08/10/25

Que cristianismo te representa?(3/5)

      “Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?Salmos 139.1-7

      Muitos, só por dizermos que o cristianismo não nos representa, são levados a concluir que discordamos do cristianismo tradicional porque tivemos, temos ou queremos seguir tendo, vidas em pecado. Extremistas sempre chamam opositores de extremistas (do outro lado), achando-se do lado do bem, de Deus, põem os que discordam deles como do lado do mal, do diabo. Em primeiro lugar todos nós, que vivemos e não nos acovardamos, erramos, quem não admite isso, ou mente ou não viveu. Em segundo lugar a base do evangelho é perdão por Cristo, assim a ninguém podemos julgar, muito menos porque não sabemos se alguém que errou no passado já se consertou com Deus e segue hoje numa vida agradável ao Senhor. 
      Esses dois motivos já são suficientes aos humildes, que se conhecem e de fato conhecem a Deus, para serem misericordiosos e pacientes com todos. (Refleti sobre o tema “O cristianismo que me representa” nos link1 e link2). Contudo, se dizemos que o cristianismo de muitos não nos representa porque é intolerante, por exemplo, com afro-espíritas e lbgtqia+, a resposta é uma, “vocês estão usando um amor errado de Deus como desculpa para aceitar gente em pecado”. Ainda que muitos estivessem em pecado, e muitos afro-espíritas e lbgtqia+ estão em pecado tanto quanto cristãos, não necessariamente pelo fato de serem afro-espíritas e lbgtqia+, como cristãos deveriam agir diferente, abrindo portas, não fechando. 
      Mas quem tem certeza, que se acha um privilegiado sabedor da verdade de Deus, não se dá ao trabalho de ouvir, só quer falar, não muda de opinião e segue medindo todos com sua imprecisa e suja régua. Para esses, pôr em dúvida suas crenças não é exercício, não só de razoabilidade, mas também de vida com Deus, é pecado, que pode entregar-lhes ao outro lado, ao diabo e a um futuro inferno. Assim extremistas não só pensam de um jeito, mas negam-se a refletir sobre o que os que pensam, pelo menos em algumas coisas, diferente deles, não aceitando que em outras coisas os diferentes podem estar mais certos que eles. Quem só aprende consigo, não ensina os outros, subtrai, ao invés de somar, não ama, só faz alianças convenientes.
      Extremista não quer conhecer a verdade do diferente porque possui uma verdade pessoal frágil, aceitar o diferente pode abalar aquilo sobre o qual se construiu muitas vezes uma vida, uma reputação, uma identidade. Quem é homoafetivo, por exemplo, e projetou no cristianismo tradicional a aprovação equivocada que recebeu de pais, seguirá só, sem coragem para fazer aliança afetiva com outro homoafetivo, ou pior, se casará com um heterossexual para agradar a igreja, enganará a todos e será infeliz. Isso é triste? Mas é mais fácil para muitos que buscar a Deus e entender que o fato de terem a sexualidade que têm, não desagrada a Deus, não leva ao inferno, ainda que desagrade uma igreja. Assim muitos seguem hipócritas. 
      Não acredito que um cristianismo errado, ainda que com apoio de denominações protestantes seculares, pastores carismáticos, teólogos famosos, papa, Vaticano, tem vitória sobre pecado. Muitos podem parecer cristãos, mas não são, principalmente se não forem mais cristãos novos, ainda encantados com os primeiros passos da fé. Não pode haver prática de teoria baseada em mentira, e o cristianismo do mundo baseia-se em muita mentira construída pelo catolicismo. Quem exige demais de si, exige demais dos outros, e falta com amor com todos. Santidade é caminho, não destino, é processo, não conclusão, aperfeiçoa-se à medida que vivida. Para viver é preciso progredir, quem conserva-se parado, morre.

José Osório de Souza, 9/03/2023

07/10/25

Conheça mais a Deus (2/5)

      “E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Lucas 11.9-13

      Conhecer mais a Deus não é ter mais vitória sobre o mundo, não, não é o mundo que nos aprisiona, não o mundo fora dos templos. Conhecer mais a Deus é vencer a vaidade, que mantemos por causa de insegurança, que sentimos porque damos mais valor à glória de homens que à glória de Deus. Mas entenda, não é a glória de homens no mundo, essa vaidade vencemos no início de nossas jornadas, mas é a glória de homens dentro de igrejas. Que católico tem coragem de desagradar o papa ou mesmo seu sacerdote local, para conhecer mais a Deus e viver um conhecimento mais profundo? Que crente tem coragem de discordar do que ouviu anos a fio de seu pastor, da liderança de igreja, para ter experiência mais profunda com Deus?
      É preciso discordar de igreja para concordar com Deus? Sim, mas repito, não é necessariamente preciso parar de frequentar igreja por causa disso. Contudo, quem conhece mais de Deus sentirá necessidade de guardar muita coisa para si, assim, se for coerente, não usará púlpito para convencer gente que não está preparada para saber o que o preparado recebeu de Deus. Quem sabe de fato mais não dividirá igreja por isso, e muitos dividem, não por serem mais espirituais, “renovados”, mas só mais vaidosos e inseguros. Caso não tenhamos a coragem, de seguir sem a aprovação de quem não nos considerará mais espirituais e fiéis, seremos só teóricos, hipócritas e falsos moralistas, que não conseguem praticar o que Deus nos pede. 
      Por quê? Porque quem nos fortalece para obedecer a Deus é Deus, não igreja ou irmãos. Não significa que há muitos que passando a vida dentro de igreja, e mesmo conscientes dos defeitos da igreja, não serão bons cristãos e não mostrarão nas obras que vivem o que creem. Mas o ponto é que isso não é para todos. É para você? Tem certeza? Para saber é fácil, veja se tua fé tem dado frutos bons e permanentes, mas cuidado, se não tem dado, verifique com honestidade se tem feito tua parte. Não adianta buscar o avançado quando não se conseguiu praticar nem o básico. Quem está preparado para saber mais chegou numa excelência de vida, mas sente que deve saber e viver mais, e se não fizer isso será só teórico, hipócrita e falso moralista. 
      Por favor, não me entenda errado, não quero “desviar” ninguém, mas o “Como o ar que respiro” não tem a proposta de compartilhar uma palavra direcionada só ao cristão tradicional protestante, evangélico ou pentecostal. Na verdade a palavra aqui é de desafio e para alguns, e não veja nessa delimitação qualquer espécie de arrogância, não me acho melhor que ninguém, nem chamo pessoas que se acham melhores ou para acharem-se. Ocorre que aos 63 anos (este texto foi escrito em 2023) e com 47 anos de convivência com algumas igrejas, nas quais trabalhei com música, oração e palavra, aprendi algumas coisas de Deus. É isso que tento passar aqui, às vezes de forma mais clara, em meio a reflexões diárias de incentivo a caminhar perseverantemente com Deus. 
      Ore mais. Só conhecemos mais a Deus nos relacionando diretamente mais com ele, e o risco que muitos crentes, principalmente os ativos em igrejas, correm, é substituir diálogo direto com Deus por atividades dentro de templos. Você só vai conseguir praticar o que crê, então, crer mais, saber mais e viver mais, se orar mais. Quando andamos conectados ao Senhor o tempo todo sabemos quando devemos falar com Deus e quando temos que nos calar e ouvir sua voz, e creia, Deus fala mistérios e mostra maravilhas para aqueles que buscam sua intimidade. Mas não esqueça a exortação desta reflexão, não precisamos ser só teóricos, hipócritas e falsos moralistas, não se obedecermos a chamada de Deus para nós e o buscarmos mais. 

José Osório de Souza, 8/03/2023

06/10/25

Teoria e prática: confronte (1/5)

      “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.Tiago 1.22-25

      Teoria e prática, hipocrisia e vida, falso moralismo e verdadeira espiritualidade, coisas que precisamos avaliar no cristianismo que experimentamos. Parece fácil, são termos que se opõem, mas é incrível como confundimos essas coisas na religião. Por algum motivo, onde deveria haver mais clareza, há o oposto, confusão. A raiz da confusão é uma coisa, vaidade, damos mais importância àquilo que aparentamos e para homens, que para aquilo que somos e que Deus conhece. Vamos a culto atrás de culto celebrando Deus e suas virtudes, declarando Jesus como salvador, mas conhecemos nossa verdade quando saímos dos templos para o mundo, trevas podem revelar mais sobre nós que o que chamamos ser luz. 
      Até que ponto o que chamamos de luz é luz? Nem é que exista uma encenação proposital, mas dentro dos templos sentimos um encantamento pela utopia, de fato lá nós cremos que somos diferentes, que as paredes da construção represam um pedaço do céu. Pelo menos para muitos, lá não há vícios, adultério, pecado, tudo é louvor e sagração, estamos santos só pelo fato de estarmos lá. Infelizmente, mesmo a utopia não encanta a todos, existem alguns buscando satisfazer apetites físicos e vaidades mesmo dentro de igrejas, nem todos têm nos templos intenções virtuosas. Então saímos para o mundo, temos que trabalhar, estudar, construir profissões, sobreviver fisicamente, assim teoria encantada é confrontada com o mal. 
      Quem somos de verdade, o que experimentamos nos cultos, nos retiros, nos jejuns, nos ensaios do coral, nas e.b.d.s? Ou o estudante e profissional das faculdades e empresas? Muitos de nós têm muita dificuldade para saber, e quando sabem têm dificuldades para assumir. Isso pode criar um doloroso dilema, o conhecimento de verdades pessoais que podemos não querer admitir, nem aos outros, mas para nós mesmos. Sendo “santos” e amorosos somos tidos como espirituais pelos “irmãos”, conhecendo a Bíblia podemos ser aplaudidos nos púlpitos, quando damos palavras agradáveis aos pares. Se não somos ricos ou estudados (ou bonitos), podemos achar na igreja valores na identidade que nos faz sentir especiais. 
      Muitos vão para igrejas para sentirem-se valorizados, como motivo inicial isso é válido, tudo é válido para iniciarmos jornadas com Deus. O que na sociedade era alcoólatra, pela igreja liberta-se do vício, o que era adúltero no mundo, na igreja tem a chance de acertar o casamento, o que era pária, tem aprovação de um grupo e até auxílio para arrumar serviço, num grupo que, pelo menos na teoria, prega que todo pecado é perdoado em Cristo, que passado é esquecido e uma nova existência pode-se iniciar do zero. Também nisso nada há de errado, se não for só teoria. Mas por que com o tempo podemos ver que muita coisa é só teoria, que a vida torna-se hipócrita, que nos tornamos só falsos moralistas, não de fato espirituais no Altíssimo? 
      Diferentemente do que digo muitas vezes, desta vez farei uma apologia às igrejas e religiões cristãs: a culpa não é delas, mas nossa. Igrejas nos levam até onde podem e elas podem o que Deus lhes permite poder. Mesmo com pastores não gananciosos e sinceros do bem, seres humanos, homens e mulheres, que buscam vidas profundas com Deus, igrejas não são construídas no mundo para nos entregar tudo que Deus tem para nós. Quem tem que saber quando parar com igreja e seguir mais com Deus somos nós, e com parar com igreja não me refiro a parar de frequentar igreja. Erramos quando achamos que a voz final de Deus só podemos ouvir em igrejas, de pastores, teólogos, mesmo da interpretação tradicional da Bíblia. 

José Osório de Souza, 8/03/2023

05/10/25

Aprendamos a descansar

      “Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia. Descansa no Senhor, e espera neleSalmos 37.3-7a

      Qual a maior dificuldade que temos para viver bem? Depende do que consideramos viver bem. Todos precisam trabalhar, assim como todos têm que obedecer certas regras sociais para serem civilizados. Contudo, ter muita atividade pode ser para muitos viver bem, não porque precisam de mais dinheiro, mas porque precisam se sentir úteis. Assim, viver bem pode estar ligado a sentir-se útil. Basicamente isso está correto, se nossa utilidade for equilibrada, levando em conta áreas física, emocional e moral do ser humano, assim como se formos úteis para nós sem prejudicar os outros. Contudo, percebo em mim, o que também existe em muitos, certa obsessão por estar em constante atividade, resumindo, não sabemos descansar. 
      Repito: nos dias de hoje muitos precisam trabalhar e muito para terem o mínimo, sintoma das atuais injustiças do mundo. Mas descansar é preciso, não só para recuperar forças físicas, como para manter o emocional sadio. Não é só nosso organismo físico que pede descanso. Nosso espírito, que ouve a voz de Deus ainda que não ouçamos, ainda que nem acreditemos que Deus exista, também nos orienta o descanso. O motivo principal é um: na eternidade não teremos trabalho físico para fazer, não haverá corpos para serem mantidos, assim estar em sintonia com a luz do Altíssimo é o que nos fará úteis. Viver no mundo e na carne é agregar ao espírito valores morais, assim espirituais, esse é nosso propósito principal aqui. 
      Por não conseguirem estar em paz sem estarem fazendo algo, e sem serem vistos por outros enquanto fazem algo, assim querendo receber glória de homens, é que muitos, ainda que tenham conquistando alguns bens e confortos materiais, sofrem de certas maneiras na velhice. Próximos à morte, pernas e braços, olhos, boca e ouvidos, param, mas pior, a mente pode parar, dessa forma coração bate, pulmões respiram, cérebro recebe oxigênio, outros órgãos funcionam, mas a pessoa fica presa a uma cama. Quem não aprendeu a descansar, não administrará bem o momento que nada mais pode fazer, senão esperar, e mais, ficará mais tempo neste mundo para aprender, ainda que em condição debilitada, tirando o descanso dos outros. 
      No momento em que escrevo (2023), aos sessenta e três anos, desempenho a função que melhor conheço e mais gosto de fazer, sou pianista profissional, toco num piano de meia-cauda, repertório de boa música, em ambiente excelente, com remuneração justa, levei a vida para poder fazer aquilo no qual sou mais útil. É trabalho cansativo, todo trabalho é, se não fosse não seria trabalho, sentado direto tocando. Mas o cansaço é mais mental, tocar o estilo jazz song exige criar em tempo real sobre melodia e harmonia performances de músicas sofisticadas, como jazz standard e bossa nova. Quando encerro a semana estou exausto, mas é aí que começa minha prova espiritual atual mais relevante, descansar a cabeça para me restabelecer. 
      Uns podem achar que descansar é fácil, outros sabem que não é. Em primeiro lugar é preciso aceitar limites, que já se está fazendo o que se pode e que deve sentir-se em paz por isso, não cobrado a fazer mais. Muitos querendo fazer o dobro que podem acabam não fazendo nem a metade. O que fazemos quando nada estamos fazendo? Enchemos a cara de cerveja, vinho, uísque, cachaça? Consumimos pornografia? Comemos até passarmos mal? Nos entediamos e nos entupimos de remédios para dormir muito? A resposta é uma: alimente intelecto e espírito. Leia bons livros, veja bons filmes, caminhe e exercite o corpo, mas antes de tudo, ore, aprenda a descansar em Deus, acesse a aprovação de Deus e segure-a firme pela fé. 

Assista vídeos meus ao piano no link
José Osório de Souza, 1/03/2023

04/10/25

Saibamos quem somos

      “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno.Salmos 139.23-24

      “Eu me deitei e dormi; acordei, porque o Senhor me sustentou. Não temerei dez milhares de pessoas que se puseram contra mim e me cercam. Levanta-te, Senhor; salva-me, Deus meu; pois feriste a todos os meus inimigos nos queixos; quebraste os dentes aos ímpios. A salvação vem do Senhor; sobre o teu povo seja a tua bênção.” Salmos 3.5-8 

      Somos duas realidades, a mental e a física. Contudo, ainda que em nossas cabeças passem muitos pensamentos, que nos levem a sentir emoções fortes, nem todo esse mundo mental transforma-se em ações e palavras, em interações com o plano físico e as pessoas. Ainda assim, nosso mundo mental pode ser bem poderoso, dessa forma nos enganar, fazer-nos crer que somos quem não somos. (Isso pode gerar até problemas psiquiátricos, que podem precisar de medicação e acompanhamento médico). Mas devemos parar, nos analizar, deixarmos claro para Deus, para nós e para “demônios” quem queremos ser, e permitirmos que o Espírito de Deus nos pacifique e nos fortaleça para sermos nosso melhor. 
      Ainda que a luta com nossas mentes seja dura, se queremos obedecer a Deus somos seres do bem, muitas vezes vencendo mais que entregando os pontos. Deus sabe disso e isso é o que mais importa, precisamos achar essa verdade e segurá-la. Persistir na luta de nos controlarmos é importante, até o fim, mas orar equalizando-nos com o Espírito Santo é o que nos dá paz, consolo, forças, na certeza que não estamos sozinhos na luta. Acredite, um dia você acordará e verá que tem não só a realidade física santa, mas tem uma mente apaziguada, e muitas lutas Deus não nos dá vitória só por oração, é preciso insistirmos em deixar claro quem queremos ser, para que de fato sejamos. Quem luta, um dia tem vitória! 
      Mundo mental versus mundo real, luta que pode ser especialmente difícil para alguns, para mim, pelo menos, é. Tanto que muitas vezes confundo o que penso e sinto com o que de fato acontece, repetindo isso pode requerer ajuda médica e remédio. Eu tenho achado vitória pela ajuda da ciência séria, sim, confesso, mas minha vitória maior tem sido descansar em Deus em períodos de encontros verdadeiros, profundos e diários com Deus. Tenho achado vitória fazendo o contrário que minha mente pede, calando-me, tenho achado no silêncio as palavras de consolo do Espírito Santo. Penso que algumas coisas não são ruins em si, mas são só habilidades ou sensibilidades, que usando-nos do jeito errado nos fazem mal.
      Quem tem atividade mental excessiva pode se tornar um escritor, ou exercer atividade que exija trabalho intelectual, como programar computadores ou ensinar história, que pede um conhecimento macro da trajetória da humanidade. Já quem naturalmente pensa menos pode exercer trabalhos mais físicos, e não estou fazendo juízo de valor, muitos não pensam muito porque usam de maneira mais direta percepções artísticas, sem cansar demais a cabeça (e por favor, não estou generalizando nada). Mas voltando ao ponto, pensar demais, e podemos fazer isso ainda que não queiramos, pode levar a ver inimigos ou a sentir inimigos reais de maneira potencializada, nesse caso é preciso discernir isso e buscar cura. 
      Tomo um certo cuidado para falar de certas coisas aqui, assim como tenho cuidado para compartilhar muitas lutas pessoais, há muito preconceito por aí, assim como julgamento equivocado, baseado em rancor e inveja, não em amor e lucidez. Mas senti de compartilhar nesta reflexão algo sobre “mundo mental versus mundo real”, há muito mais gente com dificuldades nessa área que as pessoas admitem, e muitos lutam sozinhos e do jeito errado. O jeito certo e ver o ser humano como um todo, parte física e mental que necessita de ajuda científica, parte moral e espiritual que precisa do auxílio divino, e parte social que pede atenção das pessoas. Com equilíbrio e humildade há cura para todos, creio assim. 
      Mais fracos são justamente os mais fortes, mais incompreendidos pelos homens são os cuidados por Deus de forma carinhosa, maiores lutas entregam vitórias mais excelentes. Isso não é teoria, é experiência pessoal. Quem “ouve” ataque maléfico em demasia é porque tem mais sensibilidade espiritual, assim se for rebelde e endurecido colherá muita vergonha, derrota e dor, mais que os outros. Contudo, se lutar do jeito certo, com ajuda da ciência, no que lhe compete, de amigos e de Deus, terá vitória neste mundo e intimidade espiritual de forma diferenciada. Mais fracos são os que têm mais espaço espiritual para serem mais preenchidos pelo Espírito de Deus, desde que não encham tal espaço com outras coisas.

03/10/25

Fantasia ou revelação? (3/3)

      “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo. Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos. Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso” I Coríntios 3.16-21

      O meio cristão tradicional pode ser de tal forma extremista, que quando propomos certas soluções, como sendo de Deus, muitos já dizem que somos hereges, instrumentos do diabo, apoiando pecado e carnalidade. Ainda assim farei uma pergunta: até que ponto igreja tem feito bem a você? Nem estou dizendo que tua religião seja má, pode haver muita gente feliz e bem resolvida em tua igreja. O problema pode não ser a religião, o cristianismo do mundo, mas a forma como nós interagimos com isso, aquilo que buscamos saciar na religião e no cristianismo. O que isso tem a ver com espiritualidade e loucura? Igrejas podem nos levar mais à doença que à cura, enlouquecer-nos, ao invés de realmente nos esclarecer e curar.
      Filhos criados com violências e exigências, sem elogio e com muita crítica, buscarão no que ouvem em igrejas as mesmas obrigações, assim como tentar respondê-las com os mesmos equívocos, obediência a legalismos morais extremados. Crianças orientadas como crianças é menos prejudicial que adultos ensinados como crianças. Por isso o cristianismo, do mundo desde que oficializado como religião pelo catolicismo, e ainda que que tenha sido “simplificado” pelo protestantismo, fez menos mal à humanidade por muitos séculos que faz hoje. Um ser humano atual, mais informado cientificamente e com mais justiça social, precisa ser respeitado como adulto pronto para as verdades espirituais mais profundas e maduras.
      No Brasil, num momento que políticos de direita se levantam como defensores de moralidade, família e sexualidade de acordo com a tradição judaico-cristã, muitos enlouquecem. É difícil ir contra referências extremas e tradicionais, achar um meio termo, achar o amor de Deus, achar a sanidade, quando uma voz que defende aquilo que o cristianismo foi por tanto tempo grita alto. Nessa zona de conforto, que nega o modo de agir de Deus na história da humanidade, Deus que nunca é conservador, mas que funciona evoluindo tudo lentamente por milhões de anos, instalaram-se mais hospícios para doentes mentais que hospitais para enfermos morais. Nisso, espiritualidade é esquecida, a loucura de Deus é trocada pela doidice do homem. 
      Muitos doentes mentais (não todos!) são sensitivos espirituais que não administram corretamente dons espirituais, outro ponto de vista pessoal. Administrar certo não é querer saciar curiosidades espirituais ou crer a todo o custo para ter bens materiais, é melhorar moralmente, buscar santidade, amor e humildade, e buscar isso em Deus, não na obediência cega a leis religiosas. Não se pode adquirir vida buscando forças na morte, e muitas religiões pregam morte da carne, mas não conduzem à vida eterna que existe na viva voz do Espírito Santo. Muitos não querem seres humanos livres pelo Espírito de Deus, gente assim não pode ser mantida em templos, manipulada e explorada. A loucura de muitos interessa mais a pilantras que a malucos reais. 
      Isso leva a algumas conclusões. O que faz uma pessoa lúcida não é o conhecimento, seja intelectual, científico, espiritual ou religioso. Lucidez é fruto de espírito humilde, que pratica pureza moral e amor ilimitado. Quem busca em ciência ou fora dela, com fé ou sem ela, satisfação de desejos egoístas, não conseguirá ser lúcido, será presa fácil da loucura. Se já tiver propensão para algum transtorno, se já tiver sensibilidade espiritual, será mais vítima do mal, aí já não fará diferença se é a mente fantasiando demônios ou se são espíritos malignos atormentando a mente. A cura está em acatar orientação de médico sério, usar medicação correta, e também, em ser humilde, santo e amoroso em Deus e para Deus, não para homens. 

02/10/25

Terapia ou fé? (2/3)

      Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” João 16.12-15

      Orientação a quem quer ajudar enfermos mentais, não tentar substituir uma obsessão por outra, que no ponto de vista do que ajuda, e que muitas vezes não está preparado para isso, não é outra obsessão. Por isso a ciência, ainda que atéia muitas vezes, é mais indicada para ajudar doentes mentais, ela não tentará substituir superstição por superstição, vício por vício, sendo claro, alucinação mental por certas crenças religiosas. Na verdade quem tem problemas mentais deveria “dar um tempo” com suas crenças religiosas até estar tratado mentalmente. Sei que é difícil dizer isso a quem tem fé em Deus como fundamento de vida, não vou negar a fé, nem tirar o direito de crer de alguém, mas às vezes é melhor ouvir antes a ciência.
      Outra orientação é, que assim como temos que ter muito cuidado com os pastores que escolhemos, que muitas vezes usam nossas inseguranças, nossas carências e nossos medos para nos controlar, querendo trocar nossa fé e nosso dinheiro por anulação de remorso e esperança de prosperidade material, temos que tomar também muito cuidado com médicos e psicólogos. Sábio é ouvir mais de uma opinião e levar alguém conosco, pelo menos nas primeiras consultas, para avaliar os diagnósticos e propostas para tratamento. Como saber se a “voz” que se ouve é mental ou é espiritual? Como saber se é boa ou é má? Como saber se é só eco de pensamentos, que deve ser confrontado com referências sadias e não ser obedecido cegamente?
      Além de lares transtornados, que são a base mais séria para muitos problemas afetivos, psicológicos, mentais e sociais, há outros ambientes e grupos sociais, que se não levam pessoas, com baixa autoestima e carentes de aprovação humana, a adoecerem, podem simplesmente substituir aquilo que as pessoas acostumaram-se a chamar de normalidade. Eu creio que todo ser humano que tem uma intenção sincera do bem, por mais que esteja perdido, confuso, doente, sem boas referências de normalidade e sem forças para se libertar do anormal, um dia achará a cura e será curado. Também penso que todos, de alguma maneira, possuem transtornos mentais, ocorre que muitos escondem isso mais e por mais tempo que os outros. 
      Uma experiência pessoal: vozes como efeito de feridas e limites mentais são negativas, depreciativas, destrutivas, e que em última instância, quando somos vencidos por elas, crendo que elas representam a realidade, ou uma realidade que precisa ser respondida, podem nos incentivar à violência, até a nível extremo. Obviamente há muita gente ouvindo voz interior, achando que é voz de Deus, e que não manda que violências objetivas sejam realizadas, mas tais vozes fantasiam coisas agradáveis ao doente, que satisfazem desejos que possui, como casamentos, compra de bens etc. Loucura tem várias faces, lucidez, só uma, fantasia pode até começar boa, mas acaba mal, lucidez é benigna ainda que doa aceitá-la no início.
      O Espírito Santo, na vocação mais alta que somos chamados de acordo com o evangelho de Jesus, sempre nos chama à pacificação, ao amor, à misericórdia, ao perdão. Nunca há na voz do Espírito Santo de Deus incentivo à qualquer espécie de conflito, de vingança, de violência, de destruição, ainda que seja contra seres humanos injustos, egoístas e cruéis, ou espíritos malignos. A revelação do Espírito Santo nunca é para condenar, para humilhar, é sempre palavra de consolo, e ainda que conduza à humildade o faz com serenidade, protegendo o ser humano, não expondo-o à vergonha. Cuidado com palavras que se dizem de Deus, mas não são, a voz do Espírito de Deus é sempre mansa e simples, ainda que poderosa e profunda. 

01/10/25

Louco ou espiritual? (1/3)

      “A alma generosa prosperará e aquele que atende também será atendido.” Provérbios 11.25

      Todos que exercem fé e que estão lúcidos devem ocupar-se no tema que refletirei nesta e nas próximas duas postagens. Tratarei mais profundamente nas postagens (livro) "Doença ou espiritualidade?". Uma linha tênue separa loucura de espiritualidade, já que funcionam no mesmo mecanismo mental, precisamos ter ciência disso.

      O que muitos experimentam, são dons espirituais, percepção de visões e vozes do plano extra-material, ou é só doença mental, transtornos, como esquizofrenia? Assunto delicado, trata da parte mais íntima do ser, seu discernimento da realidade. Ateus precisam ser claros sobre o assunto, se Deus e o plano espiritual não existem, se são só construções da mente humana, dizer que se ouve a voz de Deus ou de espíritos é doença que deve ser tratada. Crentes no plano espiritual, contudo, admitem a comunicação com Deus e espíritos, ainda que muitas vezes de forma extrema, sem crítica. A verdade é que as duas coisas existem e há pessoas que provam ambas, ainda que as confundam em suas mentes. Confusão pode ser pior que ceticismo. 
      O que segue é meu ponto de vista, esteja à vontade para concordar ou não. (Lembro que não sou profissional da área, se você tiver problemas ou conhecer alguém que os tenha, relacionados aos assuntos aqui tratado, procure um médico, psiquiatra, neurologista, psicólogo ou outro especialista). Certas doenças mentais, sejam desde o nascimento, sejam por causa de um nascimento dificultoso, por acidente, por algum descontrole físico ou químico, após sofrimento de algum trauma ou violência, enfim, doenças tiram o ser humano do seu “normal”, assim prejudicam sua interação com a realidade e com a sociedade. O cérebro não é como outro órgão, cujo problema pode ser diagnosticado, pode funcionar mal ainda que fisicamente pareça bem.
      As tais “vozes” que muitas dizem ouvir, na verdade todos ouvem, são dificuldades com medos e anseios, que temos em relação às pessoas. Ocorre que tais “vozes” podem ser prejudiciais quando passamos a acatá-las, a dar-lhes importância, mais que à realidade, assim sofrermos exageradamente pelo que elas dizem. Podemos imaginar muitas coisas, mas não deixar que tais fantasias saiam de nossas mentes e nos comandem é capacidade que os que são encaixados como normais têm. Muitos usam fantasias mentais como ferramentas artísticas, para escrever, compor, desenhar, dançar, resolvendo devaneios mentais como expressões estéticas. Mas mesmo esses devem discernir entre arte e realidade, entre mundo mental e físico. 
      O ser humano, contudo, não é linear, é multi-dimensional, isso porque tem um cérebro diferenciado, o homo sapiens domina o planeta por causa disso, se esse domínio, ainda que use a ciência, é sábio ou não, é outro assunto. Em sua complexidade, percepções que levam a ações objetivas, razão, criatividade artística, transtornos mentais e dons espirituais, se misturam, influenciam-se, interseccionam-se, controlam e são controlados. Cabe àquilo que cada um de nós sente e entende como eu, fazer escolhas, permitir o que pode agir, falar e sentir. Ao mesmo tempo, cabe também ao eu interagir com as outras pessoas, afinal temos que sair da casa de nossos pais para estudar, trabalhar, compartilhar visões do mundo, formar famílias e igrejas. 
      Achar lucidez é ouvir todas as vozes, não negá-las, mas confrontá-las com referências de bem, de paz, de saúde, e fazer a melhor escolha. Muitas vezes teremos que procurar ajuda fora de nós, ouvir o que as pessoas pensam, e pessoas dignas de serem ouvidas, para checarmos o que se passa em nossas mentes. Algo, contudo, que muitos doentes têm dificuldades de achar, é referência, podem ter sido criados ou estarem vivendo em grupos sociais tão doentes, que referência de sanidade também está distorcida. Quem se acha normal, lúcido, deve se preocupar com o bem e a saúde dos outros, e ainda que com muito cuidado e respeito, ajudar os que nem sabem que precisam de ajuda, porque nunca lhes disseram que eram doentes.

30/09/25

Temos saudades de Deus

      “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?Salmos 42.1-2

      Nosso espírito tem saudades de Deus! "Mas como assim? Se somos criados ao nascermos neste mundo, só conheceremos a Deus mais profundamente após a morte, não o conhecemos antes, assim não podemos ter saudades do que não conhecemos, não é?" Esses questionamentos à afirmação inicial refletem o posicionamento da doutrina protestante tradicional, contudo, quem nunca se sentiu um peixe fora d’água, como se não fizesse parte deste mundo, como se tudo aqui fosse um sonho, que um dia despertaremos para a realidade, uma realidade da qual sempre fizemos parte? Nossos espíritos são muito mais antigos, foram criados antes da fundação do mundo, por isso ansiamos voltar ao plano espiritual, onde seremos um com o pai. A vida é espiritual antes de ser material. 

29/09/25

Chove em nós, Espírito

      “Ele dá a chuva sobre a terra, e envia águas sobre os campos.Jó 5.10 

      Seca-se a alma sem Deus, não que Deus deixe de existir, contudo temos que experimentar o Sol, que também é de Deus, mas que nos faz sofrer, assim motivando-nos a trabalhar. A providência divina achou sábio sermos participantes de maneira ativa da bênção de Deus, por isso cabe-nos sentir o Sol, preparar a terra e disponibiliza-la, para que a água do Espírito caia e vivifique a alma. Alegra-se o espírito conectado ao Espírito de Deus, vê luz nas trevas, esperança na morte, alegria num mundo cético e confuso. Chove em nós, Espírito Santo, somos carentes da tua palavra, palavra direta, simples, mas renovadora, palavra da verdade, de mistério revelado, que sacia nossa sede do eterno, que mata nossa saudade do Altíssimo pai. Tenho saudades do futuro.