“Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?” Salmos 139.1-7
Muitos, só por dizermos que o cristianismo não nos representa, são levados a concluir que discordamos do cristianismo tradicional porque tivemos, temos ou queremos seguir tendo, vidas em pecado. Extremistas sempre chamam opositores de extremistas (do outro lado), achando-se do lado do bem, de Deus, põem os que discordam deles como do lado do mal, do diabo. Em primeiro lugar todos nós, que vivemos e não nos acovardamos, erramos, quem não admite isso, ou mente ou não viveu. Em segundo lugar a base do evangelho é perdão por Cristo, assim a ninguém podemos julgar, muito menos porque não sabemos se alguém que errou no passado já se consertou com Deus e segue hoje numa vida agradável ao Senhor.
Esses dois motivos já são suficientes aos humildes, que se conhecem e de fato conhecem a Deus, para serem misericordiosos e pacientes com todos. (Refleti sobre o tema “O cristianismo que me representa” nos link1 e link2). Contudo, se dizemos que o cristianismo de muitos não nos representa porque é intolerante, por exemplo, com afro-espíritas e lbgtqia+, a resposta é uma, “vocês estão usando um amor errado de Deus como desculpa para aceitar gente em pecado”. Ainda que muitos estivessem em pecado, e muitos afro-espíritas e lbgtqia+ estão em pecado tanto quanto cristãos, não necessariamente pelo fato de serem afro-espíritas e lbgtqia+, como cristãos deveriam agir diferente, abrindo portas, não fechando.
Mas quem tem certeza, que se acha um privilegiado sabedor da verdade de Deus, não se dá ao trabalho de ouvir, só quer falar, não muda de opinião e segue medindo todos com sua imprecisa e suja régua. Para esses, pôr em dúvida suas crenças não é exercício, não só de razoabilidade, mas também de vida com Deus, é pecado, que pode entregar-lhes ao outro lado, ao diabo e a um futuro inferno. Assim extremistas não só pensam de um jeito, mas negam-se a refletir sobre o que os que pensam, pelo menos em algumas coisas, diferente deles, não aceitando que em outras coisas os diferentes podem estar mais certos que eles. Quem só aprende consigo, não ensina os outros, subtrai, ao invés de somar, não ama, só faz alianças convenientes.
Extremista não quer conhecer a verdade do diferente porque possui uma verdade pessoal frágil, aceitar o diferente pode abalar aquilo sobre o qual se construiu muitas vezes uma vida, uma reputação, uma identidade. Quem é homoafetivo, por exemplo, e projetou no cristianismo tradicional a aprovação equivocada que recebeu de pais, seguirá só, sem coragem para fazer aliança afetiva com outro homoafetivo, ou pior, se casará com um heterossexual para agradar a igreja, enganará a todos e será infeliz. Isso é triste? Mas é mais fácil para muitos que buscar a Deus e entender que o fato de terem a sexualidade que têm, não desagrada a Deus, não leva ao inferno, ainda que desagrade uma igreja. Assim muitos seguem hipócritas.
Não acredito que um cristianismo errado, ainda que com apoio de denominações protestantes seculares, pastores carismáticos, teólogos famosos, papa, Vaticano, tem vitória sobre pecado. Muitos podem parecer cristãos, mas não são, principalmente se não forem mais cristãos novos, ainda encantados com os primeiros passos da fé. Não pode haver prática de teoria baseada em mentira, e o cristianismo do mundo baseia-se em muita mentira construída pelo catolicismo. Quem exige demais de si, exige demais dos outros, e falta com amor com todos. Santidade é caminho, não destino, é processo, não conclusão, aperfeiçoa-se à medida que vivida. Para viver é preciso progredir, quem conserva-se parado, morre.
José Osório de Souza, 9/03/2023
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