domingo, abril 14, 2019

O cristão e a igreja (Estudo na Íntegra)

      Não pare de frequentar igrejas cristãs, procure, ache uma que você se sinta bem e fique. Contudo, vai algumas conclusões que cheguei sobre o assunto. Como sempre, esteja à vontade para comentar, opinar e discordar, para um diálogo honesto e educado sempre estou disponível. Este estudo é dividido em onze partes, as primeiras dez partes estão postadas entre os dias 4 e 13 de abril, no dia 14 de abril o material na íntegra está postado mais a 11ª parte.

1. Somos templos do Espírito Santo 
2. Igreja, conceito do novo testamento 
3. Igreja local é corpo de Cristo
4. Deus usa todos os salvos
5. Igreja e pastor são para todos
6. Demo-nos o direito
7. Seguimos a Jesus, antes de tudo
8. Igreja para a família
9. Amor, único jeito de ser igreja
10. Trabalhar em igreja pode virar vício?
11. Igreja grande, de fato é importante?

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1. Somos templos do Espírito Santo

      “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” I Coríntios 3.16-17

     “Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” Mateus 18.19-20

      Eis ensinos que estão nos evangelhos e nas cartas, que estão na Bíblia, nós somos a morada de Deus, e a Igreja, com letra maiúscula, é o conjunto de todas as moradas, de todos os salvos em Cristo, homens salvos de todos lugares e tempos. O que chamamos de igrejas, com letra minúscula, são os templos de instituições humanas, as denominações, espaços físicos e limitados onde um grupo de pessoas se reúne. Nem podemos dizer que todos esses reunidos em templos cristãos são salvos, que fazem parte da grande e maior Igreja universal de Jesus, os selados com o Espírito Santo, aliás essa é a marca dos verdadeiros membros da Igreja de Cristo, o Espírito Santo. Assim, um templo físico é santo se quem está nele é santo, fora isso é apenas uma construção material, um auditório com cadeiras, palco, púlpito e outros equipamentos e ambientes. Isso valoriza o indivíduo acima do coletivo, isso é uma visão avançada do evangelho em relação à velha aliança, onde ser da nação física de Israel já dava acesso a ser povo de Deus. 
      Infelizmente isso é algo que pastores hereges e dominadores, com a finalidade de usar a igreja e tirar vantagem das ovelhas, achando-se donos delas, têm negado na prática. Massas sem identidade individual, niveladas por baixo, são mais fácies de serem controladas, mas Jesus não nos trata como nos tratam as religiões, como manadas, olha-nos como indivíduos, respeitando cada detalhe de nossas identidades e de nossas escolhas. Ele respeita porque ele nos fez assim, especiais, e nisso é manifestada a multiforme sabedoria de Deus, em nossas especificidades. Somente o Espírito Santo, autorizado a agir com liberdade em templos limpos (nossos corpos), pode entender, usar, valorizar e glorificar a individualidade de cada homem e de cada mulher salvos em Cristo. Dessa forma, cada um dos novos nascidos em Cristo são templos do Espírito Santo, cada família de cristãos já é uma pequena igreja, se Deus está no meio dela, como está no meio de qualquer grupo, mesmo pequeno, que se reúne em seu nome. Tenhamos pois cuidado com o valor que damos a templos de instituições religiosas de homens e muito mais cuidado ainda com as nossas vidas, os verdadeiros templos de Deus.

2. Igreja, conceito do novo testamento

      “Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo Seu corpo, que é a igrejaColossences 1.24

      Temos que entender de uma vez por todas que os conceitos templo do antigo testamento e igreja cristã são diferentes. O templo israelita era um lugar único e especial, em toda a nação de Israel só havia um, sua principal função era permitir ao povo de Deus obter remissão de pecados e fazer adoração. Nele havia um altar para sacrifícios, já que o perdão era obtido pelo sacrifício constante de animais. Usar o termo altar para templos cristãos atuais não é a rigor bíblico, não existe em igrejas cristãs um local especial onde se deva oferecer sacrifícios ou executar qualquer espécie de ritual. A consagração do cristão, a busca e recebimento de perdão, assim como a adoração a Deus e toda comunhão entre homem e o Senhor, são atividades que podem ser feitas em qualquer lugar, com o mesmo efeito se feitas nos templos cristãos. O altar de Deus por e para Jesus hoje, são os nossos corações.
      Na prática é isso, obviamente existe uma subjetividade que carrega um local onde, via de regra, é separado só para atividades de comunhão com Deus, de singularidade, e Deus respeita isso. Nessa singularidade espera-se que um templo cristão, administrado com consagração, seja um espaço guardado de demônios, um território espiritual santo, o que com certeza pode facilitar nossa comunhão com o altíssimo. Mas isso está diretamente relacionado com a qualidade de vida das pessoas que frequentam os templos, não com algum poder especial colocado por Deus nas cadeiras, no palco (que é o que muitos chamam atualmente de “altar”), no púlpito, nas paredes, chão, teto etc. 

      “E depois disto partiu Paulo de Atenas, e chegou a Corinto. E, achando um certo judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que havia pouco tinha vindo da Itália, e Priscila, sua mulher (pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma), ajuntou-se com eles, E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas.Atos 18.1-3 

      “Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar.I Coríntios 16.1-2


      Outro aspecto de ver igreja como princípio do novo testamento é entender que muitos que usam textos do antigo testamento para defender a entrega obrigatória de dízimos estão cometendo heresia, o ensino está na Bíblia, mas era ordenança para a manutenção do templo de Israel e da tribo sacerdotal de Levi. O templo usado hoje para a reunião de igreja local dos salvos precisa de recursos financeiros comuns ao funcionamento de qualquer grupo social, como clubes, agremiações etc, para pagar energia elétrica, água, faxina, e demais serviços de manutenção. Além disso, como testemunhado nas cartas de Paulo, pôde-se fazer coletas para ajudar necessitados, mas basicamente é só isso. A exceção são trabalhos de evangelismo e a gratificação do tempo usado por pastores e outros servos na obra, caso esses não possam trabalhar secularmente para manter a si e às suas famílias por usarem o tempo realmente na obra de Deus.

3. Igreja local é corpo de Cristo

      “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros, mas um corpo.” I Coríntios 12.17-20

      “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; A universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel.” Hebreus 12.22-24


      Paulo ensina e exorta, principalmente no capítulo 12 de sua 1ª carta à igreja em Corinto, que uma igreja local é um corpo espiritual de Cristo, um grupo de homens e mulheres que sincronizados pelo Espírito Santo permitem a um organismo único funcionar adequadamente, tendo em Jesus, o cabeça, como líder. Será que isso é utopia, em muitas igrejas atuais? Quando estamos numa igreja local pelos motivos certos e de fato espirituais, contribuímos de forma ordeira e coesa para que um corpo de Cristo funcione com eficiência. Infelizmente, pela vaidade de muitos, pelo medo de outros, pelo comodismo de tantos, existem atualmente corpos que não funcionam no seu melhor como igrejas, há muitas bocas e nenhum ouvido, muitas mãos e nenhum pé, muita pele e nenhum olho, assemelham-se mais a monstros “Frankensteins” que a corpos raalmente harmoniosos. 
      A igreja não é uma casa de espetáculos religiosos, onde alguns fazem o show e muitos assistem, da igreja se participa, a igreja se é, nós somos as igrejas locais. Precisam funcionar como corpos completos, ainda que corpos diferentes uns dos outros, como igrejas de denominações distintas e formadas por pessoas de gostos, poder aquisitivo, intelectualidade diferentes etc. Ainda que se use muito o termo, e algumas vezes de forma legítima, não somos um exército sem identidade (isso aliás é outro conceito veo-testamentário), somos seres humanos unidos de forma espiritual pelo Espírito Santo, a fim de fazer a vontade específica de Deus para um determinado corpo, uma determinada igreja local. Se uma igreja é verdadeira, e não só um ajuntamento de religiosos, ela tem uma missão exclusiva, que pastor e ovelhas precisam entender, assumir e cumprir. 
      A tempo, uma igreja não precisa ser igual a outra, com humildade todos os corpos podem ser úteis nas mãos de Deus. Contudo, mesmo bem intencionados, muitos pastores que tentam fazer seus ministérios iguais a outros ministérios, bem sucedidos em serem grandes e reconhecidos, erram o alvo (pecam). Ser bem sucedido no reino de Deus é obedecer a Deus, indiferente de ser um ministério grande, pequeno, reconhecido ou mais modesto. Deus não visa abençoar em primeiro lugar pastores, mas ovelhas, não são as ovelhas para o pastor, mas o pastor para as ovelhas, o pastor é chamado para abençoar, servir e alimentar ovelhas. Assim quando o Espírito Santo constrói um corpo de Cristo, Deus está criando meios específicos para alcançar determinadas pessoas, algumas pessoas são alcançadas com ministérios grandes e reconhecidos, outras só com ministérios pequenos e discretos, mas todos têm oportunidades de serem membros de Cristo, úteis e honrados. 

4. Deus usa todos os salvos

      “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, 

      Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” 

Efésios 4.12-16


      Deus ama a todos, Deus salva a todos, Deus dá do seu Espírito a todos, Deus honra a todos. Sim, existem chamadas e chamadas, e o Senhor é poderoso o suficiente para preparar alguém para uma obra não só através da salvação em Cristo e do derramar de dons espirituais sobre esse alguém, Deus nos prepara durante toda a nossa vida, desde o nosso nascimento. Não concordo com o ditado evangélico que diz que Deus não chama os preparados, mas prepara os chamados, penso sim que Deus chama os preparados intelectualmente, emocionalmente e depois os prepara espiritualmente. Deus faz essa chamada inteligente e coerente com todos, ainda que preparando cada um de maneira distinta e específica, nunca considerando uma melhor que a outra, pois Deus não tem preferidos, mas especiais e todos somos especiais, todos!
      Por isso Deus usou para estabelecer as bases doutrinárias da igreja cristã e fundar muitos “corpos de Cristo” pelo mundo a Paulo, preparado intelectualmente, profundo conhecedor da religião judáica e cidadão romano (Atos 22.27-28), e não a Pedro, mesmo que a Pedro fosse dada a honra de inaugurar a descida permanente do Espírito Santo sobre os salvos e de fazer parte da liderança da importante igreja cristã de seu tempo em Jerusalém. Eu posso dar muitos outros exemplos, tanto no novo quanto no antigo testamento, como Davi, que aparentemente era pequeno e desprezado entre seus irmãos, mas era talentoso (músico e poeta), estrategista militar e um grande líder político. Não nos enganemos, Deus usa a todos que ele quer, mas os que se preparam poderão ter um ministério mais abrangente, mesmo que precisem, como Moisés, que teve os melhores estudos em todas as áreas na nobreza egípcia, passar um longo tempo cuidando de ovelhas no deserto para aprender a ser manso, humilde e totalmente dependente de Deus.

5. Igreja e pastor são para todos

      “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.Hebreus 13.17

      Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.Mateus 9.12-13

      Tenho sido repetidamente duro com pastores aqui no blog, Deus sabe porque, mas com certeza não é com todos, assim como tenho convicção de que essa postura não é minha, pessoal, mas do Espírito Santo. Contudo, é justo lembrarmos dos bons pastores, e nas igrejas cristãs atuais existem muitos, esses lutam diante de Deus para receber e tratar com amor e sabedoria as ovelhas que não são deles, mas de Jesus. Assim, é importante entender em misericórdia que as igrejas não são perfeitas não necessariamente por terem pecado escondido. Entenda como pecado escondido aquele que é conhecido e mesmo assim permanece sem assunção e busca de perdão por muito tempo, já que pecado ainda não resolvido em Deus todos nós temos, muitos até inconscientes. Todavia, as igrejas são imperfeitas porque precisam abrigar seres humanos diferentes, em estágios espirituais distintos, com culturas diferentes, com gostos diversos, as igrejas são hospitais e hospital é para doente, não para sãos. 
      Como fica o pastor no meio de tudo isso? Precisa dar espaço para todos, oportunidades para todos, honra para todos, porque assim como eu e você, os outros também querem ser lembrados, cuidados, amados. Então, quando um irmãozinho cheio de vontade e de atitude, mas com pouco conhecimento bíblico, vai ao púlpito e prega uma palavra que não é exatamente aquela que gostaríamos de ouvir, precisamos entender que aprender a vontade de Deus na igreja não é só ser ensinado diretamente por uma boa palavra. Aprender a amar as pessoas com todas as suas idiossincrasias também é aprender a fazer a vontade de Deus, entendendo que se Deus está no comando, foi da vontade dele, por algum motivo que talvez não saibamos e nem precisamos saber, que alguém não tão preparado desse uma palavra à igreja. No mínimo aprendemos com uma experiência assim a sermos mais humildes e pacientes, são essas exatamente as virtudes que muitos pastores têm e que nós, muitas vezes de forma egoista e cruel, não vemos. Mas em alguma instância todos nós desagradamos alguém, assim o que queremos para nós, é justo querermos também para os outros, misericórdia e dignidade.

6. Demo-nos o direito

      “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem.I Tessalonicenses 5.19-21

      “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.I João 4.1

      “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” Mateus 7.22-23

      Ainda que a igreja seja reunião de santos (e não só juntamento de religiosos) e pastor um homem separado por Deus para cuidar com justiça de seus filhos (filhos de Deus), da noiva do cordeiro, nosso líder maior é Deus. Dessa forma precisamos em primeiro lugar saber que temos o direito de avaliar nossas igrejas e mesmo de deixá-las, se o Senhor assim nos orientar, esse é um direito que temos! Não aceitemos as coisas sem avaliar em oração e sob estudo bíblico correto, e com estudo bíblico correto me refiro a entender a Bíblia debaixo de bom senso, oração e contextualização cultural e histórica. Não temamos o homem, por mais importante que seja o pregador ou líder, por mais eloquente ou “ungido” que ele pareça ser, por mais que faça até sinais (como ensina Mateus 7.22-23).
      Contudo, sejamos sábios e ajamos debaixo de ordem de Deus, carne não vence a carne, Espírito, sim. Ao descobrirmos em Deus que um líder está em pecado, às vezes pode ser orientação de Deus sairmos da igreja, ao invés de lutarmos para que o líder seja disciplinado ou que saia da igreja, por quê? Para não escandalizarmos os pequeninos, muitos novos na fé e mesmo “velhos” de igreja mas imaturos e fracos, que poderiam se desviar do evangelho se soubessem de certas coisas. Para nós pode ser só o caso de mudar de grupo, mas para outros pode ser risco de cair da fé. Contudo, de um jeito ou de outro, o cristão maduro e responsável precisa posicionar-se diante de desvio de líderes, seja desvio para a heresia doutrinária, seja para o pecado. 
      Tenhamos em mente, todavia, que se Deus tem paciência com ovelhas, tem muito mais com pastores, e com todos aqueles que têm grupos sob suas lideranças ou que são de alguma maneira formadores de opinião, como pregadores, teólogos, evangelistas, cantores e outros. Se Jesus teve paciência com Judas Iscariotes, quem somos nós para não termos com alguns “queridos” dentro de igrejas? Mas reforçando, precisamos nos dar ao direito de questionar e exigir coerência com aquilo que se prega, ou se vive o que se prega, ou então, que se pare de pregar, para não ser hipócrita. Todos nós, contudo, seremos julgados antes de tudo pelas nossas palavras, do que muito diz, muito será cobrado.

7. Seguimos a Jesus antes de tudo

      “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.” Mateus 7.13-14

      Afinal de contas, a quem seguimos, a homens ou a Jesus? Religião ou Deus? Se for religião o álibi, “toda igreja é assim, composta de homens, se ficarmos brigando não paramos em lugar algum, temos que aceitar certas coisas e ficar quietos, importa servir a Deus, não a homens” vira doutrina que pode desculpar e esconder todo tipo de pecado e heresia dentro de igrejas. Tentar servir a Deus debaixo de líderes em pecado ou em heresia é impossível, é ilógico. Por um tempo, esperando em Deus, isso pode até ser orientação do Espírito Santo, mas não ad aeternum, senão vira Catolicismo Romano, onde séculos de erros, desvios, pecados, heresias, são aceitos por milhões que até têm consciência disso, mas usam o álibi “toda igreja é assim...” para não se manifestarem e continuarem fiéis. Fiéis a Deus? Não a homens, uma fidelidade sem sentido que Deus não exige de ninguém e que muito têm por acharem que isso de alguma maneira lhes acumula algum crédito para pagar pecados, que representa alguma espécie de resiliência agradável a Deus.
      Atualmente temos mais senso crítico, temos mais liberdade, temos séculos de conhecimento histórico que nos dão mais informações e forças para conhecermos de fato a religião, a denominação, a igreja, o ministério, que fazemos parte, isso nos permite avaliar a eficiência de um caminho para nos ajudar a seguir a Jesus. Eu pessoalmente resolvi seguir a Jesus, e é isso que compartilho com minha esposa, filhas e amigos de fato próximos, eu tenho pago o preço de muitas vezes seguir num caminho solitário, mas ainda assim oro pela igreja que frequento e sempre defenderei a necessidade de se ser cristão numa igreja e não só. Se num determinado momento de nossas caminhadas cristãs não decidirmos com clareza a quem queremos seguir poderemos nos desviar de vez, cheios de amargura sem definitivamente ter entendido de fato a beleza, a verdade e o poder do nome de Jesus. 
      Nestes últimos tempos, com o diabo mudando de estratégia, onde ele não tem mais como prioridade tirar as pessoas das igrejas cristãs, mas desviar igrejas e líderes para que as pessoas continuem em igrejas com a sensação de que estão no caminho certo, enquanto se desviam coletivamente, o caminho estreito pode estar num caminho solitário com Cristo. Solitário não significa não fazer parte de igreja, mas não depender tanto dela, conseguir enchergar um Deus acima de igreja, maior que religião, e sempre melhor que homens, mesmo líderes cristãos. Quando descobrimos isso entendemos que igreja não tem tanta importância, mas aí ao invés de as deixarmos começamos a fazer parte delas com equilíbrio, tentando mais ser bênção que ser abençoado, buscando dar antes que receber, servindo mais que ser servido. Talvez, nestes últimos tempos, caminho estreito seja fazer parte de igrejas cristãs e ainda assim não se desviar, não na carne ou no mundo, mas nas heresias e hipocrisia religiosas.

8. Igreja para a família

      “E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa. E lhe pregavam a palavra do Senhor, e a todos os que estavam em sua casa. E, tomando-os ele consigo naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e todos os seusE, levando-os à sua casa, lhes pós a mesa; e, na sua crença em Deus, alegrou-se com toda a sua casa.” Atos 16.30-34

      (Veja no texto inicial quantas vezes “família” e o termos “casa” e “seus” são citados). Tendo o entendimento que igrejas cristãs são o humanamente possível de Deus na Terra, mas que ainda assim, com todos os limites, sempre serão locais onde haverá a probabilidade maior de sentirmos a presença do Espírito Santo, da salvação em Cristo ser pregada e de podermos adorar ao Deus altíssimo com liberdade, no mínimo achamos nos templos a boa companhia social de semelhantes, pelo menos adequada aos nossos padrões religiosos e morais. Assim, para quem não quer seguir sozinho com Jesus, algo possível, porém triste, administrar as sociedades igrejeiras é interessante, e útil, principalmente se vivemos em família. Para quem quer construir uma família, a igreja é ambiente para achar pares, para quem tem família, a igreja oferece informação cristã para sexos e faixas etárias diversas. 
      Mesmo que você se ache “escolado” em Bíblia, que não precise de um pastor e de uma igreja para ter vida espiritual vitoriosa, experiência de adoração e oração constante, mesmo assim seu cônjuge, que pode não ter a vivência que você tem com Deus, e principalmente seus filhos, mais novos e ainda em formação como indivíduos, necessitam, assim a carência de uma igreja é uma necessidade social e familiar, talvez até mais que puramente espiritual e doutrinária. Não existe nada de errado nisso, somos seres sociais, precisamos conviver com os que têm coisas em comum conosco, compartilhar a vida, nos ajudarmos. Talvez se as igrejas assumissem de vez isso, poderiam desempenhar um papel em amor melhor, mais necessário para tantos que caminham sozinhos e mal entendidos, que simplesmente serem pregadoras de leis morais que proíbem isso e permitem aquilo. 
      Aquele ministério itinerante de Jesus encarnado, andando de cidade em cidade, com muitos discípulos mais os doze apóstolos, foi a primeira igreja cristã de fato, e chego a crer que foi a única realmente. Não tinha templo para protegê-lo com confortos, mas era um corpo que respeitava todos os seus membros, mesmo a Judas Iscariotes. Infelizmente, como é difícil nos encaixarmos em muitas igrejas atuais, que se tornaram só grupos sociais, fechados, que aceitam só com muita dificuldade novos membros, mais clubes que igrejas. Seja como for, pense não em você, mas na família, que não sejamos tão orgulhosos e encrenqueiros a ponto de impedir que esposa e filhos recebam um conhecimento bíblico e evangélico importante e crucial para uma vida vitoriosa neste mundo e perto de Deus na eternidade. 

9. Amor, único jeito de ser igreja

      “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.I Coríntios 13.9-13

      O texto inicial fala sobre manifestações de dons espirituais, o contexto é a exortação de Paulo aos coríntios sobre buscar os melhores dons, o apóstolo defende a prática de amor como algo mais excelente que dons que não serão necessários na eternidade, assim como a fé e a esperança, visto que lá não precisaremos esperar nem crer, já estaremos na presença viva e plena de Deus. Contudo, me permita usá-lo para outro fim, enfatizando mais o objeto da metáfora que a metáfora em si, o objeto é a diferença que existe entre o menino e o homem, as necessidades e intenções diferentes de um e de outro. 
      Como cristãos precisamos crescer, mesmo que Deus nos use sempre, tanto como meninos tanto como homens, com certeza o homem será útil nas mãos de Deus para ensinar valores mais profundos e eternos. A principal diferença do homem é que ele entende de maneira madura o que é o amor, e esse dom é a manifestação mais pura do evangelho, do Espírito Santo, de Jesus. Muitos fazem sinais, mas não conhecem de fato o amor, outros entendem de teologia em seus detalhes bíblicos, mas não sabem amar, outros ainda trabalham esforçadamente na obra de Deus, e ainda assim não conseguem andar no amor de Deus. 
      O que isso tem a ver com o tema “O cristão e a igreja”? Simples, só em amor conseguimos viver em igreja e com a igreja. Infelizmente, muitas vezes, só entendemos isso depois de bater muito a cabeça, podemos fazer todos os sacrifícios possíveis, mesmo dentro do escopo das virtudes espirituais, assim como achar todas as desculpas teológicas, ou ainda jogar a culpa em tudo e todos, só para não amarmos, e com isso podemos nos afastar das igrejas, deixando de ser abençoados e de abençoar, inventando sempre desculpas para negar a essência do cristianismo, o amor. 
      É inacreditável os sacrifícios, mesmo virtuosos, que muitos fazem simplesmente para não amar, contudo, amar deixa a vida leve, não nos sentimos sacrificando algo, mas compartilhando com graça e em paz. Só ama quem se permite ser amado por Deus e por si mesmo, só podemos dar o que temos em abundância, amor verdadeiro não pode ser encenado ou inventado, ele é genuíno, sincero, fácil e ilimitado. Deus é amor e quem vive nele poderá amar em verdade e a todos, não conseguiremos viver em igreja se não experimentarmos de fato o amor. 

10. Trabalhar em igreja pode virar vício?

      “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus CristoFilipenses 1.6

      Temos que ter sensibilidade do Espírito Santo para entender a vontade de Deus para nossas vidas, nisso o Senhor pode usar de muitas coisas para nos abençoar, nos fazer crescer espiritualmente, incluindo o convívio com comunidades cristãs em igrejas e denominações. Não limitemos Deus de forma alguma, ele tem o mundo, as empresas, os sistemas, as instituições, famílias, grupos e indivíduos em suas mãos, e tudo isso pode ser ferramenta do Espírito Santo para nos fazer vencer o pecado, nossas fraquezas, e assim amadurecermos. 
      Eu preciso ser pessoal, tenho visto que o que pra mim era importante há cinco, dez, vinte anos atrás, hoje já não é, o que eu achava que era importante para fazer na obra de Deus, crescer e ser notado como espiritual, hoje já não é mais. Sim, eu já não sou mais jovem, já não tenho a energia que tinha antes, e aquilo que era para eu fazer, agora outros podem fazer, já estão prontos, preciso aprender a fazer coisas novas. Melhores? Talvez, mas para fazer isso preciso vencer questões que antes eu nem achava importante vencer, enfim, se antes Deus me olhava com binóculos, hoje me olha com microscópio. Por outro lado, eu não tenho mais me satisfeito com menos que o melhor. 
      Isso não tem me afastado das igrejas de homens, mas me aproximado, contudo, não mais pra eu desempenhar um ministério e ser honrado, não mais para ser vaso da sala, que todos veem. Tenho sentido a necessidade de aparecer menos, de realmente ser mais espiritual e de confiar de fato só no que Deus quer e pensa de mim. Dessa forma, o que espero de uma igreja hoje, é diferente do que eu esperava antes, e trabalhando na música e na palavra sempre estive em posição de muita visibilidade. Mas hoje, estar feliz numa participação discreta e talvez despercebida para muitos, me parece um desafio espiritual maior que ser reconhecido e visto fazendo o que até então era o meu melhor. 
      Muitos, talentosos e cheios de dons, acabam fazendo das virtudes, vícios, sim, isso pode acontecer e para entendermos melhor isso é preciso que entendamos melhor o que é um vício. Costumamos achar que vício é fazer demais algo ruim, mas isso não está correto, todo excesso é vício, mesmo de coisas aparentemente boas. Se transforma-se em vício, mesmo trabalhar na igreja, o Espírito Santo se retira, o viciado acha na carne, no ego, em si mesmo, o início, o meio e o fim de algo, ele não serve mais a Deus em Deus e por Deus, mas só a si mesmo e pelas suas próprias forças.
      Podemos servir a Deus em igrejas por anos, mas se isso vira vicio, e esse processo muitos experimentam, Deus tira a mão do nosso ministério e a prioridade do Senhor para nossas vidas passa a ser não mais nos usar, mas nos libertar do vício. Assim não estranhe se um dia Deus disser, “pare de fazer e aquiete-se”, você poderá estar experimentando o início de uma nova fase em sua vida que te dará uma nova e maior experiência espiritual com Deus, mas isso se você for humilde o suficiente para deixar o palco, o “altar” e ser somente um feliz e satisfeito membro de igreja. 

11. Igreja grande de fato é importante?

      “Saudai a Priscila e a Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus, os quais pela minha vida expuseram as suas cabeças; o que não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios. Saudai também a igreja que está em sua casa.” Romanos 16.3-5a

      Deus é soberano, e aos olhos humanos faz o impossível, assim quem somos nós para criticarmos a vontade de Deus para uma igreja local? Se Deus tem para um pastor a chamada para construir e manter um grande ministério, em termos de número de membros de uma igreja local, que o líder obedeça, em santidade e humildade, o Deus que manda também capacita e faz. Contudo, eu faço uma pergunta, para muitos pastores que querem ter grandes ministérios, principalmente esses que reúnem numa única igreja local, centenas, milhares de membros: vocês têm certeza que seus desejos são realmente vontade do Senhor, que Deus de fato mandou que vocês trabalhassem, construíssem grandes templos, porque o Senhor lhes daria congregações com muitas ovelhas, através de ministérios diferenciados aos olhos humanos, maiores que os ministérios da maioria dos pastores? Têm certeza mesmo?
      O ser humano tem a tendência natural de valorizar quantidade mais que qualidade, o ser humano também é vaidoso, e vaidade é vício que se estabelece em relação a outras pessoas, é um vício social, assim muitos pastores querem igrejas grandes para serem mais importantes diante de outros pastores. Essa vaidade existe mesmo que muitos pastores, ungidos até, não assumam, ou pior, justamente porque por terem unção acharem que merecem ministérios grandes, mas isso é um grande equívoco, principalmente nos tempos em que vivemos nesta segunda década do século XXI. Mesmo muitos grandes ministérios já estabelecidos há algum tempo, conquistaram grandes rebanhos a troco de heresia, principalmente com a teologia da prosperidade, visões triunfalistas neste mundo, idolatria da cultura da velha aliança, como o templo de Salomão e dízimos, além da pregação que vitimiza o crente e chama de inimigo o outro.
      Eu só vejo vantagens em igrejas pequenas, de no máximo cem, cento e cinquenta membros, que se aumentasse deveria se dividir em duas, depois em três é assim por diante, num novo templo e com um novo pastor. Isso é melhor para evangelismo à medida que cria novas igrejas em lugares estratégicos, assim como aproxima os membros que numa igreja menor têm uma comunhão mais próxima e com mais pessoas. Uma igreja pequena pode de fato ser corpo de Cristo com mais eficiência. Isso não descarta denominações, ao contrário, igrejas locais pequenas unidas podem realocar, à medida do possível, pelo menos em uma cidade, mão de obra mais específica. Assim, se existem dois ministros de louvor numa igreja, um pode ser realocado para outra igreja da mesma denominação que tem falta de um ministro.
      Denominações com igrejas pequenas mas reunidas debaixo de uma mesma visão, de um mesmo chamado, de um mesmo pastor fundador, que recebeu de Deus a visão do ministério, e não igrejas locais gigantes que mais afastam que reúnem, eis uma visão equilibrada de igreja. Precisamos pensar nisso ao invés de gastarmos tempo e dinheiro em construir grandes templos que nunca se enchem, cujos ministérios não chegam a lugar algum. Eu vou além, para mim o ideal são grupos de no máximo vinte pessoas que se reúnem nos lares, com cultos mensais em auditórios alugados com grupos pertencentes a um mesmo ministério, sem que se tenha ao menos templos próprios. Que se gaste ajudando irmãos necessitados financeiramente principalmente nestes tempos de falta de emprego e tantas necessidades, será que não será essa a visão da verdadeira igreja de Cristo do final dos tempos, mais parecida com a igreja primitiva do primeiro século dos apóstolos?

Estudo na íntegra 
José Osório de Souza 

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