sábado, agosto 15, 2020

Cristianismo cobrado (íntegra)

1. Cobrança é necessária?

       “O espírito do homem é a lâmpada do Senhor, que esquadrinha todo o interior até o mais íntimo do ventre.
  Provérbios 20.27

     Vivemos um momento, que já começou há algum tempo, onde “é proibido proibir” (como diz a canção de Caetano Veloso ainda dos anos 1960), nem podemos dizer com certeza que isso é o desejo da maioria das pessoas, eu penso que nem é, mas é o que a mídia e outras organizações, que querem se colocar no papel de sacerdotes, ocupando o lugar das religiões, principalmente do cristianismo, pregam. Várias questões podem ser levantadas sobre isso, como por exemplo, quem é mais cobrado, as crianças ou os adultos? Ou então, cobrança é necessária? Quando dizemos cobrança, aqui nos referimos principalmente à cobrança moral, a exigir das pessoas uma referência de certo e errado, a dar liberdade para se fazer as coisas. Todos podem fazer tudo? Algumas coisas? Quem o que estabelece limites? A mídia, as organizações internacionais, as religiões, o cristianismo, Deus? Deus é um ou muda de pessoa para pessoa?
      Civilidade implica em se viver o melhor possível em sociedade, se cada um de nós vivesse só em uma ilha não precisaria de regras, de leis, de limites, mas isso se estivesse desprovido de todo tipo de referência moral interior, e acima de tudo, de espiritualidade, de Deus. Ainda sozinho, um ser humano criado pelo meio social se sente cobrado e cobra, de si mesmo. Uma criança é considerada inocente moral porque não teve seu corpo e sua psique ainda no desenvolvimento físico máximo, o que ela faz não é considerado errado pelo simples fato dela ser criança. Assim, mesmo que dediquemos mais tempo para ensiná-la, principalmente nas áreas social e moral, não pesa sobre ela castigos legais mais sérios, ao mesmo tempo que se for uma criança “normal” (dentro do que se é possível ser normal e do que signifique isso), ela não fará coisas sérias demais para ser julgada pelas leis dos adultos, ela é inocente. 
      Um adulto é mais cobrado? Sobre isso também há dois lados, é mais cobrado e desobediências criminais podem ter sérias consequências, mas se ele for “normal” (e estamos de novo usando esse termo tão relativo e impossível de ter um significado absoluto) terá mais condições, mais informações, mais preparo para viver em harmonia com um grupo de pessoas sem que caia na disciplina da cobrança. Mas esbarramos nesta reflexão em alguns conceitos complicados de serem definidos, como “deus”, normal e liberdade, quanto mais ligados a conceitos amplos os termos são, mais difíceis são de serem definidos, talvez porque eles não devam ser definidos, só aceitos (ou cridos). O “deus” de cada um, cada um deve respeitar, mesmo que não seja o mesmo “deus”, e cristãos, aceitem isso com humildade, existem muitos “deuses” e mesmo o mais alto deles respeita-os no tempo e no espaço, assim não sejamos mais reais que o rei. 
      A liberdade de cada um, cada um deve permitir, desde que não agrida a sua liberdade, e para isso muitas vezes pode bastar não estar no lugar que pessoas que querem liberdades diferentes da nossa estejam, ou limitar essa liberdade a um meio onde só estejam pessoas com uma liberdade em comum, isso é civilizado. Obviamente crianças, inocentes, seres ainda não amadurecidos e com independência de escolha, devem ser protegidos das liberdades estranhas enquanto são ensinados na liberdade de quem os cria, que também precisa respeitar a liberdade da criança que um dia será um ser maduro e independente. Agora, normal, quem é normal? Ninguém, mas ser normal também se encaixa no conceito de liberdade, aliás ser livre é ter direito de ser pessoal, sem compromisso com normalidade estabelecida, mas aí somos limitados pela vida em grupo e pelo direito de outros também viverem suas normalidades.
      Contudo, preciso compartilhar um entendimento pessoal que tenho sobre cobrança, baseado em minha vida com Deus através de Jesus e pelo Espírito Santo. Ainda que um homem fosse criado sozinho em uma ilha, sem interferência do meio social, seja físico ou psicológico, ele teria dentro de si um espírito, que caminha com ele de eternidade à eternidade, de antes de seu nascimento (de sua encarnação) até depois de sua morte física, o “juízo”. Esse espírito procura por Deus, deseja o altíssimo, precisa de referências de luz e trevas, de bem e mal, de certo e errado, esses conceitos levam o homem a querer se amar, amar os outros e amar a Deus. Assim chegamos a um nível superior da cobrança, que não é humana, passageira, relativa, social, material, mas espiritual, divina, eterna, absoluta. Como eu disse no início desse parágrafo, esse é um entendimento pessoal, esteja à vontade para concordar ou não.
      Sobre o texto inicial, há algo no homem que testemunha a eternidade, a espiritualidade, o divino, isso o tempo todo, é o espírito humano. Podemos negá-lo, afirmar que cientificamente não se pode provar sua existência? Talvez, mas não podemos deixar de afirmar que existe uma parte no ser humanão, que vai além de corpo, de carne, de sangue, músculos, ossos, nervos, membros, órgãos e cérebro, que não podemos saber exatamente o que é, mas que existe. É o que faz valer a afirmação filosófica “penso, logo existo”, é o que nos diferencia dos animais irracionais, é nossa identidade, é o que se expressa artisticamente, mas é o que também produz e interage com os “religares”, as ligações com o espiritual. Essa parte do ser humano é um pedaço da eternidade em nós, do pai de todos os espíritos, é essa parte que nos empurra para uma espiritualidade mais alta e que nos cobra, não com dor ou estupidez, mas delicada e mansamente, como um sussurro, baixo, mas firme e claro, como sempre é a genuína voz de Deus. 

2. O cristianismo é uma religião de cobrança?

       “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.
  João  3.17-21

      As religiões de maneira geral contemplam uma necessidade latente de evolução espiritual, mas muitas, principalmente orientais, não estipulam prazos, não curtos, nem condenação, não eterna, elas falam em meditação, mais que em conversão, em renascimento, mais que em morte, em reencarnação, mais que em inferno, em eras de milhares de anos, não em uma única vida, uma única chance, um único caminho, uma única verdade. O cristianismo se diferencia de muitas religiões por informar a cura e o curador, e não focar o doente ou a doença, em Deus, seu filho e seu Espírito, não no homem, por essas urgências, o cristianismo é uma religião de cobrança imediata.
      Me chama a atenção no texto inicial a frase “quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus”, assim a verdade precede a luz, está dentro do homem, antes mesmo dele escolher oficialmente Jesus como seu salvador. Isso não é o homem sendo bom sem o evangelho, mas é Deus presente nos homens de bem, antes do cristianismo fazer parte de suas vidas sociais, antes até de seus nascimentos neste plano físico. O caminho do justo é para frente e para cima, ainda que se inicie nas trevas e no pecado, existe dentro dele algo que ele não entende bem, no início, mas que o atrai para a luz, existe a verdade de Deu dentro dele, já existe Jesus, o pleno redentor. 
      Quem olha superficialmente pode achar isso, que o cristianismo é uma religião de cobrança, de condenação, de inferno, mas isso só existe para quem não tem a verdade e ama as trevas, os condenados temem aquilo que pode revelar seu pecado (e existe muitos condenados dentro de religiões, mesmo nas cristãs). Os redimidos, todavia, querem ser iluminados, esclarecidos, têm fome e sede disso, não estão satisfeitos com suas condições originais nas trevas, eles não temem a verdade porque a amam, eles querem a luz, e a luz mais alta e santa. Esses não temem inferno ou condenação, esses não se sentem cobrados, mas curados, para esses o cristianismo é uma religião de vida, não de morte, de leveza espiritual, não de peso. Esses escolhem sem saber que foram escolhidos antes, por Deus, e não se sentem melhores por isso, privilegiados, mas são humildes de coração.
      Não vou levantar nesta reflexão os temas (polêmicos) sobre predestinação ou escolhidos, mas resumindo, quem pode ver os homens sob esses pontos de vista é Deus, atemporal e que conhece todos os tempos dos seres criados. Deus sabe quem se salva e quem se perde antes de alguém existir neste mundo, assim como conhece a verdade nos corações. Deus sabe se alguém, ainda que pareça perdido num determinado momento, julgado e condenado pelo mundo (e pelas igrejas), tem dentro de si a verdade que deseja profundamente ir para luz. Deus também sabe se alguém, que parece civilizado e religioso e que diante dos homens do mundo (e das igrejas) tem uma boa reputação, carrega no coração uma mentira, teme a luz, e sempre buscará em alguma instância as “trevas” para se esconder da verdade.
      Contudo, o melhor do cristianismo, na verdade sua única função, é Jesus, mais nada, um caminho reto e direto para o Deus altíssimo, para a vida eterna, para o melhor da eternidade com Deus, sem inferno, sem condenação, sem complicação. Mas infelizmente, quantos templos suntuosos, altares sofisticados, auditórios e palcos sofisticados, foram e são construídos, não para falar sobre Jesus, mas para entronizar homens, é isso que está sendo cobrado do cristianismo atual, sua volta à simplicidade suficiente de Jesus como único salvador e do Espírito Santo como única voz oficial do Deus altíssimo neste mundo. Cobrança, contudo, só existe para os que têm dívidas, religiões não pagam dívidas espirituais, só Cristo paga.

3. O cristianismo está pronto?

      “Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: Eis que o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito; Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.” 
Mateus 24.21-24

      As igrejas cristãs, pelo menos grande parte delas, que há tanto tempo cobram o mundo, que condenam ao inferno eterno, que arrogantemente se acham melhores, mais preparadas, mais espirituais, não perceberam que quem mais cobra, mais é cobrado, porque não se coloca como réu, mas como juiz. Só Deus pode ser juiz porque só ele não precisa ser cobrado, ele nunca erra, e nem pode ser cobrado por permanecer indiferente diante dos que erraram, ele tomou a iniciativa e enviou seu filho Jesus para salvar os que se tornaram cobráveis. A arrogância sempre precede a ruína, assim como nunca se satisfaz, dessa forma os que fizeram de igrejas e denominações impérios, quiseram expandir isso para o mundo. 
      Quem fala se compromete, assim teria sido melhor para muitos cristãos, principalmente evangélicos pentecostais, terem ficado calados, ao invés de terem se colocado em lugares elevados no mundo para apontar o dedo. Muitos cristãos acabaram caindo na armadilha que eles mesmos armaram para os outros, foram enganados pelo mundo, e por isso estão sendo cobrados. Não, não foi o mundo dos prazeres carnais, dos vícios físicos, mas o das vaidades, acharam que podiam e tinham o direito de mandar no mundo através de seu cristianismo, quiseram implantar o reino de Deus na Terra, no chão físico, não nos corações dos simples e iluminados, como é o plano do verdadeiro evangelho. Achando-se forte, o cristianismo não percebeu que mais se enfraquecia.
      Do cristianismo atual, Deus está cobrando maturidade, mas será que está achando? Um tempo foi determinado, antes do início dos tempos, para que o cristianismo neste mundo amadurecesse e então, em sua melhor condição, conhecesse o final dos tempos, o relógio da humanidade não é o mundo, mas os cristãos. Esse tempo está chegando, mas será que o cristianismo tem agido de forma madura, está enfrentando as últimas tentações e maiores estratégias do mal de um jeito maduro? Será que a maioria dos evangélicos e protestantes brasileiros está madura o suficiente para enfrentar o fim? Ou ainda insiste num cristianismo desviado dentro dos templos, como tanto temos falado aqui?
      As crianças o pai protege, mesmo quando agem tolamente, afinal ainda são crianças, mas os adultos têm que saber andar sozinhos, com os ensinos do pai na mente e no coração, sem, todavia, a mão próxima do pai puxando para o melhor caminho. A criança pode até agir por vista, vê seu pai próximo, sente sua mão, mas o adulto deve agir por fé, só com o ensino dentro de si, isso não é o pai abandonando, mas dando aos filhos o direito de amadurecer. O momento que a humanidade está vivendo, neste início de século XXI, é momento de agir com maturidade, não mais como criança, ele urge, cobra, pois o tempo está acabando. Adulto será tratado como adulto, não mais como criança.
      Não vou me alongar mais nessa reflexão, só faço uma pergunta, se muitos cristãos são enganados ainda por políticos nacionais, tão menores em vários aspectos, como poderão não cair no engodo de um grande líder mundial que se levantará, não como o salvador de um país, mas do planeta, um líder que não terá aparência externa do mal, nem será mal preparado, antes será inteligente, educado, tolerante? Cristãos, um “anti-Cristo” não será parecido com o corrupto líder brasileiro da esquerda, e nem com o atual e estúpido líder da direita, será muito melhor que eles, em vários aspectos. Ele agradará a todos, esquerda, direita, centro, haverá de se ter muito discernimento para identificá-lo e muita coragem em Deus para enfrentá-lo.

4. Uma chance para mostrar prontidão?

      “Então disse eu: Ah! Senhor Deus, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada, e não tereis fome; antes vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o Senhor: Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam. Portanto assim diz o Senhor acerca dos profetas que profetizam no meu nome, sem que eu os tenha mandado, e que dizem: Nem espada, nem fome haverá nesta terra: À espada e à fome, serão consumidos esses profetas. E o povo a quem eles profetizam será lançado nas ruas de Jerusalém, por causa da fome e da espada; e não haverá quem os sepultem, tanto a eles, como as suas mulheres, e os seus filhos e as suas filhas; porque derramarei sobre eles a sua maldade.” 
Jeremias 14.13-16

      Salta aos olhos a parte do texto acima que diz “não haverá quem os sepultem”, como isso lembra os tempos atuais da pandemia, mas todo o texto nos remete aos dias de hoje, que foram antecedidos por uma igreja que “profetizava” (grande parte dela, não toda, não generalizando) vitória, principalmente com a chegada de um líder político que dizia protegê-la. O texto é duro, os falsos profetas que profetizaram que não haveria guerra nem forme, sofrerão em suas carnes esse mal, guerra, nem de nação contra nação, mas interna, civil, de lado contra lado, e fome, por causa da crise econômica que se agrava pela doença.

      O pior e maior legado que o Corona vírus vai deixar no mundo, e especialmente no Brasil, é a pobreza, ainda que a nossa economia volte a crescer em 2021 vai demorar para o mercado se fortalecer a ponto de poder digerir todos os desempregados, todos os empresários falidos, todos os trabalhadores informais que já estavam sobrevivendo mal mesmo antes da pandemia. Que papel os cristãos fazem nesse cenário? Em primeiro lugar se de fato creem no evangelho que pregam e que amam ouvir nos púlpitos, os cristãos não devem ter sido pegos tão assim de surpresa por essa doença. Mas ainda que estejam surpreendidos, como todos estão e devem estar, se vivem o que falam e ouvem, devem ter de alguma maneira algo que lhes dê alguma segurança para passar por essa situação, principalmente econômica que a Covid 19 lançou a todos, com dignidade. 
      Não ouviram tantas vezes nas pregações que Deus protege os seus, que aqueles que são fiéis aos cultos, nos dízimos, na adoração, são protegidos pelo Senhor das piores coisas? Não de tudo, mas ao menos das piores? Se isso não está acontecendo algo esteve e está errado, ou creram em palavras falsas, obedecendo a orientações equivocadas, ou não seguiram as palavras certas, diziam que obedeciam mas não obedeciam as orientações de Deus para seu povo. Uma coisa eu tenho certeza absoluta, Deus não mente, não volta atrás e sempre cumpre o que promete, se alguém está errado, é o homem, ou por crer em coisas erradas, ou por não obedecer as coisas certas. O cristianismo está sendo cobrado, tudo o que foi prometido nos púlpitos agora está sendo posto à prova com a pandemia, tudo o que tantos disseram crer agora está sendo verificado, assim perguntas se fazem: existem frutos decentes do que foi plantado? Ou, a semente certa foi plantada? 
      Em segundo lugar, para aqueles que de fato buscaram ao Deu verdadeiro e de um jeito ou de outro estão sendo preservados, guardados, nesta terrível crise de saúde e econômica mundial, é tempo de, mais do que nunca, ajudar o próximo, e não é em oração não, nem convidando pra culto, é dando comida, roupa, ajuda financeira, primeiro aos da fé e depois aos outros. Que quando a ciência autorizar, obedecendo as regras de distanciamento da medicina verdadeira, que os templos sejam usados para abrigar os que nem tem onde morar, ou no mínimo para tomarem um banho e receberem uma refeição, ou para serem lugares para vacinação e exames médicos, com boa vontade muito pode ser feito com as estruturas organizadas que as igrejas normalmente têm. Mas eu penso, ah, se muitas igrejas tivessem mesmo vivido o verdadeiro evangelho durante a época das “vacas gordas”, quando se reclamava que estava ruim, mas não se sabia que podia ficar muito pior...
      Se pastores tivessem gastado menos com ostentação de templos, com casas, carros e luxos pessoais de vaidades, e obedecido à voz do Espírito Santo, hoje poderiam prestar um socorro diferenciado na sociedade, na verdade não teriam que fazer hoje nada diferente do que já estariam fazendo. Mas muitas igrejas, muitos pastores, muitos cristãos, foram pegos de surpresa. Onde estavam os profetas, aquele que exigiam dízimos para que o povo fosse abençoado, onde eles estavam que não prepararam a igreja para essa situação? Quem anda na luz não é pego de surpresa, mas pode ajudar os que estão nas trevas, contudo, um cristianismo que não se preparou e que está sendo cobrado nega até a doença, quando tantos apoiam um governante que vai contra a ciência, o bom senso, a realidade mundial. Cristãos brasileiros, se o mundo está sendo cobrado, muito mais os cristãos brasileiros, pois além de nossa situação ser pior não temos uma liderança decente, isso é mão de Deus pesando, assumamos isso!

5. E enquanto isso, no mundo?

      Enquanto o cristianismo é cobrado e não tem como pagar, porque fez dívidas que Deus não mandou que fizesse, um mundo sem Jesus se fortalece, principalmente porque não tem mais no cristianismo um opositor forte. O amor do evangelho é superado pela tolerância religiosa, a libertação do evangelho é superada pela igualdade racial, a prosperidade do evangelho é superada pela justiça social, o céu do evangelho é superado pela consciência ecológica, enfim, valores espirituais são superados por valores do plano físico. As trevas não são más porque fazem maldades, não necessariamente, mas porque fazem qualquer coisa sem o Deus altíssimo.
      Cristãos, não se iludam com templos grandes e cheios, com música alta e de qualidade, com “congressos”, com falar em línguas estranhas, com cair ao chão em êxtases, com pregadores que encantam multidões e fazem subir lágrimas aos olhos, não se iludam mesmo com sinais e milagres. Não é grande a glória da igreja romana, da basílica de São Pedro no Vaticano, da catedral de Notre-Dame em Paris? Não se vestem de mantos caros e de ouro seus sacerdotes? Infelizmente é isso que muitos invejaram, ainda que de forma velada, ou não é? Quando constróem novos templos de Salomão, luxuosos auditórios, ao invés de ajudarem os que precisam, de pregarem a salvação simples e poderosa do evangelho?
      O reino das trevas se fortalece da maneira mais fácil e menos trabalhosa, não vencendo o reino da luz, isso é impossível, mas desligando a luz neste mundo, à medida que anula os templos da luz, que são as vidas cristãs, leva-as ao desvio. Assim o cristianismo deixa de focar em Deus, foca no mundo e perde uma batalha que não pode ganhar, já que o mundo não é para ser, não a partir da nova aliança em Cristo, o reino de Deus. As trevas não lutam mais contra a luz, mas a favor de valores que deveriam ser frutos de um cristianismo verdadeiro, que busca valores espirituais mas que se vivido corretamente pode abençoar também este plano.
      O conceito “diabo” mudou no “pós-pós-pós...” modernismo, não é mais o inimigo do cristianismo, principalmente do católico, aliás, o catolicismo mudou, muito mais de esquerda que de direita, entenda-se como for direita e esquerda. As trevas estão tendo sucesso em sua melhor e derradeira estratégia, desligando o diabo do pecado da carne e do mal moral, e o relacionando à liberdade humana, à saúde e ao bem do planeta. Para combater isso o cristianismo precisará voltar às suas origens, ao seu melhor e verdadeiro objetivo, mas por enquanto, em sua maioria, não é isso que ele tem feito, insistindo num tradicionalismo recheado de heresias que querem os valores do antigo testamento no mundo. 
      O cristianismo dorme, mas as trevas estão bem acordadas, pelo menos o cristianismo oficial e com certeza as trevas mais “altas”. Mas me vem um questionamento, qual é o cristianismo que importa, o oficial de igrejas e denominações, ou aquele secreto vivido pelos amigos de Deus? Esse ultimo não dorme, nunca dormiu, porque experimenta o Espírito Santo que está sempre vivo, novo e ativo. Talvez a palavra seja não para o cristianismo oficializado, mas para os verdadeiros profetas, que se guardaram e não se contaminaram com os falsos deuses adorados em tantos templos, estejam mais vigilantes, em santidade, na verdadeira unção, e acordem os que dormem dentro de igrejas evangélicas, o tempo urge.

      “E mostrarei prodígios no céu, e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar.” Joel 2.30-32

6. Como estar preparado na cobrança?

      Seguindo a simplicidade do evangelho original de Cristo, é assim que nos preparamos para uma cobrança:
  • Viva hoje como se fosse seu último dia no mundo, como se o arrebatamento fosse a qualquer momento.
  • Não aceite menos que o melhor de Deus, ainda que o melhor de Deus seja o pior diante dos homens, se respeite.
  • Não se importe com o que os homens pensam de você, mas testemunhe a eles que você se importa com Deus.
  • Não durma na fé o tempo todo, descanse nela, mas acorde para praticar boas obras, fé sem obras é hipocrisia.
  • Igreja não é palco de clube, palanque político, esconderijo para fuga, nem banco para favores financeiros.
  • Não se sinta obrigado a dar dinheiro em igreja, use-o para ajudar os que precisam, que pode até ser um pastor. 
  • Seja espiritual mas pense na realidade material, use bem seu tempo, seu trabalho, seu dinheiro, seu corpo.
  • Não se ponha o sol sobre a tua ira, sobre o teu pecado, sobre a tua dor, sobre o perdão que deve aos outros. 
  • Não seja religioso, seja amigo de Deus, quem descobre o Senhor na solidão tem a unção de Deus sempre.
  • Ame, aprenda a amar, persista em amar, queira amar, sem esperar retorno, mesmo que ninguém saiba, ame!

7. Os escolhidos estão prontos?

      Citei o texto de Mateus 24.21-24 no início desta reflexão, ele é repetido agora para que um termo seja salientado, “escolhidos”. Para encerrarmos esta reflexão algo precisa ser dito, os “escolhidos” independem de igrejas enganadas, de pastores hereges, de um cristianismo oficial despreparado para a cobrança final, eles estão preparados, e acredite, não são poucos não. Mas quem são eles? Eles são os que amam a Deus acima de tudo, e que de um jeito ou de outro servem ao Senhor, seja em sistemas religiosos cristãos imperfeitos ou mesmo fora deles.
      Muitos escolhidos permanecem parte de igrejas durante toda a vida, a maioria deles não ganham status nesses meios, ainda que trabalhem muito, simplesmente porque não se vendem, por vaidades ou aprovação de homens. Contudo, existem outros, que não conseguem viver dentro dos sistemas, até tentam por um tempo, mas a hipocrisia e a ganância de homens que usam o evangelho para adquirir prestígio e bens, os deixam desconfortáveis. Mas isso não é relevante, não para Deus, importa é o compromisso do coração com o Senhor, o amor puro e fiel que adora a Deus seja onde e como for.
      Se você sente de servir ao Senhor em uma igreja, em santidade e humildade, se consegue vivenciar esse estado de excelência e sente que Deus se agrada dele, se essa é a vontade de Deus para sua vida, continue assim, independente da qualidade da igreja, como muitos dizem, olhe para Deus não para os homens, nenhum sistema neste mundo é perfeito, incluindo igrejas cristãs. Mas não julgue os que por algum motivo estão fora desse sistema, Deus é o Senhor e ele sabe o que faz com seus servos, que são servos dele, não de homens, não meus ou teus. 
      Em verdade muitos serão surpreendidos no arrebatamento e no juízo final, ao verem tantos que não achavam serem dignos de estarem na melhor eternidade com Deus estarem, assim como outros que tinham certeza que estariam não estarem. Não se enganem também os que leem os reiterados confrontos que o “Como o ar que respiro” faz da realidade de muitas igrejas cristãs com o projeto de vida cristã que o verdadeiro evangelho propôs, criticamos o homem, não Deus. Deus sempre cumpre seu propósito, os de fato iluminados pelo altíssimo fazem seu papel, estão prontos.

José Osório de Souza, 31/05/2020

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