02/10/25

Terapia ou fé? (2/3)

      Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.” João 16.12-15

      Orientação a quem quer ajudar enfermos mentais, não tentar substituir uma obsessão por outra, que no ponto de vista do que ajuda, e que muitas vezes não está preparado para isso, não é outra obsessão. Por isso a ciência, ainda que atéia muitas vezes, é mais indicada para ajudar doentes mentais, ela não tentará substituir superstição por superstição, vício por vício, sendo claro, alucinação mental por certas crenças religiosas. Na verdade quem tem problemas mentais deveria “dar um tempo” com suas crenças religiosas até estar tratado mentalmente. Sei que é difícil dizer isso a quem tem fé em Deus como fundamento de vida, não vou negar a fé, nem tirar o direito de crer de alguém, mas às vezes é melhor ouvir antes a ciência.
      Outra orientação é, que assim como temos que ter muito cuidado com os pastores que escolhemos, que muitas vezes usam nossas inseguranças, nossas carências e nossos medos para nos controlar, querendo trocar nossa fé e nosso dinheiro por anulação de remorso e esperança de prosperidade material, temos que tomar também muito cuidado com médicos e psicólogos. Sábio é ouvir mais de uma opinião e levar alguém conosco, pelo menos nas primeiras consultas, para avaliar os diagnósticos e propostas para tratamento. Como saber se a “voz” que se ouve é mental ou é espiritual? Como saber se é boa ou é má? Como saber se é só eco de pensamentos, que deve ser confrontado com referências sadias e não ser obedecido cegamente?
      Além de lares transtornados, que são a base mais séria para muitos problemas afetivos, psicológicos, mentais e sociais, há outros ambientes e grupos sociais, que se não levam pessoas, com baixa autoestima e carentes de aprovação humana, a adoecerem, podem simplesmente substituir aquilo que as pessoas acostumaram-se a chamar de normalidade. Eu creio que todo ser humano que tem uma intenção sincera do bem, por mais que esteja perdido, confuso, doente, sem boas referências de normalidade e sem forças para se libertar do anormal, um dia achará a cura e será curado. Também penso que todos, de alguma maneira, possuem transtornos mentais, ocorre que muitos escondem isso mais e por mais tempo que os outros. 
      Uma experiência pessoal: vozes como efeito de feridas e limites mentais são negativas, depreciativas, destrutivas, e que em última instância, quando somos vencidos por elas, crendo que elas representam a realidade, ou uma realidade que precisa ser respondida, podem nos incentivar à violência, até a nível extremo. Obviamente há muita gente ouvindo voz interior, achando que é voz de Deus, e que não manda que violências objetivas sejam realizadas, mas tais vozes fantasiam coisas agradáveis ao doente, que satisfazem desejos que possui, como casamentos, compra de bens etc. Loucura tem várias faces, lucidez, só uma, fantasia pode até começar boa, mas acaba mal, lucidez é benigna ainda que doa aceitá-la no início.
      O Espírito Santo, na vocação mais alta que somos chamados de acordo com o evangelho de Jesus, sempre nos chama à pacificação, ao amor, à misericórdia, ao perdão. Nunca há na voz do Espírito Santo de Deus incentivo à qualquer espécie de conflito, de vingança, de violência, de destruição, ainda que seja contra seres humanos injustos, egoístas e cruéis, ou espíritos malignos. A revelação do Espírito Santo nunca é para condenar, para humilhar, é sempre palavra de consolo, e ainda que conduza à humildade o faz com serenidade, protegendo o ser humano, não expondo-o à vergonha. Cuidado com palavras que se dizem de Deus, mas não são, a voz do Espírito de Deus é sempre mansa e simples, ainda que poderosa e profunda. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário