sábado, março 21, 2020

“O fim do mandamento”

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida.I Timóteo 1.5

      Em meio a tantas heresias que o apóstolo-teólogo já enfrentava em sua época, que vinham principalmente dos judeus convertidos, que até queriam o evangelho, mas também queriam a lei mosáica ou outros ensinos baseados em textos judeus de livros considerados hoje apócrifos, Paulo resume a melhor religião numa simples frase. Novamente a sabedoria mais profunda é dita em poucas palavras, onde três virtudes são colocadas: amor de coração puro, boa consciência e fé não fingida. Em primeiro lugar aquele que de fato segue ao Deus verdadeiro mostra em sua vida amor, mas não qualquer amor, amor de um coração puro (para os que gostam, hoje o “Como o ar...” vai de estudo bíblico).
      Se tem uma virtude que é vulgarizada hoje em dia é o amor, que é usado tanto pelo extremismo religioso de se sacrificar pelas pessoas, praticando caridade a custo de se negar como indivíduo, como pelo outro extremo, a liberalidade sexual, que pode tudo e com qualquer um para achar prazer. Da espiritualidade pelas forças humanas à carnalidade sem culpa para o prazer humano, muita coisa é chamada hoje em dia como amor. Mas Paulo diz amor de um coração puro, um coração puro não faz algo com segundas intenções, seja para alcançar algum nível de espiritualidade ou provar satisfação  carnal, só um coração de fato puro pode amar o amor de Deus, e só por Jesus temos um coração puro.

      Em segundo lugar o que anda com Jesus e conhece a Deus tem uma boa consciência, boa consciência não é ignorar o remorso, fazer qualquer coisa se sentir culpado por nada, estar em paz ainda que sem regras, sem leis. Existem, sim, regras na vida, morais, e leis, espirituais, mas não as dos homens das religiões, escritas em papel. Quem nos revela as leis universais atemporais e de fato espirituais é o Espírito Santo, se só ele mostra, só ele pode dar forças para praticar. Somente obedecendo as leis de Deus é que podemos ter uma boa consciência, e a primeira delas, a mais importante, base para tudo o mais é, “porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna“ (João 3.16). 
      Naturalmente somos pecadores, todos nós, isso nos separa de Deus, só Jesus pode nos unir a Deus, através do seu perdão exclusivo. Boa consciência é um conceito que pode ser difícil de definir (já foi dito que toda definição é uma prisão), porque é subjetivo, porque o que acusa um pode não acusar o outro, o que é incoerência pra um, não é para o outro, assim se formos defini-la humanamente torna-se relativa e ilimitada. Só tendo o Deus verdadeiro como referência absoluta para saber o que é uma boa consciência e consequentemente vive-la, os ensinos do Espírito Santo nunca aprisionam, mas libertam.
      Tenhamos, contudo, cuidado como diz Jeremias 17.9-10, “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso, quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações”. Boa consciência se reflete em paz, mas muitas vezes podemos nos sentir aflitos ainda que nossas vidas estejam em ordem com Deus, nesse caso nos falta fé. Confiar só nas emoções pode ser perigoso, por outro lado a mente pode estar em paz e nossa consciência aparentemente boa, ainda que estejamos fazendo algo muito errado, nesse caso estamos pondo fé no lugar errado. Isso te deixou confuso? 
      Pois é, viver não é fácil, por isso acha paz de uma consciência de fato boa quem busca a Deus com todo seu ser, nos sentimentos, nos pensamentos e no espírito, no espírito a experiência é pela fé, e fé na palavra de Deus que nos ensina o Espírito Santo. Por fé acessamos as promessas de vitória de Deus, a verdade, mas isso depois (e não antes) deixa nossa consciência boa, nossa mente em paz, nosso coração feliz. Pise na rocha que é Cristo e você poderá até sentir os fortes ventos da emoção e da razão tentando te desestabilizar, mas eles não te derrubarão, e se perseverar, depois terá paz e uma boa consciência, limpa de todo engano. Creia para sentir, mas se sentir a Deus, creia sem titubear. 

      Por último fé não fingida, eis outra virtude que muitos não entendem, principalmente hoje em dia. Mas por que as pessoas fingem ter fé, ou usam de uma falsa fé em suas crenças? Fé hoje em dia dá status religioso, e não importa no que ou em quem seja, o que importa é ter fé. As pessoas alcançam  seus objetivos com essa fé na fé, com essa fé genérica? Claro que alcançam. Mas Deus, o Deus verdadeiro está nessa história? Muitas vezes, se as pessoas agem, apesar de tudo, com alguma sinceridade, e sinceridade pode conferir fé não fingida, eu disse pode, mas não basta, não basta ser sincero para que Deus ouça e aja. 
      A verdadeira fé, como tantas vezes já dissemos aqui, é dom de Deus (Efésios 2.8), e é humilde, não quer bens materiais, prosperidade no plano físico, nem glória humana. A verdadeira fé quer experiência espiritual genuína, virtudes espirituais, e acima de tudo, glorificação de Deus, não do homem, de demônios, ou da própria fé. Fé não fingida é autêntica mesmo quando é pequena, aliás, a verdadeira fé não tem vergonha de admitir que é pouca, que não pode mover os montes, mas apresenta o homem com sinceridade diante do altíssimo e aceita qualquer coisa, mesmo a menor, a mais simples, desde que venha de fato de Deus. A verdadeira fé quer de fato a Deus, mais nada, ela resiste ao tempo e às vaidades.
      O filho pródigo quando quis retornar ao lar, sujeitando-se mesmo a ser tratado como menor pelo pai, entendendo que o menor com o pai é melhor  que o maior longe do pai, esse filho tinha fé não fingida. “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros” (Lucas 15.18-19). Muitos, todavia, agem não como o filho mais moço, que pecou mas aprendeu a lição da humildade, muitos agem como o filho mais velho, que nunca saiu de casa e que por isso achava que tinha mais direitos. Esse tinha uma fé fingida, porque tinha segundas intenções, porque achava que possuía mais créditos por causa de seus méritos humanos. 

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