povo e até aos servos de Saul.” I
Samuel 18.1-5
A amizade entre
Davi e Jônatas já foi citada por muitos pregadores, uma amizade pura e sem
limites, vivida entre dois homens que deveriam ser inimigos, já que Jônatas era
filho de Saul, o primeiro rei de Israel, cujo reinado foi tirado por Deus, por
desobedecer a Deus, e dado a Davi. Saul nunca aceitou isso e perseguiu Davi, que sempre por temor a Deus não o matou mesmo quando teve oportunidade. Na passagem acima temos uma definição muito
clara e profunda do que vem a ser amizade quando diz que Jônatas se desfez da
capa, da armadura, da espada, do arco e do cinto e deu tudo para Davi.
O ser humano
dificilmente se mostra como é, não para a maioria. Ele sempre está numa atitude
de defesa, para quê? Para se proteger de sua própria fragilidade que facilmente
faz com que seja ferido. Não é ferida física não, são as mazelas emocionais.
Facilmente nos sentimos diminuídos, desprezados, rejeitados, e isso todos nós,
mesmo que muitos jurem de pés juntos que isso não ocorra.
O que é ser amigo? É
abaixar as armas, se desproteger, se despir das vestimentas de guerra que usamos
no dia a dia. Foi isso o que Jônatas fez com Davi. Por quê? Porque ele confiava
nele, a ponto de se mostrar por inteiro, sem proteções, sem resguardas, ele
sabia que Davi o amaria como ele era e que de forma alguma se aproveitaria de
sua fragilidade para magoá-lo.
Na verdade só se
consegue ter uma amizade verdadeira, se o coração se despir de proteções, de máscaras,
da fortaleza. A amizade verdadeira existe na fraqueza, na cumplicidade, na confidência
de segredos íntimos. Lembro que essa amizade deve existir principalmente entre
marido e mulher. Sem essa disposição não é possível casamento, não é possível
amizade, não é possível amor.
Abaixe as armas,
deixe cair ao chão a espada, jogue fora a lança, retire o capacete, a armadura,
e não estou me referindo às armas espirituais, essas devem ser mantidas sempre,
mas digo em relação às emocionais, as afetivas. Não foi isso que Jesus fez?
Quase nu (ou nu de verdade), exposto no alto de uma cruz? Enfrentando a
zombaria e o escárnio de todos? E principalmente o abandono da grande maioria
que jurou por ele amor e fidelidade, que disseram que eram seus amigos?
Não existe amor sem dor,
a dor de se expor,
a dor de se mostrar o coração,
como ele é, sem qualquer proteção.
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